Entre o panteão de personagens clássicos dos videogames, Mega Man merece um lugar especial entre todos eles. Dentro de sua enorme quantidade de interpretações, o popular Blue Bomber constantemente reinventou os jogos de plataforma de ação e o seu retorno tem sido pedido por fãs de várias gerações, seja os que cresceram com os clássicos de NES ou os que preferem a sub-série Mega Man X, cujos jogos chegam agora para PlayStation 4 nessa coletânea.
Englobando os jogos principais da série, a começar pelo original para SNES até Mega Man X8 para PS2 (excluindo ambos os Mega Man Xtreme e Mega Man X: Command Mission), Mega Man X Collection 1+2 é uma verdadeira viagem no tempo entre três gerações distintas de videogames e a evolução da personalidade de um herói que marcou a infância e a adolescência de muitos jogadores.
Cada um dos oito jogos da coletânea conta uma história distinta, mas sempre com pontos semelhantes. A começar por Mega Man X, todos contam a história sobre um grupo de Reploids que se rebelam contra os humanos, passam a ser chamados de Mavericks e a ser caçados pelos Maverick Hunters, uma espécie de “polícia” dos Reploids, e grupo do qual os protagonistas Mega Man X, Zero e Axl fazem parte.
Se as histórias são relativamente simples, em especial nos primeiros jogos, experimentar toda a série em sequência permite ao jogador perceber o quanto houve um cuidado cada vez maior com esse lado, partindo de alguns poucos diálogos no primeiro jogo a algumas cutscenes animadas quando a série migrou de vez para o PlayStation com Mega Man X4 até as tentativas de contar uma história mais épica com X7 e X8 no PS2.
A sua principal qualidade, entretanto, é o crescimento dos protagonistas, principalmente X saindo de um Maverick Hunter novato a um herói calejado, o amadurecimento da persona do Zero e a breve injeção de juventude que Axl trouxe nos últimos dois jogos. A narrativa não é o que te fará jogar algum jogo da franquia, mas ainda é algo positivo.
O que te fará agarrar o controle e não querer largá-lo, entretanto, é o gameplay. Não existem meias palavras para se caracterizar a série: Mega Man X possui alguns dos melhores jogos de ação e plataforma da história dos videogames e uma das franquias mais consistentes entre cada uma das suas iterações. Por mais que isso possa levar a alguma fadiga nos últimos jogos da coletânea e o original seja a verdadeira joia da coroa, a maioria dos jogos entrega um produto seguro, de altíssima qualidade e extremamente divertido.
Todos os jogos seguem a mesma estrutura básica: você controla Mega Man X (com Zero se tornando um personagem jogável a partir de X3 e Axl em X7 e X8), escolhe uma das oito fases principais, todas com um Maverick no final que, ao ser derrotado, dá um ataque especial que também é a fraqueza de outro inimigo e pode ajudar no deslocamento ou abertura de novos caminhos nas fases, tudo enquanto o jogador atira para matar os inimigos e supera desafios de plataforma com pulos, dash e algumas outras habilidades destraváveis.
Parece (e é) muito simples, porém também é muito viciante, principalmente porque antes de algumas séries de RPG trazerem isso de volta ao mainstream, Mega Man sempre foi uma franquia com um objetivo em mente: entregar um jogo divertido mas bastante desafiador.
Essa qualidade se destaca no design de fases genial visto entre Mega Man X e X5 (X6 ainda é muito bom, mas já começa a ficar um pouco mais claro o desgaste da série), conseguindo trilhar bem o caminho entre punir o jogador pelos seus erros e não ser “injusto”, sempre com uma constante sensação de aprendizado e evolução do jogador. Nenhum desafio é impossível de ser conquistado, mesmo que, em sua forma original, seja necessário um alto grau de experiência e habilidade do jogador.
Buscando remediar isso, uma das novidades que Mega Man X Legacy Collection traz é o modo Rookie Hunter, que reduz exponencialmente a dificuldade do jogo, diminuindo o dano sofrido pelo jogador pela metade e acabando com algumas situações de morte instantânea a partir de X4. Os desafios de plataforma e a necessidade de aprender o jogo, principalmente para derrotar os chefes, continua, mas essa opção torna o jogo bastante mais acessível para quem não tem experiência com a série, quer conhecê-la ou revisitá-la e não tem ou não quer dedicar o tempo necessário ao modo normal de jogo.
Por outro lado, MMXLC traz um modo de desafios que, ao contrário do Rookie Hunter, parece desenhado para testar as habilidades até mesmo dos jogadores mais experientes. Os Challenges, presentes em ambas as coletâneas (com os mesmos chefes nos dois volumes), é uma espécie de Boss Rush em que o jogador enfrenta três duplas de chefes de jogos distintos (por ex.: Chill Penguin de Mega Man X e Frost Walrus de Mega Man X4) para completar cada fase, com um limite de 10 minutos e a possibilidade de escolher até três tipos de tiros especiais que se adequem aos chefes. Esses desafios, mesmo no fácil, testam bastante o jogador e acrescentam bastante à experiência.
Por fim, o último bônus é uma vasta galeria de artes, desde desenhos oficiais, sketchs e designs abandonados de personagens, incluindo todo tipo de itens promocionais, como action figures, cartas colecionáveis, capas de livros e CDs, além dos trailers oficiais dos jogos, um player para poder ouvir a trilha sonora dos jogos (algo importante, já que a série possui OSTs fantásticas) e da coletânea em si e um curta chamado The Day of Σ, que funciona como prólogo para a série.
Há também a possibilidade de alterar os sprites do jogo entre os originais e uma versão melhorada de alta qualidade (X1–X6) ou em HD (X7–X8) para essa coletânea e o formato da tela (podendo reduzir a resolução para acomodar melhor a imagem do jogo ou colocar full screen). São coisas pequenas, mas que melhoram bastante a experiência do jogo. Infelizmente, os sprites, principalmente nos dois primeiros jogos, não ficam muito bons em tela cheia e as cenas animadas são claramente em baixa resolução, o que era de se esperar de jogos de PS1 e PS2.
Algo que a coletânea não pode evitar, entretanto, é a queda de qualidade dos jogos no segundo volume. Enquanto a primeira coletânea não possui um jogo que possa ser considerado como algo abaixo de “incrível”, Mega Man X5 e X6 fazem de tudo para manter o nível da série, que é jogada ladeira abaixo com Mega Man X7. O primeiro jogo para PS2 sofre muito com a transição para ambientes 3D e um design pouquíssimo inspirado nas áreas em 2D, com problemas graves de câmera de uma época em que o conceito de controlá-la com o segundo analógico ainda não parecia existir. X8 é melhor, muito por abandonar quase por completo o 3D (mesmo com o estilo visual ainda variando entre 2.5D e 3D), mas ainda não alcança os níveis anteriores da série (e ser melhor que X7 não significa muito).
No geral, por mais que seja uma grande viagem de nostalgia, Mega Man X Legacy Collection 1+2 é uma que vale a pena. Esses são alguns dos melhores e mais influentes jogos das gerações de 16 e 32-bits e, em especial a primeira parte da coletânea, há muita, muita diversão a se ter aqui e as inclusões feitas nesta coletânea, se em sua maioria são meros ajustes de qualidade de vida, adicionam muito valor a ela. Agora é torcer para que finalmente tenhamos um Mega Man X9 no nível que a franquia merece.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Capcom.
Veredito
Mega Man X Legacy Collection 1+2 é um pacote fantástico de uma das melhores franquias da história dos videogames. As melhorias trazidas por ela agem mais como uma mera desculpa para mergulhar de volta nesses fantásticos jogos de ação e plataforma que devem divertir o jogador por horas e mais horas, e a adição dos desafios trazem uma experiência diferente para os fãs de longa data que desejam algo novo.
Mega Man X Legacy Collection 1+2 is a fantastic package of one of the best franchises in videogame history. The enhancements brought by it are a reason to dive back in these fantastic action-platformers that should entertain the player for hours and hours, also the addition of the challenges bring a different experience to long-time fans looking for something new.
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