PSO #03 – Celebrando 32 Anos de Final Fantasy: o Incrível Passado, o Tumultuoso Presente e o Promissor Futuro
Olá pessoal, bem vindos a mais uma PSO, a nossa coluna oficial aqui no PSX Brasil para destrincharmos tudo sobre Jogos Orientais! Após um breve hiato por causa da coluna do nosso querido Rui Celso e a correria com o encerramento das atividades do PSX+ neste ano enquanto estávamos trabalhando para trazer os melhores reviews de JRPGs que vocês vão ver em português, é chegada a hora de reengatarmos a marcha do nosso airship e falarmos sobre coisas boas.
E não, não vamos falar sobre os cinco melhores clones da toptherm feitos no Japão/China/Coréia ou coisa do tipo. Na verdade, nem mesmo vamos listar um número específico de jogos que vocês devem jogar. Apesar do plano original ser trazer para vocês uma lista sobre RPGs Táticos, uma data muito importante foi celebrada essa semana e que não pode passar em branco.
Como vocês podem deduzir pelo título, a histórica franquia Final Fantasy comemorou 32 anos do lançamento do primeiro jogo na última quarta-feira, dia 18 de dezembro. Lançado naquele dia para o Nintendo Entertainment System (NES), ninguém poderia imaginar que ele viria a tomar as proporções que a série tomou nos anos seguintes, influenciando todo um gênero e milhões de jogadores ao redor do mundo.
Poucas franquias são tão sinonímicas com um gênero quanto Final Fantasy é para os JRPGs, estando em um patamar equiparável ao de FIFA para jogos de esporte, Call of Duty para jogos de tiro e Grand Theft Auto para jogos de mundo aberto. Naturalmente, sendo o principal nome deste vasto gênero, a sua influência pode ser sentida em cada aspecto dele (perdendo talvez só para o poder que Dragon Quest, lançado um ano e meio antes, teve em moldar o próprio conceito do que são os RPGs orientais.
Seja a forma como os conceitos trabalhados e a qualidade técnica estabelecida ajudaram a estabelecer o padrão pelo qual os jogos são julgados ao aumento da popularidade de certos sub-gêneros em razão de trazer o seu reconhecimento mainstream para eles (como o inegável peso que Final Fantasy XI e Final Fantasy Tactics tiveram em seus respectivos ramos), ele é há muito tempo e deve continuar a ser o porta-bandeiras dessa fatia da indústria aqui no Ocidente.
Esse sucesso e reconhecimento (são quase 150 milhões de unidades vendidas em todo o mundo) não veio sem grandes percalços e desafios. E, por mais que a história por trás da criação da franquia seja relativamente conhecida, é importante falarmos brevemente sobre isso para podermos entender onde a série está e para onde ela parece ir (e, caso queira saber mais sobre os mínimos detalhes dos jogos, é extremamente recomendável assistir aos vídeos da série Inside Final Fantasy da própria Square Enix).
Apesar da publisher ter sido fundada mais de um ano antes do lançamento do primeiro FF e já trabalhar com RPGs antes disso, incluindo o lançamento do primeiro Dragon Slayer, a franquia que daria origem a The Legend of Heroes e minha querida série Trails (que aparentemente eu sou contratualmente obrigado a citar em toda coluna) para MSX e o relativamente conhecido King’s Knight, eles vinham sofrendo financeiramente, estando a beira da falência, quando o criador da série, Hinorobu Sakaguchi, começou a trabalhar no projeto como o seu último projeto na indústria.
É claro, ele acabou não sendo o último jogo do Sakaguchi como desenvolvedor. Mesmo sendo lançado em um período relativamente conturbado do ano, competindo diretamente com o primeiro Phantasy Star para Master System e Dragon Quest III para NES, ele ainda conseguiu vender cerca de 520 mil cópias no Japão (totalizando pouco mais de 2 milhões de unidades com os seus vários relançamentos), sendo o suficiente para salvar a Square da falência e criar as raízes do que essa potência viria a ser.
Apesar de não contar com alguns dos elementos que se tornariam sinônimos com a franquia, como Chocobos, um personagem chamado Cid (ambos só apareceriam em Final Fantasy II), Moogles (que estrearam em Final Fantasy III, mas só se tornariam recorrentes em FFV), e talvez ser o jogo menos polido e com problemas mesmo quando comparado a outros jogos da época (apesar de várias melhorias terem sido feitas ao longo da mais de uma dezena de relançamentos que o jogo teve), vários conceitos que imaginados por Sakaguchi ali se tornariam padrões da série.
Do conceito central dos Warriors of Light e a sua relação com cristais mágicos, a introdução de elementos mistos de fantasia medieval com fantasia científica, a constante influência que Dungeons & Dragons teve na criação de elementos como as profissões e o sistema de evolução e, por fim, a narrativa girando em torno da constante batalha do bem contra o mal e a necessidade de salvar o mundo, todos elementos que forma a essência da série e ainda estão presentes de uma forma ou de outra.
É claro, com o sucesso do primeiro jogo, Final Fantasy se expandiu ao longo dos anos, sempre trazendo importantes inovações e tentando fazer com que cada novo jogo fosse distinto do anterior. Final Fantasy II, conhecido no Ocidente por muito tempo como Final Fantasy Legend, seria lançado em 1988, um jogo bem experimental e distinto do anterior, já iniciando a tradição de cada novo título da franquia ser independente um do outro.
Com um foco maior na história e vários sistemas de gameplay que não veríamos mais na série principal, mas sim naquela que ele deu origem (SaGa, cujos recentes lançamentos eu tenho coberto aqui no site com análises de Romancing SaGa 2, Romacing SaGa 3 e SaGa Scarlet Grace: Ambitions, FFII meio que se tornou uma “ovelha negra” na série, sendo pouco lembrada pelos fãs e pela própria Square Enix, apesar de ter trazido coisas importantes para a série, como os Chocobos e Cid (e sim, Firion e o Emperor fizeram parte do elenco do Dissidia Final Fantasy NT, mas em breve a gente fala disso).
O nascimento da série SaGa e o nome dado a Final Fantasy II no Ocidente nos levam a dois pontos importantes do legado da franquia por aqui. Enquanto a série continuava a crescer e se tornar mais e mais popular no Japão com seus lançamentos, a localização dos títulos passaria a ser algo muito mais complicado, sendo difícil imaginar hoje que a série que é sinônimo com JRPGs teve títulos que sequer tiveram versões em inglês até os remakes posteriores.
Final Fantasy III, o último jogo da série pro NES e um grande passo a frente com a introdução do sistema de Jobs, não veria uma versão ocidental até o remake para Nintendo DS em 2006. E enquanto Final Fantasy IV, um dos melhores e mais aclamados títulos da franquia chegaria ao SNES em 1991, essa versão (intitulada Final Fantasy II) sofreu com péssima localização e corte de conteúdos importantes do jogo, com uma versão “correta” do jogo só chegando aqui em 2001 via a coletânea Final Fantasy Chronicles para o primeiro PlayStation.
A relação da Square com a Sony seria uma benção para os fãs da série. Enquanto Final Fantasy V, o jogo que expandiu a Active Time Bar criada em FFIV e daria ainda mais vida ao sistema de Jobs, nunca tenha chegado aqui em sua versão para SNES (lançada no Japão em 1992), ele chegaria ao PlayStation em 2002 junto com Final Fantasy VI através da Final Fantasy Anthology (a terceira de três coletâneas lançadas para PS1, incluído a já citada Final Fantasy Chronicles e Final Fantasy Origins, que incluía FFI & II).
É claro, essa relação só se tornou tão forte (só FFIII não foi relançado para PS1) por um único e influente jogo: Final Fantasy VII. FFVII é o jogo que todos pensam quando ouvem o nome da série, sendo talvez o JRPG mais importante de todos os tempos pela explosão em popularidade que trouxe ao gênero. É difícil encontrar defeitos para apontar em FFVII, ele certamente merece ser destrinchado mais a fundo, mesmo para os jogadores que prefiram outros títulos da série.
A verdade é que FF6 e FF7 são amplamente considerados o ápice da franquia. Enquanto FF6 é a culminação de todos os conceitos desenvolvidos ao longo da primeira fase da franquia (englobando os jogos de NES e SNES), com uma das melhores e mais poderosas histórias já contadas em qualquer jogo de qualquer gênero, FF7 maravilhou os jogadores com todas as suas inovações, se valendo de todo o poder do PS1 para entregar uma experiência nunca antes vista.
O sucesso de FF7 foi tão grande e tão avassalador (o jogo original vendeu 9.8 milhões de cópias) que veríamos o jogo ser relançado posteriormente para várias plataformas, inclusive remasterizações dele, empurrando o número de vendas para mais de 12 milhões de unidades. Ele também seria responsável por trazer a série para uma ambientação mais voltada para a fantasia científica do que as suas raízes de ficção medieval, trazendo elementos muito mais modernos para Gaia do que o que tinha sido visto até ali.
É claro, com esse sucesso, Final Fantasy VII eventualmente precisaria seguir a mesma linha que os outros jogos da série e ser refeito para plataformas modernas. Talvez por saber da sua importância e do tamanho que uma empreitada como essa demoraria, a Square Enix demorou o quanto pode para iniciar o projeto, mas finalmente o fez.
É um pouco difícil saber exatamente o que esperar de Final Fantasy VII Remake, mesmo acompanhando todas as notícias bem de perto. Todo mundo tem sentimentos fortes com o jogo, seja de amor ou de ódio a ele, e considerando como o mundo é hoje em dia, é preciso um cuidado extremo com esse remake para que ele alcance as expectativas que todos parecem ter para ele, mesmo que essas expectativas sejam tão altas que talvez nenhum jogo nunca consiga alcançá-las.
FF7 também ajudaria a mudar o que se espera da série, com suas cutscenes grandiosas e sistema de combate profundo, tudo cercado por uma incrível história. Foi esse incrível e estrondoso sucesso que estabeleceu os padrões pelos quais Final Fantasy VIII, um bom jogo que cometeu o “grave pecado” de não ser FF7 novamente, e Final Fantasy IX, um inesperado olhar de volta as origens da série e um de altíssima qualidade.
Muita gente olha com carinho para esse período da franquia e despreza o que veio antes ou depois, muito por algo que o diretor de Final Fantasy XV, Hajime Tabata, aptamente chamou de “Final Fantasy Disease”, a ideia de que as pessoas não conseguem aceitar que os jogos da série sejam distintos daquilo que eles vêem como sendo o “correto” e qualquer coisa diferente disso é ruim.
É algo especialmente marcante para mim porque Final Fantasy sempre foi uma série em eterna mutação, trazendo novos elementos e mudando desde a sua primeira sequência. É natural que todos tenhamos uma visão mais carinhosa com o nosso primeiro jogo da série, uma vez que eles costumam representar uma experiência muito marcante e impactante para um jogador ainda em formação, mas isso não quer dizer que tudo que é diferente é ruim.
A mutação e o desejo de arriscar da franquia pode ser especialmente apontado pela enorme miríade de spin-offs que ela teve ao longo das décadas. Enquanto isso é algo que também merece ser explorado independentemente em outra coluna, nós vimos a série testar suas mãos em outros subgêneros de RPGs e deixar a sua indelével marca mudando os para sempre, como em Final Fantasy Tactics ou dando um pouco mais de atenção para algo muito de nicho, como em Chocobo’s Dungeon, ou se valer desses gêneros para entregar experiências divertidas, como a sub-série Dissidia de jogos de luta.
Exatamente nesse desejo de arriscar é que a série se torna mais capaz de conquistar novos fãs do que outras franquias tradicionais. Final Fantasy Tactics, meu primeiro contato com a série, foi o que me tornou um fã apaixonado por ela e moldou a minha paixão por videogames (já repararam a quantidade de SRPGs/TRPGs que eu analiso pro site?). Final Fantasy Type-0, World of Final Fantasy e Crisis Core: Final Fantasy VII foram alguns dos jogos mais divertidos que eu já joguei, mesmo com seus problemas.
Mas, é claro, por mais que os spin-offs sejam capazes de conquistar, o que mantém e fomenta esse amor são os títulos principais da série e esses foram se tornando um pouco mais raros com o passar dos anos. Com a chegada do PlayStation 2, Final Fantasy alcançaria um novo patamar de beleza visual, algo que a série se tornou especialmente conhecida aqui no Ocidente por fazer.
Com o lançamento de Final Fantasy X, o grande próximo passo na evolução da série, e a sua sequência, Final Fantasy X-2, a primeira sequência direta da história da franquia, nós vimos o patamar visual da franquia ser elevado novamente, com algumas das cenas mais estonteantes já concebidas na indústria (a cena de envio das almas em Kilika, que você pode ver abaixo retirada da versão em HD do jogo, ainda é um espetáculo hoje em dia).
Mas não era “só” isso. FFX é um jogo incrível, dotado de um dos melhores e mais desafiantes sistemas de combate por turnos já concebidos na história, com um elenco de personagens muito bem definido e que funcionam muito bem entre si, fazendo um belo uso mesmo de seus momentos mais cafonas e infames para entregar uma história envolvente que toca em temas que até hoje muitos jogos não costumam explorar como religião e o pós-morte, tudo envolto em uma bela história de amor.
A sua sequência direta, FFX-2, é um pouco mais polêmica. FFX foi o jogo que me fez cair de vez dentro da série, sendo um dos pontos altos da franquia principal e FFX-2 parece fazer muito para desconstruir muito do que torna FFX especial. Ainda é um bom jogo, mesmo que muito inferior ao seu predecessor, com algumas ideias muito positivas como a forma como trata a exploração do mundo, o sistema de dress spheres e o fato de colocar Yuna em um papel tão importante.
Colocar Yuna na posição que ela ocupa na duologia de FFX (nesse site a gente finge que não existe um certo audiodrama) é algo que merece ser celebrado também, sendo mais um exemplo de como a franquia nunca teve medo de colocar personagens femininas em papel de proeminência, muitas vezes sendo o cerne emocional através do qual a história se desenvolve e cuja força é o que move a história a frente. Terra, Yuna, Tifa, Aerith, Rinoa, Ashe e Lightning são só algumas de uma longa lista de personagens tão fortes ou mais do que suas contrapartes masculinas, sendo mais uma das razões pelas quais elas se tornaram figuras tão proeminentes na cultura pop.
Estranhamente, o que não parece nunca ter recebido o carinho e atenção que merecia foram os dois MMOs da franquia. Parte do “boom” inicial do gênero (quem não se lembra das lan houses populadas por Tibia, World of Warcraft, Ultima Online e toda variante possível do gênero), Final Fantasy XI foi um jogo para consoles à frente do seu tempo.
Enquanto sua versão para PC estava no mesmo patamar que os seus contemporâneos em 2002 (2 anos antes de WoW vir e mudar completamente o gênero) e, de alguma forma, ainda está firme e forte no PC, mesmo que não esteja mais recebendo expansões, o simples conceito de um MMO para PS2 era algo absurdo de se imaginar (mesmo com a existência de Phantasy Star Online para Dreamcast), em especial em uma época em que para se conectar com internet discada nele era preciso comprar um acessório dedicado para isso.
E, enquanto os serviços de FFXI ficaram por um bom tempo no ar (eles só foram encerrados para PS2 e Xbox 360 em 2016, longos 14 anos depois), nós vimos um outro reino nascer e renascer. Em 2010, Final Fantasy XIV foi lançado para uma série de críticas e talvez a pior recepção que um jogo da franquia já teve, causando até mesmo um pedido de desculpas dos desenvolvedores.
Final Fantasy XIV morreria em dezembro de 2012 e no seu lugar veríamos um relançamento do jogo. Final Fantasy XIV: A Realm Reborn, uma completa reformulação do jogo capitaneada por Naoki Yoshida, não só apagou todo o dano que a versão original do jogo causou, mas talvez tenha sido responsável por estabelecer FFXIV:ARR como o jogo mais aclamado da franquia nas últimas três gerações. E por bons motivos.
Enquanto a versão de Eorzea a qual os jogadores tiveram acesso a partir de 2013 no PS3 e em 2014 no PS4 (os serviços para PS3 foram encerrados em 2017, mas o jogo continua firme no PS4 e PC), já era muito boa, as subsequentes expansões continuaram subindo o nível e tornando-o cada vez mais popular. Heavensward e Stormblood foram expansões excepcionais, enquanto Shadowbringers talvez termine a geração como o conteúdo de um RPG japonês mais aclamado de todos.
Isso tudo tem contribuído para que FFXIV venha conseguindo algo que parecia impossível após a passagem do ápice da popularidade dos MMORPGs, que é continuar não só tendo sucesso, mas estar continuamente aumentando em popularidade. O jogo superou recentemente 18 milhões de jogadores registrados, um número muito saudável, ainda mais considerando que o jogo é um dos raros do gênero que não só cobra pelo jogo e suas expansões, mas também conta com uma mensalidade a ser paga.
Isso tudo tem contribuído para que os fãs mais dedicados da franquia torçam para que Naoki Yoshida assuma a direção do vindouro Final Fantasy XVI. FFXIV viu a franquia voltar a suas origens de ficção medieval e, diante da percepção de que os dois jogos single-player mais recentes da franquia falharam combinada com as imagens vazadas recentemente indicando um possível FFXVI em produção, Yoshida parece ter sido eleito como o próximo salvador da franquia.
Mas por que essa percepção existe e como a última década marcou uma visão menos romântica de FF e sim uma crítica muito constante ao que ela se tornou? Final Fantasy XII foi o primeiro jogo da série a começar uma tentativa de tornar o jogo muito mais voltado para a ação, começando a abandonar o sistema de ATB em prol de algo mais inspirado pelos sistemas que existiam justamente nos MMOs da época.
Como eu disse à época do relançamento dele para PS4 através de Final Fantasy XII: The Zodiac Age, eu tenho um carinho muito grande pelo jogo, sendo um dos meus mais queridos da franquia por uma série de motivos. Um pouco disso é a influência do jogo se passar no mesmo mundo que Final Fantasy Tactics, se valendo do meu conhecimento e amor por Ivalice para entregar uma experiência única.
Mas muito disso é voltar ao jogo e ver o quão especial ele é ainda hoje. Existe uma profundidade pouco vista em outros sistemas de combate de RPGs com todas as possibilidades de customização que o Gambit system traz. A história, muito mais voltada para intrigas políticas e se valendo de tons de cinza muito mais do que a tradicional batalha do bem contra o mal é algo que me fascina até hoje e mais próximo do que o mundo realmente é do que o que costumamos idealizar.
Enquanto FFXII ainda foi um jogo muito bem recebido apesar do seu lançamento bem tardio no fim do ciclo do PS2, FFXIII teve uma história muito mais conturbada. Anunciado em 2006, os conceitos por trás da Fabula Nova Crystallis eram fascinantes. A ideia de três jogos distintos se conectando por toda uma geração, nos moldes do que vimos com a Compilation of Final Fantasy VII e a Ivalice Alliance, era a forma como a franquia chegaria a nova geração, cheia de promessas e expectativas.
O primeiro jogo lançado, Final Fantasy XIII, será eternamente divisivo. Apesar de apresentar os conceitos centrais da FNC, como o mito de criação que se estenderia entre os demais jogos, colocando os cristais novamente em um papel de importância e usando-os para apresentar os seus conceitos de magia e divindade, além de ponderar muito sobre “destino”, FFXIII cometeu tantos erros quanto acertos que merecem ser explorados.
O principal problema apontado por todos é a extrema linearidade que o jogo possui. Para uma experiência de dezenas de horas, muito de FFXIII consiste em andar por corredores, ver novas cenas e lutar contra monstros. Infelizmente, até a liberdade de evolução dos personagens, algo que se tornou um dos grandes pontos da série, exemplificado pelos Sphere Grid de FFX e o License Board de FFXII, foi seriamente limitada em FFXIII, fazendo com que todas as críticas do jogo sejam merecidas.
Mas não é como se o jogo não tivesse qualidades. Apesar de tudo, as ideias de FFXIII são muito boas. A história como um todo é bem interessante e trabalha bem os temas de destino e o anseio de mudar aquilo que outros querem impor sobre você e, em minha opinião, a Lightning é uma das melhores protagonistas que a série teve. O sistema de combate é divertido e trabalha bem o seu objetivo de modernizar a ATB, mesmo que se torne extremamente repetitivo após algum tempo e as batalhas nunca se tornem muito desafiadoras.
Dito isso, muito dos problemas de FFXIII foram corrigidos em seu sucessor, Final Fantasy XIII-2. Cortando quase completamente a linearidade do jogo e trabalhando muito mais conceitos abstratos, trazendo um vilão muito melhor do que o visto no anterior e evoluindo o sistema de combate, FFXIII-2 foi um jogo ainda melhor que seu antecessor, apesar de contar com uma desnecessária continuação em Lightning Returns: Final Fantasy XIII.
LR: FFXIII é um jogo difícil de se comentar. Talvez o seu grande mérito tenha sido reintroduzir o mito da Fabula Nova Crystallis, não mais composta de Final Fantasy XIII, Final Fantasy Agito e Final Fantasy Versus XIII, mas sim por FF XIII, XIII-2, LR: FFXIII, FF Type-0 (a versão reformulada do Agito original) e FF Agito (jogo mobile no mesmo mundo de Type-0). Fora isso, não tem muito de bom no jogo em si.
Ainda assim, essa trilogia tem sido fonte de uma grande curiosidade minha. A gente tem visto a Square Enix com um grande esforço para trazer seus jogos mais antigos para a geração atual, com constantes lançamentos de jogos da série SaGa, 4 dos 5 jogos da série Star Ocean, dois remakes da série Mana… Mas duas franquias tem, estranhamente, ficado fora disso: Final Fantasy e Dragon Quest.
Ok, ok. Dizer que Final Fantasy está fora disso é um pouco de exagero, mas os relançamentos se resumiram aos jogos de PS1 e PS2. Nenhum dos jogos clássicos de NES e SNES vieram. Nada de Final Fantasy Tactics, mesmo que Final Fantasy Crystal Chronicles Remastered esteja previsto para o ano que vem. Mas tem uma parte de mim que quer ver os jogos mais antigos retornarem para essa geração (e eles estão no PC, facilitando esse port), mas uma ainda maior fica curioso para ver como seria a recepção de um relançamento de Final Fantasy XIII.
Eu sei que é um pequeno crime na internet falar que eu gosto de um jogo que teve uma recepção morna e cuja “moda” é dizer que foi um jogo ruim porque ele não era o que muitos esperavam de um Final Fantasy. Afinal, é por aqui que as pessoas costumam dizer que “2019 foi um ano ruim para os jogos porque apenas Sekiro teve média superior a 90 no metacritic”. Sabe, o ano que teve Resident Evil 2 Remake, Fire Emblem Three Houses e mais um monte de jogo incrível.
Muita gente parece esquecer que videogames não são algo objetivo per si. Enquanto existem problemas que podem ser universalmente reconhecidos, como problemas técnicos e coisas do gênero, muito do prazer que tiramos dos jogos são subjetivos, com muitas das escolhas de design podem ressoar com alguém de forma completamente distinta com duas pessoas parecidas. É muito sobre os sentimentos que eles te fazem sentir e uma coletânea da trilogia FFXIII talvez seja visto pelas coisas que ele tenta fazer e consegue do que só pelo que ele prometia ser e não foi.
Prometer ser e não ser é a história por trás do jogo mais recente da franquia, Final Fantasy XV. Originalmente anunciado como Final Fantasy Versus XIII, a história do desenvolvimento desse jogo é algo que um dia merece ser objeto de livros e documentários, sendo uma das histórias mais complexas e confusas já imaginadas, passando por uma série de reboots e reimaginações até chegar a versão lançada em 2016, 10 anos após o seu anúncio original.
Se FFXIII já era um jogo divisivo, FFXV talvez seja ainda mais. Tendo iniciado seu desenvolvimento sob a liderança de Tetsuya Nomura, o homem responsável pela amada série Kingdom Hearts, o desenvolvimento foi confuso, o jogo sumiu por anos e eventualmente saiu das mãos do Nomura para ser concluído por Hajime Tabata, precisando tirar algo das ideias por trás do jogo e transformá-lo em produto rentável.
FFXV precisava existir. Sim, o jogo possui sérios problemas. Ele foi lançado incompleto, com o jogo se tornando algo muito melhor com as constantes atualizações e DLCs. Sim, o combate pode se tornar repetitivo e não exige realmente que o jogador explore as suas nuances. E, principalmente, sim, ele é muito diferente das promessas originais de Versus XIII e do próprio Final Fantasy XV.
A questão é que… Ele nunca poderia ter vivido as expectativas que foram surgindo desde o anúncio do jogo em 2006. Muita gente ainda torce e inventa teorias de que o Nomura está trabalhando em um Versus XV (muito porque ele mesmo parece não ter superado a exclusão do projeto, se alguns easter eggs de KH3 são para serem levados a sério), torcendo para que a visão original do combate e do que eram as visões que ele tinha pro Noctis e pra sua aventura.
E elas eram boas. Mas é inegável que o Nomura tem dificuldades em cuidar de projetos, principalmente com a Square colocando múltiplos jogos gigantescos sobre os ombros dele. Não sendo necessário muito mais do que olhar para o longo processo que foi a chegada de Kingdom Hearts 3 às nossas mãos em conjunto com o que sabemos até aqui de Final Fantasy VII Remake. Isso não é para tirar nada do Nomura que, mesmo com seus problemas e ideias megalomaníacas, é um dos diretores mais talentosos da indústria, mas sete anos é muito tempo.
Dito isso, eu gosto demais de Final Fantasy XV e do que Hajime Tabata fez com o jogo. Era um projeto difícil e que exigia muito de qualquer um que assumisse o seu lugar (o vindouro Final Fantasy XVI dependia exclusivamente das vendas de FFXV) e, apesar dos problemas que eventualmente causaram a sua saída da SE, Tabata conseguiu entregar um produto de sucesso, vendendo 8,9 milhões de unidades, cerca de 900 mil menos do que a versão original de FFVII, o ápice da franquia.
O legado de FFXV será eternamente complexo e talvez uma decepção para muitos. Para mim, ainda é um ótimo jogo, muito por ter conseguido me fazer comprar os conceitos daquele mundo (e eu sou, admitidamente, um fã do Tabata), me divertir com o seu combate e curtir bastante a história do Noctis e da Luna, com um dos finais de um JRPG que mais me tocaram em um bom tempo.
E é com o lançamento de FFXV que chegamos então a uma pequena visão do que deve ser o futuro da franquia. Com os DLCs cancelados, o jogo está “completo” e agora finalmente pode ser julgado como um todo. Final Fantasy XIV está indo de vento em polpa e o seu futuro é um dos mais promissores entre todos os MMOs em atividade. Mas o que vem por aí para a série principal?
Parte do futuro é conhecido e se chama Final Fantasy VII Remake. Com o primeiro capítulo chegando em três meses, o foco parece que será esse. FFVIIR sempre pareceu ser a carta de emergência da franquia, o que poderia ser feito quando a percepção em torno do nome precisasse ser melhorado. É um projeto de altíssimo risco, mas, até aqui, promete ser tudo aquilo que esperamos que fosse, mesmo que o sistema episódico ainda seja um risco muito grande e com certeza não vai agradar a muita gente, ainda mais com a incerteza de quando os próximos capítulos virão.
Mas o futuro não pode ser apenas o passado. Como eu mencionei brevemente mais acima e entrei em mais detalhes no nosso podcast há pouco mais de um mês, eu acredito que a Square Enix está trabalhando em um Final Fantasy XVI para a próxima geração, com um retorno as origens da franquia, mais voltado para a fantasia medieval e dirigido pelo Diretor e Produtor de FFXIV, Naoki Yoshida.
Yoshida parece ser a escolha correta não só pelo trabalho incrível feito em FFXIV, mas também por ser capaz de fazer o que a Square Enix tem tido tanta dificuldade em todos os seus jogos: reconectar a franquia com os seus fãs. Não que fan-service seja a essência da franquia, mas é necessário entender o que os fãs querem e esperam de um próximo jogo, sendo muito mais fácil conquistar o apoio dos fãs assim do que tentar prová-los errados com um jogo que eles “não querem”.
Fora isso, seria interessante voltar a explorar diferentes spin-offs na franquia. Já passou da hora de um novo Final Fantasy Tactics e o sucesso de Dragon Quest Heroes deveria ter motivado a Square Enix a trabalhar em conjunto com a Omega Force/Koei Tecmo em um musou de Final Fantasy. Mas mais do que isso, é importante inovar e arriscar, surpreendendo os fãs com as ideias vindas do estúdio.
Por fim, além do esforço para entregar FFVIIR em tempo hábil, é necessário valorizar ainda mais o passado, com ports para a geração atual dos primeiros jogos da franquia. É importante permitir que novo jogadores tenham acesso a todos os jogos da série, celebrando o legado dessa franquia incrível. Além disso, seria muito pedir que um dia vejamos um remake completo de Final Fantasy VI?
Fica claro então que Final Fantasy tem uma história rica ao longo desses 32 anos. Mesmo com seus trancos e barrancos, o jogo merece todo o sucesso que teve e fica aqui a nossa torcida para que no futuro ela volte a ocupar o seu merecido papel de destaque que sempre costumou ter. Muitos jogadores se tornaram fãs de JRPG por causa dela e é o sucesso e proeminência dela só pode fazer bem ao gênero.
Mas e vocês? Qual o seu Final Fantasy favorito? Quais as suas lembranças mais especiais com a franquia? O que vocês esperam para o futuro? Deixem os seus comentários abaixo e vamos continuar essa conversa! Até a próxima com mais uma edição da PSO!