WWE 2K24 – Review

Jogos licenciados nem sempre conseguem trazer a mesma sensação de maravilhamento que as obras na qual são inspirados. Muitas vezes desenvolvidos com pressa só para se enquadrarem numa certa janela de lançamento, falta o polimento necessário para que esses jogos alcancem o seu potencial e consigam prender o jogador.

Junte a isso o ciclo acelerado de lançamentos anuais de jogos de esporte e temos uma receita para o desastre. E, bem, esse desastre aconteceu há alguns anos com a série WWE 2K, a qual viu seu ponto mais baixo com o lançamento de WWE 2K20 que, de várias formas, também refletia um pouco do quão desgastado e, em vários momentos, ruim o produto colocado nas telas de TV pela WWE também vinha sendo. É excelente então ver que, tal qual a IP licenciada por ela, a 2K Games conseguiu reverter o cenário, tornando cada novo lançamento da franquia um evento para os fãs de wrestling.

Assim, WWE 2K24 chega muito como o momento atual da WWE sob a batuta de Paul “Triple H” Levesque: reenergizado, empolgante e maior do que nunca. Afinal, se a promessa é de que teremos “o maior WrestleMania de todos os tempos” esse ano (um claro trocadilho com a numeração romana XL sendo a sigla para roupas XG em inglês), nada mais justo que também tenhamos também o maior jogo da franquia até aqui.

Tal qual no ano passado, não espere nenhuma grande reformulação aqui. A série segue em sua trajetória de melhorar e refinar as melhorias apresentadas em WWE 2K24 mantendo o mesmo mapeamento de comandos e dinâmica de gameplay, com o jogador tendo acesso a um botão de ataque fraco, um de ataque forte, um de agarrão e um de defesa/reversão de golpes, além de botões de esquiva, combos e modificadores de ataque com os direcionais. O que não significa que não temos algumas novidades.

A grande novidade fica por conta do minigame de troca de golpes. Quem já assistiu alguma luta de wrestling deve ter se deparado com as tradicionais trocas de golpes no centro do ringue, algo que finalmente está presente aqui. É bem divertido e baseado no timing como vários outros elementos do jogo (aqui você precisa apertar e soltar o botão quando a barra chegar ao ponto verde) e é ativado ao quebrar combos adversários acertando o botão de ataque espelhado.

Também foram adicionados a possibilidade de “Super Finishers”, um golpe definitivo que precisa de três barras de Finisher para ser usado, sendo praticamente impossível de não render uma vitória; ataques da corda superior pulando em grupos (para a decepção de Bret “The Hitman” Hart); novos tipos de Paybacks; novas armas que agora podem ser arremessadas; lutas de unificação de títulos/por dois títulos; e a inclusão inédita dos juízes na luta.

Esse último ponto nos leva ao grande foco das novidades do jogo: os novos tipos de luta. Os juízes naturalmente estão vinculados à possibilidade de ter Special Guest Referee Matches, recriando momentos icônicos da história da WWE, como a luta entre Undertaker contra Bret Hart com Shawn Michaels de juiz no Summerslam 1997 ou o lendário boxeador Muhammad Ali como juiz convidado do primeiro WrestleMania. É importante dizer que, em partidas multiplayer, é possível controlar só o juiz, então se prepare para encher bastante o saco dos seus amigos assim.

Também foram adicionados, pela primeira vez, Ambulance Matches e Casket Matches, que são bem funcionais, sendo encerrados através do mesmo minigame de submissão em uma partida comum, sendo bem mais dinâmicas do que essas lutas costumam ser na vida real. Além disso, o Backstage Brawl agora tem suporte para 4 jogadores e novos elementos destrutíveis, incluindo um elevador, aumentando o caos e o dinamismo delas.

Por fim, a inclusão de Gauntlet Matches foi imensamente bem-vinda e o ponto dessas novidades. Nele, até 30 lutadores podem participar, com dois lutadores iniciando e um novo lutador entrando a cada 30 segundos, com lutadores podendo ser eliminados apenas via pinfall ou submissão até que só um sobreviva. Embora 30 seja demais, as opções menores de 4 a 8 lutadores funcionam excepcionalmente bem e é um caos muito divertido de se jogar. Com todos esses novos tipos de luta, poucas variações ainda não estão no jogo, com talvez a mais marcante sendo o Iron Survivor e Tag Team Gauntlet Matches, com a inclusão desse ano sendo um primeiro passo necessário nessa direção.

Essas inclusões são importantes para entregar a principal e mais importante novidade deste ano: O 2K Showcase… Of the Immortals. A série sempre tem trazido algum tipo de Showcase, o modo que recria lutas icônicas, focado na carreira dos seus atletas de capa. Neste ano, nada mais justo então do que celebrar o aniversário de 40 anos do WrestleMania com um Showcase dedicado às lutas mais importantes da história do evento.

São 20 lutas representando diferentes eventos ao longo desses 40 anos e que capturam muito bem a significância que o evento principal da WWE tem para a história do wrestling, a começar já nas duas primeiras lutas que são a essência básica do que a WWE é: a maestria técnica de cair o queixo entre Ricky “The Dragon” Steamboat vs “Macho Man” Randy Savage seguida logo depois pela celebração das personalidades gigantescas de personagens marcantes como Hulk Hogan vs Andre The Giant, ambas as lutas do WrestleMania III.

Esse começo dá bem o tom para o modo, fazendo com que ele seja o melhor Showcase que a série já viu e as melhorias técnicas na transição dos vídeos originais para o gameplay é ainda melhor que em anos passados. Um ponto que cabe destacar aqui é a grande quantidade de conteúdo destravável ao longo do modo, com várias novas skins para os lutadores, títulos, arenas e muito mais para enriquecer a sua experiência em outros modos.

É claro que, ao longo de 40 anos, é praticamente impossível recriar todas as lutas marcantes que o WrestleMania já viu, mas a escolha de lutas (cuja lista você pode ver aqui) é bem próxima da perfeição que se poderia esperar, salvo pela ausência de algumas lutas importantes de Tag Teams ou lutadoras femininas. É claro, celebrar a história da WWE é sempre algo complicado, visto que algumas das lutas não podem ser vistas aqui por lutadores não estarem mais na empresa (talvez a que eu mais tenha sentido falta seja Bianca Belair x Sasha Banks no WrestleMania 37, mas com a Mercedes não mais estando na WWE, é uma ausência compreensível).

Há, é claro, uma grande nuvem sobre o jogo dado o lançamento celebrando o WrestleMania bem em meio à todas as denúncias feitas contra o antigo dono da WWE, Vince McMahon, de tráfico sexual e outros crimes, incluindo entre as denúncias uma das principais estrelas da história da empresa, Brock Lesnar. A 2K fez o possível para se afastar de ambos, mas é possível encontrar alguns resquícios deles visto o quanto ambos fazem parte da história da WWE e do evento.

Muita da atenção realmente foi dada ao Showcase, com os outros modos recebendo novidades menores dessa vez. MyGM vem com uma expansão esperada de tipos de partidas, Dramas, Championships, novas ferramentas de Scout, gestão de contratos e evolução de Superstars e a possibilidade de trocá-los entre uma e outra Brand. O Universe viu a inclusão do suporte a Double Title Matches e Loser Leaves Town, mas no geral é o mesmo modo de sempre.

O MyFACTION vem com a inclusão de partidas ranqueadas com novas recompensas e um Faction Wars 2.0, trazendo novas facções históricas para o modo, além de novas modalidades de luta 4v4 e uma loja de recompensas específicas para o modo. O modo de coleção de cartas seguirá com conteúdo sazonal, algo muito bem-vindo pois, ao desbloquear cartas temáticas, com visuais de certos Superstars de determinadas eras, você também ganha acesso a usar esses visuais no restante do jogo.

Por fim, o MyRISE também recebeu duas novas linhas narrativas, uma voltada para a personagem feminina, chamada Unleashed, e uma para o personagem masculino, chamada Undisputed. O conceito de ambas é bem legal e a narrativa segue a estrutura e farofa já vista nos jogos dos últimos anos, então, se você é fã do modo, já sabe o que esperar. A principal novidade mesmo fica por conta da possibilidade de destravar personagens e ambientes únicos do MyRISE para os outros modos, além da estréia de novos Superstars nesse modo.

Cabe, antes de concluirmos, apontar que do ponto de vista técnico, o jogo segue em evolução, com modelos de personagens cada vez melhores e uma fidelidade gráfica vista em todos os momentos que deve agradar bastante aos jogadores. Ainda há o que melhorar, especialmente no que se refere a reprodução visual de barbas e cabelos, e alguns modelos que precisam ser revistos, mas o jogo caminha numa direção muito boa nesse aspecto.

Dito isso, WWE 2K24 é mais um bom passo na série, mantendo a consistência que tem sido vista nesses últimos anos. O conteúdo do Showcase é excelente, o gameplay segue sendo ótimo e muito funcional e as novidades trazidas aqui ajudam a manter a série em constante evolução e trazendo conteúdos e opções que os jogadores sempre pediram. Até mesmo os DLCs já anunciados são focados em trazer lutadores que, se não puderam entrar no jogo a tempo, são exatamente o tipo de conteúdo que os jogadores querem.

Talvez minha maior reclamação fique por conta do quão inviável o MyFACTION acaba sendo, exigindo talvez a maior quantidade de grind para se ter cartas boas que eu me lembro de ter visto em um modo do gênero, o que era de se esperar visto a abordagem já bem ruim que a 2K tem no NBA 2K Felizmente, há tanta coisa melhor para se jogar que é fácil só fingir que o modo não existe.

Assim, se você é fã da WWE e dos jogos, WWE 2K24 segue sendo uma aquisição obrigatória e que irá te render muita diversão, sendo uma bem-vinda celebração aos 40 anos do evento mais importante do wrestling e trazendo bastante conteúdo para os jogadores. Ele pode até não trazer nenhuma novidade com o mesmo impacto do que o visto quando Andre The Giant foi arremessado ao chão por Hulk Hogan, mas certamente finaliza sua própria história até melhor do que Cody Rhodes no ano passado.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela 2K Games.