Embora muitos jogos de simulação focados em gestão possam parecer intimidadores, a proposta da Two Point Studios sempre foi apresentar essas mecânicas de uma maneira mais acessível, com o bom-humor sendo uma de suas principais características. O mais recente lançamento da desenvolvedora, Two Point Museum, aproveita toda a experiência adquirida com os títulos anteriores, mas também introduz novas ideias, resultando em um dos games mais divertidos que o gênero já recebeu.
Ainda que não seja o foco principal, a história coloca o jogador no papel de um jovem curador da fundação Two Point, encarregado pela administração de museus em diversas regiões. Cada cenário apresenta um tema único e uma narrativa própria, que se revela conforme mais objetivos são alcançados, introduzindo novas mecânicas de gestão ao longo da campanha.
São seis os temas disponíveis: pré-história, botânica, sobrenatural, vida marinha, ciências e espaço. Ao longo da campanha, cinco museus principais são apresentados, além de outros cenários que funcionam como desafios temporários. As peças de cada tema são divididas em subcategorias e podem ser exibidas em diferentes locais, ampliando o acervo e atraindo novos públicos.
A principal proposta do jogo continua sendo o gerenciamento. Cada cenário deve ser cuidadosamente planejado, com exibições que elevem seu nível de aprovação e maximizem o lucro. Isso inclui decorar os ambientes, mantê-los limpos e organizados, fornecer informações sobre as peças, oferecer comodidades aos visitantes e garantir o bem-estar e a capacitação dos funcionários.
Para adquirir as melhores peças, é necessário enviar grupos de exploradores a sítios espalhados pelo condado de Two Point. Essas missões envolvem eventos que podem impactar tanto a qualidade dos itens encontrados quanto trazer consequências para os participantes. À medida que mais objetivos são cumpridos nos museus, novos cenários são desbloqueados, revelando ainda mais opções para incrementar suas exibições.
As peças também apresentam características únicas, dependendo do grupo ao qual pertencem. Por exemplo, no museu espacial, as relíquias devem ser ativadas por artefatos encontrados nos planetas explorados, enquanto no museu de temática sobrenatural, os fantasmas precisam ser acomodados em salas especiais, decoradas conforme as exigências de cada um.
Os itens também possuem condições especiais que podem influenciar no comportamento dos visitantes, além de exigências específicas para ativar seu bônus de burburinho, uma estatística que melhora a avaliação do museu e a vontade do público de realizar doações.
Outra ideia interessante é que a qualidade do item encontrado depende tanto do número de expedições realizadas em seu local de origem quanto das habilidades dos funcionários enviados. Muitas dessas aventuras exigem condições especiais, como o nível dos funcionários, ou itens específicos que precisam ser fabricados em uma oficina para ativar ou desativar determinados eventos.
As peças repetidas podem ser analisadas e desmontadas, ampliando o entendimento tanto sobre ela quanto sobre o tema ao qual pertence, além de fornecer vantagens para serem instaladas como modificadores nos itens do acervo. Estudar mais a fundo os temas também resulta em Kudosh, uma moeda alternativa que serve para desbloquear itens e utensílios adicionais.
No entanto, leva um certo tempo até que o jogador tenha acesso a uma variedade significativa desses itens de customização. Isso faz com que as primeiras horas em cada museu sejam um pouco limitadas em termos de criatividade, devido à necessidade de reutilizar as mesmas decorações para as exibições.
Outro fator que evidencia a importância das expedições é que os conjuntos de fósseis pré-históricos são obtidos apenas de forma parcial, sendo necessárias diversas visitas ao mesmo sítio para reuni-los. Além disso, algumas ferramentas que são utilizadas para remover obstruções e abrir caminhos para novos mapas dependem de minérios e restos de plantas obtidos apenas por meio da exploração e de uma engenhoca construída na oficina.
Também é necessário ter cuidado com as particularidades de algumas exibições. É o caso das peças congeladas, que, se não forem mantidas em um ambiente devidamente climatizado, podem escapar do confinamento e causar caos no museu. O mesmo acontece com os projetos de ciência, que podem pegar fogo caso não sejam reparados com frequência. Já no caso dos peixes e das plantas, a falta de manutenção pode levar à morte das espécimes.
Por mais que isso tudo pareça complicado, o processo de aprendizado é explicado de forma simples, e a curva de evolução é muito bem balanceada. O jogo também se destaca por possuir uma interface que foi adaptada de maneira eficaz para o controle, mesmo que leve um certo tempo para se acostumar com todas as funções.
Cada etapa alcançada na campanha introduz novas mecânicas. Isso cria uma sensação constante de progressão, mantendo o jogo interessante, mesmo perante o longo prazo necessário para concluir todos os objetivos e atingir o nível máximo com os cinco museus.
O problema é que alguns desses objetivos exigem condições específicas dentro de um período determinado, como atingir uma quantidade de conhecimento, um lucro mínimo no trimestre, um número de visitantes, entre outros. Isso pode gerar uma sensação de fadiga, especialmente nos capítulos finais, quando as tarefas se tornam mais desafiadoras.
O jogo conta com diferentes níveis de progressão. A curadoria leva em conta todos os museus e libera novos parâmetros de qualidade. A cada nova estrela conquistada em um dos museus, mais itens e objetivos são revelados. A aprovação, por sua vez, é baseada na satisfação do público, na preparação dos funcionários e também na organização dos ambientes.
Uma grande sacada desse sistema é que, ao longo da campanha, será preciso alternar entre diferentes cenários para completar os objetivos. Isso garante que sempre haja uma mecânica nova a ser explorada. Embora seja possível passar mais tempo no seu museu favorito após certo ponto da campanha, para alcançar todos os objetivos ainda será necessário se especializar em todas as áreas.
Todo esse processo é constantemente acompanhado pelo bom-humor característico da Two Point Studios. O jogo também foi totalmente legendado em português brasileiro, com uma excelente adaptação das piadas para preservar o seu sentido, o que o torna mais acessível. Seja pelas reações dos visitantes interagindo com as exposições, pelo design caricato dos personagens e das peças, ou pelos comentários sarcásticos dos locutores da rádio, o game cumpre bem sua proposta de descomplicar o gênero de maneira divertida.
Porém, não espere que tudo seja simplificado. As funções de organização e gestão do fluxo de caixa se tornam mais desafiadoras à medida que o nível de aprovação dos museus aumenta. Conforme mais peças são exibidas e novos lotes adjacentes são adquiridos para expandir o espaço, é necessário contratar e treinar mais funcionários para atender às crescentes demandas, atribuir suas funções e gerenciar o setor em que eles devem atuar.
Os empregados desempenham quatro funções principais: especialistas, assistentes, zeladores e seguranças. Cada um pode ser treinado para aprimorar suas habilidades em tarefas específicas além de suas funções básicas. Para que eles exerçam suas atividades algumas salas também devem ser construídas.
Os especialistas são responsáveis pela manutenção da qualidade das peças e conduzem excursões; os assistentes atuam como caixas nas lojas, nas bilheteiras, na reposição de estoques e nas campanhas de marketing; os zeladores cuidam da manutenção das máquinas e da limpeza do ambiente. Por fim, os seguranças são encarregados de coletar as doações e prevenir que vândalos e ladrões não prejudiquem os museus.
É importante monitorar as demandas e habilidades dos funcionários para evitar ter de ajustar seus salários a ponto de comprometer o lucro do museu. Por isso, é essencial acompanhar de perto as planilhas de gastos e lucros, para não entrar em um processo de falência e ser necessário recorrer aos empréstimos.
Além disso, eventos especiais podem impactar positiva ou negativamente o seu progresso. Um exemplo são as fiscalizações, que podem reprovar as condições do museu. Outras situações incluem visitas de escolas com crianças bagunceiras, membros da alta sociedade que exigem mais qualidade nas peças e até colecionadores que podem fazer ofertas tentadoras por alguns de seus artefatos.
Outras formas eficazes de aumentar a receita incluem as excursões guiadas, contratos de patrocínio e exposições temporárias. Cafeterias, máquinas de alimentos e bebidas, e lojas de recordações podem ser instaladas como outras fontes alternativas de renda. O preço dos ingressos e dos itens nas lojas também pode ser reajustado, mas é importante ter cuidado para que não ultrapasse o que os visitantes consideram razoável.
Além de personalizar os museus com decorações temáticas, o jogo oferece diversas ferramentas para aprimorar a ambientação, como diferentes tipos de piso e parede, divisórias personalizadas, assentos para os visitantes relaxarem e muito mais. Também é possível criar ambientes separados e até instalar portas de mão única, ajudando a otimizar o fluxo de visitantes pelo museu.
Nesse aspecto, a parte gráfica apresenta diversas melhorias em relação aos títulos anteriores da Two Point Studios, com modelagens de personagens mais detalhadas, texturas aprimoradas e, especialmente, avanços significativos na iluminação e nos reflexos. Algumas combinações resultam em belos ambientes, quando em harmonia com os itens de decoração.
Contudo, é também na construção que se encontra um dos poucos pontos baixos de Two Point Museum. O posicionamento dos objetos é restringido por um sistema de colisão baseado em grids que muitas vezes não faz sentido, limitando a possibilidade de personalizar os cenários com itens próximos uns dos outros. Isso torna até a mudança de texturas nos pisos uma tarefa que exige paciência. Até mesmo a construção das paredes pode ser frustrante, já que nem sempre é possível posicioná-las conforme desejado devido às poucas opções de ângulo e à limitação no tamanho de cada trecho.
Outro problema percebido está na performance, que apresenta oscilações principalmente ao rotacionar ou aproximar a câmera quando o museu acumula muitas peças, itens de decoração e grande concentração de público. Nesses momentos, também é possível notar um leve atraso ao navegar pelos menus de construção e gestão. Embora isso não chegue a prejudicar a experiência de forma significativa, pode gerar desconforto para os jogadores mais exigentes.
De forma geral, Two Point Museum é uma experiência envolvente que, com seu estilo leve e bem-humorado, consegue descomplicar o gênero de gestão, oferecendo uma proposta acessível e divertida. A variedade de cenários, as mecânicas de personalização e as diferentes ferramentas de gestão mantêm o jogador constantemente motivado, enquanto a curva de aprendizado equilibrada garante que mesmo os novatos possam se adaptar sem maiores percalços.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.