Análise – Crystar

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JRPGs são um gênero que estranhamente conta com poucos jogos com inclinações mais artísticas. Raros são os gêneros que contém tantos clichês e que se mantém tão fidedignos a eles do que esse, sendo uma verdadeira brisa fresca quando vemos jogos que tentam algo diferente e especial, mesmo quando acabam tropeçando em seus próprios esforços.

Crystar, jogo da GemDrops, inc. (estúdio com experiência em suporte a títulos da Square-Enix, em especial os jogos da Tokyo RPG Factory) e publicado pela Spike Chunsoft, traz um forte toque artístico para si, valendo-se de um dos gêneros de anime que mais costumam brincar com as expectativas do espectador/jogador para entregar uma narrativa surpreendente.

Bastante inspirado em obras fundamentais do sub-gênero de Mahou Shoujo (ou magical girls), ele incorpora alguns sub-tons mais sombrios que obras como Madoka Magica costumam apresentar, Crystar coloca o jogador no papel da jovem Rei Hatada que, em conjunto com a sua irmã Mirai Hatada, se encontra presa em um dos piores locais possíveis: o Purgatório.

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Tentando proteger sua irmã das terríveis ameaças que aquele lugar colocou em seu caminho, Rei, uma reclusa adolescente de 15 anos, acaba sendo enganada por uma Revenant chamada Anamnesis e, ao invés de proteger Mirai, acaba matando-a exatamente no local em que as almas vão para serem reencarnadas. Tomada pelo luto, Rei parte então em uma missão para tentar salvar a alma da Mirai antes que ela morra de uma vez por todas.

Crystar acaba sendo, então, uma interessante jornada explorando um sentimento no qual pouco é tocado nos videogames (curiosamente, um tema similar ao jogo mais recente do estúdio com ao qual a GemDrops deu suporte por algum tempo), que é o luto e a forma como a dor de perder alguém querido para nós é um dos sentimentos mais básicos que o ser humano possui. Ele também funciona como uma bela exploração dos traumas que alguns experienciam durante a infância e como isso influencia quem somos.

A narrativa de Crystar é, com muita folga, o seu ponto mais alto e acaba o tornando uma das experiências mais únicas e especiais lançadas em algum tempo. Grande parte desse sucesso vem na força dos personagens e o quão bem escritos eles são, seja a protagonista Rei, sejam os personagens secundários que a acompanham na jornada (Kokoro, Sen e Nanana) ou os dois demônios para os quais Rei vende sua alma em troca da chance de salvar sua irmã, Mephis e Pheles.

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A jornada de Rei através do Purgatory para caçar Revenants em nome da Mephis e Pheles como a executora delas e coletar Idea, lágrimas cristalizadas que se formam do subconsciente de uma pessoa é bem construída e as motivações por trás dos personagens costumam capturar bem o tom melancólico do jogo e possuem um bom grau de complexidade, fazendo com que nenhum evento ou ação seja aleatório, sempre mantendo-se consistentes com a construção de cada personagem.

Além da escrita, algo que ajuda muito a capturar a tonalidade que que os desenvolvedores parecem ter idealizado para o título são os seus belos gráficos emulando um estilo bem manual e que replica bem um estilo mais gótico, com tons fortes e escuros, mas, infelizmente, isso não se reflete nas animações dos modelos 3D que deixam bastante a desejar. A trilha sonora é um outro ponto alto e o trabalho de dublagem do jogo merece destaque, captando bem a emoção dos diálogos.

Apesar da história sombria e corajosa mexer com o jogador, o que realmente lhe trará dor é o fraquíssimo sistema de combate. Crystar é um RPG de Ação que não consegue captar tão bem o espírito do combate como deveria para conseguir fazer com que o seu sistema de missões funcione a contento, sendo que muitos dos problemas do combate vem da sua simplicidade extrema.

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Uma das principais limitações vem do sistema de combos simplório, que não evolui à medida que o jogador vai subindo de nível, sendo raras as vezes em que novos movimentos são adicionados ao combate que fujam dos típicos ataques especiais físicos e mágicos (sendo possível equipar até 4 ao mesmo tempo). Isso acaba sendo um pouco estranho já que manter um alto medidor de combo é fundamental para que a principal mecânica especial do jogo, a tear gauge, ou medidor de lágrimas, enche mais rápido quanto mais ataques em sequência o jogador acertar.

Essa barra ao ser carregada permite ao jogador invocar um Guardian, uma manifestação especial da alma do usuário (e que muda de acordo com o membro ativo da equipe), sendo possível sacrificar o resto de tempo de ativação disponível para usar um ataque especial que causa ainda mais dano, mas que acaba sendo relegada às batalhas com chefes, uma vez que os inimigos comuns são em fáceis de serem derrotados.

Outra mecânica bem única de Crystar vem na forma dos torments e sentiments. Entre cada Ordeal (as missões do jogo), Rei retorna ao seu quarto no mundo real, onde é possível manejar o seu inventário. Entre as opções disponíveis, é possível chorar para purificar os torments, itens adquiridos ao derrotar Revenants e que representam o motivo pelo qual a alma daquele morto voltou à consciência antes de reencarnar.

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Ao purificar estes itens, Rei os transforma em sentiments, sendo possível então equipá-los para aumentar as estatísticas dos personagens ou melhorar os seus equipamentos, sendo possível ainda fundir uns sentimentos com outros para torná-los mais poderosos. É uma mecânica interessante e que funciona bem em conjunto com os conceitos do jogo, sendo ainda mais enriquecida pela opção de ler o Memoirs of the Dead, um livro que conta a história por trás de cada Revenant e as circunstâncias da sua morte.

Mesmo assim, isso não é suficiente para esconder o quão entediante o combate do jogo é, com os seus pontos altos vindo mais das interações antes de batalhas importantes do que das lutas em si. Isso poderia ser minimizado se o design das áreas fosse melhor, mas isso também é bastante repetitivo e limitado, com pouquíssima exploração ser feita pelo jogador, parecendo tudo muito genérico e sem ideias, algo que torna o combate apenas uma barreira colocada entre o que realmente importa no jogo que é a sua narrativa.

Mesmo com essas limitações, Crystar ainda é um JRPG que vale muito a pena para os fãs do gênero, em especial aqueles que se preocupam mais com a história do que com o gameplay. A história sombria do jogo é bem tocante e capaz de mexer com o jogador ao longo das suas 30-35 horas de duração, sendo ainda melhor para os fãs de animes de magical girls. É uma pena apenas que o seu combate seja tão entediante.

Crystar

Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela Spike Chunsoft.

Veredito

Apesar de contar com uma das mais interessantes e artisticamente distintas histórias dos JRPGs atuais, Crystar é um jogo severamente limitado pelo seu combate simplório que o impede de alcançar o alto nível que poderia.

75

Crystar

Fabricante: GemDrops, inc.

Plataforma: ps4

Gênero: RPG / Ação

Distribuidora: Spike Chunsoft

Lançamento: 27/08/2019

Dublado:

Legendado:

Troféus:

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Despite having one of the most interesting and artistically distinct stories amongst modern JRPGs, Crystar is a game severely limited by its simplistic combat that keeps it from reaching the high level that it could’ve reached.

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Despite having one of the most interesting and artistically distinct stories amongst modern JRPGs, Crystar is a game severely limited by its simplistic combat that keeps it from reaching the high level that it could’ve reached.

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