Tekken é uma série fantástica. Possui seus altos e baixos nesses quase 30 anos, mas de forma geral sempre conseguiu conquistar um público cada vez maior. Com Tekken 8, temos uma evolução natural e que já era esperada com o netcode via rollback, mas há muito mais a ser discutido e conferido: os novos personagens, mecânicas, histórias e assim por diante.
É importante ressaltar que, apesar do novo sistema de Heat e outras mudanças, Tekken 8 ainda é Tekken. Isso quer dizer que o que temos aqui são várias melhorias e novidades em cima de uma base que já era bastante sólida.
Primeiramente, Tekken 8 possui o seu modo história cinematográfico. Contado de forma similar ao que vimos em Tekken 7 e nos jogos da NetherRealm Studios, é basicamente um “filme” em que controlamos as partes das lutas. Boa parte deste modo é jogado pela visão de Jin, que possui como objetivo impedir o seu pai Kazuya.
Após derrotar o seu pai, Heihachi Mishima, Kazuya continua sua jornada pela dominação global usando as forças da G Corporation. Jin é praticamente a única esperança da humanidade de impedir Kazuya.
De uma forma geral, é um modo com uma história interessante e algumas reviravoltas que talvez nem todos estejam esperando. Além disso, a maior parte utiliza uma CG muito bem feita. Sua duração é cerca de três horas.
Ainda considerando o lado de narrativa de Tekken 8, há os episódios dos personagens. É basicamente um mini-Arcade e que normalmente segue a visão do lutador escolhido no torneio. Os finais, considerando o modo história cinematográfico, não são canônicos em sua maioria como é de se esperar, mas possuem a mesma qualidade em CG – algo positivo, pois incentiva o jogador a querer destravar e conferir todos, ao contrário dos casos que são apenas uma ou duas artes e nada mais.
Aliás, mesmo com esse modo de episódio, ainda temos um Arcade no estilo clássico de oponentes aleatórios e um chefe no fim. Então para aqueles que se sentem nostálgicos, é possível conferir isso também.
Os modos baseados em história de Tekken 8 não são os únicos que envolvem uma narrativa. Há um completamente inédito chamado Missão Arcade (não confunda com o modo que foi descrito acima; apesar de ambos compartilharem a palavra “Arcade” no título, são distintos). Esse modo é um pouco engraçado porque é um “Tekken dentro de Tekken“.
Explico: o Missão Arcade tem como objetivo principal ensinar a qualquer um jogar Tekken. Você aprende aqui todo o básico, seja um novato ou aquele que apenas quer entender as novas mecânicas. Para não se tornar um tutorial entediante de “repita o que eu digo”, a Bandai Namco criou uma narrativa que envolve as chamadas “cenas” (comunidades).
Você cria um Avatar (que também será utilizado no Online) e começa jogando em um Fliperama local (Arcade local; estamos chamando de Fliperama para diferenciar). Um personagem ensina e também torce por você nos duelos; ele serve de guia no modo. Após ganhar o campeonato local, você deve ir a outros Fliperamas, vencer torneios neles para, no fim de tudo, participar do Tekken World Tour. A cada luta realizada, o jogo ensina alguma mecânica para que você aplique no combate.
É um modo engraçado porque é um jogo oferecendo algo no qual ele sabe que é um jogo de videogame, como se fosse um simulador dele próprio. De qualquer forma, apesar da narrativa bem simples e personagens genéricos, funciona muito bem para ensinar como se joga e tem uma duração ideal no processo (não chega a ficar monótono).
No fim do Missão Arcade, somos apresentados aos Super Fantasmas. Outra característica inédita de Tekken 8, os Super Fantasmas são oponentes controlados pela I.A. que tentam reproduzir o mais fiel possível o comportamento daquele jogador em combate. Ou seja, após “treinar” o seu próprio fantasma lutando contra ele algumas vezes, a ideia é que uma pessoa que enfrente esse fantasma tenha uma experiência similar de como se fosse enfrentar você mesmo. É claro que nunca será algo fiel, pois as decisões tomadas por humanos no duelo são muito complexas para serem reproduzidas 100%. No entanto, muitas coisas são copiadas pelos Fantasmas e pode servir de treino aos mais dedicados.
Mas algo que realmente é interessante em Tekken 8 são as dicas nos Replays. Em qualquer replay, ao vê-lo, é possível conferir dicas do jogo ensinando o que você poderia ter feito em várias situações da luta (por exemplo, um golpe que você não puniu do adversário). Ou seja, vai mais além ainda do que apenas mostrar a Frame Data ou analisar com calma o que aconteceu. Aliás, o modo é ainda mais profundo: você pode assumir o controle em qualquer momento do replay para treinar aquela situação. Então onde o jogo está aconselhando a fazer algo diferente, é possível assumir o controle e testar isso.
Algo que sempre insisto nos reviews de jogos de luta é o modo online. Querendo ou não, é o online que permite o título sobreviver com o tempo. E Tekken 8 finalmente adotou o netcode via rollback, além do cross-play. Em nossos testes, foi possível jogar com pessoas da América do Norte e até mesmo da Europa em partidas muito boas. Com um da Coreia do Sul foi difícil em contrapartida, mas para tudo há limite, é claro.
O online segue algo que já vimos em Street Fighter 6. Você pode selecionar o que deseja jogar pelo menu e ir direto para partidas rankeadas ou grupo com amigos, por exemplo, mas o principal são os servidores regionais e os seus lobbies. Ao entrar em um, o seu Avatar anda por uma região repleta de atrações (a grande maioria só servindo de enfeite) podendo interagir com outros jogadores. Além de procurar partidas aleatórias em uma seção, você pode jogar com quem está no servidor indo na área de “Grupo”. Da mesma forma, temos uma área exclusiva para jogar o Tekken Ball.
Um outro modo descontraído que retorna em Tekken 8 é o Tekken Ball. Podendo jogá-lo offline ou online, o objetivo é bater na bola para que ela acerte o oponente. Se cair no chão, recebe dano aquele que deixou cair em seu campo. Golpes como o Rage Art permitem reviravoltas, pois causam bastante dano se a bola acertar. É divertido e foge das regras convencionais de Tekken, mas honestamente é limitado e provavelmente será esquecido em breve.
Falamos de todos os modos, mas pouco do gameplay de Tekken 8. A base continua sendo a mesma: ainda temos os quatro botões de ataque, o Rage, Rage Art e assim por diante. A grande novidade é o chamado Sistema de Heat.
O Sistema de Heat é tão importante para Tekken 8 como o Drive para Street Fighter 6. Não dá para ignorá-lo e é parte integral do combate.
A sua ideia é simples, mas abre várias possibilidades no combate em si. Para ativá-lo, há duas formas: ou apertando um botão para isso e atacando o oponente no processo ou de uma forma automática quando determinados golpes acertam no adversário. Com o Heat ativado, uma barra embaixo de sua vida começa a diminuir automaticamente e, quando termina, o Heat acaba junto.
Quando ativo, o Heat causa mais dano no oponente e até dano “chip”, ou seja, dano enquanto defende. Se apertar o mesmo botão que ativa o Heat, você usará uma habilidade exclusiva de cada personagem (Heat Smash) que causa um dano significativo. Por fim, o Sistema de Heat também possui o Heat Dash que permite cancelar em um dash para aumentar o seu combo, por exemplo.
O Sistema de Heat deixa Tekken 8 bastante agressivo, pois recompensa o usuário que manter a pressão. Se essa mecânica e esse gameplay agressivo serão bem aceitos, apenas o tempo dirá. Mas é, sem dúvida, algo interessante, bem pensado e que pode gerar diversas situações no combate.
Outra novidade, porém mais voltada ao jogador casual, é o Estilo Especial. Com isso ativado, os quatro botões de Tekken 8 se tornam atalhos. Ou seja, o Quadrado vira um golpe especial do seu lutador, Triângulo uma sequência de golpes, o X é o Power Crush (golpe com armadura) e o O são ataques baixos ou arremessos. Em outras palavras, o jogador que tem dificuldades com os comandos de Tekken pode tentar usar esse estilo.
Honestamente, para quem sabe jogar, isso nem será levado em conta. Mas para quem é mais casual, pode ser algo divertido. Como é possível alterar isso a qualquer momento no combate, a mescla da sequência de golpes no Triângulo com um gameplay ‘normal’ pode ser útil para o jogador de nível médio, também.
O Training Mode de Tekken 8 é bem completo. Além de fornecer todas as informações que precisamos, como a Frame Data, é possível treinar combos em algumas ‘trials’. Ou seja, você deve replicar o combo que o jogo mostra a você. Isso, pessoalmente, é bastante útil pois ensina de uma forma rápida e clara quais são os combos básicos e possivelmente os mais úteis que cada personagem possui.
A lista de movimentos também é separada mostrando o que há de novo para cada personagem. Portanto, veteranos da série podem aprender rapidamente as novidades, sem se preocupar em analisar a lista gigantesca de golpes.
Os gráficos de Tekken 8 são muito bons. Nosso cérebro faz pensar que não houve uma evolução, mas quando você analisa com calma, chega a ser absurdo a melhoria gráfica.
A trilha sonora também é digna de nota. Algumas fases têm músicas que ficarão para sempre na cabeça dos fãs. Ainda sobre as músicas, Tekken 8 oferece um Jukebox que permite escolher músicas de toda a série e colocá-las em qualquer uma das fases. Ou se não tiver paciência para isso, pode simplesmente escolher quais jogos deseja escutar e pronto.
Um último modo que não citei e vale a menção é a Galeria. Além de diversas artes que podem ser destravadas, os filmes em CG dos modos de história podem ser revistos aqui.
Por fim e não menos importante, temos os personagens. O elenco base de Tekken 8 deve agradar a maioria dos jogadores. É claro, Eddy Gordo como DLC não é algo que agrada, mas o elenco base é bem variado e os novos lutadores – Reina, Azucena e Victor – são muito bacanas.
Como já é de costume, todos os personagens podem ser customizados. Sendo honesto, achei poucas as opções disponíveis. Há um número considerável, é claro, mas se minha mente não estiver me enganando, não parece ser uma quantidade equivalente ao que vimos em Tekken 7, por exemplo. No entanto, sempre há DLCs e atualizações para mais conteúdos desse tipo.
As customizações também se encontram no Avatar do jogador e coisas como o título, a barra de vida dos personagens, efeitos dos golpes e assim por diante.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Bandai Namco.
Veredito
Tekken 8 é uma evolução natural de uma série fantástica. O online finalmente conta com um netcode via rollback muito bem implementado. O modo história cinematográfico é bem construído e com um enredo interessante. Outros modos como Tekken Ball e Missão Arcade ajudam na longevidade do título. Mas o ponto que mais importa, que é o gameplay, continua agradando veteranos e novatos – mas apenas o tempo dirá se o Sistema de Heat será bem aceito pela maioria.
Tekken 8 is a natural evolution of a fantastic series. The online finally has a very well implemented rollback netcode. The cinematic story mode is well made and has an interesting plot. Other modes such as Tekken Ball and Arcade Quest help with the title’s longevity. But the point that matters most, which is the gameplay, continues to please veterans and newcomers alike – but only time will tell if the Heat System will be well accepted by the majority of players.
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