A adaptação de KILL la KILL em um jogo sempre foi em iguais partes uma ideia perfeita e um conceito um pouco estranho de se imaginar, em especial por se tratar de um arena fighter. Enquanto KlK é um dos melhores animes/mangás seinen dessa década e uma ótima paródia/homenagem ao gênero de Magical Girls com momentos de ação intensa, ele também possui um elenco pequeno e, talvez mais importante,a equipe por trás do jogo não possuía um histórico muito impressionante.
Felizmente, KILL la KILL – IF é um sucesso estrondoso. Desenvolvido pela APLUS Games, responsável por Little Witch Academia: Chamber of Time e A.W.: Phoenix Festa, com a supervisão do Studio Trigger e publicado pela Arc System Works e pela PQube Games, ele mais do que faz jus ao nível da série que o inspirou.
Visto superficialmente, KlK – IF funciona como qualquer outro arena fighter. O jogador controla um dos 8 personagens disponíveis (10 se contarmos as variações empunhando duas lâminas para a Ryuko Matoi e Satsuki Kiryuin) com uma visão em terceira pessoa e pode se mover livremente por arenas bastante espaçosas enquanto luta com um adversário, funcionando de forma bastante similar a outros jogos do gênero como Cavaleiros do Zodíaco: Alma dos Soldados ou Dragon Ball Xenoverse nesse aspecto.
Como um jogo do gênero, ele coloca a sua disposição diferentes formas de ataques próximos e à distância, além de um arsenal de esquivas e técnicas de aproximação. A movimentação pela arena pode ser um pouco confusa e deixar o jogador desorientado para quem não tem experiência com isso, mas é fácil de se entender e bastante intuitivo, já que ele se esforça para manter a gama de botões utilizados o mais conciso possível.
Essa concisão pode parecer uma limitação, mas acaba sendo o ponto mais alto do jogo. Enquanto existem apenas seis botões principais, todos eles se encaixam perfeitamente, fazendo com que as lutas sejam muito fluidas e capturem bem o dinamismo e intensidade que se espera de um jogo que está tentando transportar as cenas de um anime para o seu campo de batalha virtual.
Para isso, ele se vale de um sistema bem simples para o mapeamento das ações. Existem três botões de ataque, sendo quadrado destinado a ataques normais, triângulo para ataques à distância (e que podem ser carregados) e círculo para um ataque especial para quebrar a guarda do adversário. X é destinado a pular e quando pressionado duas vezes te faz perseguir o inimigo e atacá-lo. Por fim, temos R1 funcionando como defesa e L1 como modificador para os três botões de ataque para usar os ataques especiais e L1+R1 ativa a Bloody Valor e, eventualmente, a Secret Art de cada personagem.
É tudo bem simples, mas funciona porque é possível realizar uma gama absurda de combos, ligando todo tipo de ataque um ao outro com resultados incrivelmente distintos, não havendo qualquer tipo de trava em sequência nos ataques, sendo possível inclusive combinar ataques simples em especiais que, por serem facilmente ativados (L1+um botão de ataque e consomem sempre dois dos quatro “pedaços” da barra de especial que vai carregando a medida que o jogador causa ou sofre dano), tornam o combate muito divertido.
É o exato tipo de profundidade que alguém esperaria de um jogo que carrega o nome da Arc System Works, mesmo que ela não seja a desenvolvedora. É notório também que a especialidade da ArcSys são jogos de luta 2D e ajudar com essa expertise enquanto outra desenvolvedora trouxe suas próprias habilidades para um arena fighter resultaram em um jogo recompensador mecanicamente e um espetáculo visual.
O único “problema” no combate é que, por mais que exista um tutorial para lhe ensinar os comandos básicos, ele não te explica direito como funciona a mecânica do Bloody Valor, uma espécie de jogo de pedra, papel e tesoura que, ao ser vencido, vai carregando o seu nível de Valor que, ao alcançar o nível 3 libera o uso da Secret Art de cada personagem que é o seu grande ataque especial.
Isso tudo resulta em um um show visual, com muitos efeitos e cores resultando num combate que passa sempre um senso de urgência e intensidade que muitos jogos não conseguem capturar. Muito do sucesso e do impacto que isso tem vem do fato da APLUS e da ArcSys terem trabalhado diretamente com o Studio Trigger, responsável pela criação de KILL la KILL.
Isso se reflete não só no visual, mas na história do jogo. Contando com um Story Mode dividido em duas partes distintas, KILL la KILL – IF – foge do padrão de se recontar a história do anime, optando por uma nova narrativa girando em torno de fatos alternativos e imaginando o rumo que as coisas poderiam ter tomado caso alguns momentos-chave tivessem sido um pouco distintos.
Cada parte é dividida em dez capítulos, com a primeira delas sendo do ponto de vista da Satsuki Kiryuin, presidente do conselho estudantil de Honnouji Academy, e a segunda parte colocando o jogador no controle de Ryuko Matoi, a estudante cabeça-quente em busca de vingança portando uma lâmina em forma de tesoura como arma.
A história absurda de KILL la KILL, com os estudantes se rebelando do controle da Fibra da Vida que compõe os seus uniformes que os dão poderes para lutar e que precisam derrotar o novelo de lã primordial, nunca vai deixar de ser absurdo e divertido na quantia certa e a forma como a história é reimaginada aqui funciona muito bem, entregando um ótimo modo história que dá a devida atenção a um dos melhores elencos de personagens que existe e até mesmo lidando bem o cânone do anime e a sua premissa.
Um outro ponto alto é a variedade absurda de situações em que o modo história coloca o jogador. Seja lutando contra todos os membros da Elite Four ao mesmo tempo, lutando contra centenas de roupas animadas ao mesmo tempo ou tomando parte em uma batalha simultânea entre três personagens. KILL la KILL – IF – conta com o mais variado e criativo modo história já visto em um jogo de luta e deixa para trás os supostos “exemplos” de como se fazer ao realmente revolucionar o gênero.
Felizmente, a influência da Trigger parece ter levado a um modo história incrivelmente bem animado, com cenários bem bonitos, cenas que capturam em 3D o espírito do anime original e um estilo meio cel-shaded que se encaixa perfeitamente com o visual e estilo exagerado de KILL la KILL, sendo um feito bem impressionante e que se torna ainda melhor com o ótimo trabalho feito pela equipe de áudio, com ótima trilha sonora e uma bela dublagem completa em japonês (e que funciona bem até mesmo com a dublagem americana).
Isso já seria suficiente para justificar a existência do jogo mas ele não para por aqui. O jogo conta ainda com uma vasta gama de modos multiplayer, local e online, inclusive com partidas ranqueadas e a possibilidade de se criar salas, além de vários modos de desafio single-player, como um modo survival, um desafio para se derrotar o máximo de roupas possíveis e vários outros inspirados em lutas bem distintas inicialmente apresentadas ao jogador no modo história.
O outro ponto que poderia ter sido algo negativo para KILL la KILL – IF mas que acaba funcionando é o elenco extremamente limitado do jogo. Como dito, são apenas 8 personagens, com as duas protagonistas possuindo também uma variação portando duas espadas. É impossível não considerar isso um número muito baixo, mas, felizmente, cada um é bem único e funciona bem.
O balanceamento entre os personagens é muito bem feito, com tanques lentos e poderosos, personagens equilibradas, personagens mais rápidos e que causam menos dano e personagens focados em ataque à longa distância. Isso leva a várias possibilidades de match-ups. Os membros da Elite Four de Honnouji possuem, inclusive, mecânicas únicas refletindo os seus estilos específicos, fazendo com que cada personagem precise de um tempo de dedicação para ser aprendido, dada ao grande leque de ações disponíveis para cada um deles.
Há muito pouco o que criticar aqui, com os únicos problemas vindo nas legendas sumindo em alguns momentos durante o modo história e re-aparecendo logo depois ou alguns loopings nas cenas, a falta de possibilidade de se escolher quem atacar nas batalhas contra mais de um inimigo e a curta duração do modo história que não passa das quatro horas.
Mas, no geral, o que temos aqui é uma experiência incrivelmente polida e que funciona bem até mesmo online, tendo sido encontrado pouquíssimos problemas com o netcode, sendo possível filtrar até por qualidade de conexão caso o jogador prefira, além de contar com várias opções pra quem não quiser jogar online.
KILL la KILL – IF é um arena fighter muito mais profundo e bem desenvolvido do que a esmagadora maioria dos jogos do gênero. Enquanto em sua grande maioria eles se contentam em contar a história do anime e trazer mecânicas sólidas se não muito profundas, aqui temos um jogo de luta rico e profundo mecanicamente que se vale da IP e do pedigree da Arc System Works para propeli-lo ao próximo nível, tornando-o, com facilidade, o melhor jogo do seu gênero disponível.
Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela PQube.
Veredito
KILL la KILL – IF é o melhor arena fighter dessa geração, dando uma verdadeira aula sobre como tecer um ótimo modo história, além de ter um combate afiado e polido, cheio de variedade, permitindo ao jogador moldar o seu próprio espetáculo.
KILL la KILL – IF is the best arena fighter of this generation, giving a master class in how to weave a great Story Mode and a sharp and polished combat, full of variety, letting the player mold its own show.
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