Unicorn Overlord – Review

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Nem nos meus melhores sonhos eu poderia conceber a ideia de que a Vanillaware seria responsável por criar o sucessor espiritual de Ogre Battle, obra emblemática de Yasumi Matsuno. Foi com enorme surpresa e entusiasmo que acompanhei o anúncio do jogo e cada informação divulgada. Esse projeto também surpreende por demonstrar a versatilidade da empresa japonesa, que anteriormente criou 13 Sentinels Aegis Rim – um produto bem distinto do que será aqui analisado.

O jogo se enquadra no gênero RPG e estratégia em tempo real. Seu sistema de batalha é reminiscente de “Ogre Battle: March of the Black Queen” e “Ogre Battle 64”, mas a Vanillaware foi além e aperfeiçoou a fórmula. O game não escora somente em ideias do passado e traz aspectos distintos que dão identidade própria ao projeto.

Unicorn Overlord conta a história de reivindicação do trono por uma família real que foi traída por seus vassalos. A tomada de poder em todo o continente de Fevrith trouxe também miséria e dificuldades, o que também justifica a busca por justiça do protagonista Alain – príncipe sobrevivente.

Até alcançar a maioridade, Alain e seu mentor Josef ficam escondidos em uma ilha na região de Albion, onde conhecem alguns amigos que serão os pilares da tropa revolucionária. A premissa da história não é das mais originais, mas a narrativa nutre a curiosidade do jogador graças a determinados personagens que se destacam. Ao longo da jornada, será preciso conquistar a confiança do povo e de outros grupos rebeldes, para então formar um exército revolucionário capaz de combater o traidor General Valmore.

O primeiro passo e o aspecto mais básico do jogo é montar as suas unidades de batalha. Estão disponíveis seis espaços, com três colunas e duas linhas. O jogador pode posicionar seus soldados da forma como quiser e cada unidade pode contar de um a cinco personagens. E é por meio dessa customização que o gameplay de Unicorn Overlord se destaca.

Existem diversas classes e combinar as características de cada determinam o sucesso de cada etapa. Há clássicos como arqueiros, magos, cavalheiros, mas o jogo da Vanillaware se distingue dos produtos dos quais se inspirou, inaugurando algumas classes e perks bem peculiares.

O jogo traz parte da bagagem típica de RPGs, contando também com sistema de progressão de nível, side quests, vilarejos com comércio de mercadorias, etc. Importante realçar que o jogador possui um certo poder de decisão e pode convidar ou dispensar aliados para seu exército revolucionário. Não há uma mudança substancial no curso da história principal, mas há novos segmentos de narrativa por conta disso.

Além das mencionadas possibilidades de customização, os personagens possuem ao menos três “slots” para equipamentos. E as armas ou acessórios deste jogo nem sempre modificam apenas status, podendo conferir até mais pontos de AP ou PP – que oportuniza os combatentes a desempenharem mais ações por batalha.

Mas do que se trata esse AP e PP? É simples; AP (representado por uma jóia vermelha) é o ponto gasto para desempenhar ações proativas, como um ataque ou uma magia, por exemplo. Já o PP (representado por uma jóia azul) está mais ligado à ideia de um ato passivo, que geralmente está condicionada a algum acontecimento na batalha para ser ativado – facilmente exemplificada, por uma habilidade de defesa, que só se inicia quando um aliado está sendo atacado.

Ao criar uma unidade e definido um líder para a mesma, o jogador poderá convocá-la em alguma base do campo de batalha. No mapa de cada fase do jogo existem pontos a serem capturados e diversos inimigos posicionados. Os objetivos de vitória geralmente estão associados à conquista de um ponto X ou derrotar um inimigo Y.

Assim que a tropa estiver no mapa, o jogador seleciona, por meio de um cursor, o destino de seus soldados. Nesse ponto, para aqueles que desconhecem a série Ogre Battle, o jogo lembra um pouco o deslocamento de unidades em jogos de estratégia em tempo real. O diferencial é que no momento da colisão entre as tropas, o game transita para uma tela de batalha, onde o desfecho da mesma é definido majoritariamente pela composição da unidade que você montou previamente.

Não há escolha de ações durante a luta, como em outros jogos de RPG. Em Unicorn Overlord, as batalhas são “automáticas” e o único poder de agência imediato do jogador para mudar o curso do conflito é utilizando itens ou suporte de outras unidades que estão ativas no mapa. É inclusive possível visualizar uma tela de estimativa, de como será o desfecho do embate (que consta o HP perdido ou recuperado das tropas).

À primeira vista, parece um sistema estranho para quem não está habituado a este raríssimo sub-gênero de RPG, mas o gameplay de Unicorn Overlord é profundo e viciante, tal qual os jogos que lhe serviram como inspiração. São tantas combinações possíveis, que nenhuma batalha no novo game da Vanillaware é igual.

Não bastasse todo o conteúdo disponível que permite uma enorme variação das tropas, o jogo ainda sucede ao introduzir pequenas novas mecânicas ou desafios à medida que a história passa, deixando a experiência sempre entusiasmante. A segunda região do game, por exemplo, se passa em uma região árida e montanhosa. Nela, há um deserto que acarreta em locomoção lenta para as tropas terrestres e que conta com tempestades de areia, mudando bastante a dinâmica das fases.

Importante destacar também a enorme utilidade das instalações no mapa, bem como das armadilhas e armas de guerra. Ao longo do jogo, o jogador vai se deparar com postos de artilharia, bases, barricadas, catapultas, entre outros elementos que diversificam o desafio de cada mapa. Posicionar uma tropa de arqueiros competentes em um posto de artilharia pode ser o suficiente para vencer um capítulo.

Diante de todo o mencionado, percebe-se que o combate é o aspecto central do gameplay de Unicorn Overlord. É uma pena, no entanto, que os desafios não sejam muito bem balanceados nesse jogo. Na dificuldade Normal o jogador facilmente atropela qualquer desafio com força bruta. Já no Tactical, em pouco tempo de jogo me senti poderoso demais. Foi somente no nível Expert que a falta de desafio deixou de ser um problema e alcancei o equilíbrio ideal. Tal problema também foi comum ao 13 Sentinels: Aegis Rim – jogo anterior da desenvolvedora.

Sobre a dificuldade, outro aspecto que deve ser mencionado é a contagem regressiva para finalizar as missões – algo não tão agradável. É uma medida especialmente agoniante para quem tem “TOC” em jogos de RPG e Estratégia, e gosta de conduzir as missões da forma mais perfeita possível; coletando todos os itens, distribuindo as lutas entre as tropas diferentes para todos subirem de nível, sem qualquer pressão de tempo. Infelizmente não há como contornar isso e o jogador precisará ficar de olho no medidor de tempo de cada fase.

Ainda sobre o gameplay; fora dos conflitos o jogador viaja pelo vasto continente de Fevrith, que é subdividido em cinco regiões. A principal atividade nesse world map é restaurar vilarejos, por meio do fornecimento de materiais coletados em ruínas, florestas ou beira de praia/lagos. Ao reconstruir uma cidade, o usuário recebe pontos de honra e reputação. Tais atributos são fundamentais para expandir e melhorar as tropas de Alain.

Algumas cidades oferecem outros estabelecimentos além de comércios, há inclusive um determinado minigame no mapa geral, que é uma bem-vinda distração do jogo principal. Em suma, há muito o que se fazer em Unicorn Overlord. Existe uma vasta quantidade de side quests e para desfrutar de tudo que o jogo oferece, é provável que o jogador extrapole as 100 horas.

Um campo em que a Vanillaware costuma se sobressair é na Direção de Arte. Com Unicorn Overlord, o resultado é satisfatório. Ainda que alguns personagens tenham uma composição facial extremamente simples, o mesmo não pode ser dito das vestimentas e das ambientações do jogo. O mapa do mundo traz gráficos simplórios, mas ao adentrar nas batalhas, o jogo transita para arenas belíssimas e permeadas de detalhes. O que mais impressiona nesse aspecto é a variedade de biomas e regiões que foram desenhados para o game.

Quanto às animações, prevalece o costumeiro da desenvolvedora. As artes conceituais em duas dimensões do projeto são diretamente transplantadas para o jogo e são animadas de forma manual e pré-concebida, de forma similar à animações em Flash. Deste modo, todas as animações e articulações são bastante simples e não impressionam. Todavia, não incomodam, tendo em vista a expectativa associada a qualquer produto da Vanillaware. É o modo como sempre fizeram seus jogos e, a esse ponto, virou uma tradição de sua biblioteca.

De forma geral, os desenhos do jogo são bastante bonitos, é uma pena que as artes conceituais estejam presas à provável resolução original – de 1080p. No PlayStation 5, a interface é renderizada em 4k e o jogo roda a estáveis 60 frames por segundo. Quanto às telas de carregamento, é tudo extremamente rápido. O jogo inclusive conta com opções de “avanço rápido” e de pular batalhas inteiras, com um mínimo de loading. Tais opções deixam Unicorn Overlord ainda mais prazeroso de se jogar, já que permite o usuário otimizar seu tempo de jogo, caso queira.

No tocante à narrativa, fora das principais “cutscenes”, boa parte do conteúdo transmitido é de forma textual, sem dublagem. O sistema de Rapport, por exemplo, que representa o nível de amizade entre os integrantes do seu exército, traz algumas cenas de conversas bem simples que acontecem no world map, mas sem dublagem. O jogo passou inclusive por algumas polêmicas por conta de sua localização, mas jamais me senti incomodado com o material em inglês. E por falar em idioma, bola fora da Atlus, Vanillaware e Sega! Não há suporte ao Português do Brasil.

Fazendo uma breve síntese; Unicorn Overlord se sobressai pelo seu gameplay diversificado, mas é um RPG/Estratégia que demanda paciência dos jogadores, de modo que é necessário passar boa parte do tempo customizando e estudando as tropas. A história não revoluciona (sem intenção de trocadilho), mas cumpre seu papel. É uma pena que alguns temas de guerra não sejam trabalhados com a complexidade que merecem (fome, pestilência e escravidão).

Diversidade e quantidade de conteúdo são outros aspectos fortes do jogo. Apenas para registro, há inclusive uma pequena interatividade online em Unicorn Overlord, mas que ficará como surpresa para os jogadores descobrirem. Por fim, a trilha sonora é ocasionalmente agradável, ainda que haja reprodução de algumas faixas com frequência. Em determinados conflitos mais importantes, as músicas são excepcionalmente boas!

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Atlus.

Veredito

A Vanillaware acerta com Unicorn Overlord e revigora um sub-gênero de RPG que, por muito tempo, foi alvo de enorme desconsideração na indústria de jogos. Acredito, com veemência, que é também o melhor jogo já criado pela desenvolvedora japonesa. Ainda que existam pequenas imperfeições, o jogo é brilhante e digno da mais alta recomendação!

90

Unicorn Overlord

Fabricante: Vanillaware

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: RPG / Estratégia

Distribuidora: Atlus

Lançamento: 08/03/2024

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

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Vanillaware hits the spot with Unicorn Overlord while reinvigorating an RPG sub-genre that, for a long time, was neglected in the gaming industry. I strongly believe that it is also the best game created by the Japanese developer. Even though there are small imperfections, the game is brilliant and deserving of the highest recommendation!

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Vanillaware hits the spot with Unicorn Overlord while reinvigorating an RPG sub-genre that, for a long time, was neglected in the gaming industry. I strongly believe that it is also the best game created by the Japanese developer. Even though there are small imperfections, the game is brilliant and deserving of the highest recommendation!

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