Mafia: Definitive Edition – Review

Numa geração repleta de remasterizações e remakes, a dedicação da 2K Games com a franquia Mafia foi, de certa forma, surpreendente. O terceiro capítulo da saga foi lançado em 2016 e, mesmo com números consideráveis, não foi um sucesso muito grande para a crítica e público. O segundo título, lançado em 2010, já havia tido a mesma recepção morna, apesar de suas qualidades. De toda forma, a decisão da Publisher de alavancar novamente a franquia e atualizá-la para um público mais atual precisa ser parabenizada.

2020 foi realmente um ano muito importante para a franquia. Com o anúncio de que Mafia 2 receberia uma remasterização e Mafia 3 acabaria sendo relançado como um pacote completo, o remake do Mafia de 2002 foi o ponto final para disponibilizar toda a franquia numa única geração, de forma atualizada e ainda impactante.

Mafia: Definitive Edition é um trabalho totalmente novo baseado no jogo lançado no PS2 pela Illusion Softworks. O remake é basicamente tudo o que já foi visto antes em questão de história, personagens e enredo, tendo alterações para um roteiro mais condizente e talvez com maior apelo pela dramatização visual. Entretanto, todo o restante é completamente novo, usando Mafia 3 como base para várias modificações em sua jogabilidade.

A história gira em torno de Tommy Angelo, um taxista que tenta levar a vida de forma tradicional, mas que acaba caindo do nada em uma situação de perigo com a máfia de Lost Heaven. Com vários eventos que se desenrolam, Tommy decide adentrar esse mundo e deixar a vida difícil para trás. Começa a entender o valor da “família” dentro da máfia, faz conexões, realiza trabalhos e vai se tornando cada vez mais importante para Dom Salieri.

Com o tempo, Tommy vai descobrindo mais e mais sobre esse universo, desde grandes inimigos como Dom Morello aos negócios ocultos do crime. Cada ação tomada é em prol do interesse da família da máfia, mas uma consequência sempre surge após cada ato. A saga de Tommy, mesmo para os que já jogaram o original, continua sendo fantástica, abordando pontos importantes da época, de tudo o que já conhecemos sobre a máfia vindo de outras mídias de entretenimento e também da história real.

Há fatores que precisam ser apontados no remake que fazem a história ainda melhor. Foi feito todo um trabalho de captura de movimentos e facial, nova dublagem, novo roteiro e mais. Tudo o que foi produzido pensando na campanha, é de qualidade altíssima. Linhas de diálogo interessantes, temas bem tratados sobre o pós-crise de 1929, relações entre o crime e uma sociedade que já se mostrava deteriorada e mais. Mesmo sendo baseado num jogo já lançado, o remake reapresenta isso de forma válida e até contemporânea, com material significativo para compensar jogar o título, seja você um fã do original ou não.

Com 20 capítulos que se passam durante 8 anos de história. Tommy Angelo encontra inúmeros outros personagens que vão ter relação com inúmeros fatos no jogo. Entretanto, Paulie e Sam são os que mais recebem destaque do início ao fim. Além destes, outros personagens vão fazer parte da história, mesmo que alguns não aparecem tanto como deveriam. Os arcos de Morello, Frank e até Salieri soam incompletos ou apressados demais, faltando “partes” da história que poderiam encorpar mais o enredo. A própria morte de alguns personagens carece de mais explicação ou de eventos que poderiam encaminhar melhor a isso. Se há algo a questionar quanto a história apresentada, fica somente a decisão de não desenvolver suficiente estes e outros personagens secundários, mesmo tendo o entendimento de que Tommy é o principal aqui.

Talvez para muitos que jogaram o título original de PS2, a história não seja a grande novidade. Mesmo algumas alterações podem não ser o suficiente para os que ainda tem o primeiro jogo mais fresco na memória, se é que isso é possível ainda. De toda forma, uma das grandes qualidades do remake é o aspecto técnico apresentado no jogo. Parte visual, sonora, novas mecânicas de gameplay, direção dos veículos, tiroteio e mais são completamente novos. Destaque para a excelente dublagem e principalmente para o visual do título, que mostra uma melhoria soberba mesmo quando comparado a Mafia 3.

A construção da cidade de Lost Heaven, modelo dos personagens, detalhes absurdos nos veículos, excelente iluminação e uso de reflexos faz de Mafia: Definitive Edition um jogo de mundo aberto belíssimo. É comum ficar observando inúmeros aspectos do visual do jogo, principalmente poças de água e lataria dos veículos com reflexos de ótima qualidade. A iluminação do jogo, principalmente a noite, cria uma cidade viva em destaque a cada esquina. É inegável a evolução da Hangar 13 neste aspecto.

Além do destaque para a história e o visual do título, a versão definitiva de Mafia traz algumas mudanças significativas quando comparado ao original. Algo amplamente criticado era a condução dos veículos antes, que era realizada de forma grosseira, muito até pela limitação técnica e também pelo interesse em criar uma ambientação mais condizente com a época do jogo. O remake faz um ótimo trabalho nisso, principalmente ao deixar a direção mais acessível. Ainda haverá missões que colocarão as habilidades dos jogadores a prova, com perseguições rápida enquanto ocorrem tiroteios e também fuga da polícia. O bom disso é que os controles mais responsivos criam uma experiência menos traumatizante do que em 2002.

Quanto ao restante do que pode se dizer o pilar da jogabilidade, o combate corpo a corpo, combate armado e também stealth estão de uma forma mais modesta no jogo. Digamos que nenhum é especialmente ruim, mas também não são bem utilizados. Funcionam de forma simples e básica, sem muito detalhamento nisso, principalmente o combate com armas que, como acaba sendo o mais utilizado, percebe-se mais facilmente isso.

Apesar do grande foco da franquia ser sempre na história e em sua narrativa, apenas em Mafia 3 o mundo do jogo teve mais destaque, mesmo que todos sejam títulos de mundo aberto. Os dois primeiros jogos foram experiências mais focadas na sua campanha e somente nisso, usando suas cidades apenas como ambientação. Mafia 3 tentou, ainda que de forma errada e repetitiva, popular esse mundo com mais atividades, partindo para um tipo que seria mais tradicional para os jogos de mundo aberto de hoje em dia. Mafia: Definitive Edition repete a fórmula dos 2 primeiros jogos e também não dá tanto valor assim para oportunidades secundárias. Mesmo o modo livre que fica disponível não serve para suprir isso, já que realmente carece de conteúdo que ligue a ambientação e história com o mundo.

Lost Heaven é uma cidade fantástica e muito bem construída no remake. Em nada há desmerecimento pela construção do ambiente, mas, assim como em Mafia 2 principalmente, o mundo é desperdiçado aqui. Poderia ter mais atividades secundárias no mapa, objetivos opcionais ou qualquer outro evento que faria o jogador aproveitar mais a cidade. Com certeza seria possível expandir um pouco mais o jogo, inserindo mais atividades relacionadas ao princípio e ambientação do jogo, mas tendo cuidado para não extrapolar isso e criar uma experiência inchada e insossa como em Mafia 3.

Mafia: Definitive Edition ainda é um jogo excelente, com vários pontos positivos e um dos melhores remakes já feitos. Ainda fica a sensação de que o jogo é subaproveitado em muita coisa, que há espaço para uma entrega maior que acabou não sendo incluso neste pacote. Porém, é preciso notar que o jogo continua mantendo a essência do original e talvez por isso não tenha ido tão adiante em ser um projeto totalmente modernizado.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela 2K Games e Solutions 2 Go.