The Centennial Case: A Shijima Story foi um jogo que, quando anunciado pela Square Enix, me surpreendeu e muito. Square Enix, uma empresa conhecida por RPGs japoneses e alguns títulos ocidentais, além de alguns indies, investiu no desenvolvimento de um jogo que remete diretamente ao 428: Shibuya Scramble, inclusive com parte da equipe que desenvolveu o então exclusivo de Nintendo Wii em 2008.
O jogo começa através da perspectiva da protagonista, Haruka Yagami, escritora de best-sellers do gênero de mistério, lançando seu mais novo livro para o público. Durante o lançamento, Haruka e sua empresária na editora de livros, Akira Yamase, recebem um convite misterioso de Eiji Shijima, o consultor médico responsável pelas informações científicas dos livros de Haruka.
Restos mortais de um cadáver desconhecido foi encontrado na propriedade da família Shijima, justamente às vésperas de um centenário evento de sucessão do clã. Eiji, um dos filhos de Ryoei Shijima, mestre do clã, chama Haruka para investigar o mistério dos restos mortais encontrados, além de acompanhar o evento da família e também buscar mais informações sobre o fruto proibido da família Shijima, o Tokijiku, que garante vida eterna para quem o consumir.
Não demora muito após a chegada de Haruka e Akira na mansão dos Shijima e o início do evento centenário para que desastres acometessem a família Shijima, ameaçando o prosseguimento da cerimônia e até mesmo a vida de todos os presentes no local. Eiji logo pede a assistência de Haruka para encontrar o culpado e desenrolar o novelo de mistérios envolvendo o clã com eventos datando de até cem anos antes.
A premissa de ter um mistério central, vários eventos correlatos e uma protagonista responsável por desvendar tudo não é algo original, até mesmo em jogos, mas quando bem desenvolvido, costuma atingir um público fiel dentre gamers, comprovado por franquias como Danganronpa, Zero Escape e até mesmo 428: Shibuya Scramble. The Centennial Case: A Shijima Story não deixa por menos e entrega um enredo interessante do começo ao fim.
O jogo é dividido em capítulos, em que cada capítulo envolve um episódio específico da história da família Shijima em um período diferente e segue um protagonista específico, sempre usando a imagem de Haruka como personagem principal, que sempre assume o papel de resolver o problema de cada capítulo. E o jogador, no controle de Haruka ou uma de suas representantes no passado, deverá interferir no processo de investigação e solução.
O jogo é dividido basicamente entre duas seções: as cenas em vídeo, já que o jogo é como se fosse um “filme interativo”, e a fase de solução de mistérios, em que o jogador deverá criar hipóteses para solucionar os acontecimentos e então oferecer uma resposta para encontrar culpados, como executaram seus crimes e tudo o mais que estiver envolvido na jogada.
As cenas em vídeo, a parte estilo “filme interativo”, são muito boas. Apesar de ter um elenco reduzido, reciclando os atores para papeis diferentes a cada capítulo, os atores contam com uma atuação um pouco “macarrônica”, se assim posso dizer, bem escrachada. Ninguém do elenco ganhará um Oscar pela sua atuação no jogo, mas nem é essa a intenção, The Centennial Case: A Shijima Story parece mesmo um jogo, com personagens cartunescos e histórias mirabolantes, encenadas por pessoas de verdade.
No começo, a atuação chegou a distrair, porque nada era muito crível ou convincente, parecia algo como novela mexicana super encenada, mas quando entendi que essa era a intenção e que principalmente certos personagens foram escritos dessa forma, passei a apreciar mais o que cada ator conseguiu trazer para a sua atuação. Encaminhando para o final do jogo, a atuação muda de foco e passa a focar mais nas emoções do jogador, surpreendendo que não permaneceu no “cartunesco” por toda a história.
Tirando algumas seleções durante as cenas, algumas inconsequentes para a história, e outras decisivas durante as partes em que o jogador apresenta quem realizou o crime central, como realizou e tudo mais, a parte de jogabilidade mesmo, em que o jogador usará quase todos os botões do seu controle para juntar as peças do quebra-cabeça (literalmente), é seu calcanhar de Aquiles.
Após algumas horas de cenas intrigantes e personagens cativantes, o jogador é direcionado para um grid em que questões são apresentadas, relacionadas aos eventos do capítulo, e o jogador deverá encaixar, nessas questões, peças correspondentes a essas questões, formando assim hipóteses para responder tais questões.
Quando digo em encaixar, literalmente o jogador deverá navegar um slide com cenas do capítulo, encontrar peças com respostas em potencial, arrastar a correspondente até o grid com a questão em destaque, para formar o maior número de hipóteses possíveis. O processo poderia ser muito mais interessante e até mesmo interativo, mas a forma em que foi implementado, além da sua duração, acabam arrastando para baixo a qualidade do produto final.
As peças em si têm sinais visuais mostrando onde elas devem ser encaixadas, fazendo com que o jogador nem precise pensar para descobrir onde cada peça deverá ser encaixada, além de que o processo todo é tão demorado, que é possível ficar mais de trinta minutos apenas fazendo o trabalho entediante de arrastar peças para completar o grid, e mesmo que nem todas as hipóteses sejam confirmadas, os desenvolvedores incluíram peças “filler” que não fazem o menor sentido para o mistério não ficar muito óbvio, enrolando ainda mais todo esse processo.
Fora a atuação e a jogabilidade, a trilha sonora é outro aspecto que vale a pena ser mencionado. As músicas são muito bem ambientadas no estilo japonês, evocando diretamente a sensação pretendida com cada período histórico. Os cenários também, apesar de simples, são belos, combinando com os figurinos do elenco e com a intenção dos mais diversos cenários em que a história se passa.
Superadas as seções do jogo no grid de mistérios e hipóteses, há um jogo incrível para fãs do gênero de mistério. O jogo acerta o equilíbrio de não ser muito longo, fadigando o jogador, nem ser muito curto, podendo ser acusado de ser muito mais caro que um ingresso de cinema, como encontrei pela internet. Inclusive, um epílogo incluído, para ser acessado após a primeira vez que o jogador assiste os créditos, fecha a história com chave-de-ouro, respondendo todas as perguntas que possa ter após as 15 horas de jogo.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Após anos lançando jogos de franquias conhecidas ou indies ocidentais menos conhecidos, a Square Enix passou a mudar o rumo com títulos japoneses impressionantes. The Centennial Case: A Shijima Story foi uma surpresa. E uma ótima surpresa.
Years after releasing games from established franchises or western indies, Square Enix took a different direction with impressive new Japanese titles. The Centennial Case: A Shijima Story was a surprise. And a great one.
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