Após tantos anos de um lançamento, como será para uma empresa relançar aquele produto no mercado atual? Esse, possivelmente, deve ser o pensamento de muitos estúdios que trabalham em cima de remasters e remakes, e recentemente, foi a vez da Crytek seguir essa linha de raciocínio com Crysis Remastered.
Crysis foi lançado originalmente em 2007 para PC, e em 2011 recebeu um port para PlayStation 3. Naquela época, os gráficos eram “borrados” se comparados aos que temos hoje. Neste vídeo feito pelo canal ElAnalistaDeBits, ele mostra um comparativo entre todas as versões lançadas do jogo. E embora Crysis Remastered esteja realmente muito bonito na geração atual, é preciso levantar a seguinte questão: será que gráficos sustentam a compra de um jogo lançado há 13 anos? É o que vamos descobrir.
Durante uma expedição, um grupo de pesquisadores norte-americanos fazem uma descoberta épica. Porém, Helena Rosenthal, uma das responsáveis pela pesquisa, manda um sinal de ajuda e avisa que os norte-coreanos estão invadindo a ilha na qual estão trabalhando para roubar a tecnologia. E é aí que o governo americano entra na história.
Equipados com a mais alta tecnologia, um grupo de soldados com nanosuit é enviado para o resgate desses pesquisadores. Porém, o que era pra ser apenas uma missão de extração, acaba tornando-se uma guerra contra alienígenas e norte-coreanos no meio de um paraíso tropical.
Graças a nanosuit, os soldados elevam seus status para super soldados. Com a ajuda do equipamento, eles podem correr extremamente rápido, pular mais alto que o comum e nadar sem se preocuparem com oxigênio. Além disso, o traje é equipado com um escudo que diminui o dano e um tipo de “capa de invisibilidade”, que permite que você jogue em modo stealth.
Toda essa premissa, em conjunto com esse traje “cool” e os supostos gráficos 4K a 60fps, parece entregar um jogo de ação 10/10 aos donos de PS4. Porém, para a infelicidade dos jogadores, a história não é bem assim.
Como um todo, Crysis Remastered segue o padrão dos jogos de ação/FPS: um mini mapa que fica em algum dos quatro cantos da tela, a barra de HP/stamina em outra ponta e um menu de attachments (equipamentos adicionais para implementar nas armas) em tempo real para não interromper a dinâmica.
Neste caso, o jogo coloca o mini mapa no canto inferior esquerdo da tela. Nele é possível ver o nível de atenção dos inimigos e os objetivos, tanto os primários (em verde) quanto os secundários (em amarelo). No entanto, esse mapa é muito ruim de se ler. E não digo isso pelo posicionamento da tropa inimiga ou das tarefas (que ficam bem destacadas), mas sim do ambiente como um todo. A imagem daquele quadrado é completamente cinza e não há distinção de nada. Parece que não existe outra coisa além de mato.
Outra crítica vai para o medidor de atenção dos inimigos. Quando ele está piscando em vermelho, é sinal de que seus rivais já sabem onde você se esconde. O amarelo mostra que eles estão à sua procura e a cor verde representa “paz”. Na teoria, é assim que ele supostamente deveria funcionar, certo? Mas não funciona.
Mesmo que o medidor de atenção esteja no verde, você não consegue saber se de fato está a salvo. Em muitos momentos fui pego de surpresa por achar que estava num ambiente seguro, quando na verdade não estava. Parece que os sinais de alerta ficam sempre no vermelho e inimigos vindos do além aparecem para te caçar. E não adianta muito usar o cloack da nanosuit nesses casos, pois mesmo invisível, eles vão, de alguma forma, saber do seu paradeiro.
Algo que talvez possamos considerar interessante aqui em relação aos inimigos é que, em dificuldades maiores, eles só falam em coreano. Esse recurso serve para dificultar o entendimento das estratégias (para quem não entende a língua), e poderia ser considerado útil, de fato, no entanto, dificilmente você irá conseguir escutar alguma coisa no meio dessa guerra.
Antes de chegarmos onde realmente Crysis Remastered quis realmente se mostrar, precisamos levantar alguns outros pontos que são tão importantes quanto, e um deles, obviamente, é o gameplay geral dessa guerra contra alienígenas e norte-coreanos.
Jogos remasterizados podem não possuir melhorias no gameplay. Porém, alguns estúdios se esforçam para trazer uma experiência diferenciada e adicionam alternativas para o público da atual geração. Infelizmente, a Crytek não se importou muito com esse detalhe e deixou tudo em Crysis Remastered como o que foi visto há 13 anos.
A maioria dos comandos de Crysis Remastered sofrem com algum tipo de delay. É bizarro você pressionar o botão de pulo e o personagem executar o movimento pouco depois da ação. Isso atrapalha MUITO no calor do combate, principalmente quando há dezenas de inimigos em campo.
E por falar em inimigos, parece que o jogo entende que, por você estar usando uma nanosuit, consegue se livrar de qualquer problema. De fato, os poderes que ela concede são legais e eficientes, como invisibilidade e escudo temporário, mas a mira travada transforma essa história de “super soldado” em contos de fada.
Fora os comandos (que envelheceram mal), há um problema no mapeamento padrão dos controles de Crysis Remastered. A ideia de existir um menu em tempo real para acoplar os attachments é interessante e deixa tudo dinâmico. Além, é claro, de garantir uma grande variedade de armas com diferentes utilidades. Porém, a forma que decidiram fazer isso não é nem um pouco funcional e, infelizmente, não pode ser alterada no menu de opções.
Para dar um exemplo aqui de como esse sistema funciona, é preciso apertar o touchpad + algum botão para colocar o que você deseja na arma em questão. O problema desse comando está em como executá-lo, que na maioria das vezes, deve ser feito enquanto se está no meio de uma batalha. Ou seja, o pessoal da Crytek jogou um “se vira” para sua coordenação motora.
A hora mais esperada chegou, e sim, estamos falando dos gráficos hiper-realistas que a Crytek vem divulgando há meses. E convenhamos, o estúdio não economizou em nada ao mostrar vídeos comparativos com suporte a 8K. Mas será que ele é tudo isso mesmo?
Crysis Remastered conta com três opções distintas no PS4 Pro: Quality mode, Performance e RayTracing. Cada uma delas melhora algo nos gráficos e/ou performance, e vou contar aqui o que a empresa prometeu x o que de fato entregou.
- Quality mode: esse modo, geralmente, é aquele que entrega todo o potencial prometido para o jogo remasterizado. Todos esperavam gráficos em 4K, porém, Crysis Remasterd roda, no máximo, a 1440p e com 30 fps.
- Performance Mode: aqui, supostamente, veríamos gráficos 4K rodando a 60 fps. Porém, tudo que recebemos foi 1080p que, embora de fato entregue a quantidade de frame rate mencionada, não consegue se manter estável, causando slowdowns em muitos momentos.
- RayTracing: a proposta aqui é bem diferente das outras citadas. O RayTracing trabalha melhor os reflexos, ou seja, ele reproduz as luzes como são realmente vistas no mundo real. Seria legal ver como isso funciona na prática, mas infelizmente, o jogo simplesmente trava.
Agora que eu já mencionei essa “guerra” do que foi prometido e o que realmente foi entregue, está na hora de dizer os efeitos (péssimos) que isso causou no gameplay.
O Quality Mode é realmente bonito. Mesmo não sendo a qualidade gráfica esperada, é possível ver que tanto os personagens, quanto os cenários, ficaram muito bem feitos e coloridos. Claro, se observar com MUITA atenção, é possível enxergar defeitos ridículos, mas passáveis, já que durante a jornada você dificilmente prestará atenção nesses detalhes.
Já o Performance Mode, que supostamente deveria rodar na qualidade máxima a 60 fps, é na verdade uma furada. Além do jogo rodar a 1080p, ele simplesmente não consegue renderizar parte do cenário. Algumas coisas ficam sem detalhes e mais parecem gráficos de PS2. Fora isso, existem momentos em que diversos quadrados com pixels vermelhos podem aparecer na tela, como “erros na Matrix”, e que te obrigam a resetar o jogo mais de uma vez, já que é um defeito constante.
Por último, mas não menos importante, o RayTracing. Este é, em resumo, uma piada de mau gosto. Mesmo utilizando um PS4 Pro e uma TV 4K topo de linha, eu simplesmente não consegui jogar. A imagem fica completamente distorcida e, em determinados momentos, o personagem parece estar dentro de uma caixa espelhada. Quando o bug supostamente acaba, tudo trava, e mais uma vez, você é obrigado a resetar.
Para complementar o show de horrores, é preciso dizer que até mesmo no único modo em que o jogo de fato funciona, as coisas podem ser esquisitas. Em muitos momentos você se verá enfrentando inimigos “imortais”. Isso se deve ao fato de que, mesmo atirando contra os soldados centenas de vezes, as balas parecem não fazer efeito, e como consequência disso, você tem aí um jogo extremamente difícil por erro dos desenvolvedores.
Caso você tenha dúvidas sobre os modos existentes em Crysis Remastered, existe um outro vídeo do canal ElAnalistaDeBits que mostra em detalhes as diferenças de cada um deles
Crysis Remastered é um jogo puramente focado na qualidade gráfica, e ainda assim, não entrega nada além de bugs e erros no sistema. Isso quer dizer que ele não tem nada de bom? Talvez. A ambientação lembra muito Far Cry 3. Aquela ilha enorme, cercada de água e florestas que dão um toque muito especial. Quando se está alto o suficiente para apreciar o cenário, pode-se notar que realmente quiseram fazer algo bonito. Mas só. Nem legendas em português se deram ao trabalho de colocar.
É divertido brincar com os poderes da nanosuit, mas eles são tão limitados, que chega uma hora que você mais se frustra do que se diverte. A verdade é que o gameplay de Crysis envelheceu mal, e infelizmente, Crysis Remastered não consegue chegar nem perto daquilo que foi prometido pela Crytek. O que é uma pena, pois ele tinha muito potencial. Quem sabe após algumas atualizações?
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Crytek.
Veredito
Crysis Remastered tinha tudo pra ser um jogo cativante, envolvente e cheio de ação. Porém, há tantos problemas, que nem mesmo a beleza dos gráficos remasterizados consegue salvá-lo.
Crysis Remastered had everything to be a captivating, engaging and action-packed game. However, there are so many problems, that not even the beauty of the remastered graphics can save it.
[/lightweight-accordion]