O sucesso avassalador que certos jogos possuem no mercado mobile, em especial no Japão, e a forma como acabam forjando um espaço considerável para si mesmos não só nos celulares, mas na cultura popular como um todo é um fenômeno sempre muito curioso de se observar, mesmo que raramente eles cheguem aos consoles.
Uma exceção a essa regra é o recém-lançado Azur Lane: Crosswave. Desenvolvido pela Felistella com base no fenômeno mobile Azur Lane, criado pela Shanghai Manjuu e pela Xiamen Yongshi, ele chega ao ocidente pelas mãos da Idea Factory International, prometendo adaptar para os consoles o shoot ‘em up naval cuja popularidade rendeu mangás, light novels, animes e audio dramas (além de milhares e milhares de cosplays pelas convenções mundo afora).
A premissa de Azur Lane: Crosswave é bem simples. O jogador é responsável por administrar uma equipe de versões antropomórficas de cruzadores navais históricos e guiá-los em batalha contra outros navios do mesmo estilo. A grande diferença é que essas embarcações assumem a forma de todo tipo distinto de garotas fofas, transformando imponentes navios de guerra em toda variante de waifu possível.
A campanha do jogo gira em torno do Sakura Empire que, durante uma simulação de combate, acaba vendo duas das suas unidades, Shimakaze e Suruga, entrarem em batalha direta contra unidades dos Siren, inimigos misteriosos que surgiram e vêm ameaçando a paz formada entre as diferentes nações do mundo.
Após a batalha, o Sakura Empire percebe que as unidades dos Siren estão liberando cubos misteriosos ao serem derrotados, passando então a planejar como conseguir o apoio das nações para coletar e investigar esses objetos que podem ser o segredo para derrotar de vez os Siren, cabendo então Shimakaze e Suruga, duas unidades novatas, a auxiliarem na solução desse mistério e recrutarem novos aliados ao longo do caminho.
Isso tudo é contado da mesma forma que outros jogos da Idea Factory, com direito as tradicionais limitações de orçamento contornadas com uma arte 2D muito bonita (se valendo muito bem das artes originais dos personagens e colocando sua própria identidade nelas) e diálogos engraçados e bem charmosos, servindo para contar uma história surpreendentemente boa através de sessões de visual novel muito bem compostas em seus sete capítulos.
O problema da história fica por conta do seu ritmo que chega a ser arrastado demais. O jogador precisa mover a sua personagem por um mapa 2D para acessar eventos (nestes mapas ainda é possível coletar caixas de itens que dão acesso a novos equipamentos para melhorar seus navios), dos quais existem dois tipos: os secundários, que exploram melhor a relação entre as personagens (que é o seu ponto alto) e os eventos principais que vão realmente avançando a história.
No entanto, muitos desses eventos principais se arrastam por longos minutos, com diversos pontos da história se dividindo entre vários eventos que você precisa ficar ativando separadamente. Isso acaba fazendo com que os períodos entre os chamados “eventos de combate” se tornam entediantes, fazendo com que o jogador se sinta compelido a pular os diálogos para tentar alcançar ao menos um pouco da ação.
E é aí que aparece um outro problema. Mesmo que um dos grandes méritos de Crosswave seja não pegar o combate da versão mobile e simplesmente jogá-lo no PS4, esperando o mesmo nível de sucesso que o jogo original teve, as sessões de combate ainda parecem extremamente presas a mentalidade de jogos de celular, com cada um dos eventos raramente superando a marca dos dois minutos.
Isso talvez seja a grande falha do jogo, já que há uma considerável adaptação em termos de mecânicas, em especial na jogabilidade, para tornar a experiência muito mais afeita ao que se espera de um jogo completo para essa plataforma, abandonando as mecânicas de “gacha” do original em favor de algo melhor realizado e isso é feito relativamente bem, mesmo sendo muito mal utilizado.
O combate abandona o estilo de shoot ‘em up 2D visto na versão mobile para um combate bem similar em 3D, com o jogador tendo controle direto sobre uma unidade e podendo alternar para outras com o simples apertar de botão. Nos oceanos, o jogador enfrentará embarcações e aeronaves inimigas, tendo a sua disposição um arsenal bem completo de opções ao seu dispor.
Cada unidade tem dois tipos de armamento base, em geral um tiro mais rápido com R1 e um mais poderoso com R2 (apesar de unidades mais focadas em dano costumam não ter armas rápidas), com a sua disponibilidade sendo marcada por um círculo azul ao redor do item na parte de baixo da tela. Além disso, cada unidade possui um boost especial com quadrado e um ataque especial com X, com alguns tipos específicos de embarcação podendo invocar unidades aéreas de suporte. Qualquer unidade inimiga que entre dentro da mira e fique marcado em vermelho é um tiro certo garantido, com o combate girando em torno de manobrar para evitar ataques inimigos enquanto os mantém na mira para destruí-los rapidamente.
Essa estrutura como um todo gera um combate que é muito divertido, ainda que cada sessão seja muito curta para realmente fazer valer a pena ou demonstrar algum tipo de profundidade. Ainda assim, o jogo é cheio de formas para melhorar ou customizar as armas e itens de cada personagem (o jogador começa com as protagonistas e vai desbloqueando novas unidades que poderão ser controladas ou servirem de suporte ao longo do jogo), dando bastante liberdade para se definir como entrar em combate, mas nunca realmente te deixando aproveitar isso.
Outro ponto que acaba pesando negativamente em relação ao combate é que é durante ele que as limitações do jogo mais se apresentam. É raro ver tipos diferentes de inimigos e até mesmo os modelos 3D das personagens ficam bem aquém das suas versões 2D. Os efeitos visuais e sonoros dos ataques são muito limitados, lembrando os de jogos do começo da geração passada, e pro quão divertido ele consegue ser, ele também é feio de se ver.
Isso tudo acaba resultando em uma experiência que mesmo conseguindo entreter em vários pontos e conte com uma escrita bem leve e divertida (talvez o grande mérito dos jogos da Idea Factory), acaba tropeçando o tempo todo e falha em realmente entregar ao jogador algo que valha a pena investir sem pensar 2x. A não ser que você seja um fã hardcore de Azur Lane, esse é um jogo que é melhor aguardar por uma boa promoção.
Veredito
Azur Lane: Crosswave é um jogo com algumas boas ideias que conseguem ser adequadamente executadas, mas tropeça em vários outros pontos que acabam limitando demais o quanto ele consegue entreter o jogador.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Idea Factory International.
Veredito
Azur Lane: Crosswave is a game with some good ideas and it manages to execute them decently well, but stumbles on various other points that limit way too much how well it entertains the player.
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