Ultracore – Review

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Quando a oitava geração de vídeo games foi anunciada em 2013, os jogadores mais dedicados e fãs das marcas de console se perguntaram quais seriam os reais avanços que as novas plataformas trariam que justificassem a compra. Com uma proposta fortemente voltada para a integração dos jogadores e oportunidade de oferecer uma experiência de gameplay completa, as máquinas que chegavam traziam um vasto leque de possibilidades, mas nenhuma se destacou tanto quanto a parceria e a valorização dos jogos indies.

Durante um período de sete anos, os estúdios desenvolvedores lançaram nas grandes plataformas jogos com orçamentos mais modestos em comparação aos grandes títulos de destaque, porém este perfil de trabalho não desmereceu os designers envolvidos. Games marcantes como Unravel, Brothers: A Tale of Two Sons, Journey e diversas outras obras de peso marcaram esta geração tendo seu espaço garantido no HD e na memória dos gamers.

Lançado nos momentos finais de uma geração, a IninGames surpreende os jogadores ao trazer Ultracore, game do gênero Run’n’Gun com elementos de tiro e plataforma que entrega uma produção consistente em formas de pixels da era 16 bits adicionando qualidade à biblioteca da PSN.

Originalmente previsto para fazer parte da lista de jogos do Mega Drive e do Sega CD, a produção de Hardcore foi iniciada pelo estúdio Digital Illusions, mas nunca chegou a ser lançada e foi interrompida em 1994. Com o jogo quase finalizado, a publisher Psygnosis cancelou o projeto alegando que com o lançamento de novas plataformas como o Playstation, os títulos da geração atual tenderiam a vender menos. Mais de vinte anos após o conceito original, a IninGames assume o projeto e retoma o game não somete do ponto onde estava, mas promovendo uma série de melhorias que faz com que o título adquira fluidez e seja jogável nos moldes do momento atual. Mantendo a essência típica do gênero e mudando o nome para Ultracore, a produção investe em gráficos retrôs, trilha sonora inspirada na música eletrônica, jogabilidade apurada e inimigos na tela que fazem jus ao título já que lidar com vários deles ao mesmo tempo será a tarefa mais árdua e recorrente da aventura.

Ultracore

Todo o jogo é bem arquitetado e tecnicamente e quase não apresenta falhas permitindo que o jogador possa aproveitar a experiência pelo que o título tem a oferecer não esbarrando em problemas de desempenho que afeta o gameplay.

Seguindo o modelo de jogos da quarta geração cujo enredos serviam mais como pano de fundo para uma aventura, Ultracore não oferece uma história bem definida. Após a tela de start, a mensagem “Get Ready” aparece, o tiroteio começa e nenhuma menção ao nome do personagem ou qual é o contexto envolvido são fornecidos cabendo a quem joga imaginar quais seriam os possíveis motivos de enfretamento de robôs e outras criaturas.

Apesar de confuso, os elementos do jogo oferecem de imediato uma imersão em um mundo que não parece estar em condições adequadas já que um número cada vez maior de inimigos surge no caminho exigindo táticas de defesa e ataque para seguir com o caminho.

Após algum tempo de jogo, e ainda nenhuma explicação para tantos tiros e máquinas circulando, a personagem (não identificada) encontra um de seus parceiros gravemente ferido e próximo da morte. Durante suas últimas palavras, o soldado revela que a Terra está sofrendo uma invasão alienígena e que um contingente de máquinas estão conseguindo adentrar o planeta liderados pelo imperador Vence que planeja um ataque massivo aos seres humanos.Ciente da situação, a personagem segue fortemente amada em sua busca seguindo a instrução do amigo em alcançar o hall principal da corporação onde ficam as naves com o objetivo de escapar da situação caótica.

Ultracore

O fato de não apresentar animações ou textos na tela para situar o jogador não torna Ultracore menos eficiente em sua proposta e não configura um aspecto negativo do jogo. Essa característica pode ser considerada como parte da narrativa e utiliza uma técnica de imersão menos óbvia. Na maioria dos enredos, a história é construída com elementos textuais e temas que insere o espectador no enredo de forma que ele tenha em mente antecipadamente o que vai acontecer. Desse modo, quem assiste um filme ou joga um jogo se coloca em uma posição de interatividade, mas ainda distante do personagem.

O formato de Ultracore permite algo mais efetivo nesse sentido. Ao não revelar o que está acontecendo, é possível se sentir mais próximo e criar a expectativa de se perguntar “Qual é o problema aqui? ”ao mesmo tempo que não existe resposta já que personagem e jogador encontram-se no mesmo patamar de desconhecimento.

Esta jornada misteriosa é competentemente alinhada à parte técnica resultando em uma experiência completa que não deixa a desejar quando comparada a jogos mais populares da categoria. Sendo originalmente um game dos anos 90, a inspiração com outros títulos da época é notável fazendo com que os fatores principais que envolvem mecânicas e jogabilidade sejam muito parecidas com Metroid da Nintendo e Mega Man da Capcom mantendo, entretanto, suas particularidades e identidades próprias.

Ultracore

Os controles são os aspectos técnicos mais acertados do título entregando uma jogabilidade altamente precisa, comandos rápidos e botão de tiro eficiente para enfrentar as diversas hordas enviadas por Vince. Com layout simples, o jogador tem a disposição poucos comandos como movimentar-se, pular, atirar além de um botão de ação para momentos específicos. Uma jogabilidade mais simplificada permite mais adaptação e mais dedicação para enfrentar os desafios e prosseguir com a aventura.

Com resposta veloz, os pulos e os tiros da personagem são os atributos mais eficientes e permitem sobreviver às ameaças satisfatoriamente. Cada salto atinge uma elevada altura e possui um aspecto “flutuante” que garante mais uma pequena fração de segundos no ar sendo essenciais para atingir diferentes áreas das fases.

Os tiros são ilimitados com a arma principal sendo permitindo atirar com rapidez e com abundância de balas permitindo construir uma espécie de barreira com os tiros sequenciais. Outras armas são disponibilizadas ao jogador durante o caminho e contam com diferentes modelos e eficiência, mas com limite de duração e, quando esgotadas, a arma padrão é novamente empunhada. Uma das adições mais generosas desenvolvidas pela IninGames foi ter programado a função de tiro na alavanca R3 que permite precisão angular ao atirar tornando o trabalho de aniquilação mais viável como no caso de destruir máquinas atiradoras que estão no teto das salas.

Itens de naturezas diversas como bombas, armaduras, pacotes de tempo extra e vida são encontrados ao longo do caminho para colaborar com a sobrevivência da personagem e serão peças valiosas e necessárias para chegara o final de uma fase. Se por um lado, o jogo oferece boas condições técnicas e itens assertivos, por outro cobra o jogador com um nível de dificuldade considerável e que aumenta gradativamente a cada cenário vencido.

Ultracore

Mesmo sendo um jogo do gênero Run’n’Gun, os mapas das fases vão exigir mais exploração por parte de quem joga ao promover caminhos que vão além de se movimentar linearmente para a esquerda ou para a direita. Existem outras rotas a serem descobertas que só serão acessadas se o jogador sair do caminho padrão e procurar por passagens escondidas na parede ou descobrindo acessos que levem a outras áreas não exploradas.

O trajeto principal é mais objetivo e preza pela presença dos robôs que tentam bloquear a passagem impedindo a protagonista de cumprir com o planejado. Entre os modelos de inimigos disponibilizados pelo planeta alienígena estão androides, robôs lança-mísseis, modelos perseguidores e uma série de máquinas voadoras prontas para atacar. Um dos objetivos do jogo é derrubar o maior número de máquinas possíveis somente com uma quantidade necessária de tiros visto que o “accuracy” é cobrado ao final da fase sendo um desafio de treino e conhecimento das fases para os mais dedicados que desejam uma porcentagem mais interessante nesse quesito.

Quando está na rota principal, a protagonista deve lidar também com desafios de plataforma que incluem pular em objetos em movimentos, lidar com ações específicas como abris portas através de puxadores, encontrar cartões de acesso e acessar computadores que dão acesso a novas áreas essenciais para a continuidade da missão.

A dificuldade consiste em planejar a melhor estratégia com todos esses elementos funcionado ao mesmo tempo demandando do jogador várias tentativas que farão com que se conheça o caminho e seja possível pensar em planos de avanço melhores. Todos esses aspectos reunidos garantem algumas perdas de vida e uso de continues, porém, em questão de assistências, a desenvolvedora colabora com as partidas oferecendo checkpoints que se iniciam no exato ponto onde a personagem morreu e o antigo esquema de password para salvar o jogo.

Ao final de cada estágio, os famosos “bosses” são encontrados e possuem particularidades típicas desse tipo de oponente que incluem repetição de ataques, padrão de movimentos e mudança de estratégia após uma quantidade considerável de ataques desferidos. Grandes e imponentes, os chefes de Ultracore costumam ser rápidos e possuem uma parte do corpo específica a ser atingida exigindo destreza e rapidez de movimentos do controle para se obter o sucesso da batalha.

Ultracore

Quase sempre inspirados por jogos ou técnicas do passado, os títulos indies, sempre possuem aspectos que remetem diretamente a alguma arte, som, ritmo de jogo, personagens e, no caso da IninGames, este fator está presente de algumas formas e preenchem a experiência de jogo de forma efetiva.

Os gráficos de Ultracore são uma viagem no tempo reproduzindo cores e texturas típicas do processador do Mega Drive que dispunha de uma paleta de cores modesta, mas que com o recorrente lançamento de jogos e a popularidade do console, rendeu uma grande expertise para os desenvolvedores maximizarem seu potencial.

No console da Sega, o processador contava com uma paleta de 512 cores sendo possível que 64 cores estivessem na tela ao mesmo tempo dependendo do plano de fundo usado para cada fase. O aproveitamento do desempenho do processador permitiu cores mais vibrantes e que passavam a ideia de uma paleta mais apurada que gerou jogos como Aladdin, O Rei Leão, Comix Zone, Ristar e Toy Story que provaram que o Mega Drive poderia rodar jogos com a mesma qualidade do Super Nintendo.

Essa aparência de otimização e bom aproveitamento é o espírito gráfico do game uma vez que investe em texturas coloridas para representar um ambiente “underground” de guerra que acontece em espaços de tons escuros e quase sempre idênticos aos cenários anteriores. Este conceito artístico de Ultracore está presente nos formatos e cores dos robôs inimigos, nos lugares por onde a personagem passa, nos tiros deferidos e em uma série de outros aspectos que compõem o layout. No entanto, aspecto que menos se destaca é a iluminação que entrega um contraste opaco sempre realizado com cores frias que podem confundir a definição dos objetos e a presença de androids ambulantes. Em meio a muitas cores e muitos inimigos, não perceber determinadas presenças de alguns inimigos é recorrente fazendo com que o jogador perca parte da energia de vida.  Além disso, todo o cenário apresenta meios de iluminação como lâmpadas, luzes piscantes ou uma iluminação mais incisiva em alguma área. Apesar do esforço da desenvolvedora em iluminar os ambientes, essa característica que está fortemente ligada ao gráfico não é eficiente e se mostra como detalhe de beleza ao jogo não exercendo nenhuma função prática ao gameplay. Por ter sido desenvolvido com motor gráfico da atualidade, seria interessante que a IninGames pudesse realçar a parte gráfica com mais cores e definição que a tecnologia do momento permite realizar.

Ultracore

Toda a ação ininterrupta do jogo é acompanhada de uma trilha sonora interessante inspirada na música eletrônica composta de batidas rápidas e que parecem estar em sincronia com os acontecimentos vividos. Apesar de não entregar uma trilha sonora marcante como grandes títulos fizeram no passado (a exemplo de Sonic The Hedgehog e Streets of Rage que tiveram suas trilhas lançadas em discos de vinil e CD) a proposta das músicas de Ultracore é bem-intencionada e condizente com a proposta.

Cada fase do jogo recebe uma faixa musical que se configura como um riff eficiente fazendo com que o jogador comece a entonar a repetição das notas tal qual acontecia em jogos do passado. Embora possa ser uma trilha empolgante para determinadas partes do jogo, será comum apagar a musicalidade da mente durante eventos de maior tensão como acúmulo de inimigos na tela ou trechos onde são necessárias diversas tentativas para se ter sucesso. Ao vencer chefes e inimigos ou passar por momentos de maior dificuldade, a atenção se volta para a música novamente sendo uma boa opção de áudio de trilha sonora de jogos para se baixar em aplicativos de música.

Com uma proposta de jogabilidade eficiente aliado a um forte apelo nostálgico, a retomada do projeto de Ultracore foi uma decisão acertada que garante um jogo competente. A fórmula consistente vai agradar fãs de Contra bem como aqueles que apreciam um tiroteio frenético como forma de diversão descompromissada em que não há a necessidade de se estar em um enredo complexo para compreender que o mundo precisa ser salvo.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela ININ Games.

Veredito

Tendo por objetivo retomar um projeto que visava ser um sucesso no passado, Ultracore entrega uma experiência retrô legítima que vai agradar facilmente os fãs de jogos indies e jogadores que apreciam títulos descomplicados e tecnicamente eficientes. A união dos fatores essenciais como som, gráficos e principalmente jogabilidade fazem de Ultracore um game de rápido acesso que propõe diversão na clássica luta entre terráqueos e alienígenas. Apesar de conter algumas inconsistências no enredo e em fatores técnicos que são quase imperceptíveis, o jogo da IninGames é uma ótima opção para conhecer e aproveitar um projeto de muita competência.

90

Ultracore

Fabricante: ININ Games

Plataforma: PS4

Gênero: Tiro / Plataforma

Distribuidora: DICE

Lançamento: 23/06/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

In order to bring back a project that should have a success in the past, Ultracore is a great retro game experience and it will be a perfect choice for indie fans, old school gamers and everyone who wants to appreciate a well-made and uncomplicated fun game. Soundtrack, graphics and gameplay provide quick access to the game with the famous battle between humans and aliens. Despite having some gaps in the main story and a few imperceptible technical issues, Ultracore is a “must have” game for players who intend to enjoy an old project that became new in the present time.

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In order to bring back a project that should have a success in the past, Ultracore is a great retro game experience and it will be a perfect choice for indie fans, old school gamers and everyone who wants to appreciate a well-made and uncomplicated fun game. Soundtrack, graphics and gameplay provide quick access to the game with the famous battle between humans and aliens. Despite having some gaps in the main story and a few imperceptible technical issues, Ultracore is a “must have” game for players who intend to enjoy an old project that became new in the present time.

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Renan Gaudencio Vale

Linguista, publicitário professor, tradutor nas horas vagas e acima de tudo um gamer dedicado. Como fã da cultura pop e geek, acredito que os jogos eletrônicos sejam mais que diversão e sim uma representação muito particular no mundo. Jogador há quase 30 anos, entendo o vídeo game como uma experiência única que envolve narrativas profundas, personagens encantadores e um ligação pessoal que constrói um elo único com a emoção. Aprecio os grandes títulos e franquias famosas, mas nos últimos tempos, tenho me dedicado aos jogos indies com muito entusiasmo.

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