Hideo Kojima é uma personalidade conhecida em nosso meio por seu papel como diretor e produtor da aclamada série Metal Gear. De fato, o nome de Kojima é tão atrelado à série de Solid Snake e Big Boss que tem-se a impressão que Kojima vive apenas de Metal gear, o que, claro, não é verdade. Embora um tanto ofuscados pela monstruosa sombra de Metal Gear, é da mente criativa de Kojima que temos obras como Boktai, Snatcher, Policenauts e o objeto desta análise, a série Zone of the Enders, que recebe agora uma versão remasterizada em HD para o PS3(ZoE HD).
O primeiro Zone of the Enders (ZoE) foi lançado em 2001, não muito distante do lançamento do PS2, enquanto sua sequência, Zone of the Enders: The Second Runner (Anubis: Zone of the Enders no Japão, ou simplesmente ZoE2 apra nós)também para PS2, foi lançada dois anos depois. Ambos os jogos se focam no combate de mechas (robôs gigantes), conhecidos na série como Orbital Frames (OF). A série apresenta uma temática futurista, e seus personagens principais, Leo Stenbuck em ZoE e Dingo Egret em ZoE2, estão no comando de um poderosíssimo OF chamado Jehuty. Ambos encontram Jehuty ao acaso em seus jogos, e são pegos em meio a batalhas entre a Space Force e BAHRAM sobre o controle de colônias espaciais.
Se você já assistiu qualquer iteração da meta-série Gundam, a descrição acima soará familiar. ZoE se inspira nos animes da Sunrise, mas é suficientemente original para se destacar, graças ao setting interessante e, principalmente, pelos seus personagens, nos quais conseguimos facilmente enquadrar os OFs, que esbajam detalhes e personalidade em seus designs. Embora isso talvez não seja tão visível no primeiro jogo, é mais que evidente em ZoE2.
O subtítulo de ambos os jogos é, em contraste ao “Tactical Espionage Action” de Metal Gear, “High SPeed Robot Action” – e é exatamente esta a proposta do jogo. Controlando Jehuty, você tem acesso a um vasto arsenal ofensivo e defensivo, possuindo ataques a curta distância com sua lâmina, tiros, lasers, escudos de energia e várias subarmas. Jehuty também é muito ágil e manobrável, podendo fazer “dashes” para qualquer direção e voar em alta velocidade. Usando a performance superior do OF, você passa de área a área eliminando seus inimigos em combates rápidos, frenéticos e divertidíssimos. A ação em geral é complementada por set-pieces, e enquanto ZoE 1 seja bem mais mundano, ZoE2 possui partes incríveis. Algumas favoritas incluem Jehuty destruindo toda uma armada inimiga antes de enfrentar o gigantesco Zakat, a batalha contra Inhert e claro, o final.
Existem, no entanto, dois problemas importantes que ambos os jogos compartilham. O primeiro deles é a dificuldade e duração. Tanto ZoE quanto ZoE2 são jogos curtos e muito fáceis, com playthroughs durando, em geral, não mais que 6 horas. A bem da verdade, sendo um veterano de Zone of the Enders, não demorei mais de 15 horas para platinar ambos os jogos, gastando pouco mais de 7 horas em cada um. É claro que duração não é indicativo de qualidade de um jogo, mas com certeza é um fator que pesa no bolso dos jogadores.
O outro ponto fraco dos dois jogos é, pasmem, a conversão em HD. Não estou dizendo que os jogos são feios, longe disso – ZoE, mesmo sendo de 2001, fica muito bem em alta definição, apesar de suas FMVs fracas, e ZoE2 é embasbacante, com visuais belos, limpos e nítidos, contando com cenas em anime belíssimas, tal qual a nova abertura da coletânea. ALém disso, as OSTs dos dois jogos são excelentes, e embora a dublagem de ZoE seja bem fraca, a de ZoE é ótima (embora o texto não seja lá essas coisas). O grande problema de ZoE HD é o mesmo de outra coletânea da Konami (Silent Hill HD): a performance.
Não importa o quão bons sejam os jogos ou o quão bonitas fiquem as imagens estáticas, eu considero um absurdo um jogo de 9 anos atrás rodar em um console como o PS3 com a quantidade absurda de slowdowns que ZoE HD roda. Não existe meio-termo em ZoE HD: ou os jogos estão rodando do jeito que deveriam ser – ação frenética e rápida a 60fps – ou estão rodando em um frame-rate dolorosamente baixo. Não há justificativa para isso e nenhum dos dois jogos apresenta visuais taxativos a ponto de fazer o PS3 sofrer para rodá-los. O pior de tudo é que os dois jogos conseguem uma performance melhor no PS2 que no PS3, o que é francamente inaceitável. Uma queda ou outra de frame-rate talvez não prejudique tanto a maioria dos jogos, mas em jogos de ação rápida e frenética como ZoE, os slowdowns são extremamente problemáticos. Ironicamente, os problemas de frame-rate são ainda maiores em ZoE1 que em ZoE 2, o que só condiz com conversão mal-feita.
ZoE1, aliás, é de longe o elo fraco da coletânea. Embora as mecânicas básicas de jogabilidade sejam as mesmas usadas em ZoE2, o primeiro jogo é mais lento, os personagens e história são menos interessantes, os bosses são menos inspirados, há pouca variedade de táticas e inimigos, os slowdowns são piores e a jogabilidade é mais travada. ZoE2 é um jogo vastamente superior em todos os sentidos, inclusive em seus extras – missões, modo versus e o ótimo Zoradius.
No fim das contas, esta coletânea HD nos apresenta um jogo razoável e outro espetacular, em uma remasterização em HD que infelizmente é prejudicada por slwodowns excessivos, inexplicáveis e inaceitáveis em jogos de ação tão frenética quanto estes. Ainda vale a pena, mas pode decepcionar muitos no aspecto técnico.
— Resumo —
+ Trilha sonora soberba.
+ Combate divertidíssimo.
+ Nove anos depois e ZoE2 ainda é fantástico.
+ Personagens carismáticos.
– Slowdowns inaceitáveis.
– ZoE1 é beem medíocre.
– Ambos os jogos são muito curtos e fáceis.