Análises

Koira – Review

Lançado em 1º de abril de 2025 pela DON’T NOD e desenvolvido pelo Studio Tolima, Koira é um jogo que aposta na delicadeza, na emoção e em uma estética cuidadosamente construída para contar a história de uma amizade improvável entre um personagem e seu filhote. Em sua essência, é uma jornada curta e sensível por uma floresta musical, repleta de pequenos mistérios e encontros encantadores, mas que, infelizmente, deixa a desejar em termos de ritmo, desafio e acabamento técnico.

A proposta do jogo é simples e cativante: atravessar uma floresta misteriosa ao lado de um cachorrinho, resolvendo puzzles, ajudando criaturas mágicas e evitando caçadores que espreitam nas sombras. A ambientação é um dos pontos mais fortes do jogo. Os cenários são visualmente belíssimos, com bosques melancólicos, colinas cobertas de neve e cavernas silenciosas que ajudam a construir uma atmosfera contemplativa.

Koira

Há um cuidado especial na trilha sonora, que é totalmente integrada à proposta do jogo: muitas das ações envolvem sons e notas musicais, usadas para desbloquear caminhos ou ativar estruturas antigas. Além disso, a vibração sutil do controle DualSense contribui para a imersão, respondendo de forma sensível aos sons e às ações do jogador.

Essa conexão com a música é constante e presente tanto nos momentos de avanço quanto nos puzzles. Infelizmente, os quebra-cabeças se revelam extremamente fáceis, limitando-se a encontrar objetos no mapa ou associar elementos óbvios. Isso torna a experiência acessível, mas também previsível e, em certos momentos, monótona. Não há realmente nenhum desafio que obrigue o jogador a pensar ou experimentar alternativas — tudo está disposto de forma direta demais, o que compromete a sensação de recompensa ao completar uma tarefa.

Koira

Essa simplicidade se estende para outras áreas de Koira. Embora o mundo de Koira seja bonito, muitas partes dos mapas são apenas decorativas, sem qualquer funcionalidade. O jogador pode passar minutos apenas caminhando por cenários vazios, onde nada acontece, o que compromete o ritmo da narrativa. Apesar da curta duração — é possível terminar o jogo em cerca de três horas —, há vários trechos em que o tempo parece se alongar pela falta de ação ou propósito claro.

Em contrapartida, existem momentos opcionais de interação com o filhote que são encantadores, ainda que não contribuam para a história. Atividades como brincar de pique-esconde ou construir bonecos de neve são simpáticas e até rendem troféus, mas parecem mais distrações do que parte integrante da jornada.

Koira

O vínculo com o cachorro é o coração do jogo, e isso funciona bem. É possível alimentá-lo, fazer carinho, jogar um graveto para que ele o traga de volta e observar suas reações ao longo do caminho, o que traz calor e leveza à experiência. Porém, essas interações, apesar de fofas, também não se desenvolvem de maneira significativa — o relacionamento é mais estético do que mecânico, sem impacto direto nas ações ou na narrativa.

Há também segmentos de furtividade em que o jogador precisa evitar caçadores e seus cães. Esses momentos criam uma tensão interessante e variam um pouco o ritmo, mas são poucos e, como o restante de Koira, muito simples em sua execução. Uma dessas partes, no entanto, acabou se tornando um dos maiores problemas da experiência: em determinado momento, há uma fuga mais longa em que você e seu filhote precisam escapar dos caçadores.

Koira

Após diversas tentativas frustradas de passar desse trecho, inclusive assistindo a vídeos de detonado para checar se havia alguma falha na minha abordagem, tudo indicava que se tratava de um bug. Mesmo repetindo os passos corretos vistos nos vídeos, não consegui avançar — o que me impediu de concluir o jogo, transformando o que já era uma experiência leve e irregular em algo ainda mais frustrante.

Outro aspecto que pode incomodar alguns jogadores é a estrutura de troféus. Embora existam vários para desbloquear — e a maioria seja obtida automaticamente ao longo da história ou por ações simples — não há troféu de platina. Isso pode parecer um detalhe menor, mas para jogadores completistas, é um fator desanimador, especialmente considerando que várias interações opcionais foram claramente pensadas com isso em mente.

Koira

Koira tem o coração no lugar certo. Ele entrega uma experiência visual e sonora envolvente, capaz de tocar quem busca uma jornada leve, breve e afetiva. A conexão com o filhote é real, e há momentos de doçura genuína. No entanto, seu potencial é limitado por escolhas de design que deixam o mundo vazio, mecânicas subdesenvolvidas e, no meu caso, um bug crítico que me impediu de ver o final da história. É uma pena, porque há muito carinho e intenção por trás da produção. Mas, como uma melodia promissora que perde o compasso no meio da execução, Koira termina deixando um sentimento agridoce de que poderia ter sido muito mais do que realmente é.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela DON’T NOD.

Veredito

Koira conquista com seu visual encantador, trilha sonora sensível e a relação afetuosa entre o protagonista e seu cachorro, entregando uma experiência emocionalmente acolhedora. No entanto, sua curta duração, puzzles simplórios e áreas vazias comprometem a imersão e o engajamento. A ausência de um troféu de platina também reduz o incentivo à exploração total. Além disso, há a presença de um possível bug que afeta diretamente a experiência e pode impedir jogadores de verem o desfecho da jornada.

74
Troféu indicativo da nota

Bruno Ribeiro

Jornalista por formação, professor de inglês por ocupação (e por amor), e escritor já há mais de 20 anos, mas que só agora tomou vergonha na cara e resolveu se dedicar mais a essa área, publicando alguns trabalhos e escrevendo sobre jogos, uma de suas grandes paixões.

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