Tsukihime -A piece of blue glass moon- é o remake da primeira visual novel já desenvolvida pela Type-Moon, a empresa por trás da série Fate/Stay Night e que gerou o fenômeno Fate/Grand Order, jogo que catapultou a companhia para um patamar altíssimo na rentabilidade de jogos mobile.
Bom, na realidade, Tsukihime -A piece of blue glass moon- é o remake de parte da primeira visual novel, lançada lá em 1999. O remake lançado pela Type-Moon em 2021 e que chega ao Ocidente esse ano contempla duas rotas, agora bastante expandidas, do jogo original: a rota que foca em Arcueid Brunestud, a centenária verdadeira antepassada dos vampiros, e rota da Ciel, a exterminadora da igreja.
As demais rotas do jogo ficaram para um segundo momento, em um remake chamado Tsukihime -The other side of red garden-, que até o momento não tem data para lançamento e que deve demorar mais uns bons anos para sair, assim como foi para Tsukihime -A piece of blue glass moon-.
A história começa com o protagonista Shiki Tohno, que sofreu um acidente quase letal muito jovem, e que acaba hospitalizado entre a vida e a morte. Ainda criança e no hospital, Shiki acaba conhecendo uma jovem misteriosa durante uma de suas escapadas do seu quarto de hospital. O encontro com essa jovem começa a direcionar muito do futuro de Shiki e de todo o mundo do jogo.
Shiki, após acordar do acidente, começa a enxergar linhas tortuosas que cobrem praticamente tudo à sua frente. Tentando decifrar o significado, ele passa uma faca que tinha em mãos durante a sua refeição por entre uma dessas linhas e desmonta a cama em que estava. Mesmo tentando convencer todos os adultos do que via e do que aconteceu, ninguém acreditava em Shiki.
O encontro com essa jovem, porém, muda tudo. Ela acredita em Shiki e explica a ele que ele adquiriu a habilidade de enxergar a linha que representa a morte de tudo, o fim de tudo, seja objetos ou seres vivos. Essa visão, porém, logo faria com que ele enlouquecesse ou morresse, então ela cria um par de óculos que protegem a visão dele e o devolve a um senso de normalidade.
Mesmo assim, ela avisa que usar demais a sua verdadeira visão era um perigo, tanto para sua saúde, como para eventos ao seu redor, afinal de contas, o sobrenatural atrai mais sobrenatural. Então, depois de uma semana encontrando Shiki, ela segue seu destino, deixando ele com os óculos e preciosos conselhos que ele levará para toda sua vida.
Sendo deserdado da sua família pelo seu pai e obrigado a viver com parentes distantes, dez anos depois Shiki é avisado do falecimento do seu pai, e que ele deveria retornar à mansão em que cresceu e assim retomar o seu lugar na família, agora que Akiha, sua irmã mais nova, é a sucessora oficial e está a frente dos negócios.
A família Tohno é uma família centenária, que tem suas raízes na cidade de Souya, com um patrimônio gigantesco, dona de várias empresas e negócios no Japão e no mundo, e que habita numa mansão enorme nessa cidade. A história da família, porém, é envolta de alguns mistérios que os habitantes da cidade preferem não irem atrás.
Ao deixar sua família postiça e retornar à mansão, logo Shiki se estranha com o novo status quo: sua irmã mais nova o ressente por ter “abandonado” o papel de sucessor da família e deixado tudo em suas costas, e a mansão que é enorme, passa a ter apenas duas empregadas, uma para Akiha e uma para Shiki, que agora foi obrigado a se mudar de volta.
Logo na primeira semana de retorno à sua vida antiga, um encontro muda para sempre o rumo da história de Shiki e de todos ao seu redor. Ao ir para a sua escola, ele encontra uma mulher de beleza incomparável, branca como a neve e totalmente descolada do senso de beleza da cidade. O protagonista passa a ser tomado por um impulso mais forte do que ele, a seguindo a todo canto.
Quando a jovem chega em sua casa, Shiki faz o impensável: toma a faca que havia ganhado de herança de seu pai (a única coisa que recebeu após a morte dele) e corta todas as linhas do corpo da jovem, a despedaçando em dezessete porções. Entendendo o que havia acontecido, ele foge e praticamente perde o controle sobre a sua sanidade.
E aí começa Tsukihime -A piece of blue glass moon-, quando no dia seguinte, ele encontra a jovem, a mesma que havia brutalmente assassinado no dia anterior, à sua espera na frente da escola, iniciando um conto de vampiros ancestrais, encantamentos mágicos, exterminadores da igreja e anseios por vingança de todos os envolvidos. Entrei esperando uma visual novel de magia e aspectos sobrenaturais e encontrei, em muitos momentos, um jogo de terror que me arrepiava.
A história é dividida em duas rotas, que seguem uma ordem obrigatória: primeiro, a rota de Arcueid Brunestud, a jovem que volta dos mortos e se revela uma das verdadeiras antepassadas dos vampiros, e a segunda rota, de Ciel, uma jovem colegial e amiga de Shiki que se revela mais do que isso. E é claro, muitos finais ruins que são alcançados com as escolhas erradas em momentos decisivos na jornada de Shiki. Esse é o grau de interação do jogador – não há jogabilidade, apenas as escolhas que aparecem em certas cenas.
Talvez a única falha do jogo é que, em parte, o jogador acaba revisitando várias cenas ao passar pela segunda rota. É possível pular o texto lido quando a cena do capítulo é idêntica, mas existem seções do jogo que que o texto é igual, por vários minutos, ao texto da rota anterior, mas por algum detalhe, o jogo não permite pular, e vai do jogador a capacidade de reconhecer e pular manualmente ao invés de passar mais tempo relendo o mesmo texto.
A arte do jogo, a trilha sonora, a dublagem, vou colocar tudo no mesmo ponto: fenomenal. É incrível e sempre muito bom ver quando uma visual novel recebe um orçamento alto, o que é bem raro para um gênero considerado de nicho em todo o mundo. Os valores de produção do jogo refletem o dinheiro e a nova posição da Type-Moon com o sucesso de Fate/Grand Order.
Dito isso, o jogo é inteiramente dublado em japonês, todas as cenas, mas sem outras opções de áudio, como se é de costume. Pela notoriedade, seria muito interessante se a Aniplex tivesse traduzido o jogo para mais línguas, mas também como se é de costume, essa visual novel tem suporte de idioma apenas para o inglês.
Depois de 50 horas de jogo, mais de vinte finais “ruins”, alguns finais normais e um final “extra”, posso dizer que a Type-Moon fez um baita de um gol com Tsukihime -A piece of blue glass moon-. Parte de mim fica um pouco decepcionado em saber que o jogo saiu em 2021, estamos em 2024 e mesmo assim sem previsão de receber o segundo remake com o resto da história, mas as duas rotas presentes aqui são mais do que o suficiente para tornar dessa uma das maiores recomendações do gênero dos últimos anos.
Jogo (versão de PS4) analisado no PS5 com código fornecido pela Aniplex.
Veredito
Após mais de duas décadas, recebemos parte da história de Tsukihime com o remake Tsukihime -A piece of blue glass moon-. Do começo ao fim, é uma história engajante, interessante, triste, trágica e muito, muito linda.
After over two decades, we get part of Tsukihime’s story with the remake Tsukihime -A piece of blue glass moon-. From start to finish, an engaging story, that’s also interesting, sad, tragic and very, very beautiful.
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