Bons jogos que vem do nada são sempre muito bem-vindos. Quando tivemos a oportunidade de testar a demo de The DioField Chronicle, havia um grande otimismo de que o produto final seria tão bom e surpreendente quanto o anúncio e as primeiras imagens e vídeos do jogo poderiam indicar.
Agora, finalmente tendo jogado a versão final do jogo, eu posso tranquilamente dizer que o jogo não só alcança as expectativas que eu possuía antes de ter contato com ele de qualquer forma, como conseguiu provar que as poucas preocupações que a demo havia deixado eram infundadas. O que temos aqui é um ótimo misto de RPG e RTS que entrega uma ótima história e um sistema de combates desafiador, agradando a fãs de ambos os gêneros.
O jogo gira em torno de Andrias, um jovem mercenário que, juntamente com Fredret, após sobreviver a um ataque contra o seu vilarejo, acaba falhando em defender um de seus amigos que acaba sendo assassinado (e que por acaso era o herdeiro ao trono), se comprometendo então a fazer todo o possível para proteger o seu povo.
Andrias, Fredret e Izelair, uma outra amiga de infância dos dois, acabam se juntando em uma pequena unidade de elite sob o comando do Duque Hende que passa a ser chamada de “The Blue Foxes”, graças a cor adotada pelo grupo e a eficiência e velocidade com a qual conseguem resolver suas missões.
Enquanto a história começa com apenas os três cuidando de pequenas missões, eventualmente seu grupo irá crescer bastante e incluir um elenco de personagens bastante rico e variado. A esnobe e eficiente maga Waltaquin e o honrado arqueiro Iscarion completam o quarteto principal juntamente com Andrias e Fredret, mas mesmo personagens secundários, como Lorraine, a secretária de Hende, ou guerreiros que vão sendo recrutados com o avançar das missões vão enriquecendo bastante a experiência.
Isso é importante porque, apesar de inicialmente parecer que os personagens serviriam mais como ferramentas para avançar o plot, cada um deles vai demonstrando com o tempo seus próprios objetivos e agenda, com personalidades próprias e objetivos, em certos momentos, conflitantes. Isso faz com que exista sempre um ar de tensão necessário para avançar a história, especialmente dados os caminhos que a história segue.
Em sua essência, The DioField Chronicle é uma história sobre intriga política, tal qual Final Fantasy Tactics ou Tactics Ogre. Os Blue Foxes tem um papel excepcionalmente importante no desenrolar da história, já que é através das suas ações, que começam da simples investigação de pequenos atos de violência e contrabando na região central do Reino de Alletain, que toda uma conspiração vai sendo descoberta.
Enquanto no começo eles realmente parecem meros peões, aos poucos cada um deles vai tendo seu background desenvolvido e seus desejos e objetivos sendo melhor construídos. O fato de que, desde o começo, fica claro que eles não são meros seguidores cegos do Duque Hende, mas contestadores capazes de tomar suas próprias decisões é muito bem-vindo. Além disso, missões secundárias focadas nos personagens também ajuda a explorar mais o background de cada um e dar mais riqueza as relações entre eles e, principalmente, deles com Andrias (que é quem o jogador controla fora de combate).
Junte a isso o fato de que, bem no começo, o Império Trovelt-Schoevian, após vencer a batalha de conquista contra a Rowetale Alliance, decide avançar em seu desejo de conquistar Alletain e os Blue Foxes se veem também envoltos em uma Guerra para defender o seu Reino. O avanço do Império se dá por Alletain ser uma região rica em Jade, a matéria-prima utilizada para manter as fontes de magia do mundo funcionando.
A ambientação do jogo é especialmente rica e, apesar de não passar horas e horas em diálogos, o jogo consegue equilibrar bem o ritmo entre as missões e momentos narrativos. É tudo muito bem detalhado e, como eu esperava à época do preview, as peças sendo mexidas no tabuleiro de DioField Chronicle são tão vitais quanto aqueles fazendo a movimentação, dando muito mais riqueza a experiência e tornando uma história que poderia ser meramente boa em algo muito mais memorável. Ela poderia ser ainda melhor? Poderia, já que mais missões secundárias e uma maior expansão das relações entre os personagens seria bem-vinda. Mas é inegável que o jogo consegue entregar com sucesso aquilo que se compromete a fazer.
Um último ponto sobre a ambientação é que cabe dizer que apesar de não ser o jogo mais bonito do mundo, a combinação de um mundo mágico em parte inspirado pela Europa Medieval e em parte inspirado na Inglaterra Vitoriana é, de fato, uma mistura vencedora. DioField Chronicle tem um mundo único, personagens visualmente atraentes e efeitos visuais muito bonitos em combate. Pode não ser o jogo mais belo do universo, mas tem sua própria identidade visual que o faz se destacar.
Falando em batalhas, a estrutura é aquela que já havíamos comentando sobre durante o nosso preview. Antes de inciiar o combate, você monta uma equipe principal composta por 04 unidades que serão aquelas que irão liderar a batalha, com cada um deles podendo ter um “adjutant”, que é essencialmente um ajudante, que adicionam habilidades extras às suas unidades (ao custo de ganharem menos EXP do que a unidade principal).
Em combate, você pode mover unidade por unidade, escolher grupos para movimentar ou mover todas de uma vez ao longo dos mapas, como se esperaria de um RTS. Os comandos são surpreendentemente bem adaptados para o DualSense, sendo bem fáceis de se acostumar, com botões mapeados para cada uma das principais decisões a serem tomadas em combate, seja atacar todos, mover todas as unidades ou usar habilidades.
Cada personagem pertence a uma classe distinta e, consequentemente, funciona de forma diferente em combate. Soldados causam mais dano, mas precisam atacar de perto, cavalheiros tem mais mobilidade, mas são mais frágeis ao atacar de perto, arqueiros e magos causam ainda mais dano, mas precisam estar distantes do adversário para serem mais efetivos.
Cada uma delas possui diferentes habilidades que gastam EP e tem um certo tempo de cooldown, então parte da estratégia é saber quando e como melhor usar suas habilidades para lidar com os inimigos. Além disso, ao contrário do que a demo parecia indicar, o jogo realmente te força a pensar estrategicamente à medida em que avança e vai se tornando mais difícil, com a movimentação e posicionamento das unidades sendo fundamental para sobreviver até o final de uma missão.
Parte da dificuldade vem do fato de que, após certo ponto, os inimigos começam a te atacar em grandes grupos, te fazendo precisar aprender a usar o terreno e os padrões de ataque deles para melhor sanar cada missão. Além disso, como seus recursos são finitos, incluindo EP, as invocações através do MP e até mesmo a possibilidade de trocar a unidade ativa (que pode ser feito até 3x), faz com que, apesar de progressivamente mais desafiador, em nenhum momento o jogo se torne “injusto”, mas é bom ver que há um desafio no combate.
Visualmente o combate também é bem legal, tanto no uso das habilidades quanto, especialmente, nas animações das invocações usando Magilumic Orbs (itens mágicos enriquecidos com Jade que podem ser usados para invocar criaturas). Alguns desses summons são inspirados em Final Fantasy, como o próprio Bahamut sendo o primeiro, e são um espetáculo visual a parte, mesmo que as animações sejam curtas.
Aliás, apesar de ser um jogo consideravelmente longo, a maior parte das missões são bastante curtas (algo em torno de 4 a 8 minutos), e costumam envolver derrotar inimigos específicos ou simplesmente acabar com todas as unidades adversárias. É um jogo claramente feito pensando em ser consumido por todo tipo de jogador, sendo acessível para novos interessados ou fãs do gênero e podendo ser consumido em longas doses ou pequenas sessões de jogatina.
Por fim, é importante falar também sobre o interessante sistema de progressão do jogo. Os Blue Foxes tem uma base localizada na parte Central de Alletain, a qual é totalmente explorável a pé enquanto o jogador controla Andrias. É algo bem parecido e claramente inspirado em Fire Emblem: Three Houses, mas executado de forma um pouco distinta e que acaba falhando por ser bastante simples, com a estrutura certa mas pouco expansivo.
Enquanto no início você só terá acesso ao primeiro piso, logo você irá desbloquear novas áreas da base e, consequentemente, novos aspectos da progressão do seu grupo de mercenários. Isso inclui o Instituto, no qual é possível melhorar suas habilidades, desenvolver novas armas (que então podem ser compradas) e um sistema de pesquisa de Magilumic Orbs, na qual é possível melhorar os seus summons e criar novos.
Há ainda um Practice Battle, que te permite rejogar certas missões para ganhar EXP e recursos e uma loja para comprar novas armas, acessórios e itens para serem levados em missão. É um sistema de progressão bem simples e direto, no qual você irá gastar recursos na sua base e eventualmente subir o ranking da sua unidade, desbloqueando melhorias como a possibilidade de levar mais itens para a batalha, mais ganhos de EXP e Guld ou itens melhores na loja.
Além disso, cada personagem ao subir de nível ganha AP, o qual pode ser utilizado para melhorar características específicas de cada personagem, como velocidade de ataque, esquiva e força. É fundamental prestar atenção nos equipamentos deles já que, as habilidades são determinadas por aquilo que eles estão equipando e, consequentemente, aquelas que melhoraram no Instituto. E não tem nada pior do que gastar SP para melhorar uma habilidade e tirá-la sem querer e acabar se colocando em posição de desvantagem em combate. Nisso, seria interessante a possibilidade de comprar as habilidades no Instituto e equipar nas unidades, sem estarem atreladas aos equipamentos.
No geral, The DioField Chronicle é um jogo que realmente fez valer todo o meu hype e interesse por ele. O estilo visual e os retratos do jogo são muito bonitos, a ambientação é consideravelmente distinta de outros jogos do gênero e serve de pano de fundo para uma história riquíssima e bastante envolvente e o combate é um prato cheio para fãs de jogos de estratégia.
Seria fácil deixar o jogo passar batido em meio ao mar de lançamentos vindo por aí ao longo das próximas semanas e meses, inclusiva da própria Square Enix, mas se você curte RTS, JRPGs e/ou SRPGs, esse é o tipo de jogo que irá te pegar e prender por horas e horas a fio e merece demais o seu investimento.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
The DioField Chronicle supera todas as expectativas, entregando um ótimo RPG de Estratégia graças ao desafiador sistema de batalha em tempo real e uma ambientação rica que sustenta uma ótima história de intriga política e bons personagens. As poucas falhas ficam por conta do sistema de progressão simplista e da narrativa que poderia ser ainda melhor, mas é um jogo que merece a atenção dos fãs do gênero.
The DioField Chronicle surpasses every expectation, delivering a great Strategy RPG thanks to its challenging real-time battle system and a rich setting that sustains a great story full of politics and good characters. The few issues are due to the simplistic progression system and the narrative that could be even better, but its a game that deserves the attention of fans of the genre.
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