Análise – Death Stranding
Vivemos em uma era em que o mercado de jogos digitais se consolidou como um dos mais lucrativos do mundo, gerando centenas de bilhões a cada ano que passa e ultrapassando com folga outras mídias de entretenimento como o cinema e a música. Infelizmente, muitos dos produtos que compõem a indústria são frutos de uma fórmula há muito saturada, que aposta sempre nos mesmos elementos para evitar riscos que comprometam a renda de seus investidores. Frente a isso, é totalmente legítima nossa estranheza ao nos depararmos com algo que desafia o convencional – é o caso de Death Stranding, uma experiência singular que só poderia ter saído da mente criativa de Hideo Kojima.
Ame ou odeie, é impossível negar a relevância de Hideo Kojima no cenário dos jogos eletrônicos. Seu trabalho em Metal Gear não apenas construiu os principais pilares do gênero stealth, como provou que os videogames poderiam apresentar narrativas tão profundas e complexas quanto as que são concebidas pelos grandes cineastas em Hollywood. Entretanto, desde sua saída da Konami e o anúncio de seu primeiro título independente, todo o legado deixado pelo game designer parece ter sumido para dar lugar a uma única pergunta: poderia Kojima ser capaz de criar algo tão grandioso novamente?
A narrativa escrita por Hideo Kojima nos entrega a visão distópica de uma América próxima do fim dos tempos devido à ação do “Death Stranding”, um fenômeno catastrófico que não só afetou o ecossistema mundial, como alterou as leis da vida e da morte. O continente foi coberto pela Timefall, uma chuva capaz de acelerar o processo de envelhecimento de tudo aquilo em que toca, eliminando aos poucos qualquer traço da flora e fauna do país. Como se não bastasse, as almas daqueles que morrem ficaram incapazes de ir para o além, encalhando entre as realidades e se transformando em criaturas invisíveis a olho nu denominadas EPs que, ao entrar em contato com humanos, são capazes de gerar explosões em larga escala, dizimando cidades ou estados inteiros.
Gradativamente, os meios de comunicação desapareceram, as cidades foram reduzidas a pilhas de escombros e os poucos habitantes que restaram tentam sobreviver isolados em cidades e abrigos subterrâneos criados pelo governo. Aqueles que tiveram coragem suficiente em se aventurar pela superfície se tornaram ladrões e saqueadores conhecidos como MULAS, enquanto outros formaram grupos terroristas cujo único propósito é destruir o que restou da humanidade.
Algumas organizações viram a situação da América como uma nova oportunidade para gerar lucros e começaram a oferecer serviços de transporte de mercadorias e suprimentos para localidades remotas ou de difícil acesso, mantendo vivos aqueles capazes de pagar pelo serviço. É nesse cenário em que finalmente conhecemos o nosso protagonista, Sam Porter Bridges, que trabalha de forma independente como um transportador. Sam é o filho caçula da Presidente dos Estados Unidos, vínculo que o personagem prefere manter oculto, em função de certos traumas de seu passado.
Após uma determinada sucessão de acontecimentos, Sam descobre que é um repatriado, um ser imortal cuja alma sempre regressa ao corpo após a morte. Por conta de sua habilidade peculiar, ele se torna a ferramenta ideal capaz de realizar os interesses da B.R.I.D.G.E.S., uma organização governamental criada por sua mãe, que tem como objetivo a restauração da nação através da unificação das cidades da América. Sob a promessa de terminar o trabalho de sua mãe, Sam partirá em uma jornada rumo ao oeste, reconectando o que sobrou da civilização, enquanto busca desvendar o mistério por trás do Death Stranding.
O esforço e dedicação empregados por Hideo Kojima na construção do enredo de Death Stranding merecem mais do que simples elogios, uma vez que temos diante de nós uma narrativa extremamente complexa, mas que consegue ser explicada naturalmente ao jogador ao longo da experiência. A narrativa mantém uma estrutura linear ao longo do jogo e, apesar de possuir um ritmo mais lento em seu início, gradativamente ganha força conforme aprendemos mais sobre aquele mundo, seus personagens, regras e conceitos. Tudo é muito coeso e bem amarrado, e os fatos fazem total sentido dentro do próprio universo, não deixando margem para pontas soltas ou furos de roteiro. Portanto, não se preocupe com a falta de lógica ou bizarrice transparecida pelos trailers promocionais do jogo. Acredite: tudo fará sentido quando você começar a sua jornada.
A história do game contempla diversos temas interessantes e polêmicos, abrindo espaço para profundas reflexões acerca de nossas crenças, costumes, dos impactos causados pela tecnologia em nossas vidas, o legado que deixaremos para as futuras gerações, etc. Existe muito a se aprender das dezenas de alegorias presentes no título, sendo praticamente impossível finalizá-lo sem absorver alguma mensagem ou lição importante para nossa vida. Eu, por exemplo, passei a perceber a real importância de certos indivíduos ao nosso redor que desempenham um papel fundamental e insubstituível para a sociedade. Há uma mensagem clara sobre como estamos nos tornando cada vez mais distantes uns dos outros por conta da internet e suas redes sociais que, a princípio, deveriam eliminar as barreira físicas entre os indivíduos, mas acabaram criando obstáculos piores entre as nossas mentes. São lições que fiquei extremamente grato de ter aprendido e que certamente continuarão relevantes no futuro.
As longas cutscenes que são a marca registrada de Kojima também marcam presença em Death Stranding e algumas facilmente ultrapassam a faixa de 30 minutos. Isso pode parecer um pouco cansativo para quem não está acostumado com a obra do diretor, mas posso garantir que esse tempo passa voando, principalmente quando começamos a obter detalhes importantes dos principais mistérios do jogo. A direção, composição e fotografia de cada uma das cenas é absolutamente impecável, dignas de um verdadeiro diretor de cinema, e homenageiam a todo instante obras aclamadas da cultura pop como Apocalypse Now, Akira, 2001: Uma Odisseia no Espaço, O Mensageiro, Twin Peaks, Evangelion e O Exterminador do Futuro.
Outro ponto extremamente positivo se encontra na forma com que seus personagens são trabalhados pelo roteiro. Eles possuem um carisma absurdo, com destaque para a Mama, Deadman e Heartman, que simplesmente roubam a cena quando aparecem. Cada um possui um arco próprio de desenvolvimento dentro da narrativa principal, sendo que podemos aprender mais sobre o seu passado, medos, manias, ambições e virtudes. Isso também é válido para os antagonistas que, por sua vez, transpassam uma verdadeira sensação de perigo ao jogador.
Foram utilizados modelos e atores reais no processo de criação do visual de cada um dos personagens e NPCs do jogo, recurso que já foi explorado por Kojima no passado quando trabalhava na série Metal Gear. O game conta com um elenco de peso, composto por diversas personalidades famosas como Norman Reedus, Mads Mikkelsen, Lindsay Wagner, Troy Baker, dentre outros, além de participações especiais que sem dúvida surpreenderão os jogadores mais antenados na cultura pop. Alguns personagens como o Deadman, moldado sob a aparência de Guillermo Del Toro, são interpretados por outros dubladores, mas isso não tira em momento algum o charme da experiência. No geral, os atores e dubladores entregam uma performance sólida e, mesmo o jogo possuindo uma excelente dublagem para português do Brasil, recomendo que a aventura seja acompanhada em seu idioma nativo por conta de sua atuação. Toda a experiência pode ser finalizada em torno de 50 horas, podendo se estender indefinidamente por conta de seu multiplayer assíncrono.
Death Stranding possui algumas das mecânicas mais complexas que já vi até então em um jogo e seu mundo oferece um alto grau de liberdade para o jogador. Seu mapa é uma versão reduzida, porém ainda gigantesca, dos EUA que aqui é dividido em três regiões: leste, oeste e centro. Dessa forma, o jogo nos entrega um mundo semiaberto que pode parecer decepcionante à primeira vista, até percebermos a sua real vastidão.
Essencialmente nosso objetivo principal é viajar pelo território americano rumo ao oeste, conectando o sistema de abrigos e cidades subterrâneas à rede quiral da B.R.I.D.G.E.S., além de transportar suprimentos e materiais importantes de um lugar para outro de forma paralela. Prepare-se, pois para que isso seja possível, será necessário andar distâncias inimagináveis por um mundo que parece querer matá-lo a cada instante. Kojima não brincou ao chamar seu jogo de “walking simulator” durante algumas entrevistas. Porém, para minha surpresa, andar não se torna cansativo ou entediante em momento algum ao longo da aventura. Isso acontece pois somos completamente livres para escolher o nosso próprio trajeto, que nos levará do ponto A ao B, e isso faz toda a diferença. Deseja tomar um caminho mais longo, mas sem ameaças para você e a sua carga? É possível. Quer seguir pelo caminho mais curto, através de um território controlado por bandidos, correndo o risco de ser atacado? Vá em frente e boa sorte em sua empreitada.
Em momento algum em Death Stranding somos obrigados a nos deslocarmos por um caminho específico por mero capricho de seus desenvolvedores. A maior evidência disso está na possibilidade de se criar rotas personalizadas no mini-mapa do jogo pelo uso de pontos de controle, que podem ser ligados da forma que o jogador bem entender. Ao andarmos pelo cenário, a rota que traçarmos será exibida a todo instante no próprio mundo por meio de uma linha tracejada, lembrando um pouco as setas que apareciam para nos guiar em Bioshock Infinite. Essa abordagem torna cada uma de nossas viagens únicas, criando a oportunidade de apreciar com detalhes esse belíssimo mundo criado pela Kojima Productions.
Para avançar no jogo, é necessário que o jogador cumpra “pedidos”, que aqui funcionam de forma semelhante à uma missão principal ou secundária. Os pedidos são criados pelos NPCs do jogo e podem ser aceitos na forma e quantidade que bem entendermos. Uma vez iniciado, será necessário transportar um ou até vários itens específicos para outra localidade, que eventualmente poderá ser conectada à rede quiral por Sam. Concluir pedidos é uma atividade necessária para aumentar o nosso nível de sincronização, representado aqui por um número que varia de 0 a 5 estrelas. Fortalecer essa conexão é vital para liberar novas funcionalidades, equipamentos e estruturas, e obter acesso a novas fontes de recursos naturais.
A evolução de nosso personagem é realizada por meio de curtidas (ou likes se preferir), que são recebidos após uma entrega bem sucedida e avaliam Sam com base em cinco atributos: qualidade da carga, volume transportado, tempo de entrega, social e miscelâneas. Cada um desses atributos possui um determinado nível e somados definem o nível geral de seu personagem. Quanto melhor o seu desempenho em um pedido, mais curtidas você receberá em cada uma dessas categorias, elevando seu nível e obtendo bônus permanentes para Sam, como maiores capacidades de carga, melhorias no equilíbrio, estamina, movimentação, etc. Apesar de ser relativamente complicada, a evolução de nosso personagem acontece de forma extremamente natural ao longo da campanha, incentivando que o jogador interaja cada vez mais com o mundo e os outros jogadores.
Apesar de parecer simples, as viagens precisam ser pensadas com muita cautela, uma vez que Sam precisa lidar com diferentes tipos de entregas enquanto realiza sua jornada. Para isso, o jogador constantemente precisará administrar o que deverá ou não ser levado consigo em suas viagens, algo vital ao longo de todo o jogo. Consequentemente, é necessário estudar atenciosamente o mapa para obter detalhes importantes sobre o tipo de relevo, variação de altitude, ameaças ambientais, direção do vento, áreas tomadas por MULAS, locais com alta incidência de EPs, etc.
Existem diversas mecânicas de sobrevivência e o jogador deverá ficar atento a diversas variáveis em suas viagens. A barra vermelha é o medidor de sangue, enquanto que a barra azul abaixo é o medidor de energia. À medida que este último se esgota, Sam se move mais devagar e tem mais dificuldade de se manter em equilíbrio. Caso Sam perca sangue demais, ele ficará anêmico, diminuindo seu fôlego e deixando o personagem incapaz de transportar cargas muito pesadas. Para restaurar a energia, o jogador pode descansar a céu aberto, beber água do seu cantil ou dormir em bases da Bridges espalhadas pelo mapa. Ao andar é importante verificar a vida útil de seus sapatos (que vão se desgastando ao longo do tempo) para evitar que Sam machuque os pés e perca sangue no processo. Há ainda uma barra que indica o nível de felicidade de nosso Bridge Baby (BB) sendo importante mantê-lo feliz sempre que possível. Caso a barra se esgote, nosso BB entrará em um estado de autoxemia e ficará incapaz de detectar EPs.
Ao dormir em abrigos, o jogador será levado para um quarto privado, onde pode customizar itens, alterar a aparência de seus equipamentos, ouvir música, recuperar e interagir com o seu BB, ler documentos que contam mais sobre a história do jogo, tomar banho e até realizar suas necessidades fisiológicas. Os dejetos gerados por Sam são colhidos e convertidos em granadas especiais que podem ser utilizadas contra EPs.
Sam é capaz de transportar dezenas de cargas diferentes que podem ser carregadas em sua mochila, presas em ganchos localizados em seus membros ou levadas por suas mãos. Cada item possui tamanho e peso específicos, e a forma com que você distribui a carga afeta diretamente o centro de gravidade e as capacidades físicas de Sam. Grandes volumes de carga tornam sua movimentação mais lenta e difícil, aumentando a probabilidade de nosso personagem se desequilibrar e cair, o que pode danificar severamente os objetos que precisam ser entregues. Dessa forma, é aconselhável que o jogador leve itens e ferramentas que realmente vá utilizar, para facilitar o ajuste e equilíbrio da carga. Caso desejar e achar mais prático, é possível organizar a carga de forma automática, que definirá o melhor jeito de carregar sua bagagem.
Ao nosso dispor está uma quantidade absurda de ferramentas que nos auxiliarão durante a nossa jornada e que podem ser utilizadas de múltiplas formas pelo jogador e criando maior variedade no gameplay. Escadas podem ser utilizadas para acessar locais mais altos ou funcionar como uma ponte improvisada para atravessar precipícios. Âncoras de alpinismo, por sua vez, permitem descer ou subir em locais íngremes com segurança. Exoesqueletos aumentam as capacidades físicas de Sam, tornando-o capaz de carregar mais peso, correr mais rápido e saltar maiores distâncias. Há tratores flutuantes que atuam como uma espécie de reboque, que podem ser presos na cintura de Sam, possibilitando carregar múltiplas cargas.
O ambiente é um dos principais inimigos em Death Stranding, sendo necessário extremo cuidado ao transitar por terrenos montanhosos, atravessar rios e descer de encostas íngremes para preservar a integridade de nossa carga. Todo cuidado é pouco e, para nos auxiliar nessas situações, recorremos ao Odradek, um scanner em formato de braço anexado ao ombro de Sam, que pode ser ativado a qualquer momento por meio do botão R1. Uma vez ativado, o dispositivo emitirá uma poderosa onda que analisará o terreno à frente de Sam, exibindo a profundidade dos rios ou terrenos que Sam tem dificuldade de se equilibrar. Além disso, o Odradek é capaz de destacar itens e cargas perdidas pelo cenário, áreas de interesse e até mesmo a localização de grupos inimigos.
Eventualmente, ganharemos a possibilidade de nos locomover pelo mundo por meio de veículos, que em Death Stranding assumem a forma de triciclos e caminhonetes. Os veículos são extremamente úteis para concluir pedidos que envolvem múltiplas cargas ou objetos pesados, além de facilitarem o deslocamento do jogador pelo cenário. É preciso ter em mente, porém, que certos terrenos limitam o uso desse tipo de recurso, sem contar que são relativamente vulneráveis a ataques inimigos. Cada veículo é movido por baterias elétricas que podem ser recarregadas automaticamente por meio de energia solar ou em geradores espalhados pelo mapa, e existe a possibilidade de sacrificar a sua capacidade de carga para colocar uma bateria extra, aumentando a sua duração. A direção, por sua vez, é extremamente agradável, respondendo muito bem aos comandos do controle.
Assim como em Dark Souls, a morte é tratada em Death Stranding de forma diferenciada, uma vez que Sam é um repatriado. Ao morrer, o jogador será enviado para a “emenda”, um local que pode ser explorado livremente em primeira pessoa, lhe permitindo vagar fora de seu corpo e recuperar itens, ver as almas de outros jogadores, entre outras coisas. Para sair do lugar, é necessário encontrar o corpo físico de Sam, possibilitando que ressuscite no mundo real onde as suas ações ainda persistem. Portanto, se antes de morrer você nocauteou um inimigo, ele continuará inconsciente após o seu regresso.
Espalhados pelo mundo existem territórios e acampamentos controlados por grupos terroristas ou MULAS, que são uma ameaça tanto para o jogador quanto para sua carga. Felizmente, o jogo oferece múltiplas formas de se lidar com esse tipo de adversidade e você pode agir com base no estilo de abordagem que mais se adeque a seu estilo de gameplay. Por exemplo, você pode tentar atravessar o território rapidamente com um veículo, desviar sua rota, tentar se infiltrar furtivamente para roubar novos equipamentos, suprimentos ou cargas perdidas. Estas podem ser entregues ao destinatário para se ganhar mais curtidas e aumentar a sua sincronização com o local.
O combate também é uma alternativa válida e, apesar de existir, é completamente opcional, sendo possível terminar o game sem ter de eliminar um único inimigo. Sam pode eliminar os inimigos furtivamente, além de ser capaz de realizar ataques envolvendo socos e chutes, e usar recipientes de carga como uma arma improvisada. O jogo disponibiliza um generoso arsenal de armas que podem ser utilizadas para nossa defesa como pistolas, metralhadoras táticas, espingardas, explosivos, lança-granadas, bazucas e outros. Cada uma possui uma variação não-letal, que utiliza projéteis feitos de borracha para nocautear os inimigos. O uso de munição letal não é aconselhado, uma vez que, segundo a lógica estabelecida pelo enredo, isso apenas criaria mais EPs e obliterações. Consequentemente, o jogador deverá transportar o quanto antes os corpos de cada inimigo eliminado para uma estação de cremação. Assim, evitará o surgimento de crateras em seu mundo que possam destruir abrigos ou cidades.
Certas regiões do jogo são completamente dominadas por EPs, o que requer uma extrema cautela por parte do jogador ao transitar por tais lugares. Não é possível permanecer muito tempo nessas zonas, uma vez que está sempre chovendo, algo prejudicial para a sua carga que gradativamente começará a se deteriorar em função da ação da chuva temporal. Sempre que nos aproximarmos desses locais, nosso BB assumirá automaticamente o controle do scanner Odradek, que passará a atuar como um detector de presença, apontando a direção em que as criaturas invisíveis se encontram. É de vital importância que o jogador se mova lentamente, segurando o botão R1 para que Sam prenda a respiração e evitando todo tipo de ação que possa emitir barulho.
Caso os EPs detectem o jogador, uma parcela do chão ao redor de Sam será demarcada por um líquido negro, de onde diversos espíritos começarão a emergir, tentando derrubá-lo. Nesse momento é necessário agir rápido para sair desse local, pressionando botões que farão Sam se debater e manter o equilíbrio enquanto nos movemos para um terreno seguro. Caso o jogador falhe, ele acabará despertando uma poderosa entidade, fruto da combinação de todos as almas encalhadas da região, e então uma batalha contra chefe será iniciada.
Para enfrentar EPs, o jogador deverá utilizar balas hemáticas, uma munição especial que carrega o sangue do próprio Sam. Ao fazer isso, estaremos sacrificando nossa própria barra de vida, que pode ser reestabelecida depois por meio de bolsas de sangue. Esses confrontos são incrivelmente épicos, possuindo uma carga real de tensão uma vez que, se um EP conseguir devorar Sam, uma grande explosão ocorrerá. Claro, você reviverá normalmente, mas uma cratera gigantesca tomará o local, afetando para sempre a região do jogo.
Tudo que foi dito até aqui representa apenas uma pequena parte do que Death Stranding tem a oferecer. A experiência real do jogo só pode ser alcançada através de seu inovador multiplayer assíncrono, a qual cria a maior experiência cooperativa que já vi na história dos games. O conceito implementado aqui é o mesmo que Dark Souls utiliza nas mensagens que os jogadores podem deixar no chão, mas elevado à enésima potência.
O mapa de Death Stranding funciona como um mundo compartilhado entre os jogadores e, conforme jogamos, os itens, escadas, cordas, veículos e construções que deixamos para trás podem ser encontrados por outras pessoas em seus mundos, ajudando-os em sua jornada. Há um nível absurdo de opções de interação entre jogadores: podemos encontrar cargas perdidas e enviá-las para os seus respectivos donos; podemos solicitar ferramentas ou materiais que podem ser entregues em uma localidade de nossa escolha; jogadores podem cooperar para construir, reparar e aprimorar construções como estradas, pontes, geradores de energia, caixas postais, abrigos, tirolesas e muito mais; podemos repassar determinadas cargas para que outros jogadores entreguem no destino; e há até um armário compartilhado, onde podemos doar itens, armas, recursos e ferramentas para que outros jogadores possam utilizar.
Graficamente, Death Stranding é um dos jogos mais bonitos já feitos para o PlayStation 4, algo que só é possível graças à utilização da Decima Engine, o motor gráfico criado pela Guerrila Games e que dá vida ao universo de Horizon Zero Dawn. As texturas são fotorrealistas e incrivelmente detalhadas, transformando os diferentes biomas em verdadeiros quadros vivos. O título possui excelentes efeitos de iluminação e de partículas que são utilizados para criar as alterações climáticas mais realistas que já vi em um jogo de videogame. Tudo é executado de forma primorosa, com uma performance extremamente sólida, não apresentando nenhuma queda de framerate.
O jogo possui uma das melhores trilhas sonoras que já ouvi, com belíssimas composições de bandas como MajorLazer, Bring me The Horizon, Silent Poets e Alan Walker. Entretanto, quem rouba a cena é a banda indie canadense Low Roar, que possui mais de 20 de suas músicas inseridas no game. Cada uma de suas canções traduz perfeitamente o sentimento presente no jogador ao transitar dentro das diferentes áreas e é impossível não virar fã do grupo após a conclusão de sua jornada.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Sony Interactive Entertainment.
Observação: não deixe de conferir o nosso vídeo review de Death Stranding no início deste texto.
Veredito
Death Stranding é certamente um dos melhores títulos que tive o prazer de jogar nesta geração e a semente responsável por gerar um subgênero totalmente novo, que sem dúvidas em breve dará belíssimos frutos no futuro. Hideo Kojima se superou ao nos entregar não apenas uma história excepcional, mas um vasto mundo que está em constante mudança por conta das ações de seus jogadores. Certamente, não é um jogo que agradará a todos, mas posso garantir que aqueles que se deixarem levar pela sua proposta, enredo e mecânicas terão uma experiência inesquecível. O amanhã está nas suas mãos!
Death Stranding is certainly one of the best titles I’ve had the pleasure of playing in this generation and the seed responsible for creating a whole new subgenre that will undoubtedly bear beautiful fruit in the future. Hideo Kojima has excelled himself by giving us not only an exceptional story, but a vast world that is constantly changing because of the actions of the players. It is certainly not a game that will please everyone, but I can guarantee that those who get carried away by its proposal, plot and mechanics will have an unforgettable experience. Tomorrow is in your hands!
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