Um gênero de jogo que resume parte da minha infância e adolescência como millennial é o de jogos de simulação. Acredito que não resumiu só a minha, mas muita gente neste período de final de anos 90 e começo dos anos 2000 se envolveu de alguma forma com ao menos um jogo do gênero. O sucesso era tão grande que o nome mais relevante do estilo na época, The Sims, quebrou recordes e foi naquele período o jogo de PC que mais vendeu na história. Mas o meu gosto pela simulação começou muito antes e vai muito além de apenas poder criar uma casa e família. Adentrando ainda mais no nicho, diria que meus favoritos são os que envolvem qualquer simulação de negócios, desde parques, passando por pizzaria, zoológicos e tudo aquilo que for possível de se lançar como game.
Um dos jogos que me marcou bastante foi Theme Hospital, de 1997, da Bullfrog Games e publicado pela Electronic Arts. Bem recebido, a ideia era muito simples: construir e administrar um hospital. O jogo chegou a ser portado para PlayStation no ano seguinte e também ficou disponível na PS Store para o PlayStation 3. Estava sentindo bastante falta de um game neste estilo, até que tivemos a criação da Two Point Studios, com parte da equipe de Theme Hospital. O primeiro jogo anunciado da desenvolvedora acabou sendo Two Point Hospital, um sucessor espiritual do clássico dos anos 90.
Lançado em 2018 para PCs e em 2020 para consoles, Two Point Hospital traz a mesma fórmula de seu jogo original que incluia a construção, o pequeno humor um pouco mórbido e doenças completamente loucas. Essa evolução de 20 anos serviu muito bem para o estilo, que agora consegue tornar algumas funções mais realistas e detalhadas, tornando um gameplay mais fluido e interativo. A escolha da engine Unity caiu muito bem com Two Point Hospital e já posso adiantar que não tive qualquer problema de desempenho no PS5 e nem no PS4 Pro. Mesmo não sendo algo que afete muito neste tipo de jogo, optei por jogar majoritariamente no PS5 por conta de sua atualização que permite a jogabilidade em até 60fps.
Two Point Hospital conta com tradução de texto para o português, porém sem dublagens, mas também nada que seja um grande problema, já que a grande parte das falas acontecem em background e não impactam diretamente no jogo. Tudo o que você precisa saber aparecerá escrito em sua tela e por mais que possa parecer muita informação logo no começo as coisas são relativamente simples de serem entendidas.
Já que estou falando um pouco de compreensão, algo que me deixou muito satisfeito com Two Point Hospital é que nada é simplesmente jogado para você se virar e entender sozinho. Existe um leve tutorial na primeira fase que torna o aprendizado fluído. Muitas funcionalidades do game como o marketing, por exemplo, só serão disponibilizadas em campanhas futuras, quando o jogador já está devidamente acostumado com tudo o que já precisa fazer. Quando você está bem avançado nas campanhas a quantidade de doenças que deverá curar e atividades que precisará fazer será imensa e caótica, mas fique tranquilo que tudo aumentará de maneira gradual.
Algo que costumo comentar em jogos de simulação é sobre o HUD e a adaptação de algo pensado em PC com mouse e teclado para consoles. No primeiro momento me perdi com o tanto de informação na tela (se você notar bem em algum dos prints nesta análise irá perceber que diversos botões abrem menus que apenas vão se expandindo mais e mais). Apesar do HUD ser bem desenhado, pode ser algo que aqueles que não estão muito acostumados com este modelo em consoles tenham um pouco de dificuldade. Após algumas rodadas me adaptei bem e consigo dizer que foi feito um bom trabalho na forma de se jogar com um controle. Também é bem fácil de se controlar a câmera ou utilizar zooms, além de também ser possível alterar algumas configurações padrões no menu para melhorar a experiência.
Como estamos falando de um jogo de simulação de um hospital, o básico do básico de Two Point Hospital está em recepcionar, diagnosticar e curar um paciente. Para que isso seja possível, é necessário construir primeiramente uma recepção e também um consultório médico. A partir daí, tudo vai depender de se o o paciente teve sua doença descoberta nesta primeira consulta ou se precisará fazer algum outro exame, como um teste cardiológico ou ir para uma sala com máquina de diagnóstico. O tratamento também tende a variar, sendo alguns casos tratado na farmácia, enfermaria ou até mesmo colocando os pacientes em uma casa de cachorro gigante. E se tudo falhar e o paciente morrer? Hora de chamar um zelador para caçar o fantasma no hospital!
A criação de salas de tratamento não é tudo. É preciso também fazer a administração da equipe de todo o seu hospital. É possível contratar médicos, enfermeiros, assistentes e zeladores, cada um responsável por diferentes funções no hospital. A sala de farmácia, por exemplo, precisa de um enfermeiro alocado para o trabalho, enquanto a sala de psiquiatria vai precisar de um médico com a especialização nesta área. Já algumas salas mais complexas precisarão de diversos funcionários da equipe, como a sala de cirurgia, que exige tanto médicos cirurgiões como enfermeiros. Os assistentes ficam responsáveis por todas as atividades não-médicas (recepção, lojas, marketing) enquanto os zeladores cuidam da manutenção do hospital.
Uma parte da tarefa de gerir sua equipe em Two Point Hospital é ter uma quantidade de funcionários o suficiente para que não se formem filas nas salas por alguém da equipe estar em seu intervalo na sala de descanso e nenhuma outra pessoa estar em seu lugar no momento. O título também possui um sistema de treinamento, onde é possível desenvolver habilidades de seus funcionários conforme vão conseguindo “estrelas” em sua carreira e são promovidos. Se você precisa de enfermeiros na farmácia é muito interessante treinar algum com todos os níveis de especialidade em “farmácia”. Em um dos menus dos funcionários é possível restringir em que sala cada um pode trabalhar, sendo algo essencial mais para o meio e fim de campanha quando você tem diversos funcionários “especialistas”.
A decoração de seu hospital pode não parecer muito importante no primeiro momento, mas colocar alguns objetos decorativos pode ajudar a aumentar o nível de cada sala e também a reputação do hospital, melhorando sua atratividade geral. Não se pode esquecer também de extintores de incêndio espalhados pelo hospital, álcool em gel para maior limpeza, aquecedores para ambientes frios ou máquinas de comida e bebida para ninguém reclamar da falta de alimentos. E, é claro, bancos de espera e lixeiras. Nenhum paciente quer ficar em um lugar desconfortável e sujo.
O objetivo de cada cenário é completar as missões que aparecem no canto superior direito da tela para conseguir estrelas para este hospital, num total de três. Terminando a primeira leva, uma estrela é liberada, alguns prêmios são concedidos (itens desbloqueados e outra moeda do jogo para gastar com objetos ou roupas para os funcionários) e os desafios da segunda estrela são liberados. Você não necessariamente precisa terminar todas as três estrelas para seguir para o próximo cenário, é importante verificar sempre o que foi liberado como prêmio. Ao finalizar a terceira também será possível continuar no cenário por tempo indeterminado. Isso, é claro, caso não fique com mais de $ 300 mil negativo nas contas da empresa e leve o hospital a falência.
Neste mesmo cantor superior direito também é possível verificar os desafios online, onde você pode competir contra seus amigos e pessoas aleatórias que também possuem o game para ver quem realiza mais pontos em um determinado objetivo, seja de curar pacientes, treinar equipe ou ganhar mais dinheiro em determinado período. Uma terceira opção também dá acesso a projetos de pesquisa Rede Escaravelho, funcionalidade que é liberada somente após os primeiros cenários cenário de Two Point Hospital. Nele você deverá cumprir tarefas variadas em seus hospitais para ir completando o “caminho da pesquisa”, ganhando alguns prêmios ao finalizar.
Two Point Hospital não possui opção de dificuldade para todas as fases. As primeiras serão mais simples, mas é bem provável que você passe por dificuldades caso não saiba administrar bem seu hospital em cenários futuros. De uma forma geral a primeira estrela não costuma exigir tanto do jogador, mas conseguir a terceiro pode gerar dor de cabeça e gerar alguns “game over” no caminho. Uma forma de tentar amenizar a falta de grana disponível para cuidar de seu império e a possibilidade de realizar empréstimos. Apenas tome cuidado em fazer vários ao mesmo tempo pois os juros irão bater em sua porta no fim do mês e o resultado pode ser pior do que passar alguns dias no negativo aguardando entrada de caixa.
Apesar de parecer uma opção interessante ficar apenas esperando em alguns momentos, este acaba sendo o meu principal ponto de crítica para Two Point Hospital. Em muitos momentos vejo meu hospital estável e que preciso apenas esperar o tempo passar para que algo aconteça e possa completar algum desafio. O jogo possui a opção de alterar sua velocidade, mas mesmo assim em alguns momentos demoram uma eternidade. Eu pude largar o controle, ir ao banheiro, pegar uma água e voltar e ainda precisei aguardar um pouco mais. Não diria que o título possui um ritmo/pacing ruim, mas é possível que em alguns momentos isso possa incomodar um pouco.
Nesta análise em específico estamos falando da Jumbo Edition, lançada em 2021, que conta as expansões Bigfoot, Pebberley Island, Close Encounters e Off the Grid, e também dois packs de itens, Retro e Exhibition. O título em sua edição base já possui conteúdo muito completo que te entreterá por muitas horas. Tendo acesso a estas expansão as possibilidades de jogo só aumentam. Logo no começo você já terá acesso a alguns objetos de cada uma dessas DLCs, sendo todos desbloqueados com dinheiro do jogo, desde assentos temáticos até decorações com uma pegada mais alienígena. Os hospitais novos serão disponibilizados somente após um tempo de jogo e, mesmo liberados, recomendo que os visite apenas após um tempo pois por mais que tragam novidades e uma proposta diferente, esse mesmo conceito exigirá muita habilidade e diversas tecnologias que você pode ainda não ter liberado para sua corporação.
Um outro modo que chegou após algumas atualizações é o R.E.M.I.X.. Após completar algum cenário você terá a opção de jogar neste mesmo hospital em um formato um pouco diferente, por “ondas”, onde será necessário completar algum tipo de requisito em cada uma. No começo é algo simples e um pouco depois a situação também fica caótica, já que a dificuldade aumenta gradativamente. Caso falhe em alguma onda, a mesma será reiniciada e você poderá tentá-la novamente, sem a necessidade de começar tudo de novo. Um modo interessante que dá um pouco mais de dinamismo e variedade para o game. Completar o desafio o recompensará com uma estrela especial referente a campanha R.E.M.I.X..
Para os apaixonados por troféus, Two Point Hospital possui platina e a Jumbo Edition ainda conta com desafios também para as suas expansões. Apesar de não haver nada muito difícil a se fazer além de completar todas as estrelas no jogo, só este feitio já será algo bastante trabalhoso, demorando dezenas de horas. Como é um jogo com um efeito replay altíssimo, pode ser algo a se conquistar após alguns meses de jogadas ocasionais. Uma coisa é certa: Two Point Hospital é viciante e a partir do momento que você começa seu primeiro hospital é impossível abandonar o jogo rapidamente.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela SEGA.
Veredito
Two Point Hospital é um jogo que já nasceu com uma alta qualidade e sua edição Jumbo consegue deixar algo que já era bom e completo ainda melhor, trazendo novas doenças, hospitais e objetos para o título. Uma excelente estreia para a Two Point Studios, que conseguiu entregar elementos que agradam tanto o jogador clássico como novos entrantes no gênero de simulação de negócios.
Two Point Hospital was born with high quality and its Jumbo edition manages to turn something that was already good and complete even better, bringing new diseases, scenarios and objects to the game. An excellent debut for Two Point Studios, which managed to bring elements that will please both the classic and newcomers players to the business simulation genre.
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