Diversão. Essa diretriz simples muitas vezes é esquecida por estúdios de desenvolvimento, tão preocupados com uma série de outros termos para descrever seus jogos que acabam se esquecendo que, no fim das contas, jogos precisam ser divertidos e entreter o jogador. Este problema se reflete em todos os gêneros, sendo os jogos de esporte alguns dos que mais facilmente se desviam do caminho correto.
A série Madden NFL ao longo dessa geração vinha se tornando exatamente aquilo que aqueles que vêem de fora costumam criticar os jogos do gênero por “fazerem”: uma série de melhorias mínimas sem corrigir os problemas mais básicos de gameplay e interface, colocando apenas uma camada de tinta, atualizando o elenco e tentando capitalizar em um novo lance e vários e vários novos pacotes de microtransações.
A edição do ano anterior já vinha corrigindo muitos dos problemas estruturais que a série tinha visto se instalar desde o final da geração passada e Madden NFL 20 é o ponto definitivo naquilo que há de mais importante: tornar a diversão o principal fator norteador do jogo em todos os seus pontos, seja dentro do campo ou fora dele, dando ao jogador constantes motivos para retornar ao título ao longo da vindoura temporada da NFL.
A primeira alteração clara é que os menus parecem mais vibrantes e mais rápidos de serem acessados. As coisas já vinham começando a melhorar e, apesar de ainda se manter o estilo de janelas quadradas que entrou em voga há alguns anos, selecionar os modos ou as opções dentro deles se tornou muito mais rápido, com uma ressalva.
O foco é tão grande nas estrelas dos times em tudo na edição deste ano, inclusive na apresentação dos menus, que o tamanho da letra ficou pequena e, consequentemente, difícil de ler em vários pontos. Por mais que você acabe tendo que olhar bastante pra eles, é fácil de se acostumar, em especial porque, naquilo que mais importa, M20 acerta em cheio: a ação dentro do campo.
A principal novidade de M20 é também focada nas grandes estrelas do esporte, com a introdução de “poderes” especiais que podem ser ativados durante as partidas chamados de X-Factors. Essas habilidades, quando ativadas, dão uma grande melhoria as estatísticas das estrelas, tornando-as ainda mais capazes de mudar o rumo da partida por si só.
Um exemplo disso é o atleta de capa, Patrick Mahomes, cujo X-Factor, chamado de Bazooka, que aumenta a distância máxima dos passes em 15 jardas, que nem é a mais influente, já que existem outras como a Gambler, que impede que defensores controlados pela IA interceptem um passe e a Pro Reads, que destaca para o jogador o primeiro recebedor livre.
No total, existem 50 jogadores, tanto ofensivos quanto defensivos, que tem acesso a essas habilidades e por mais que no papel elas possam parecer só mais uma tentativa de fazer com que “estrelas pareçam estrelas”, ela tem um sucesso considerável nessa missão, já que controlar os melhores Quarterbacks do jogo realmente torna o ataque mais fácil e é delicioso ver os melhores Pass Rushers destruindo linhas ofensivas rivais ou recebedores e secundárias realmente travando duelos épicos pelo ar.
O fato de que existem condições necessárias para que essas habilidades sejam ativadas acaba balanceando melhor a influência que elas têm nas partidas, forçando o jogador a ter algum êxito antes de se valer delas para alcançar o próximo nível. Essas condições variam entre fazer múltiplos passes de mais de 30 jardas, fazer múltiplas recepções de mais de 20 jardas, ser responsável por múltiplos sacks ou tackles para perda de jardas e por aí vai.
Em conjunto com essas habilidades, os controles passam a impressão de estarem ainda mais precisos neste ano, o menu de jogadas também é mais responsivo, a volta da possibilidade de escolher entre partidas mais arcade ou de simulação ajuda a balancear o jogo para todo tipo de jogador. A narração também foi um pouco melhorada mas, como em todo jogo de esporte, se torna repetitiva rápido e é um campo que ainda precisa ser melhorado, junto com o fato de ainda existirem jogadores cuja aparência não reflete a realidade.
As outras grandes novidades vêm nos três principais modos de jogo de Madden NFL 20: Madden Ultimate Team, Franchise Mode e o modo história do jogo, Face of the Franchise: QB1, todos com consideráveis novidades em relação ao ano passado e que precisam de uma análise um pouco mais aprofundada sobre as suas características nesta edição.
O Madden Ultimate Team, ou MUT, é o seu tradicional modo de coleção de jogadores e cartas que se tornou ao longo dessa geração o foco central de tudo o que acontece com a franquia da EA (e que se espalhou não só pros outros jogos da distribuidora, mas para todas as série de esporte).
Naturalmente, dado o seu estrondoso sucesso, não foram feitas grandes mudanças estruturais, com o jogo em si ainda girando em torno de ganhar partidas (ou se valer de microtransações) para comprar jogadores específicos ou pacotes de cartas novas e ir montando o seu time dos sonhos, com novos jogadores e novas versões deles sendo introduzidas a cada semana, buscando refletir o caminhar da temporada da NFL.
A sensação de que a aquisição de moedas é limitada para forçar o jogador a utilizar as microtransações ainda existe, mas existem duas grandes novidades para facilitar o avanço do jogador, através de uma reformulação completa das missões presentes no modo, atreladas a todos os diferentes modos presentes dentro do MUT, servindo não como uma forma de te dar as recompensas que antes elas davam, mas como uma trilha para que o jogador às alcance enquanto recebe outras recompensas simplesmente jogando as diferentes opções presentes.
A maior parte dessas recompensas virão através dos Ultimate Challenges, uma versão nova dos Solo Challenges presentes antes e que agora poderão ser jogados com outros jogadores. Essa não é a única novidades, já que os Challenges agora poderão ser re-jogados, contando com diferentes níveis de dificuldade (de 1 a 3 estrelas) e com objetivos secundários que precisam ser alcançados para completar as 5 estrelas de cada desafio.
Com isso, as recompensas agora vem a medida que o jogador acumula mais estrelas, não mais sendo necessário completar todos os desafios de uma sequência (por mais que, naturalmente, completar mais estrelas te dará mais moedas e tornará mais fácil alcançar os melhores prêmios). Conseguir mais e mais cartas, mesmo que elas não acabem fazendo parte da sua equipe, são uma forma de completar os sets e alcançando jogadores melhores, sejam os tradicionais Gold, Silver, Bronze e Elite ou os Ultimate Trainers, Power Up e MUT Superstars.
Esses desafios são a principal forma de construir o seu time no começo, mas não o único modo, com o jogador aos poucos progredindo mais em direção às Solo Battles, Head 2 Head Seasons, Weekend League, Squads e Draft. Pouco a pouco, é natural que o jogador vá jogando mais os modos online e há conteúdo suficiente aqui para que o MUT seja o único modo que o jogador tenha contato ao longo do ano.
Caso o seu interesse não seja pelo MUT, o modo Franchise é a outra forma de montar o seu próprio time, dessa vez com as limitações que todo dono ou técnico tem na NFL, permitindo ao jogador contratar jogadores, trocá-los, escolhê-los no draft, cortá-los e todas as outras decisões que costumamos acompanhar de longe. O modo ainda pode ser jogado tanto offline quanto em ligas online, mantendo a tradição que já vem há alguns anos.
No geral, fora algumas mudanças visuais, Franchise não tem grandes alterações em relação à edição anterior, com apenas algumas melhorias no encaixe dos jogadores nos esquemas e a influência das habilidades das grandes estrelas. O que talvez seja a grande novidade e torne o modo melhor para quem pretende investir bastante tempo nele é uma nova engine para criar os cenários, trazendo uma certa imprevisibilidade a cada liga, com jogadores se recusando a jogar ou ficando chateados com mudanças de esquema, fazendo com que os jogadores finalmente tenham personalidade.
Onde personalidade existe de sobra é no modo história do jogo. Abandonando o arco de história das últimas duas edições chamadas de “Longshot”, elas representavam o que de mais clichê pode existir em uma narrativa girando em torno de esportes, havendo pouquíssimas razões para jogá-los além da novidade. “Face of the Franchise: QB1” muda um pouco isso, contando uma história muito melhor do que as anteriores.
A história aqui funciona muito mais como a base do modo do que o todo dele, sendo muito mais similar a como ela funciona no NBA 2K19, por exemplo. Você poderá criar o seu próprio jogador que assumirá a posição de Quarterback de um de oito colégios disponíveis e precisa levá-lo ao título do futebol americano universitário. Com isso, as portas da NFL se abrem, com um convite para o NFL Combine, sendo escolhido no draft e passando então a tentar consolidar o seu lugar na liga.
É um modo divertido (apesar de um pouco curto), com até as decisões de diálogo influenciando as suas estatísticas como QB, mas nada muito obrigatório. É uma boa base também do que poderá vir pela frente, sendo possível imaginar o modo retornando por vários anos, permitindo o jogador a assumir outras posições como Running Back, Middle Linebacker ou Pass Rusher.
No geral, Madden NFL 20 não é só um ótimo jogo em si mesmo, mas uma boa base para as próximas edições da série. O modo Franchise ainda precisa de sérias melhorias para se tornar obrigatório e o Face of the Franchise: QB1 é um bom primeiro passo que passa longe de ser perfeito. Felizmente, a ação no campo é fantástica e a inclusão dos X-Factors funciona muito e parece ser algo que durará por muitos anos. Isso, somado com a melhoria e robustez do MUT (mesmo com o problema das microtransações), tornando Madden NFL 20 um ótimo jogo para os fãs de Futebol Americano.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela EA.
Veredito
Madden NFL 20 conta com ótimas melhorias e a introdução de novidades que mais do que justificam essa nova edição da série. O Ultimate Team continua sendo um dos melhores do seu tipo e a inclusão dos X-Factors torna as partidas melhores do que nunca.
Madden NFL 20 has great improvements and the introduction of new features that more than justify this new installment of the series. Ultimate Team continues to be one of the best of its kind and the inclusion of X-Factors makes the matches better than never.
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