The Walking Dead: Uma Nova Fronteira – Episódio 4: Mais Grosso que Água

ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS DOS EPISÓDIOS ANTERIORES. SE VOCÊ NÃO JOGOU, RECOMENDA-SE DISCRIÇÃO

O episódio duplo da terceira temporada de The Walking Dead deixou todo mundo animado por sua excelência. Meses depois, tivemos um terceiro episódio morno que moldou o rumo que a história tomaria. Em tempo recorde, menos de um mês depois, chega o penúltimo episódio da temporada. Não sei se esse curto tempo foi o responsável, mas posso dizer que, infelizmente, este foi o episódio mais fraco e desbalanceado lançado até agora.

Antes de começarmos, vale a pena comentar a respeito do estranho título do quarto episódio: Mais Grosso que Água. No inglês, o título é Thicker than Water, e faz alusão ao provérbio "Blood is thicker than water", que significa que a família (o sangue, blood) é sempre mais importante que qualquer outra relação. Isso vem para reforçar o tema principal desta temporada: família, tanto aqueles laços antigos quanto os construídos em volta de infortúnios da vida.

No episódio anterior, vimos que David, irmão do Javi, não era o único mandachuva da Nova Fronteira – o grupo, na verdade, é regido por uma liderança compartilhada entre quatro membros, formando um Conselho. Em um desfecho à la Game of Thrones, descobrimos os planos sombrios de um dos líderes, a carismática Joan, a qual, mesmo desmascarada e colocada contra a parede, conseguiu contornar a situação e jogar a culpa nos irmãos García, que foram presos.

Mais Grosso que Água mostra os desdobramentos da prisão dos irmãos e o que aconteceu com o restante do grupo, que se encontrava dividido cuidando de diferentes objetivos. Contrariando minhas expectativas, este episódio foi muito parado, com uma história arrastada e desenvolvimento raso de alguns personagens, o que me levou não entender algumas de suas ações. Mesmo seguindo o padrão de uma hora e meia, ele foi tão chato que não via a hora de chegar ao final, final este que trouxe um pouco mais de ação, porém contou com alguns elementos já previsíveis dentro dos parâmetros da série.

Considerei o episódio, além de fraco, também desbalanceado em termos de narrativa. De uma maneira bem estranha, houve diversos momentos com tentativas de adicionar humor à história, fugindo da temática e quebrando um pouco o ritmo. Veja bem, não é proibido inserir humor; quando bem usado, ele só adiciona à história e ao desenvolvimento dos personagens (vide a conversa no carro entre Kate e Javi logo no primeiro episódio). Só que neste episódio em específico, o humor foi encaixado em momentos ruins e soou forçado (jogando, você irá entender).

Esta temporada de The Walking Dead definiu uma estrutura padrão para os episódios: inicia-se com um flashback do Javi, continua a história no tempo presente, segue por um flashback da Clem, finalizando com o restante da história no tempo presente. Em Mais Grosso que Água, o ponto alto foi o flashback do Javi, que focou em um momento de lazer dele com David, dando mais detalhes do relacionamento entre os irmãos e revelando como algumas de suas feridas são bem antigas. Foi também um momento importante para compreendermos mais da personalidade de David – em minha opinião, é o personagem mais bem definido do elenco.

A Clem continua cada vez mais como um papel coadjuvante, o que me leva a sentir certo temor a respeito de sua continuação em futuras temporadas. A Telltale resolveu colocar diferenças neste episódio, resgatando decisões tomadas na segunda temporada para revelar diferentes momentos no flashback da Clem. Desse modo, recomendo ao jogador iniciar outro jogo com decisões diferentes ou procurar no Youtube para assistir cenas adicionais com o Kenny e a Jane.

A performance do jogo teve uma queda neste episódio, embora ainda não seja algo que atrapalhe a experiência. A queda na taxa de quadros ficou mais evidente em algumas cenas e o jogo travou comigo na parte final. Eu também tive um bug muito chato, mas que provavelmente foi específico comigo e não pode ser generalizado: parte de minhas decisões tomadas anteriormente não foi carregada para o episódio, o que levou à ressurreição de um personagem que eu matei no final do segundo episódio (Conrad).

Fica difícil de entender o que aconteceu para a Telltale trazer um episódio tão fraco e inconsistente após um começo que prometia tanto. Se uma das razões foi aumentar a velocidade de entrega dos episódios, seria preferível que tirassem o pé do acelerador e dessem mais tempo à produção. Resta novamente a esperança de que entreguem um episódio final digno para manter a série como ponto de referência.

Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.