Criar um novo jogo num gênero já dominado por algum título já consolidado é sempre uma tarefa complicada. Um grande exemplo disso foi a grande quantidade de títulos Soulslike que surgiu de diversas desenvolvedoras após o sucesso considerável dos jogos da From Software. Ainda que nem todos tenham apresentado qualidade necessária, algumas boas opções surgiram e ganharam destaque.
Quanto ao gênero de caça de monstros, não tivemos ainda tantas opções como concorrência e Monster Hunter continua reinando fácil até o momento. Ainda que outros tenham surgido eventualmente, como Toukiden no passado e mais recente com Dauntless, nenhum realmente teve destaque para se manter como franquia por um longo tempo e ser um concorrente direto.
A Omega Force, conhecida pela série Dynasty Warriors e também por Toukiden, decidiu se aventurar mais uma vez nesse mundo e entrega Wild Hearts. A promessa de um novo jogo de caça a monstros, num universo fantasioso, com novas mecânicas de jogabilidade e um sistema de progresso que promete entreter jogadores por dezenas de horas parece ser interessante demais para deixar passar por agora. Já adiantando, Wild Hearts tem uma das melhores premissas e com mais inovações para o gênero do que qualquer outro jogo nos últimos anos, entregando algo extremamente divertido em coop, mas que ainda carece de um bom polimento com patchs e melhorias consideráveis.
Se você já jogou algum Monster Hunter ou jogo do tipo, sabe como funciona aqui. Há uma história para te guiar no que seria um tutorial e no entendimento da jogabilidade base. Após isso, e também enquanto progride para o endgame, o objetivo foca em caçar recursos e melhorar seus equipamentos para enfrentar desafios maiores. A dinâmica principal é sempre essa, com jogos tentando sempre adicionar algo novo ao eterno loop de caças, como novas mecânicas ou mais foco em história.
Confesso que não esperava muito de Wild Hearts até colocar as mãos no título, ainda mais saindo de boas 80 horas em Monster Hunter Rise. Entretanto, após mais de 25h no jogo da Omega Force, minha impressão é de algo extremamente bem planejado e com um loop de gameplay mais divertido e prazeroso do que o que vi em Rise. Há problemas notáveis e de impacto ainda, o que conhecedores dos títulos da desenvolvedora até já esperavam, mas acabaram por ficar em segundo plano e consegui aproveitar bastante o jogo mesmo com eles, mas jamais esquecendo sua existência.
A história vai girar ao redor de um novo caçador adentrando a terra de Azuma e encontrando os Kemonos, feras que se fundiram com o ambiente onde estavam quando um grande evento místico ocorreu eras atrás. No progresso da jornada e descoberta da cidade de Minato o objetivo principal vai ser defender o local das feras e ajudar nas diversas jornadas de seus habitantes.
Obviamente isso serve como pano de fundo para as caçadas e evolução do seu caçador, que é a motivação principal que empurra o jogador. O mais interessante é sempre o desafio de enfrentar os monstros diferentes com armas únicas e seus combos perfeitos, mas a história aqui, de forma geral, é razoável e funciona para o que é preciso.
A estrutura de jogabilidade vai ser bastante familiar aos veteranos de qualquer Monster Hunter e afins. Diversas armas e suas melhorias únicas, armaduras dos mais diversos tipos, efeitos elementais combos leves ou pesados e muito mais vai seguir o padrão do gênero. Mesmo assim, há uma novidade aqui que muda praticamente tudo no jogo e faz dele ser extremamente único, que são os karakuris.
Uma espécie de tecnologia antiga que serve para criação de objetos de diversas formas que vai sendo expandido com o tempo. Comece criando caixas simples para bloqueio de golpes ou para subir e pular tentando golpes melhores, passe por trampolins, tochas, planadores e depois comece a criar estruturas mais complexas. Junte 3 trampolins para criar uma marreta gigante que pode nocautear kemonos ou tochas num mesmo local para se transformar num canhão de fogos de artifício.
A evolução dos karakuris, suas combinações, melhorias e mais fazem da jogabilidade ter um efeito de novidade em cada caçada. Há kemonos lentos que podem ser parados com paredes, mas a mesma estratégia é quase nula para outros voadores ou mais velozes. Usar combinações de karakuris simples com outros combinados em criações maiores vai ser sempre divertido e funcional. Um outro bom exemplo é que o jogo não se baseia em diversos itens para uso, mas sim na função dos karakuris para criar totens de cura de status, que recupera vida, fornece melhorias instantâneas pelos mapas e mais.
Adicione a isso as opções ainda maiores quando se joga cooperativo. Até 3 jogadores podem combinar suas criações e armas em estratégias únicas e jamais vistas antes em algum jogo do tipo. Definitivamente o jogo foi feito para o coop, mesmo que quando solo há um companheiro IA que vai ajudar com alguns pontos. Combinar karakuris ainda que para exploração dos mapas é algo essencial e é potencializado quando mais de um jogador consegue suas próprias criações, com todas elas sendo persistentes no mapa de caçada.
Além dos diversos tipos de karakuris, há ainda uma boa variedade de conteúdo que justifica o interesse em aprender um pouco mais de cada coisa que o jogo oferece. Mais de 20 kemonos diferentes, ainda que alguns sejam variações de um mesmo mas com elemental diferente, 8 armas com movimentos únicos e diversas melhorias, armaduras inspiradas nos mais diversos kemonos e vida nativa dos 4 mapas disponíveis e muito mais estarão presentes para agradar ao jogador.
A combinação de 3 jogadores em cada caçada, com uso de karakuris diferentes, armas e armaduras com cada propósito já definido contra sua caça e ver tudo isso em movimento é algo que justifica o tempo investido e entrega diversão garantida. É possível passar um bom tempo em diversas caçadas e fazer isso de formas tão únicas que talvez seja um dos títulos do gênero que melhor entrega sem se prender na mesmice e repetição.
É preciso apontar também as qualidades visuais do título antes de aprofundarmos nos problemas encontrados nessas áreas. O estilo de Japão feudal com toques de misticismo combina muito bem e é destaque em qualquer parte. Além disso, a trilha sonora é apresentada com instrumentos clássicos da cultura japonesa e qualquer música no combate vai ser empolgante.
A Omega Force conseguiu criar algo novo e com personalidade de sobra, ainda que inspirado em diversas obras dos últimos anos. Há uma essência única em Wild Hearts e apenas isso entregaria um dos melhores jogos do ano se não fosse os diversos problemas técnicos que o título enfrenta.
Seja pela capacidade da engine usada pelo estúdio, conhecimento em otimização ou qualquer outra desculpa que seja, Wild Hearts tem um lançamento extremamente problemático no quesito técnico que prejudica o jogo de forma agressiva em performance e qualidade visual. Conhecedores dos jogos do estúdio tem visto isso comumente nos títulos anteriores e mais uma vez se repete aqui.
Ao analisar que o jogo é exclusivo da geração atual, com consoles que entregam jogos como Dead Space, Hogwarts Legacy ou Demon’s Souls em ótima qualidade de imagem e depois observar o resultado em Wild Hearts é, no mínimo, decepcionante. O jogo tem uma imagem borrada ou acinzentada em qualquer modo escolhido, performance ou resolução. Além disso, popin de textura e geometria de objetos, distância de visão reduzida, texturas de baixa resolução ou até mesmo uma resolução nativa em contagem de pixels bastante reduzida são apenas alguns dos problemas vistos de imediato por qualquer jogador. Algo notável também é o uso de algumas telas de loadings eventualmente, que duram cerca de 20 segundos, mas que não esperamos mais com consoles tão focados em eliminar isso.
A impressão é de que o jogo é realmente feio em alguns aspectos, mesmo que em outros seja excelente, como nas ótimas animações de forma geral e no excepcional criador de personagens. Além disso, no modo resolução e com raytracing sendo executado a 30fps, parece ter um certo atraso nas respostas dos comandos que não é normal. Sendo obrigado a usar o modo performance para uma melhor jogabilidade, o jogador acaba enfrentando outros problemas, como a oscilação na taxa de quadros e diversos engasgos mesmo em momento sem qualquer exigência técnica do jogo.
Observar como o jogo é entregue, ao preço de um AAA atual e com diversos problemas técnicos assim é de se imaginar como um adiamento não aconteceu antes. Para muitos jogadores isso não é admissível e, compreensivelmente, não é um jogo que possa merecer seu suado dinheiro. De toda forma, reitero aqui as qualidades do título e ainda reforço que se houvesse uma entrega de visual e performance aceitável, Wild Hearts seria uma das maiores surpresas do ano facilmente.
Acredito que aqui prevalece mais o bom senso e paciência de qualquer interessado no jogo. Se você é fã do gênero e está disposto a aguardar melhorias que podem vir via atualizações, garanto que não vai se decepcionar com a qualidade de Wild Hearts. Mas, se acha que é melhor esperar diversas melhorias antes de entrar de cabeça no jogo, isso também é totalmente compreensível e vale sim aguardar uma boa promoção.
Finalizo ainda dizendo que, da mesma forma até que já deixei claro em algumas análises antes, apontar algo com termos negativos comumente usados sem antes ter sequer testado e simplesmente taxar um jogo de fracasso é algo inaceitável. Wild Hearts tem inúmeras qualidades e entrega diversão fácil, mas também tem problemas consideráveis que podem atrapalhar mais uns do que outros no fim.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Electronic Arts.
Veredito
Os problemas técnicos afetam tanto a performance quanto a qualidade visual de Wild Hearts num nível considerável. Entretanto, o estilo visual, a estrutura de gameplay, o ótimo uso dos Karakuri para caçada e exploração, assim como um cooperativo muito bom entregam um título divertido e com originalidade. Se tiver paciência para aguardar as atualizações e solução dos problemas técnicos, com certeza é uma ótima opção no gênero de caças.
Technical issues affect both the performance and visual quality of Wild Hearts to a considerable degree. However, the visual style, the gameplay structure, the great use of Karakuri for hunting and exploration, as well as the very good co-op make it a fun and original title. If you have the patience to wait for updates and the technical problems to be resolved, it is certainly a great option in the hunting genre.
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