Análises

Exographer – Review

Após um pedido de socorro, um exógrafo é enviado a um planeta desconhecido. Lá, ele encontra ruínas de um passado recente e registros de cientistas de diferentes espécies alienígenas. É por meio desses escritos que tanto o exógrafo silencioso quanto a pessoa que joga passam a conhecer aos poucos que tipo de atividades eram feitas ali e quem eram as pessoas que as desenvolviam.

De forma sucinta, Exographer é um metroidvania sobre a física de partículas – elétrons, prótons, fótons, glúons, quarks, etc. É bom deixar logo claro que não é necessário ter conhecimento prévio do assunto para apreciar o jogo. Eu mesmo nunca me dei bem com essa matéria na escola nem tive interesse na área, mas tomei a iniciativa de pedir para analisar este jogo movido pela curiosidade em relação à proposta de mistura de plataforma 2D, puzzles e ciência.

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Os puzzles são o centro da gameplay, que é desprovida de qualquer forma de combate e enfrentamento. O exógrafo percorrerá o planeta no rastro dos antigos habitantes, precisando descobrir meios de acessar novas áreas e obter equipamentos adequados para lidar com os obstáculos.

Existe uma relativa variedade de puzzles ambientais de plataforma, isto é, cuja solução envolve o uso do próprio cenário para a travessia. Eles envolvem descobrir códigos para abrir portas, mover plataformas para ordenar objetos corretamente e descobrir uma maneira de usar as habilidades adquiridas para chegar aos objetivos.

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A principal ferramenta é a câmera do tablet carregado pelo exógrafo. Ela é usada, primeiramente, para registrar e analisar automaticamente elementos do cenário (leia-se: fornecer um compêndio de elementos narrativos e informações de puzzles para não deixar a gente no escuro).

Essas informações ficam categorizadas no menu de forma bastante organizada e têm uma segunda função: viagem rápida. O exógrafo simplesmente pode se  teleportar para o local de qualquer um desses registros ou, ainda, da última foto criada (não, não fica um álbum enorme com todas as fotografias que fazemos; felizmente, Exographer sabe ser prático e conciso com a câmera).

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No tablet também podemos ver o mapa, que até ajuda, mas tem o defeito de ser fragmentado e só nos dar acesso à planta do local onde estamos no momento, sem possibilitar que naveguemos pelas outras que já exploramos a fim de procurar o próximo destino.

A terceira função é parte central do jogo: fotografar o ambiente também revela as trajetórias de partículas invisíveis a olho nu, que são a base dos puzzles principais, recorrentes por toda a campanha.

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A ideia é interpretar os diferentes fatores que formam as trajetórias e completar as lacunas das interseções com o uso de cartões pré-determinados. São quatro cartões que devem ser posicionados corretamente para cada puzzle dar certo. A cada etapa da história, uma nova variável é adicionada aos diagramas de trajetórias e uma nova ferramenta fica disponível para identificar as ondulações, os rumos e os tipos de partículas a fim de ajudar a deduzir qual é o local correto de cada cartão.

É uma fórmula muito recorrente e anda em cima do muro ao precisar equilibrar repetição e variedade: de um lado, ela se repete bastante, mas, por outro, sempre recebe uma novidade criativa para aumentar sua complexidade.

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Sempre que há um puzzle desse tipo, significa que uma nova partícula será desbloqueada para destravar portas e mecanismos associados a ela, ou que um novo equipamento que emprega seu princípio será obtido.

Os equipamentos foram desenvolvidos pelos antigos habitantes com o propósito principal de lidar com a matéria absurda, um material que pode ser atravessado pela esfera de fótons ou se tornar uma superfície sólida para andar por elas até nas paredes e teto pela força das botas de glúon. A esfera também serve para escalar a flora absurda.

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A dinâmica, portanto, consiste em explorar para encontrar os pontos de interesse e registrá-los em fotografias, descobrir formas de atravessar o terreno e superar obstáculos, solucionar um puzzle de trajetória de partículas e obter uma nova informação/partícula/equipamento.

Senti-me dividido. Essa estrutura é interessante e bem executada, levando a momentos prazerosos e à vontade de descobrir o que mais viria pela frente. Em contrapartida, a ausência de outro tipo de melhorias e colecionáveis que incentivassem a exploração fora do caminho central torna a experiência muito focada em seu eixo central que, como disse, envolve certa repetição.

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Assim, embora tenha sido um jogo que me motivou a voltar a ele para continuar a progredir, após cerca de uma hora de cada sessão de jogo eu já me via cansado do loop, sem o ímpeto de jogar por mais tempo de uma só vez. De certa forma, a chave foi o interesse e a paciência de seguir no meu próprio tempo.

Também me senti razoavelmente perdido no começo, sem muita certeza se estava indo ao local correto ou não. Não demorei a perceber que, no fim das contas, minha confusão com a navegação dos locais não impedia que o jogo me levasse ao destino apropriado. Acho que uma câmera mais afastada ajudaria a diminuir essa sensação ao conceder um campo de visão mais amplo. Como que confirmando minha impressão, há salas em que a câmera realmente se afasta, uma perspectiva que beneficiou minha noção espacial.

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Somando o grande foco em puzzles específicos e recorrentes, a história movida pelos fragmentos de um tema científico central e a ausência de combate e de uma exploração mais ampla, vejo Exographer como um jogo de nicho. Ele foge ao comum e, por isso, pode quebrar expectativas quanto ao que se espera de um metroidvania, especialmente para quem espera que o gênero seja de plataforma de ação, o que, definitivamente, não é.

No entanto, a quem o tema interessar, há muito aqui a se apreciar, mesmo que seja como eu, de pouco em pouco.

Exographer

Ainda que seja seu tema, Exographer não tem pretensão de ensinar física de partículas, mas de levantar curiosidade sobre o assunto e sobre o ímpeto científico como um todo, o que expande suas fronteiras. Foi este último aspecto que me agradou mais. Continuo sem amores pelo estudo da física, mas aprecio a forma como Exographer apresenta a dedicação íntima com a qual os estudiosos de sua história atravessaram décadas para dar um passo de cada vez rumo a um fragmento de compreensão do universo em que vivem.

Eles elaboram hipóteses passam a vida desenvolvendo os equipamentos necessários para experimentá-las, entrando em êxtase a cada nova descoberta justamente porque cada horizonte alcançado revela adiante um novo horizonte possível.

É, portanto, uma obra de divulgação científica e epistemologia, refletindo na construção de mundo o entusiasmo que os desenvolvedores da SciFunGames carregam dentro de si em relação à diligência humana em conhecer cada vez mais, do macro ao micro.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Abylight Studios.

Veredito

Como um metroidvania sem combate, totalmente voltado aos puzzles de travessia de ambiente e de interpretação de diagramas, Exographer foge ao comum do gênero e quebra expectativas. O que o diferencia é sua centralidade no campo da física de partículas, mas não é necessário ter conhecimento prévio sobre o assunto, pois, no fundo, o que move sua construção de mundo é o entusiasmo da caçada científica pela compreensão das estruturas do universo, celebrando cada pequeno fragmento de conhecimento conquistado. Ainda que isso não o torne inacessível a um público maior, o define como um jogo de nicho que deve agradar aos interessados em entrar em uma mistura de puzzles e ciência.

75
Troféu indicativo da nota

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