Entre os jogos mais importantes para a criação e popularidade de alguns gêneros, a série Wars da Nintendo talvez seja a que menos recebe o reconhecimento devido pela sua influência nos jogos de estratégia por turnos. Um pequeno crossover entre RPGs de Estratégia (SRPG) e Estratégia por Turnos (TBS), ela se tornou dos principais expoentes dos jogos Táticos baseados em Turnos (TBT/TTB) sempre se manteve num nicho bem restrito, com poucos jogos inspirados por ele chegando ao mercado.
Wargroove, segundo jogo da desenvolvedora Chucklefish é um dos melhores jogos lançados a carregar o manto de Famicom/Advance Wars, sendo uma inegável carta de amor a ele sem deixar de trazer seus próprios toques e influências necessários para revitalizar a fórmula, fazendo um ótimo trabalho em capturar o charme a acessibilidade da série que o inspirou.
Como todo bom TBT, Wargroove gira em torno de combates militares de menor escala, abrindo mão da grandiosidade que se costuma ver em RTS para um estilo realmente mais próximo do de um RPG de Estratégia, mas, ao invés de contar com personagens únicos ou soldados recrutáveis, dá ao jogador a possibilidade de comprar as suas próprias unidades durante a batalha, cada qual refletindo uma classe distinta.
Esses combates acontecem através de batalhas por turno, com as unidades todas possuindo um raio de movimentação e podendo realizar uma ação por sua vez, ficando o jogador livre para escolher a ordem das ações de cada um dos seus soldados. Cada um dos soldados possui uma barra de energia que vai de 0 a 100, com os ataques sendo mais fortes quanto mais energia elas possuírem.
Para sustentar o fluxo de unidades o jogador precisará conquistar vilarejos espalhados ao longo dos mapas, aumentando a quantidade de ouro a sua disposição a cada rodada, sendo sempre possível comprar uma nova unidade por turno, desde que o jogador possua a quantidade de recursos necessários.
Para fazer o combate funcionar, Wargroove conta com uma vasta gama de unidades, desde soldados comuns, lanceiros, cavaleiros, magos e arqueiros há algumas unidades um pouco mais únicas, como cães patrulheiros e gigantes. Todas as diferentes facções existentes no jogo possuem suas próprias variações de cada uma dessas classes, com sua própria estética única (e bem bonita).
Para tornar o combate mais tático, cada tipo de unidade possui um grupo de vulnerabilidades e vantagens específicas, incluindo requisitos que garantem um acerto crítico durante o combate, fazendo com que cada uma seja mais indicada a depender da situação apresentada ao longo de cada uma das diferentes fases.
Como o jogo possui uma variedade considerável de situações que ele apresenta ao jogador, mesmo que cada campanha isolada não seja tão longa, conhecer a fundo as opções que cada unidade apresenta ao jogador e como melhor usá-las é fundamental, ainda mais caso o jogador pretenda conseguir o ranking máximo em cada missão.
Há um equilíbrio muito bom entre as unidades, algo que ajuda a sensação constante de desafio e que estimula o jogador a estar sempre planejando suas ações com vários passos de antecedência e tentando idealizar as possíveis respostas dos inimigos. Felizmente, a inteligência artificial é bem balanceada e ela vai punir qualquer erro cometido pelo jogador sem pensar duas vezes.
O único ponto que poderia causar algum desequilíbrio a difícil arte de equilibrar um jogo com tantas opções (são 12 tipos de unidades ao total) é uma classe específica que são os Comandantes. Esses Comandantes são os líderes dos exércitos e os personagens ao redor dos quais a narrativa do jogo gira, com cada uma das quatro facções possuindo três delas e a maioria das missões giram em torno de mantê-las vivas ou derrotar comandantes inimigos.
Por serem mais fortes e mais resistentes do que unidades comuns, a grande maioria dos mapas limita o jogador a apenas um comandante por missão. Isso não significa que sejam imunes à dano, já que mesmo sendo mais fortes e contando com um Groove (habilidades especiais que podem ser ativadas após preencher uma barra) específico para cada, qualquer pequeno erro é capaz de derrubá-los em um par de turnos e causar uma falha na missão.
Essa série de sistemas tornam o combate de Wargroove muito profundo e já fariam com que o jogo todo valesse a pena só por ele, mas, felizmente, o jogo ainda possui mais uma série de qualidades que elevam-no a um nível ainda superior. Uma parte disso é a parte técnica, com os gráficos pixelados feitos com bastante cuidado, entregando uma experiência visual muito bonita e que se torna ainda melhor pela trilha sonora muito agradável e que casa bem com o tom do jogo.
Mas a maior parte vem da larga quantidade de conteúdo que o jogo traz, tanto pela considerável campanha quanto pelos vários outros modos de jogo. A história de Wargroove gira em torno das já mencionadas quatro nações do continente de Aurania, seus interesses e motivações, com cada missão de cada ato focando em comandante distinto, levando em frente a narrativa geral e explorando diferentes lados dela, fazendo com que heróis e vilões invertam de papel e dando maiores tons de cinza à guerra do que a visão romantizada que se costuma ter.
Enquanto a história inicialmente apresenta o ponto de vista do Cherrystone Kingdom, um reino pacífico de Aurania que é arrastado para uma guerra com a Fallen Legion, aos poucos ele introduz as Floran Tribes e o Heavensong Empire, cada qual com seus próprios interesses no conflito estabelecido no continente.
O grande êxito da campanha de Wargroove vem justamente pelos personagens que, mesmo não havendo tanto diálogo assim, são bem estabelecidos e ajudam a dar sensação de peso ao conflito, mesmo com a maior parte das baixas em combate sendo soldados sem face e sem nome. O fato da história tomar alguns rumos surpreendentes ao longo dos seus 7 atos também contribui, mesmo que ele acabe tropeçando em alguns clichês ao longo do caminho.
Por fim, outra grande qualidade de Wargroove são os seus outros modos de jogo. Além da campanha, há um modo de edição para que o jogador possa criar os seus próprios mapas e campanhas, um multiplayer tanto local quanto online em que é possível participar de batalhas com qualquer uma das quatro facções e controlar qualquer um dos 12 comandantes, tanto em co-op quanto competitivo, sendo possível customizar essas batalhas como o jogador preferir.
No geral, Wargroove é um ótimo jogo, talvez o melhor do seu gênero em muitos anos, atingindo com louvor o objetivo dos desenvolvedores de preencher a lacuna que a falta de um novo Advance Wars ou algum outro jogo do gênero na geração atual deixou, tornando-o um jogo extremamente recomendado aos fãs de jogos de estratégia por turnos ou de RPGs de Estratégia.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela Chucklefish.
Veredito
Com um conjunto de mecânicas e sistemas complexos, Wargroove é um jogo de estratégia muito profundo e desafiador, emoldurado por belos gráficos coloridos em pixel art. A campanha, modos multiplayer e outras opções single-player representam uma considerável quantidade de conteúdo, tornando-o um dos melhores jogos independentes lançados neste ano.
With a complex array of systems and mechanics, Wargroove is a deep and challenging strategy game, full of beautiful and colorful pixel art. The campaign, various multiplayer modes and other single-player options result in a huge content, making it one of the best independent games of the year.
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