The Plucky Squire – Review

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Para mim, O Escudeiro Valente (The Plucky Squire) foi amor à primeira vista. O trailer de anúncio mostrou que a aventura acontecia dentro das páginas de um livro ilustrado, misturando várias ideias de gameplay com visão 2D de cima e lateral. No final, vinha a revelação: a aventura também acontecia fora do livro e o herói desbravaria um quarto de visual realista!

Esse foi só um gostinho para nos deixar curiosos, e a desenvolvedora All Possible Futures e a publisher Devolver Digital souberam usar a descoberta gradual de O Escudeiro Valente para mostrar como aquele jogo cheio de cores, ideias e alegria inocente é especial. E, de fato, especial é uma boa palavra para descrever a jornada de Pontinho para salvar o reino de Mana.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

A ideia de misturar livro e jogo casa perfeitamente, sendo um belo exemplo de metaficção bem aplicada. Metaficção é a ficção que fala de si mesma e, como consequência disso, se revela e reflete sobre sua própria natureza. Para explicar melhor, vamos usar o próprio jogo: nele, vemos um livro em cima de uma mesa. Para andar, percorremos o papel e, para mudar de cenário, viramos a página.

A todo momento, a obra nos lembra de que ela é um livro, com personagens, papel, tinta, leitor e local de leitura. É claro, ela também nos lembra que é um livro dentro de um quarto que poderia ser real, ambos dentro de um videogame que controlamos na vida real. Dessa forma, nossa interação com o game é aprofundada em três níveis simultâneos de metaficção interativa: com o jogo real O Escudeiro Valente, com o quarto virtual de um garoto chamado Sam e com o livro fictício O Escudeiro Valente.

Para entender como funciona essa obra intermídia, vamos começar pelo visual, que é um show à parte. Os traços cartunescos são limpos, a animação é fluida, as cores são vivas e, ainda, o papel do livro é texturizado e há minúsculas falhas na impressão, o que é muito mais marcante nas páginas com muito preto, como acontece em um papel de verdade. 

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Todo o aspecto de livro de verdade é muito mais realçado pelo contraste com os gráficos realistas da mesa onde está o volume. Além das diferentes texturas e um belo jogo de luz e reflexos em superfícies metálicas, vemos inúmeros detalhes, como as embalagens de tubos de tinta, a madeira riscada por lápis de cor, a paleta de aquarela úmida, os mais diversos objetos espalhados por toda parte, o reflexo de luz na logomarca do corpo do lápis e as deformidades nas carapaças dos besouros.

Dessa forma, a alternância entre visual 2D e 3D, além de representar perspectivas de gameplay diferentes, contribui para que uma experiência aprofunde a outra e, juntas, formarem um todo artístico maior que a soma de suas partes. Na soma final, o resultado é uma direção de arte linda e implementada com excelência.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

O vai e vem de dimensões também cai como uma luva para a gameplay, é claro. Antes de explicar como acontece, é preciso esclarecer que O Escudeiro Valente pretende oferecer muito mais diversão criativa do que desafios.

Poucos momentos exigiram maior raciocínio ou me forçaram a tentar uma luta mais vezes, então meu envolvimento dependeu mais da estética, carisma e inventividade e menos da instigação de solucionar problemas e vencer batalhas.

O jogo ainda possui seleção de dificuldade para quem quiser mais leniência e, se não for o bastante, o menu de acessibilidade concede opções que vão deixar a aventura como um passeio no parque. Parece-me excesso de zelo, mas são recursos opcionais e não se intrometem com quem não os quer por perto.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Mesmo assim, essa essência de baixo desafio é um ponto importante que pode definir a experiência de acordo com a expectativa de cada jogador. Afinal, em questão de game design, O Escudeiro Valente é uma aventura que mescla narrativa e puzzles e, embora os quebra-cabeças tenham me dado a satisfação de sua engenhosidade, não proporcionaram o prazer de queimar neurônios. Dessa forma, ainda que seja repleta de conceitos muito inventivos e tenha alguns momentos empolgantes, a execução da gameplay tende à simplicidade.

A principal base da dinâmica de jogo é o vai e vem entre perspectivas 2D e 3D para fazer o lado de fora influenciar o que acontece dentro do livro e descobrir novas entradas para o papel. Também há grandes segmentos tridimensionais atravessando as maquetes que Sam constrói em sua mesa, que são pontos altos do jogo.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Um segundo conceito central é a manipulação das palavras do livro para alterar a realidade interna das páginas — o que acontece se você trocar a palavra “fechado” por “aberto”, “grande” por “pequenino”, “dia” por “noite”, “espalhado por empilhado”? 

Não espere algo na complexidade de Baba is You, no entanto. Geralmente, as palavras intercambiáveis são óbvias e basta seguir o fluxo lógico para usá-las corretamente e prosseguir na jornada. Vez ou outra, é necessário usar palavras de páginas diferentes para fazer dar certo. Para garantir que você vai conseguir, há até um personagem criado especificamente para conceder dicas em cada local de puzzle, mas, felizmente, a ajuda é inteiramente opcional.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Como terceiro elemento basilar, estão os minigames espalhados ao longo da campanha, dando um ritmo interessante e aproveitando para fazer referências a outros jogos, como o boxe de Punch Out e a batalha de turnos com opção de conversar, como em Persona e Undertale, tiro em local cilíndrico, como em Resogun.

No entanto, tais minigames ocorrem de forma muito pontual e seguem a lógica heroica de fazer Pontinho e a pessoa que joga vencerem sem grandes obstáculos. Assim, mesmo sendo boas ideias que podem nos divertir enquanto duram, carecem de aprofundamento. É exatamente por ser bons momentos que eu gostaria que houvesse uma opção de revisitá-los, o que encaixaria muito bem no menu de jogo como um extra após o fim da jornada. Fica a dica, All Possible Futures!

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Na superfície, o enredo é bem simples, com o herói Pontinho que deve derrotar o metamágico Enfezaldo para salvar o livro e tudo o que há nele. Há o papo de como as histórias nos inspiram e nutrem nosso crescimento, com aquela grande imaginação de contos de fantasia que rejeitam divagações e realismo, contando com a força de sua própria vivacidade autêntica. O Escudeiro Valente sabe exatamente o que é e usa isso a seu favor, orgulhoso de seu vigor pueril.

Dá para ver isso nas situações e figuras nonsense, felizmente bem adaptadas para o português brasileiro. Um caracol escritor, por exemplo, faz referência a Machado de Assis em vez de Shakespeare.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

A narração é dublada em português brasileiro por Mauro Ramos, uma voz que, com certeza, você já ouviu em Pumba, Shrek (a partir de 2008) e Sulley (Monstros S.A.). Ele fez um excelente trabalho, o que trouxe a contrapartida de me fazer lamentar que seja o único dublador na história de Pontinho. Apesar dessa sensação, a entrada do narrador é sempre um ponto alto, então entendo que o formato é perfeitamente adequado ao tipo da produção e não considero essa restrição um demérito para o Escudeiro Valente. 

Levei 8h30min para finalizar a campanha, mas ainda me falta encontrar quase um terço dos colecionáveis; para caçar o que ficou para trás, existe a seleção de capítulos. Para alguns, esse tempo pode parecer curto, mas, no fim das contas, toda a duração dessa história é singelamente encantadora, sem jamais cair na embromação fútil nem perder sua identidade.

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Para quem gosta de aventuras alegres, criativas e metalinguísticas, a paixão é quase certa, mas aqueles que esperam batalhas e puzzles intrincados podem se decepcionar. Felizmente, o jogo tem o benefício de estar no catálogo do PlayStation Plus Extra e Deluxe em seu lançamento, então é facilmente recomendável que os assinantes deem uma chance de se render aos encantos da direção de arte e do desfile de ideias criadas com a intenção de abrir sorrisos em nossos rostos e corações.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Devolver Digital.

Veredito

Com visuais atraentes, uma identidade transbordante de vivacidade juvenil e uma deliciosa mistura metalinguística que une gameplay e narrativa, O Escudeiro Valente busca de uma só vez se inspirar em legados passados e imprimir uma amálgama única. O baixo desafio pode não agradar a alguns por parecer que as ótimas ideias não foram devidamente aproveitadas, mas, para outros, a diversão honesta vai ser tudo o que importa na aventura de Pontinho e seus amigos.

85

O Escudeiro Valente (The Plucky Squire)

Fabricante: All Possible Futures

Plataforma: PS5

Gênero: Aventura / Puzzle

Distribuidora: Devolver Digital

Lançamento: 17/09/2024

Dublado: Sim

Legendado: Sim

Troféus: Sim (inclusive Platina)

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With gorgeous visuals, an identity overflowing with youthful vivacity and a delicious metalinguistic that mixes gameplay and narrative, The Plucky Squire seeks to draw inspiration from past legacies to create a unique amalgam. The low challenge may seem like the great ideas were not properly used and fail to please part of the audience. Although, others will find that the joy of fun will be all that matters in Jot and his friends’ adventure.

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With gorgeous visuals, an identity overflowing with youthful vivacity and a delicious metalinguistic that mixes gameplay and narrative, The Plucky Squire seeks to draw inspiration from past legacies to create a unique amalgam. The low challenge may seem like the great ideas were not properly used and fail to please part of the audience. Although, others will find that the joy of fun will be all that matters in Jot and his friends’ adventure.

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