Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 – Review

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Ao longo da já bastante densa história dos videogames, alguns títulos, por vários fatores que não teremos como listar aqui, se tornam clássicos instantâneos que não só marcam uma geração como tem a capacidade de mudar a indústria em si. Certamente você, leitor, conseguirá elencar uma série (não tão vasta assim) de títulos que se encaixam nessa categoria, e muito provavelmente os dois primeiros jogos de Tony Hawk Pro Skater, lançados na virada do século – o primeiro está completando seus 21 aninhos de existência em setembro de 2020 – tem seu lugar garantido nessa seleta galeria.

A franquia, obviamente, não parou por aí, e lá se vão 17 títulos dentre os da linha numerada principal (cujo último título, o de número 5, parecia ter enterrado a marca para sempre pela recepção medonha de público e crítica) e spin-offs esquecíveis, questionáveis, ou que até se mostraram ótimas experiências, mas ainda estavam distantes da relevância dos originais. Até 2010, eram jogos praticamente anuais a chegar ao mercado que buscavam emular o sucesso dos primeiros títulos, ou até oferecendo novidades que tentavam cativar um público que parecia ter se perdido no caminho. Nesse meio tempo, surgiram títulos de relativo sucesso, como a franquia Skate e até alternativas menos populares, como Olli Olli e o mais recente deles, Skater XL, para tentar preencher a lacuna deixada para este nicho específico. Mas na memória, Tony Hawk ainda era sinônimo máximo do skate moleque digital.

Quando anunciou uma nova versão que juntava os dois maiores títulos da franquia, a Activision, ao lado da Vicarious Visions, sabia que tinha uma faca de dois gumes em mãos: trazer de volta os títulos desenvolvidos lá pela finada Neversoft seria a chance de resgatar o público e reviver a marca, mas também poderia significar, em um eventual fracasso, o último prego no caixão. O anúncio repercutiu, todo mundo comentou, as pessoas esperaram com bastante ansiedade, e agora o game já está entre nós. Avalia-lo enquanto produto, contudo, não é uma tarefa simples, já que há uma bagagem que vem junto com toda essa narrativa que abre o texto. Além de uma introdução para o que vem adiante neste review, esse background é fundamental para compreende-lo, para que consigamos ter uma visão mais ampla do significado deste lançamento para todo um segmento.

Bem, vamos ao que interessa: Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é exatamente aquilo que se espera: a compilação dos dois games em um único produto refeito – não é simplesmente uma remasterização – a imagem e semelhança das versões originais. Personagens do mundo real estão lá novamente, junto com algumas de suas versões mais, digamos, maduras; as pistas clássicas que alguns de nós reconhecemos em cada curva também estão fielmente reproduzidas e a jogabilidade simplificada e fluída, talvez o maior trunfo desses jogos lá no passado, parece intocada, ainda que tenha ganho alguns incrementos necessários e interessantes. Ao ligar o game e rodar pelos primeiros minutos – inclusive para quem estava enferrujado – é uma absoluta viagem nostálgica.

Os desenvolvedores, inclusive, não tentaram reinventar a roda. A soma dos dois jogos é, de fato, para evidenciar que são exatamente isso, um pacote “dois-em-um”. Ao iniciar a carreira, você inclusive deve escolher entre um e outro. A progressão na campanha, se assim podemos chamá-la, traz progressos independentes de um game para outro, o que significa que é possível alternar entre ambos sem perder o que já se avançou no outro para retomá-lo mais adiante. Essa alternância, inclusive, é muito bem-vinda até que consigamos dominar os macetes das metas mais trabalhosas. O que se mantém, contudo, são os elementos específicos do personagem, como itens cosméticos, melhorias nos atributos, pontuação de experiência e dinheiro. Basicamente, é como se um esqueitista pudesse alternar entre dois torneios, duas ligas independentes, onde o que ele ganha em cada uma delas se acumula, mas cada qual tem seu progresso independente.

De resto, tudo funciona como deveria: a campanha é uma linha de cenários em cidades e regiões diferentes do mundo que vão sendo liberados quando se consegue alguns pontos de pré-requisito: essa listagem de tarefas-chave é dada logo no princípio da fase, sempre contando com colecionáveis (como ao clássico e onipresente objetivo de formar a palavra SKATE coletando as letras espalhadas pelo cenário), outros itens mais ligados ao lugar em si (como latas de spray em cenários grafitados ou bilhetes do metrô em Nova Iorque), e algumas tarefas de habilidade, como manobras específicas em certos pontos. Nada de novo, tudo muito familiar, muito confortável para os fãs de longa data, mas também de fácil compreensão para novatos.

A dificuldade é aquela já bastante reconhecível também: não demora para que saibamos lidar com ollies, graps, flips e outros termos que conseguimos repetir como um narrador dos jogos radicais transmitidos pela TV aberta, fingindo que sabemos do que estamos falando. Claro, se você conhece o esporte pela prática ou mesmo por acompanha-lo em suas versões do mundo real, reconhecer esse termos é algo ainda mais divertido e recompensador, mas se você, como eu, não acumula mais que alguns minutos e muitos ralados em cima de uma prancha de verdade, logo logo se sentirá um perito em repetir os nomes de manobras e movimentos tradicionais da prática do skate como esporte e até como estilo de vida.

Assim, sair por aí se equilibrando em corrimãos ou fazendo aéreos ousados não serão uma grande dificuldade por si e o Armazém, quase um patrimônio da humanidade enquanto um dos cenários mais reconhecíveis de todo o mundo dos videogames, em poucos segundos já irá parecer um parque de diversões. O desafio começa quando se torna necessário cumprir os tais pontos de checagem para abrir os mapas seguintes e cada um deles, a sua maneira, irá exigir não só que o jogador saiba o que fazer com o controle para dar um show, como também para articular uma infinidade de movimentos nos pontos e momentos certos. Ir e voltar nas mesmas fases é uma das maiores constantes agora como era antes. Mais um elemento que se manteve intocado.

Contudo, esse purismo não é algo tão rigoroso assim. Os movimentos manuais, por exemplo, foram incorporados e refinados a partir das poucas boas experiências que vieram na franquia mais recentemente, e se mostram muito úteis para o encaixe de combos e sequências insanas, como em uma navegação mais sofisticada pelos ambientes mais horizontais, como os cenários de colégio, por exemplo. O mesmo vale para reverts ou até as “manobras de parede”, as wall plants, que chegam diretamente da derivada série Underground. Dominar esses movimentos é tão importante quanto os demais para trazer diversidade e amplitude de repertório para o jogador. De novo, não são nada escabrosos para se aprender, mas o ajuste fino, aquele cuidado para fazer os movimentos sem cair, encaixando com outros anteriores e com o que vem pela frente, é a chave para se dominar Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 em tudo o que ele oferece.

Outras adições importantes são mais estéticas, mas nem por isso menos protagonistas no game: além da obrigatória reformulação visual em todos os personagens disponíveis, há também a versão envelhecida de cada um deles. Outros novos nomes de destaque chegam, como a brasileira Letícia Bufoni, uma das esqueitistas profissionais de maior destaque no mundo do esporte atualmente, e o filho do “Toninho Falcão”, Riley Hawk, cuja presença no game, mesmo parecendo nepotismo para os mais desavisados,  traz um reconhecimento merecido por todo o talento de uma carreira sólida em circuitos urbanos.

Seja com esqueitistas mais famosos ou com um personagem customizado do zero, o sistema de evolução é interessante e mantém engajamento. Há novos slots de movimentos especiais que, ao serem desbloqueados por meio de desafios e outras ações do jogador nas campanhas, garantem um leque de possibilidades maior quando sua barra de especial chega ao ápice. Também há pontos de habilidade, por assim dizer, que devem ser distribuídos por atributos como velocidade, aéreos, equilíbrio, etc. Somando-se aos itens de vestuário, de equipamento e de identidade, logo cada personagem estará mais adequado e adaptado ao estilo do jogador.

Também não poderíamos deixar de citar a alardeada presença da canção Confisco, do Charlie Brown Jr., uma merecida homenagem ao grupo musical que tanto levou o nome do skate para os diversos meios de comunicação, principalmente na figura do seu líder e vocalista, o saudoso Chorão. Não é de se estranhar que você faça, logo de cara, o que eu fiz: ficar pulando as primeiras músicas que tocarem na playlist até chegar nesta. E sim, as vezes é inevitável buscar reconhecer ali os pedacinhos BR no game. Felizmente, mesmo quando já saciamos esse desejo, a seleção musical do jogo, que conta com a maioria das trilhas já presentes nas primeiras versões e com algumas adições pontuais, é boa o suficiente para embalar a jogatina por horas a fio.

Visualmente, o salto entre um game e os onde ele se baseou é, como não poderia deixar de ser, gritante. Afinal, são 20 anos e 3 gerações de distância entre um e outro. Ainda assim, não espere o jogo mais bem acabado da geração e, passado o primeiro vislumbre comparativo com a nossa memória afetiva, você pode sentir que algumas texturas não parecem tão definidas assim, ou mesmo as feições dos personagens não passam de uma versão que lembra o rosto deles, mas que está longe do que outros games, inclusive esportivos, já fizeram nos últimos 5 anos. Você ainda vai começar a reparar em algumas rebarbas aqui, alguns serrilhados ali, alguns probleminhas de colisão e câmera acolá. Nada que seja explícito ou necessariamente negativo, mas estão lá. Sim, é um estilo artístico que dialoga com um tom menos realista que permeia também suas mecânicas, então não espere expressões faciais absurdas ou cenários cheios de vida e movimento. Tudo está lá para servir ao propósito da praticidade.

Ainda que exija bastante desempenho do sistema – o PS4 padrão segue seu destino de tentar decolar, como com a maioria dos jogos de maior orçamento deste final de geração – o jogo roda liso, mesmo com a tela dividida no multiplayer local, e mesmo nas passagens de maior velocidade ou em espaços abertos, o desempenho se mantém bastante satisfatório, garantindo a manutenção de uma ótima iluminação, movimentos rápidos e animações bem coerentes. Talvez o nível de fidelidade gráfico mais “na média”, digamos assim, seja um dos pontos que favorecem esse desempenho com fluidez. Afinal, só quem erra um combo de 120.000 pontos no final sabe o quão desesperador é quando isso acontece, e seria terrível que a culpa fosse de um engasgo do sistema, e não da (falta de) habilidade do jogador. Na avaliação, felizmente, toda vez que eu ficava furioso, era culpa minha, não do jogo.

Falando no sistema multiplayer, esta é outra característica que se manteve fiel ao que já conhecíamos. E que bom! A campanha é legal, os desafios são realmente provocadores para quem busca a excelência, e os modos livres são relaxantes e divertidos. Mas jogar com um amigo de sofá continua sendo um modo muito divertido e é, sem sombra de dúvidas, indispensável para o game. Seja em desafios mais sérios – dentro de um tempo definido, metas de pontuação, ou um sistema de conquista de território, onde aqueles que melhor pontuam em certos lugares garantem o grafite dele com sua cor e quem tiver mais objetos pintados ganha – seja em modos completamente abertos e infinitos com todo o descompromisso que o esporte pede, jogar com alguém é uma ótima pedida. E que bom que a função multiplayer também está lá, bem como sistemas de ranking bem-vindos para uma competição assíncrona para quem é alucinado por pontuações estratosféricas.

Vale ainda destacar a presença, como em suas contrapartes originais, do editor de mapas. Sem melindres ou frescuras, muito prático e bastante objetivo, ao contrário de funções similares de outros games. Em questão de minutos você consegue criar um design que permite horas de diversão. Monte pistas que privilegiem seu jeito, encadeie os obstáculos de uma forma que você gosta de circular por eles – coloque um corridão longo depois de uma rampa bem alta e termine com outro espaço para aéreos para se sentir incrível – e certamente seu mapa será não só um elemento extra, como pode se tornar um local para visitas constantes. E se você ainda pode publicar e compartilhar isso com a comunidade, também pode encontrar as melhores produções de outros jogadores. Acredite, vale a pena conhecer esses trabalhos, muitos que rivalizam, em termos de diversão e estrutura, com o desenho dos cenários mais famosos do jogo.

Como um todo, o projeto se mostra muito honesto consigo mesmo, com as raízes da franquia e, principalmente, com seu público. Ao contrário da megalomania de títulos anteriores, o jogo não promete ressignificar todo o conceito do skate virtual, nem se mostrar o próximo passo da evolução do esporte nos videogames. A proposta era revitalizar, para os dias atuais, aqueles produtos que sedimentaram a marca na indústria, que fincaram o pé na história, e isso já é pretensão suficiente, sobretudo diante à desconfiança do mercado para com o desgaste da última década. E, de forma geral, a promessa foi cumprida com excelência. Com alguns vislumbres mais modernos, Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é exatamente o que tinha que ser. E, para todos os efeitos, que bom que é.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Activision.

Veredito

Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é, sem nenhuma dúvida, exatamente o que os fãs da franquia esperavam: traz os mesmos cenários, uma jogabilidade refinada e fluída, um visual atualizado para os padrões atuais e, principalmente, uma diversão descompromissada que mantém as boas vibrações dos games originais.

90

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2

Fabricante: Vicarious Visions

Plataforma: PS4

Gênero: Skate / Esporte

Distribuidora: Activision

Lançamento: 04/09/2020

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 is, without a doubt, exactly what the fans of the franchise expected: it brings the same scenarios, refined and fluid gameplay, an updated look to current standards and, above all, uncompromising fun that keeps the good vibes from the original games.

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