Ao longo de três temporadas, pudemos acompanhar o rápido crescimento da carismática Clementine. De uma criança indefesa a uma jovem adulta com responsabilidades, o mundo hostil e caótico da série exigiu um amadurecimento precoce da personagem. A quarta e última temporada está centrada justamente nesse tema, demonstrando as consequências de uma juventude de quem cresceu após o “apocalipse”.
Ainda que a conexão entre as três temporadas não tenha sido feita da maneira mais coesa, foi possível acompanhar a evolução da protagonista até um ponto da narrativa em que os papéis se inverteram: da Clementine indefesa e carente da proteção de Lee, para a guardiã do pequeno Alvin Júnior (AJ). Caso precise refrescar a memória dos acontecimentos passados, o jogo exibe um breve flashback contando os principais eventos das três primeiras temporadas.
Essa temporada final começa expondo o constante deslocamento de Clem e AJ na busca por comida e segurança. A vida nômade é interrompida quando os dois são socorridos por um grupo de crianças, após serem cercados por uma pequena horda de zumbis. É em torno dessa comunidade de crianças que o capítulo se desenvolve.
Como parte desse grupo, Clem passa a contribuir como pode, enquanto AJ passa a ter o primeiro contato com outras crianças de sua idade. A temporada final traz um gameplay similar aos episódios passados, contendo partes de interação com outras pessoas, investigação e confronto contra os errantes.
Uma novidade bem-vinda é a liberdade de movimentação e ataque durante os encontros com zumbis. O jogador pode controlar a Clem e desferir dois tipos de golpes, além de usar armadilhas. Nos jogos passados, eram apenas momentos “scriptados”, bastando apertar o botão na hora certa para cumprir o Quick Time Event (QTE).
Boa parte do episódio é focado na exploração e investigação, mas esse quesito pouco mudou em relação aos games anteriores. Inédito aqui é a possibilidade de colecionar itens para customizar o quarto de Clementine e AJ. Alguns desses objetos são exclusivos de determinadas rotas (sim, há caminhos distintos para prosseguir na jornada).
Como de costume, o novo game da Telltale avisa em seus momentos iniciais que a história é moldada pelas ações do jogador. Do mesmo modo que na grande maioria dos jogos da desenvolvedora, é um comunicado vazio ou, como se diz em bom português, é conversa para boi dormir. Novamente, trata-se de um episódio de The Walking Dead, em que as personagens destinadas a morrer vão morrer. Nesse caso, não importa a interatividade do jogador.
A agência do usuário é bastante limitada. Infelizmente, não é algo que surpreenda os veteranos da série. Desde que o jogador reconheça que o primeiro episódio da temporada final está mais para um filme interativo do que um videogame tradicional, o entretenimento é garantido.
É lamentável que as escolhas determinem pequenos fatos da história. Apenas se varia o nível de relacionamento ou há algumas mudanças de discurso. Percebe-se que The Walking Dead: A Temporada Final carrega o estigma da Telltale. Por isso, jogar mais de uma vez não vale a pena. O replay é baixo, mesmo com a possibilidade de mudar de caminho em um certo ponto da narrativa.
Um grande avanço desse jogo é o capricho empregado no departamento visual. A diferença na qualidade dos gráficos é expressiva, mesmo quando comparado à temporada anterior (A New Frontier), game em que marcou a estreia do novo motor gráfico da Telltale.
O sistema de iluminação melhorou significativamente e os personagens são bem detalhados. Há boas texturas, mas que não caem muito bem em resoluções maiores. Por falar nisso, A Temporada Final possui suporte para resolução 4k no PS4 Pro (embora provavelmente não seja nativo).
Do ponto de vista estético, o jogo agrada pelo contraste utilizado. Os contornos e sombras possuem um tom de preto intenso que, ao lado das cores mais vivas, contrastam de forma similar ao estilo visual de quadrinhos/HQs contemporâneos. As animações faciais melhoraram bastante em relação aos jogos anteriores, especialmente no que é demonstrado pela dupla de protagonistas. As animações corporais, no entanto, ainda ficam devendo. São artificiais, não possuem a fluidez necessária para tornar as interações mais naturais.
A Temporada Final possui tanto legenda como dublagem em português, uma novidade para a série. Melissa Hutchison (a voz de Clementine) se adequou à nova Clem mais madura e traz novamente uma boa performance. A dublagem é aceitável, mas há alguns deslizes e certas sentenças possuem entonações estranhas, especialmente em algumas frases interrogativas.
Veredito
O novo jogo da Telltale traz novas situações para o universo da série e apresenta uma narrativa interessante. Por meio de um episódio protagonizado por crianças, podemos enxergar o mundo pós-apocalíptico por um viés diferente. Clementine cumpre um papel de mãe para AJ e suas respostas influenciam em seu comportamento, gerando algumas situações inesperadas e, por vezes, até um sentimento de culpa. O encerramento do primeiro episódio impressiona e provoca uma certa curiosidade do que está por vir.
Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.
Veredito
The new Telltale game brings new cases to the universe of the series and presents an interesting narrative. Through an episode starring children, we can see the post-apocalyptic world by a different point of view. Clementine plays a mother role for AJ and her responses influence his behavior, leading to some unexpected situations and sometimes even a sense of guilt. The ending of the first episode impresses and causes a certain curiosity of what is to come.
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