Jogos de plataforma com puzzles, quando bem executados, são algumas das experiências mais desafiadoras possíveis em um videogame. Mesmo aqueles em que não existe qualquer tipo de combate extremamente punitivo para te fazer “sentir” o desafio, a arte de te colocar diante de um cenário e te pedir para resolver a tarefa de avançar para a próxima sala pode trazer sessões bem complicadas de se superar.
É exatamente esta a posição na qual Tetragon, jogo desenvolvido pelo estúdio catarinense Cafundó Estúdio Criativo Eireli, coloca o jogador, mas com uma pequena e bem intrigante mudança. Ao invés de se focar em pulos que exigem um timing preciso, aqui é necessário ver um cenário como um todo e usar magia para modificá-lo e abrir novos caminhos antes impossíveis.
Em se tratando de um universo mágico, era de se esperar que o protagonista fosse um experiente usuário de magia, certo? Ao invés disso, a história gira em torno de um lenhador chamado Lucios que, ao se concentrar demais no trabalho, acaba não prestando atenção em seu filho que acaba saindo floresta adentro e se perdendo.
Cabe a Lucios então desvendar os mistérios dessa floresta com um único objetivo: resgatar o seu filho. No entanto, no meio do caminho ele acaba encontrando um item chamado Tetragen e um espírito meio suspeito que dá a ele o poder de controlar determinadas partes do cenário imbuídas de magia com a lanterna carregada por ele.
Equipado com isso e auxiliado por um espírito de objetivos misteriosos, Lucios precisa então aprender como abrir caminho para completar cada uma das fases do jogo e, com isso, ir avançando pela floresta até finalmente desvendar os mistérios da floresta e encontrar o seu desaparecido filho.
Apesar de não ser o ponto mais brilhante do jogo, sendo apresentado de forma bem rasa, na realidade, o plot de Tetragon é mais do que suficiente para servir como “justificativa” para os puzzles, que são a parte mais importante do jogo. Não que você vá sentir um desejo incontrolável de salvar o garoto ou uma necessidade de entender mais da história, mas ela está presente e ajuda a enriquecer mais o universo.
Já o gameplay é o que Tetragon tem de mais interessante, ainda que não seja das coisas mais profundas. A mecânica principal do título é que, em cada área, Lucios pode movimentar pilastras existentes no mundo marcadas com uma runa. Subir e descer essas pilastras até a altura certa é a única forma de conseguir completar cada estágio, já que o protagonista não pode pular ou se abaixar, por exemplo (só escalar pilastras até uma certa altura).
Cada pilastra possui uma limitação de tamanho máximo, então acertar o alinhamento correto de todas elas é essencial. Afinal, além disso, a única outra habilidade que Lucios possui é de girar o mundo em ângulos pré-determinados. Isso te força a realmente olhar para o mundo por todos os ângulos possíveis, já que a solução talvez esteja de cabeça para baixo.
Uma das principais qualidades de Tetragon é a progressão do jogo. Os primeiros puzzles são bastante simples, servindo realmente para te aclimatar ao desafio e te fazer aprender a pensar de formas diferentes sobre como resolvê-los. A partir do segundo mundo, no entanto, o jogo começa a tirar as luvas e realmente forçar a pensar à finco sobre como solucionar cada sala.
Não é, necessariamente, que o jogo seja extremamente desafiador, mas ele consegue fazer o mais importante que é dar a sensação de êxito combinado com o pensamento de “nossa, como eu não vi isso antes”. Mesmo as fases mais avançadas em que o jogo começa a introduzir elementos que exigem um timing específico (como fogo ou portas que se fecham após um certo tempo) chegam aos poucos e te permitem se adaptar antes de ir dificultando.
Talvez o que mais se possa reclamar de Tetragon é que é um jogo relativamente curto, com pouco mais de 3 horas de duração. Existem alguns objetivos secundários e itens a se pegar nas áreas, mas fora a necessidade de se terminar o título duas vezes caso queira platinar ou terminar as fases com tempos mais rápidos, não há muito a se fazer.
Falando sobre os objetivos secundários, talvez os mais interessantes seja a possibilidade de encontrar com imagens “fantasmas” do filho do Lucios que adicionam mais um pouco à ambientação do jogo (mas não são essenciais para a história). Existem também pedaços do Tetragen e fases secretas a serem desbloqueadas, mas isso tudo não adiciona tanto assim ao jogo.
Somando tudo isso, Tetragon é uma experiência divertida e bem interessante. Os problemas mais graves ficam por conta de alguns bugs presentes no jogo e os visuais abaixo da média. Aliás, a HUD do jogo é bem ruim e um raro caso em que, mesmo com poucas informações, ela consegue agir em detrimento da imersão do jogo (e o fazem parecer um título mobile portado para console).
Dito isso, se você é fã de jogos de plataforma com puzzles ambientais criativos, Tetragon é um jogo que merece estar no seu radar. A curta duração talvez afaste alguns jogadores e não há uma quantidade enorme de elementos presentes, mas a execução daquilo que ele se propõe a fazer é digna de elogios.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Buka Entertainment.
Veredito
Tetragon é um bom e divertido jogo de plataforma com puzzles, com desafios interessantes e uma mecânica central criativa. No entanto, a sua curta duração e alguns problemas técnicos acabam limitando o êxito do jogo.
Tetragon is a good and fun puzzle platformer with interesting challenges and creative core mechanics. However, its short duration and some technical problems end up limiting the game’s success.
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