Depois de ver os lançamentos de Rainbow Six Siege e The Division terem uma receptividade um pouco conturbada em relação à qualidade dos jogos frente à enorme campanha de marketing com que foram revelados e alardeados ao público, com Ghost Recon Wildlands a Ubisoft encaminhou as coisas de maneira mais tímida e contida. Se grande parte de nossas frustações se dão por conta das altas expectativas que criamos acerca de algo, esse caminho pode sim ser o mais viável, por evitar possíveis decepções da parte dos consumidores, e quem sabe até surpreendê-los com o resultado final.
A obra de Tom Clancy sempre foi uma das maiores fontes de jogos para a Ubisoft ao longo de quase vinte anos — mais precisamente desde o longínquo ano de 1998, quando então foi lançado o primeiro Rainbow Six. De lá para cá foram dezenas de jogos. Alguns memoráveis, outros nem tanto. A franquia Ghost Recon, apesar de popular, nunca teve o mesmo brilho que Splinter Cell, por exemplo, e que a já citada série Rainbow Six. Talvez isso se deva pelo fato de que então fãs de jogos de tiro tático estavam muito bem servidos com a hoje finada franquia SOCOM.
Ghost Recon Wildlands se passa em uma versão (não tão) fictícia da Bolívia, onde cartéis e senhores das drogas comandam o país, inclusive o governo e suas forças militares (qualquer semelhança com outro país sul-americano que também tenha verde e amarelo em sua bandeira não é mera coincidência). O ocorrido acabou inclusive gerando alguns desconfortos diplomáticos entre Bolívia e França.
Geograficamente o jogo não reproduz uma determinada área do país com exatidão. O que se vê é antes um resumo do que é visto em toda sua extensão, com montanhas cobertas de neve nos Andes, o deserto de sal, florestas tropicais e vilarejos com várias casas apinhadas umas próximas às outras. A área total de exploração é absurdamente extensa. Em linha diagonal o mapa tem em torno de 30 km, o que é maior do que qualquer outro jogo de mundo aberto, segundo a própria Ubisoft.
Andar pelos imensos vales, cruzar rodovias entre províncias distintas entre si cultural e geograficamente, ou simplesmente ignorar as faixas brancas e se embrenhar em florestas densas e na lama, tudo isso com clima dinâmico e ciclo de dia e noite, é uma das experiências mais marcantes proporcionadas por Ghost Recon Wildlands. Tudo isso é ampliado à enésima potência ao sobrevoar o mapa com helicóptero ou avião e perceber a quantidade de detalhes em cada pequena estrada que vai serpenteando ao longo das montanhas; das copas das árvores se curvando à força do vento; da transição suave e quase imperceptível entre florestas, deserto e neve. Enfim, não só é o maior mapa alguma vez já representado em um jogo, como é um dos mais detalhados e belos ambientes jamais vistos em um vídeo game.
Porém, como nem tudo são flores, e nem sempre as mais belas flores trazem os melhores perfumes, Ghost Recon Wildlands tem um de seus maiores problemas justamente na hora de dirigir seus veículos. As motocicletas são praticamente impossíveis de serem guiadas por mais de cem metros sem estatelar-se em uma pedra ou em um poste. Já com os helicópteros, o mesmo botão usado para levantar voo também é utilizado para fazê-lo se mover para frente, o que garante uma vida útil extremamente curta para o trem de pouso e provavelmente também para o rotor e as pás. Com os carros, guiá-los está tão longe de ser frustrante, tanto quanto está distante de ser prazeroso. Ou seja, não é ruim, mas também não é bom. No fim das contas chega a ser uma lástima ver um ambiente tão bem construído, convidando o jogador para explorá-lo, ser desperdiçado com uma dirigibilidade que mais uma vez mostra que os programadores da Ubisoft estudaram física no mesmo colégio em que as Irmãs Carmelitas estudaram biologia.
O enredo de Ghost Recon Wildlands é o mais cliché possível, especialmente por se tratar de algo relacionado a Tom Clancy. Há uma enorme exaltação na política intervencionista estadunidense, com direito inclusive a uma fala de certo personagem durante o jogo dizendo ter orgulho de seu país gastar bilhões de dólares em solvente para lavar as mãos da sujeira que fazem pelo mundo.
Mas a história em si não é o que há de mais relevante no enredo como um todo. A forma como o jogador progride é o que realmente o mantém instigado a continuar a desbravar as terras da Bolívia. Para tal, é necessário desmantelar o cartel aos poucos, em cada uma de suas quatro ramificações, que compreendem contrabando, tráfico, influência e segurança. Não há uma ordem a ser seguida, mas o jogador primeiro tem acesso aos buchones, espécie de capataz que comanda cada província, para então chegar aos subchefes, depois aos chefes, e finalmente ao chefe dos chefes, El Sueño.
Durante a progressão há uma enorme quantidade de itens a serem coletados, desde suprimentos, que servem para distribuir os pontos na árvore de habilidades, novos armamentos e melhorias para as armas, além de documentos mostrando fatos históricos relacionados à Bolívia, como a captura de Butch Cassidy e Sundance Kid, notícias sobre a estrada da morte, que também tem sua versão dentro do jogo, e também sobre o exílio do carrasco nazista Klaus Barbie.
Os suprimentos consistem em combustível, equipamentos de comunicação, comida e medicamentos para a causa rebelde, que auxilia no combate ao cartel enviando veículos, soldados de reforço, ou ataques de morteiro, por exemplo.
Mas os grandes aliados são os outros três personagens, que podem ser jogadores humanos ou bonecos controlados pela inteligência artificial. Pela diversão, jogar com outras pessoas é obviamente mais vantajoso. Mas em termos de combate, a inteligência artificial dá conta do recado de maneira muito mais efetiva, especialmente por conta do disparo combinado, onde é possível marcar até três alvos e, assim que o jogador efetua o primeiro tiro, os bots instantaneamente eliminam os inimigos marcados. Dessa forma, é possível acabar com bases inteiras e dezenas de inimigos num piscar de olhos sem chamar a atenção. Obviamente também se pode fazer a mesma tática com jogadores reais, mas como nesse caso estamos falando de algo diretamente envolvido com a habilidade de cada jogador, é possível que tudo dê errado e, na hora do confronto, o que realmente vai fazer a diferença é o improviso.
Outro grande aliado é o drone. Juntamente ao binóculo, ambos servem para revelar os inimigos no mini mapa, o que auxilia muito na hora de enfrentar um grande número deles, evitando encontros surpresas.
A localização para o português brasileiro é muito competente. Quanto às atuações, não há muito que exigir dos dubladores, visto que a história é extremamente rasa e os personagens dotados de uma empatia equivalente a uma empadinha congelada. O melhor de tudo foi manter expressões e partes das falas em espanhol, garantindo uma maior fidelidade e imersão ao jogo.
Veredito
Apesar de alguns problemas com a jogabilidade dos veículos, o mapa gigantesco e muito bem criado e a progressão não linear no desmantelamento do cartel, fazem de Ghost Recon Wildlands um excelente jogo de tiro tático, recomendado não somente para os viúvos de SOCOM, mas para os amantes de jogos de mundo aberto em geral.
Jogo analisado com código fornecido pela Ubisoft.
Veredito
Despite some problems with the gameplay of the vehicles, the gigantic and well created map and the non linear progression in dismantling the cartel, make Wildlands an excellent tactical shooter, recommended not only for Ghost Recon veterans and those who miss the SOCOM series, but also for those who love open world games in general.
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