Análise – Dreams

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Os primeiros anos de vida do PlayStation 3 representaram o nascimento de franquias interessantes e memoráveis como Resistance: Fall of Man, Uncharted e InFamous, que serviram como importantes pilares durante o decorrer da sétima geração de consoles. Entretanto, nenhum dos títulos previamente citados teve tamanho impacto na indústria em seu lançamento quanto LittleBigPlanet. Feito pela pequena e ainda desconhecida Media Molecule, o título revolucionou por nos apresentar um conceito dependente exclusivamente da criatividade de seus jogadores, sendo que estes poderiam criar seus próprios mundos, ainda que de forma limitada por conta do hardware da época. LittleBigPlanet foi apenas o primeiro passo rumo em direção ao verdadeiro objetivo tão sonhado pela desenvolvedora que só agora toma forma através de Dreams no PlayStation 4 – fechando o ciclo iniciado em 2008.

Desde que foi anunciado pela Media Molecule na PlayStation Meeting de 2013, muitos tem se referido a Dreams como “um jogo em que você pode criar jogos”. Infelizmente, defini-lo dessa forma seria limitar completamente o seu escopo e objetivo. Mas então, o que de fato é Dreams? Bom, a resposta depende inteiramente de cada um de nós. Assim como o seu próprio nome sugere, Dreams é uma ferramenta capaz de tomar a forma que o usuário bem entender, de maneira que atenda aos seus propósitos pessoais e específicos. Mais do que isso, temos em mãos uma plataforma de entretenimento e compartilhamento de arte digital como nunca antes vista até então, cujo limite depende inteiramente da criatividade de cada um, e com um potencial absurdo de criar as próximas tendências que virão.

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Primeiramente, é preciso deixar claro que a Media Molecule não é a primeira a trabalhar com esse tipo de proposta, uma vez que a Microsoft já tentou algo semelhante em sua plataforma com Project Spark. Os principais diferenciais de Dreams em relação a este último são a quase inexistência de barreiras que limitem a criatividade do jogador e os poderosos recursos que este tem ao seu dispor para dar vida às suas criações como bem desejar. Aqui os jogadores não apenas são capazes de desenvolver jogos, mas também possuem o poder de compor músicas com melodia e vocais originais, animações, clipes musicais, pinturas, esculturas 3D ou qualquer tipo de representação artística que imaginarem. Tamanhas são as funcionalidades e aplicações de Dreams, que não demorará muito para que surja todo tipo de profissional e criador de conteúdo nas diversas plataformas e redes sociais que existem, fazendo uso da ferramenta para todo tipo de coisa. E não é exagero imaginar um futuro em que as animações desenvolvidas na plataforma possam concorrer lado a lado com curta-metragens independentes no circuito de premiações voltado ao cinema.

Não demora muito, e logo após concluir uma pequena introdução, somos jogados em nosso “cantinho”, um hub customizável que funciona da mesma forma que a cápsula de LittleBigPlanet. Aqui podemos ir direto para os dois modos que o jogo oferece: Sonhonavegar e Sonhocriar. O primeiro nos leva para um imenso catálogo em que podemos ver e interagir com incontáveis sonhos diferentes feitos pela comunidade de Dreams. Tudo é organizado de forma prática e funcional, através de diversas listas que dividem as criações conforme a sua popularidade, avaliação por outros jogadores, tipo de criação, gênero de gameplay, dentre outras categorias. Você pode favoritar as obras que mais gostou para voltar posteriormente a elas caso deseje, ou seguir o criador para receber notificações sobre os seus novos projetos.

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Dreams, por mais que seja um título sustentado inteiramente nas criações feitas por seus jogadores, também preocupa-se em entregar o seu próprio modo história, que apesar de curto, foi projetado com tamanha excelência que perfeitamente poderia ser vendido separadamente como um jogo isolado. A campanha nos apresenta o carismático e divertido Art, o ex-baixista de uma renomada banda de jazz, que é constantemente atormentado pelas más escolhas que fez no passado. Através de suas memórias, partiremos em uma belíssima e cativante jornada recheada de excelentes mensagens, subtextos e alegorias sobre temas fortes como escapismo, depressão e individualismo, bem como a importância da autoaceitação, determinação e trabalho em equipe como formas de libertação.

A aventura tem uma média de duas a três horas de duração e se encontra inteiramente dublada e legendada em português do Brasil, o que não é uma surpresa dado ao histórico de trabalho da Media Molecule na plataforma PlayStation. O modo história é uma soberba aula de game design, exemplificando de forma magistral muito do que é possível  ser feito pelos criadores em Dreams, ao mesmo tempo em que mescla diferentes gêneros e sub-gêneros da indústria. Você verá desde de seções inteiramente baseadas nos famosos point ‘n clicks da década de 90, a estágios projetados como jogos de plataforma 3D, shoot’em ups, corrida e muito mais . Ao chegar em sua conclusão, é impossível não se emocionar com essa pequena campanha criada pela Media Molecule para incentivar futuros desenvolvedores e aspirantes de game design.

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Os visuais apresentados ao longo da narrativa principal são belíssimos e apenas representam uma pequena amostra do que Dreams é verdadeiramente capaz. Temos aqui um título que pode gerar modelos com gráficos simples ou ultra detalhados, utilizando como base uma paleta de cores tão diversificada que beira o surreal. As texturas também desempenham um papel chave, e fazer bom uso delas no modo criativo é o principal diferencial para adicionar o detalhe e a personalidade necessária em cada uma de suas criações. Os efeitos de iluminação e partículas, por sua vez, se assemelham muito aos vistos em InFamous:Second Son e Concrete Genie, e ainda há a possibilidade de combiná-los para criar visuais totalmente inéditos.

Apesar de tudo o que foi dito, se existe algo em que Dreams mais se destaca, certamente é em seu modo criativo, o “sonhocriar”. Há uma infinidade de recursos que podem ser utilizados para construir praticamente qualquer coisa dentro do título. A modelagem, por exemplo, é extremamente didática e experimental e, após um breve tutorial, você já pode começar a criar qualquer tipo de personagem para seus jogos e animações. Vale lembrar, é claro, que existe muita prática envolvida nesse processo. Não espere entrar no modo criativo logo de cara pensando que criará algo de nível profissional. É preciso algum tempo para ter total entendimento das capacidades da ferramenta mas, quando finalizar o seu primeiro projeto, posso garantir que se sentirá extremamente gratificado com o resultado alcançado.

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Em relação à criação de jogos, Dreams funciona como um verdadeiro motor gráfico, capaz de realizar com sucesso tudo o que vemos nos jogos atuais. Funcionalidades como programação de I.A., cutscenes, animação, diálogos com múltiplas escolhas, seleção de fases, savepoints, diferentes tipos de física e multiplayer local representam apenas uma parcela do que você pode incluir em seu jogo, isso sem falar dos múltiplos gêneros que podem ser desenvolvidos dentro do título. Deseja criar seu próprio tiro em primeira pessoa? Vá em frente. Um fã game 2D de Mega Man X? Sem problemas. A única restrição de Dreams é a sua imaginação.

As ferramentas de composição e mixagem de áudio em Dreams oferecem uma alta gama de possibilidades, permitindo inclusive a captura e gravação de áudio por meio de dispositivos externos como microfone do headset ou PlayStation Camera. Graças a esta funcionalidade, é possível adicionar vocais às músicas criadas e diálogos nas animações e cutscenes feitas para o seu projeto. O título oferece uma boa gama de assets e modelos já prontos vindos do modo história para utilizar, existindo ainda a possibilidade de se importar cenários, modelos, músicas e animações criados por outros jogadores para o seu projeto. Dessa forma, a Media Molecule incentiva o trabalho coletivo ao mesmo tempo em  que permite que pessoas de diferentes cantos do mundo possam se reunir em um ambiente comum e criar seu próprio estúdio de desenvolvimento.

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Os controles do título são simples e, enquanto estiver navegando pelos menus, você controlará um “bichin”, uma fofa e adorável criatura, que funciona exatamente como o cursor de um mouse. Para movê-lo ao longo da tela Dreams, faz-se uso dos sensores de movimento presentes no DualShock 4, que respondem muito bem. Caso o cursor se perca, é possível calibrá-lo ao segurar o botão Options no controle e ainda existe a possibilidade de desativar os sensores de movimento no menu de opções, caso prefira usar o cursor pelo analógico. O jogo também possui total compatibilidade com o PlayStation Move, sendo extremamente recomendável o uso de um par para os jogadores que desejam desfrutar do modo criativo uma vez que facilita bastante a manipulação dos objetos.

Caso você seja do tipo que prefere jogar ou assistir, não se preocupe, pois Dreams está abarrotado de todos os tipos de jogos, animações e obras imagináveis feitos pela comunidade (alguns foram até aprovados pela própria Media Molecule) que certamente fornecerão infinitas horas de diversão. É muito fácil se perder em meio a tanto conteúdo diferente, e a cada novo sonho que visitamos temos novas surpresas com o que a mente humana pode construir.

Para se ter uma pequena ideia do que o título é capaz, existem grupos de pessoas que estão recriando diversos outros títulos complexos como, P.T., Naruto Ultimate Ninja, Mario Kart, Wipeout, The Last of Us, Sonic, Deadspace, Dark Souls, Portal, Darius, Sekiro: Shadows Die Twice e muito mais. Não estamos falando de pequenas demonstrações, mas de jogos completos, com várias horas de duração e com modo multiplayer local incluso em alguns casos. Filmes também estão sendo refeitos dentro de Dreams e, durante os meus primeiros dias navegando, pude assistir recriações incríveis de cenas famosas de O Iluminado, Star Wars, Indiana Jones e o Exterminador do Futuro.

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Outro detalhe que impressiona é a absurda otimização que existe no título, uma vez que bastam apenas 5 segundos de loading para entrar em qualquer sonho compartilhado por outro jogador, seja uma pequena animação ou um complexo jogo de aventura com mais de 5 horas de duração. A simplicidade e velocidade com que podemos entrar e sair de um sonho, elimina completamente todo o stress que existia em LittleBigPlanet ao se procurar por novas criações para jogar. Além disso, tamanha comodidade faz com que o título assemelhe-se às plataformas de streaming, como Netflix ou Amazon Prime, porém dedicada exclusivamente a jogos e animações independentes.

Um detalhe a se ressaltar é o compromisso da Media Molecule em trazer constantemente novas atualizações para Dreams que adicionarão novos conteúdos e funcionalidades. Uma dessas atualizações promete oferecer suporte ao PlayStation VR, que como consequência tornará o título obrigatório para os donos do headset de realidade virtual, uma vez que terão ao seu dispor um gigantesco catálogo de novas criações e experiências para conferir com o periférico. Já outra atualização possibilitará a criação de jogos com multiplayer online, o que certamente expandirá as possibilidades de projetos feitos pela comunidade como um todo.

Veredito

Não existem palavras capazes de definir com exatidão os meus sentimentos em relação a Dreams. Temos aqui um título que transcendeu tudo aquilo que conhecemos como jogo, para se tornar algo completamente novo. A Media Molecule superou todas as expectativas possíveis ao criar essa maravilhosa ferramenta, que se usada de forma correta, servirá como um dos principais pivôs para criadores de conteúdo, estudantes de game design, músicos, animadores e outros ao longo dessa década. Dreams pode ser um dos últimos “jogos” a serem lançados para o PlayStation 4, mas ficará para sempre eternizado como um dos maiores títulos já feitos na história.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.

Veredito

100

Dreams

Fabricante: Media Molecule

Plataforma: ps4

Gênero: Variado

Distribuidora: Sony Interactive Entertainment

Lançamento: 14/02/2020

Dublado:

Legendado:

Troféus:

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

There are no words that can accurately define my feelings towards Dreams. It’s a title that has transcended everything we know as a game, becoming something completely new. Media Molecule exceeded all possible expectations by creating this wonderful tool, that if used correctly, will serve as one of the main pivots for content creators, game-design students, musicians, animators and many others throughout this decade. Dreams may be one of the last “games” to be released for PlayStation 4, but it will forever be immortalized as one of the greatest titles ever made in history.

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There are no words that can accurately define my feelings towards Dreams. It’s a title that has transcended everything we know as a game, becoming something completely new. Media Molecule exceeded all possible expectations by creating this wonderful tool, that if used correctly, will serve as one of the main pivots for content creators, game-design students, musicians, animators and many others throughout this decade. Dreams may be one of the last “games” to be released for PlayStation 4, but it will forever be immortalized as one of the greatest titles ever made in history.

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