The Callisto Protocol – Review
O interesse em The Callisto Protocol foi quase instantâneo para muitos. Seja pelos trailers e marketing afiado ou simplesmente pela lacuna da falta de survival horrors de destaque, o título da Krafton e da Striking Distance Studios já foi dado como uma das grandes promessas para 2022. Agora, com o jogo já disponível, o resultado final está a par com a promessa gerada?
Numa sucessão de eventos em que tudo dá errado, Jacob Lee termina encarcerado dentro da prisão Black Iron e com um surto de ataques acontecendo. Monstruosas mutações começam a tomar conta da prisão e, sem ter qualquer outro objetivo mais importante, Jacob vai precisar lutar para sobreviver de alguma forma e tentar escapar desse pesadelo. Conheça outros sobreviventes e tente fugir da lua Callisto e da prisão Black Iron enquanto tenta entender o segredo por trás do surto e do local misterioso, assim como também o passado do protagonista e seu envolvimento com toda essa história.
Sem querer entrar em muitos detalhes da campanha, já fica aqui o aviso para tratar The Callisto Protocol como uma grande fuga em que os eventos da história vão acontecendo nesse meio termo, sem ter muito tempo para um desenvolvimento profundo de forma tradicional. O foco e até o ritmo do jogo é total na sobrevivência, mas também mostrando como os poucos detalhes da história vão surgindo nesse caminho.
Nessa pegada, o jogo acerta exatamente em marcar esse ritmo e não tentar ir além do que parece caber aqui. Convenhamos, no fim do mundo não há tempo para firulas ou pausas pro café. Mesmo assim, Jacob vai tropeçando em informações e relatos que vão explicando os eventos em Callisto e também o relacionamento de diversos personagens com a trama. Aqui fica elogio para o trabalho com atores, principalmente para o trio Josh Duhamel (Transformers), Karen Fukuhara (The Boys) e Sam Witwer (Days Gone). Seus personagens movem a narrativa de forma constante e sempre com relevância. Ainda que os dois últimos não apareçam tanto quanto poderiam, a pouca presença deles ainda chama a atenção e me fez querer saber ainda mais sobre seus personagens, principalmente Sam Witwer e seu Capitão Ferris, que claramente mereciam mais tempo na trama.
Há alguns pontos da trama que podem parecer mais desconexos ou não tão explorados. Acredito que muito caia no nível de urgência que o jogo passa e parte desses pontos são deixados como exploração de lore ou para uma futura expansão do universo do jogo. De certa forma, a história como é apresentada é concisa e funcional, mas não vai ser o grande destaque do jogo e deixa pontas soltas propositalmente no final. Como já disse, alguns personagens importantes precisam de mais tempo no jogo e isso ajudaria em muito a criar uma narrativa mais precisa e funcional, mas da forma como acontece não deixa a desejar.
Indo da prisão Black Iron, passando por áreas de habitação, pesquisa e até mesmo a área externa de Callisto, TCP é uma viagem frenética e tensa do início ao fim. Como um survival horror, o jogador precisa se preocupar realmente em enfrentar as adversidades e se manter apto para o próximo evento que surgir. Controle recursos, ajuste seu inventário, corra ou lute, explore o que é possível ou vá direto ao próximo objetivo e, no fim, tome decisões que serão importantes para cada momento.
Se você é fã de jogos do tipo, já sabe o que te espera aqui. TCP é fruto da mesma mente que criou a franquia Dead Space, Glen Schofield, e o jogo vai sim se mostrar como um sucessor espiritual do título que foi desenvolvido originalmente pela extinta Visceral Games. Glen e sua equipe entregam aqui o mesmo trabalho e dedicação que fez seu primeiro survival horror ter destaque na época, sendo um ótimo visual, atmosfera e ambientação soberba, parte sonora de altíssima qualidade e bom gameplay.
Criar situações e cenários que vão deixar o jogador desconfortável e tenso em todos os momentos é algo fundamental para o estilo. Usar da iluminação e o som é chave principal para isso, sempre trazendo ao jogador o estado de alerta com aquilo que ele vê ou não vê, assim como o que ele consegue ou não escutar. TCP é magistral nisso, principalmente na questão do áudio, com sons de cenários que vão apavorar o jogador e o deixar perdido no seu estado de atenção, confundindo, por exemplo, água passando pelos canos como um sinal de perigo. Inclusive, deixo o alerta de que é obrigatório o uso de um fone de ouvido para a imersão total do jogo.
A criação visual do ambiente também é peça fundamental aqui. Cenários pavorosos, nojentos ou de completa desolação sempre vão deixar o jogador desconfortável de alguma forma. Prejudicando sua visão ou ofuscando detalhes principais, a iluminação é usada muito bem aqui para direcionar ou desviar a atenção em momentos distintos. Além disso, o trabalho com a Unreal Engine é de qualidade impressionante, com gráficos em um real nível de nova geração em quase cada canto do jogo, principalmente nos modelos de personagens.
A junção da parte técnica afiada numa ambientação impecável cria uma versão do horror em que o jogador jamais vai se prender esperando apenas sustos inesperados (jumpscare). A brutalidade e violência, o “gore”, design de inimigos e suas formas aterrorizantes, pouca percepção do que está ao redor e vários outros aspectos criam um jogo que é prato cheio para os amantes do horror espacial. De toda forma, como é algo muito característico e individual, alguns podem ser mais impactados que outros quanto a isso e se espantar muito, mas é inegável a excelência do jogo nesse aspecto.
TCP é impressionante em diversos aspectos, principalmente artísticos e técnicos. Sua história flui bem e funciona na medida do necessário mesmo sem se destacar tanto. Passando para a jogabilidade e combate, aqui talvez seja o ponto de menos inovação e mais familiar aos jogadores, principalmente para os fãs de Dead Space. Ataque com armas a distância, luva de gravidade, golpes corpo a corpo e até um pisão do protagonista, vão se mostrar inspirados na franquia da EA. Assim como a interface minimalista e com nenhuma informação na tela além do essencial, com o restante sendo acessado apenas via um único menu.
É claro que muito disso já foi visto antes e, apesar das similaridades, há uma grande diferença aqui que fica por conta do combate corpo a corpo. TCP é muito mais focado e até dependente disso, tendo inclusive uma arma específica para a ação, assim como um sistema de esquiva único e gerenciado pelo uso do analógico que é necessário ser direcionado para o lado oposto ao ataque adversário. Esse sistema de esquiva vai parecer estranho e difícil de assimilar a princípio, principalmente pela efetividade só acontecer no 1vs1, mas funciona de forma precisa. Se estiver cercado por mais inimigos, o jogador precisa pensar em outras maneiras para sobreviver e não só depender de desviar de um único inimigo.
Ainda que haja certa similaridade, toda a jogabilidade é direcionada para o estilo do survival horror. Atacar a esmo e abusar do uso de recursos é fórmula certa para sofrer em algum momento, mesmo na dificuldade mais baixa. Gerenciar inventário, recursos, equipamentos e melhoria dos mesmos é tão importante quanto se manter vivo. Ficar sem opções quando surpreendido por vários inimigos vai acontecer eventualmente e o jogador precisa se preparar para isso.
No que TCP oferece, a campanha principal vai durar de 10 a 12 horas dependendo de como você jogar, variando mais pela dificuldade escolhida. O tempo de jogo é similar ao de cada um da trilogia Dead Space e até mais duradoura que outros do estilo, como Resident Evil. Entretanto, algo que pode tirar de negativo aqui é a falta de qualquer outro opcional fora a campanha principal, não tendo nenhum outro atrativo imediato ao jogador. Opções como NewGame+, desafios únicos, dificuldade específica após conclusão ou algo distinto não está presente de imediato. Ainda que já tenha sido anunciado um passe de temporada com mais conteúdo e atualizações futuras como novidades, como um NG+ para o início de 2023, o jogador precisará esperar algum tempo até alguma novidade chegar para TCP.
Algo que talvez reforce isso, e pelo menos para mim soou muito assim, é a de querer mais do jogo para agora. Receber mais dos personagens, dos mistérios não esclarecidos e de eventos relacionados com a trama. O interesse por esse universo cresce conforme o jogador progride e parece que muito é deixado no ar para ser explorado apenas no futuro, criando assim a sensação de querer mais e não ter. 12 horas é um tempo adequado para a campanha, que não parece nem acelerada e nem esticada em excesso sem necessidade, mas o que realmente pesa é total falta de qualquer tipo de conteúdo extra de imediato.
E apesar de sua excelência, há alguns pontos negativos para se destacar. Partes da campanha dão uma leve derrapada que pode desagradar momentaneamente e, para mim, 2 partes em específicas não parecem ter sido tão bem ajustadas. A primeira é uma área toda que força o jogador a atuar de forma furtiva e limita em muito a jogabilidade ali, inclusive mostrando até falhas da IA dos inimigos. É claro que o jogador pode optar por sair surrando e atirando em tudo, mas vai sofrer com a quantidade de inimigos existentes e a possibilidade de mutação dos mesmos para outros ainda piores se não forem derrotados rapidamente. A segunda parte é a luta final, que não cria uma situação de combate sem timing certo de ataque e recuperação para o jogador, colocando o mesmo quase numa batalha que precisa ser terminada num ato só e sem sequer tempo adequado para recuperação de vida ou até para recarregar uma arma.
Um outro problema encontrado foi leves quedas na taxa de quadros por segundo em momentos específicos. Desde meu primeiro dia com o jogo até o lançamento dessa análise, 4 atualizações foram lançadas e melhoraram bastante a performance, principalmente no modo desempenho. Mesmo assim, principalmente em cenários específicos, é notável quedas ao circular e em momentos de transição. Nenhuma é realmente problemática, mas não é uma experiência fluída ao máximo 100% do tempo.
Deixo claro que não foi possível testar a versão de PS4 do título ou sequer ver algum material promocional da mesma. Com isso, considere tudo da parte técnica apenas para a versão de PS5, que fornece dois modos possíveis, tendo os tradicionais qualidade (Maior resolução e qualidade de imagem a 30fps) e desempenho (60fps com possivelmente resolução menor).
Agora sim podemos responder sobre a pergunta feita no início do texto. Acredito que sim, The Callisto Protocol entrega o que promete de forma magistral na maior parte. É um survival horror de alta qualidade, com grande destaque no aspecto técnico e artístico, com uma história e jogabilidade interessante mesmo com alguns percalços. É o passo inicial certo para um universo que pode ser explorado ainda mais e tem muito por mostrar.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela KRAFTON.
Veredito
Soberbo na ambientação, visual, som e demais partes técnicas, The Callisto Protocol é impressionante do início ao fim e uma experiência brutal que faltava nos dias de hoje. Ainda que não seja perfeito e alguns problemas possam ser notados, assim como há a falta de conteúdo além da campanha principal, existe muita qualidade mostrando que o jogo entrega o que foi prometido.
Superb in setting, visuals, sound and other technical parts, The Callisto Protocol is impressive from start to finish and a brutal experience that is lacking these days. Although it is not perfect and some problems can be noticed, as well as the lack of content beyond the main campaign, there is a lot of quality showing that the game delivers what was promised.
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