Sendo um fã relativamente casual de jogos de corrida, muitos dos títulos mais recentes sempre acabam me decepcionando de uma forma ou outra. Seja por terem uma progressão ruim, circuitos mal feitos ou até mesmo deixando a desejar na customização, não consigo me lembrar da última vez que um NFS ou Gran Turismo não tenha me decepcionado de uma forma ou outra.
É justamente com esse sentimento em mente que mergulhei na beta fechada de The Crew Motorfest quando ela rolou mais cedo no ano, esperava algo bacana mas que não fosse me capturar da mesma forma que o estilo conseguia antigamente.
Após terminar todo o conteúdo que o período de teste tinha a oferecer, o jogo tinha conseguido se tornar um dos meus lançamentos mais aguardados do ano, a ponto de me fazer ir comprar seu antecessor em tamanha antecipação.
De forma resumida, o termo Motorfest é a melhor descrição que o título poderia ter. A ideia aqui é trocar aquela vibe mais “séria” (entre muitas aspas diga-se de passagem) que a franquia tinha até então e entregar algo mais “amigável”, com uma grande celebração a cultura do automobilismo.
A premissa é simples, vários amantes de carro vão para o Havaí participar do grande evento Motorofest, disputando em diversas modalidades enquanto aprendem mais sobre a cultura local.
A progressão do jogo é praticamente a mesma daquela que encontramos durante o período de testes. Diversas playlists estão disponíveis no mapa e cabe ao jogador decidir qual delas ele vai querer participar. Cada categoria de corrida tem um tema específico que consegue se destacar muito bem entre si, indo de super-carros com a Electric Odyssey até a Made in Japan que como o nome indica, celebra a cultura dos carros japoneses.
Dito isso, nem todas as corridas tem seu foco puramente na competição. Uma das minhas modalidades favoritas (principalmente agora no jogo completo) é a Hawaii Scenic Tour. Aqui a ideia é apenas explorar pontos específicos do Havaí, conhecendo pontos turísticos da cidade e aprendendo mais sobre a história do local.
Essa playlist não é efetiva apenas como um “descanso” entre as competições, mas também ajuda a dar um pouco mais de vida ao mapa onde muitos vão passar os próximos anos interagindo. Quem jogou The Crew 2 lembra que sua representação dos EUA era bem “feia”, com poucas paisagens memoráveis e gráficos relativamente datados. Motorfest reconhece esse problema e quer se distanciar dele a todo custo.
Além das modalidades que analisamos durante o período de testes, diversas outras foram incluídas, aumentando ainda mais a quantidade de atividades (que já eram muitas) presentes na ilha. Ocean n’Sky traz de volta as corridas marítimas e aéreas que seu antecessor tanto se orgulhava, Liberty Walk contém uma maratona de corridas customizadas por Wataru Kato e por aí vai.
Com a confirmação de que novas temporadas já estão sendo preparadas, e que novas playlists serão adicionadas sem custo adicional, Motorfest parece ter ainda mais ambição que The Crew 2 tinha, algo que chega a ser difícil de imaginar considerando o escopo que o antecessor tomou.
Não houve mudanças significativas tanto na questão de upgrades para os carros quanto na jogabilidade em si. O “feeling” dos automóveis se encontra excelente como era na beta fechada, todos tem um “peso” que ajuda muito bem como feedback na direção. Peças de melhorias ainda possuem as 3 raridades e são desbloqueadas aleatoriamente após as corridas.
A fórmula do jogo então se resume a completar playlists, colecionar e melhorar carros e participar do prato principal, o Main Stage. Ao invés de ter uma campanha com um objetivo mais “específico” onde o jogador sobe até o topo de um ranking ou se torna o corredor mais famoso da cidade, Motorfest quer que seus pilotos participem do modo online mais ativamente.
O Main Stage então começa a rotacionar diversos eventos, sendo que todos eles vêm acompanhados de um tema e recompensas. O modo todo funciona quase como um passe glorificado, onde o jogador vai acumulando pontos, ganhando corridas, atingindo certos níveis e assim desbloqueando carros, decalques e etc.
O sistema em si funciona muito bem, mas também é um grande detalhe que com certeza vai decepcionar alguns.The Crew Motorfest é um jogo excepcionalmente multiplayer, as playlists e atividades extras são relativamente pequenas e não tem necessariamente o maior fator replay do mundo.
Admito que por mais que o período de testes tenha me deixado entusiasmado, sempre tive o receio de que o jogo completo funcionasse dessa forma, e infelizmente minhas preocupações foram confirmadas.
Não é como se o título fosse ruim, todas as corridas online que tive a chance de participar foram extremamente divertidas, a frequência com que eu ia desbloqueando carros e melhorias era justamente ótima para que eu conseguisse participar de novas atividades, mas acontece que lá no fundo não era bem o jogo que eu queria, ainda mais depois de passar boas horas em The Crew 2.
Outro ponto que pode dividir alguns foi a troca de uma cidade gigantesca por uma pequena ilhota como sede dos eventos. Motorfest tem um escopo bem menor do que seu antecessor, e por mais que eu prefira jogos onde seus mundos são menores, The Crew 2 me ganhou justamente pelo tamanho do mapa.
Pegar seu carro favorito, ligar uma música no talo e viajar de uma ponta a outra dos EUA era extremamente relaxante, e honestamente falando, um dos melhores pontos do antecessor. Não vou dizer que sou um petrolhead fanático que sabe tudo sobre carros, mas as vezes a simples atividade de dirigir sua coleção de automoveis é o suficiente, mesmo fora de uma competição.
O Havaí de Motorfest é, artisticamente deslumbrante e bem mais vivo que seu antecessor, mas sinto que a troca não foi tão justa, especialmente em um título que já parece querer te jogar para o lado multiplayer a todo momento.
Como disse anteriormente, a Ivory Tower já anunciou novos conteúdos, entre eles já estão confirmadas futuras expansões para a ilha. Eu imagino que em tempo esse não vai mais ser um aspecto negativo do game, especialmente considerando o suporte que muitos jogos da Ubisoft costumam receber no seu pós lançamento, mas também não dá para deixar de notar esse grande detalhe por agora.
Por sorte, suas corridas online são extremamente divertidas, especialmente as que pertencem a Grand Race, uma categoria que engloba todas as modalidades do jogo em uma corrida só, alterando o seu veículo automaticamente em cada checkpoint, tudo isso enquanto disputa contra 32 outros jogadores.
Essa é de longe minha parte favorita de Motorfest até agora, o caos que é colocar tantos pilotos disputando em céu, terra e ar ao mesmo tempo é hilário e perfeito para umas boas risadas com os amigos.
O modo que conseguiu saciar um pouco minha sede de TC2 foi o Live Summit, que é o mais próximo que temos de um modo ranqueado, são diversos desafios PvE onde o jogador usa carros em categorias pré determinadas e tenta ir o mais longe possível nos rankings.
É longe de ser a mesma coisa que os eventos do seu antecessor me proporcionavam, mas pelo menos é alguma coisa.
Não acho que o novo The Crew seja ruim e nem diria que é mais uma vítima de lançamentos apressados, só é diferente do que eu esperava e precisei de um tempo para me acostumar com isso.
Apesar de ser um jogo muito bem feito e divertido, não dá para deixar de notar que em algum momento suas ambições e a óbvia influência de um certo título afetaram Motorfest de uma forma ou outra. Se essas mudanças são negativas ou não, acaba ficando mais a critério individual de cada um.
Ao mesmo tempo que consigo me ver voltando ao seu antecessor por mais um bom tempo, também estou animado para visitar Motorfest periodicamente.
Acredito firmemente que o título vai ser tão bem cuidado quanto TC2 e que suas atualizações gratuitas serão bem recebidas pelos fãs do gênero, transformando o jogo em outro pacote extremamente completo.
Caso tenha amigos para explorar a ilha do Havaí, Motorfest é uma excelente pedida, especialmente para aqueles que preferem mais o lado multijogador de jogos de corrida. Mas caso você seja mais voltado para o lado “offline” talvez seja melhor esperar algumas atualizações e uma solidificada na base do jogo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Ubisoft.
Veredito
The Crew Motorfest é uma ótima adição à franquia, mas também é um título que pode desapontar alguns fãs, especialmente aqueles que continuaram jogando seu antecessor por tanto tempo. Embora o jogo seja repleto de atividades divertidas, o foco no multiplayer pode fazer muitos ficarem sem vontade de acompanhar a evolução contínua que virá nos próximos meses e anos.
The Crew Motorfest is a great addition to the franchise, but it’s also a title that may disappoint some fans, especially those who continued playing its predecessor for so long. Although the game is full of fun activities, the focus on multiplayer may leave many unwilling to follow the continuous evolution that will come in the coming months and years.
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