Yars Rising – Review

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E a Atari não para de nos trazer novas leituras de algumas das produções mais celebradas (e algumas das mais ocultas também) da sua era dourada. Depois de nos presentear com versões modernas de suas propriedades como NeoSprint, Akka Arrh e Lunar Lander Beyond, eis que chega a vez da marca Yars ganhar uma chance com toda uma nova geração de jogadores, grande parte deles ainda nem nascida quando Yars Revenge, um jogo de navinha um tanto quanto diferente do que estamos acostumados nos dias atuais, fazia sua carreira no lendário Atari 2600 lá no longínquo ano de 1981.

Diferentemente do remake lançado poucos anos atrás chamado Yars: Recharged, no entanto, Yars Rising, não se configura nem como uma continuação direta, nem como uma reconstrução propriamente dita, e vai para um caminho bastante curioso. Logo nos instantes iniciais, a primeira coisa que percebemos é uma mudança radical tanto no gênero quanto na dinâmica do jogo. Conhecemos Emi “Yar” Kimura, uma programadora bastante talentosa que se encontra em uma situação de fuga das instalações da grande corporação QoTech, e com a ajuda inicialmente remota de seus amigos hackers, vê a si mesma como um personagem de um dos videogames que tanto gosta, ganhando poderes especiais, habilidades incríveis e até mesmo salvando o seu progresso em terminais computacionais.

Yars Rising

Sem compreender direito o “porquê” ou o “como” desta aventura desavisada, ela se envolve em uma trama de conspirações e precisa, depois de ser convencida por argumentos irrefutáveis, retornar, desvendar alguns mistérios e, de quebra, salvar a si e a seus amigos. Daí em diante, evitando os spoilers, a trama se complica com alguns pontos de virada realmente inesperados e a inclusão de elementos bastante característicos de jornadas futuristas e de ficção científica, tudo permeado por um bom humor e pela leveza de uma personagem cativante e cheia de personalidade. Uma pena o jogo não estar localizado para o nosso português brasileiro, porque o tom leve da narrativa é um dos seus pontos mais altos.

Tudo isso serve como um pano de fundo para um jogo de plataforma bidimensional (ou, se você preferir, 2.5D, porque personagens e ambiente são construídos, total ou parcial, tridimensionalmente, mas com uma movimentação de progressão lateral tradicional) com doses cavalares de elementos metroidvania por todos os lados. Emi pode pular, escalar e se esgueirar furtivamente por uma profusão de passagens e acessos; atirar em (ou evitar) inimigos pouco simpáticos à sua presença, incluindo robôs, insetos enormes e outras criaturas características desse tipo de produção; e, ao longo do tempo, vai adquirindo novas capacidades para atravessar bloqueios, portas trancadas e outros obstáculos inicialmente insuperáveis.

Yars Rising

Estes novos poderes são conquistados por meio do hackeamento em terminais espalhados por todo o cenário, e é nesse ponto onde a referência original fica em primeiro plano. Isso porque o modo de se superar a criptografia é vencer fases do jogo original, ou ao menos inspiradas nele, mantendo-se absolutamente toda a sua estética, mecânicas e níveis (muitas vezes, altos) de desafio. Superar a fase no tempo adequado sem morrer garante novas facilidades à protagonista, como esses novos movimentos dos quais falei anteriormente, além de abertura de portas trancadas, e aquisição de melhorias que devem compor um painel de Tetris no inventário da personagem. Essas adições podem aumentar, por exemplo, o HP de Emi, a velocidade de seus disparos ou a quantidade de mísseis a serem acumulados, dentre outras benesses.

A soma de tudo isso torna o jogo, na prática, uma aventura típica de plataforma para alcançar estes terminais, alguns obrigatórios para progressão, outros complementares. E é nesta conjunção onde está o que há de melhor em Yars Rising no que tange a jogabilidade, já que mesmo não reinventando a roda ou adicionando nada de substancialmente novo, o game os executa de forma bastante competente tanto quando precisa manter sua simplicidade, como quando ousa levar o gênero ao limite, desenhando certos trechos de maneira exemplar, enquanto outros poucos são menos inspirados. Há algumas barrigas aqui e aqui que acabam levando o ritmo a alguns tropeços, mas de forma geral, há muito mais méritos que problemas em um modelo de condução bem equilibrado.

Yars Rising

O sistema de interfaces do jogo, considerando o conjunto entre as diferentes HUDs (dos momentos de plataforma e de hacking) e os menus que gerenciam poderes equipados e melhorias implementadas, são lisos e sem floreios, mas bem objetivos. Até mesmo o mapa, que estranhamente tem sido um elemento onde várias produções desse tipo tem falhado, criando algo que mais atrapalha do que ajuda, aqui tem sua serventia, mesmo longe de ser claro o suficiente. Tudo é bastante direto, visualmente agradável e artisticamente coerente com o todo, mantendo uma simplicidade muito revigorante para dias onde tudo parece ser mais complexo do que deveria. Não há sequer tutoriais muito elaborados nem no início, nem quando aprendemos algo novo, e o que vemos, no máximo, é um aviso sobre qual o comando para aquela função e pronto, aprenda na prática. Neste caso, é o “menos é mais” que todos nós esperamos.

Aliás, se a interface é visualmente competente, toda a estrutura estética do jogo em si é um verdadeiro deleite. Os modelos de personagens bastante inspirados no estilo mangá não caem nas armadilhas de tentar atribuir expressões cartunescas de modo artificial, mantendo as ilustrações à mão nas cenas de corte, se apropriando de um estilo com quadrinhos mesmo, e nos diálogos para garantir uma personalidade única. Cenários são limpos (as vezes, até demais), com texturas e cores vívidas, mas nem por isso vazios, com cada enquadramento mais bonito que o outro. Efeitos de chuva e temperatura de cor em ambientes fechados fazem muito bem o papel de estabelecer uma ambientação bem estruturada, ainda que uma certa repetição seja inevitável por entre os diferentes quadrantes.

Yars Rising

O sistema de carregamento tem alguns deslizes, com uma tela de espera entre algumas transições que não necessariamente dividem mundos totalmente distintos. É como se alguns pacotes de níveis fossem carregados imediatamente, enquanto outros não, gerando uma discrepância entre uma passagem e outra. Enquanto algumas rolam naturalmente com sentido de continuidade, outras tem um corte, e algumas ainda demoram um pouco mais. Nada que seja muito significativo, mas não deixa de chamar a atenção. Por outro lado, chefes e outros eventos especiais ilustram a história de tempos em tempos, com pensamentos em tempo real indicando um certo progresso, o que traz mais dinamismo e uma certa preocupação em não distanciar demais público e objetivo da história.

E se na aparência o jogo tem seus bons méritos, é na trilha sonora que realmente brilha. Yars Rising se importa tanto com suas canções que exibe seus créditos no cantinho da tela sempre que elas se iniciam, e a valorização faz todo o sentido quando todas elas são bastante únicas e simplesmente incríveis. Claro que o gênero pop japonês, em grande parte com batidas eletrônicas bem marcadas, não é uma unanimidade em termos de gosto musical, mas é inevitável sentir o quão coeso é o trabalho entre toda a vibe do jogo e suas músicas bem cuidadas, com vocais inclusive, e que funcionam muito bem quando combinados com efeitos sonoros, som ambiente e diálogos, em um ótimo trabalho de mixagem sobretudo para um game que carrega consigo a herança pesada de suas maiores inspirações. Vale a pena conferir a trilha sonora do jogo, nem que for só nas plataformas de streaming, como o Youtube.

Yars Rising

Sem opções comuns de dificuldade, o jogo se limita a permitir que o jogador decida por uma invencibilidade à dano só dentro dos momentos de hacking jogando o Yars Revenge original, ou ainda dá esta opção quando fracassamos algumas vezes seguidas no jeito normal. Contudo, é um jogo de desafio equilibrado, exigindo um certo aprendizado de padrões, principalmente nos chefes, e pouco punitivo quando no controle da navinha, já que a falha consome parcos 5% de vida, possibilitando muitas e muitas tentativas, salvo se já chegarmos lá cambaleantes. No geral, portanto, é bastante convidativo a todos os públicos, e se importa muito pouco se o jogador conhece ou não a história pregressa da franquia, tornando suas referências uma homenagem, não um pré-requisito.

Sua maior restrição, portanto, fica por conta da pouca inventividade do conjunto da obra. Tanto o design do mundo quanto a jogabilidade são ajustados e bem desenhados, com alguns pouquíssimos detalhes de exceção, como a distribuição desequilibrada de pontos de salvamento, as transições diferenciadas e a repetição de padrões curtos da grande maioria dos inimigos. Porém, a sensação de que tudo aquilo já foi feito antes, e de modos mais criativos, é presente, como se o jogo fosse uma grande síntese das características mais comuns do já bastante saturado estilo metroidvania. Ser bom no que se propõe não é, claro, uma característica negativa, ou sequer positiva ao extremo, mas é importante compreender que para quem já tem seus favoritos no gênero, dificilmente vai encontrar aqui algo que o diferencie verdadeiramente.

Yars Rising

No final das contas, Yars Rising é uma ótima experiência por si, e uma belíssima nova entrada para (mais) uma IP esquecida da indelével Atari. Com visuais caprichados e muito bem ajustados, uma trilha sonora espetacular e mecânicas fluidas e bem funcionais, consegue unir o elemento da nostalgia ao modo contemporâneo de se contar histórias em um jogo de plataforma, e se beneficia com um belo trabalho de interpretação e caracterização de sua heroína para garantir uma empatia pela sua causa, que está longe da gravidade de histórias que se levam a sério demais. O jogo é leve, descontraído, bastante viciante e faz das suas mais ou menos 10 horas de jornada metalinguística algo prazeroso e bastante satisfatório.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Atari.

Veredito

Por mais que jogue seguro e não traga muitos avanços inovadores para o gênero, Yars Rising é um competente metroidvania. O título é permeado por um bom tempero narrativo, mecânicas firmes e crescentes, um belo visual 2.5D, uma belíssima composição sonora entre música, vozes e efeitos, além de pitadas nostálgicas bem comportadas.

80

Yars Rising

Fabricante: WayForward

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Plataforma / Metroidvania

Distribuidora: Atari

Lançamento: 10/09/2024

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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Although it doesn’t bring many innovative advances to the genre, Yars Rising is a competent metroidvania. The title is permeated by a good narrative, firm and growing mechanics, a beautiful 2.5D visual, a good sound composition between music, voices and effects, as well a good dose of nostalgia.

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Although it doesn’t bring many innovative advances to the genre, Yars Rising is a competent metroidvania. The title is permeated by a good narrative, firm and growing mechanics, a beautiful 2.5D visual, a good sound composition between music, voices and effects, as well a good dose of nostalgia.

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