SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE – Review

Facebook
Twitter
WhatsApp

Em 2017, fomos surpreendidos com uma produção, digamos, peculiar: SUPERHOT chegara com uma proposta de ser um FPS, mas muito diferente daquilo que o mercado atual nos oferece. Logo de cara, nas primeiras screenshots, mesmo antes de qualquer vislumbre de gameplay, já percebemos uma identidade bastante forte: um visual minimalista, com tons sóbrios e polígonos limpos, contudo sem qualquer intenção nostálgica. Conceitualmente, bem original. Porém, seu maior diferencial estava não no estilo artístico, mas sim nas estratégias da jogabilidade.

Para quem nunca ouviu falar do game (ou da sua celebrada versão para realidade virtual), vale a pena conferir a nossa análise feita na época. Aqui, um resumo rápido: o jogo trabalha com o conceito de tempo, que só continua rolando de verdade enquanto o jogador está se movimentando. Enquanto estamos parados, a grosso modo, é um efeito bem similar aos aplicados a como velocistas super-heroicos se relacionam com as coisas que acontecem a sua volta, uma câmera lentíssima. Isso significa que enquanto tudo está parado, há tempo para decidir qual a melhor abordagem diante inimigos e obstáculos à sua frente (ou em volta).

Esta introdução ao primeiro game não é à toa, uma vez que SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE, lançado agora em 2020, é uma mistura entre continuação e expansão da experiência original. Continuação, porque afinal, ele segue os parâmetros estabelecidos para uma nova aventura naquele universo; e expansão porque parte da mesma base, sendo inclusive um conteúdo complementar e gratuito para quem já comprou a versão de 2017. Segundo os próprios produtores, é uma forma de recompensar quem tinha amado o primeiro game e o tinha achado curto demais.

A nova versão é, de certa forma, o amadurecimento do que já tínhamos visto antes. Temos um jogo em primeira pessoa, que se apropria dos conceitos de um clássico FPS, mas vai muito além disso. Traz novos inimigos, objetos inesperados para uso em combate e um design de ambientes que oferece uma infinidade de abordagens possíveis, com cantos, passagens, corredores, áreas abertas, móveis, cada qual sempre oferecendo uma oportunidade criativa de sairmos de uma situação complicada, ou ainda adicionando camadas de dificuldade na movimentação. Um puzzle game por excelência.

No geral, não há muitos segredos naquilo que define SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE: em uma ambientação totalmente digital, somos desafiados a seguir adiante e descobrir o que vem adiante em uma série de desafios e reiterações narrativamente abertos. Isso não significa que são desafios a esmo, aleatórios ou soltos, mas também não quer dizer que temos uma história propriamente dita sendo contada. Sim, parece estranho, e talvez realmente seja. A percepção do jogador nesse estado de looping é algo muito mais pessoal e cognitivo. Em outras palavras, a compreensão daquilo que está sendo contado varia da percepção de cada um. Afinal, somos cobaias em uma experiência de um programador? Estamos em uma espécie de Matrix? Somos nós os programadores da nossa própria aventura? Deixo as respostas (ou, melhor, as perguntas) para cada um de vocês.

Quando todo o background (ou a falta dele) dá lugar à ação, tudo roda de forma muito fluida, com um sistema bastante amigável mesmo para quem não é tão fã assim de jogos em primeira pessoa. O sistema de movimentação com os dois direcionais analógicos ganha contornos especiais ao serem também gatilhos para o tempo parar e continuar rodando, e atirar, bater com as mãos nuas ou utilizar discos, dardos, monitores de computador ou taças é quase um balé acrobático de ação digno das melhores coreografias a lá John Wick. E se tudo parecer meio travado parando e continuando o tempo, o replay automático após a vitória nos dá aquela sensação do quanto somos geniais na arte de sermos um exército de uma pessoa só.

Com um desafio equilibradamente crescente, o jogo garante que sempre estejamos preparados para um novo nível. Novos ciclos trazem novas aprendizagens, e também nossos power-ups que podem dar aquela ajuda providencial, como um coração a mais, iniciar a fase já com uma arma de fogo em mãos, velocidade de reação maior, dentre outras possibilidades, sempre muito bem encaixados como hacks dentro da simulação. Logo, saberemos bem a diferença entre arremessar uma caneta, uma barra de cano ou uma espingarda no inimigo, primeiro para compreender se o dano será crítico ou não, e segundo para já encaminhar o movimento seguinte. Literalmente, cada passo conta.

Assim, algo que se absorve logo nos primeiros minutos jogando SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE é que liberdade tem seu preço. Sim, há várias formas de se adaptar aos desafios colocados. Você pode jogar um cano na mão do inimigo para forçá-lo a perder a shotgun que carrega, se aproximar, roubar a arma e atirar no cara ao lado antes que ele dispare primeiro para, aí sim, socar o primeiro até destruí-lo. Ou pode correr até o segundo elemento antes, tomar a arma dele, executá-lo com um headshot antes de pegar a faca na mesa e acabar com o outro antes mesmo dele disparar. Ou ainda se mover para que o tiro de um acerte o outro antes de esmurrar aquele que sobrar…

Uma certa dificuldade aqui é delimitar a distância necessária para se alcançar um objeto na tela. Quando jogado em VR, é quase que automático pensar na extensão do braço para fazer esse cálculo mental, mas em sua versão comum de controle, fica um pouco mais complicado. As vezes, só dá pra saber testando, algo que quebra com o elemento de previsão e planejamento, uma vez que se for necessário dar um passo a mais do que o ideal, esse é o tempo que pode fazer diferença nas ações do adversário, por exemplo. Nesse caso, sempre é melhor se aproximar daquilo que se quer sem perder o foco do olhar, se apropriando de uma visão mais periférica. O bom e velho “um olho no peixe, o outro no gato”.

As possibilidades são, via de regra, muito amplas, para não dizer infinitas. Poucas são as vezes onde a solução é mais óbvia e restrita. Da mesma forma, os perigos são inúmeros e sempre demandam altas habilidades adaptativas do jogador. Os inimigos podem surgir de vários pontos do cenário, abusam das armas de longo alcance e, em alguns casos, a verticalidade dos ambientes pode nos prejudicar na tentativa de identificar de onde vem o perigo. Cada novo retorno, mesmo a ambientes inicialmente confortáveis, novos obstáculos são adicionados, oferecendo, como dito, uma dificuldade crescente. Conforme você avança, a pergunta que se repete é: você quer mais? E não, não é só para prolongar a vida útil do jogo. É realmente uma questão onde você decide receber novas doses cada vez mais poderosas, e também mais prazerosas, mais recompensadoras. Quase que como um transe, um alucinógeno digital.

Isto posto, ter o poder de controlar o andamento do tempo não nos faz invulneráveis, e é necessário portanto pensar bem antes de qualquer movimento brusco. Afinal, inimigos e elementos do ambiente estão sujeitos às mesmas leis de nossos projéteis. Ao usar uma arma de fogo, por exemplo, não adianta fazer aquela mira perfeita esperando que, depois do disparo, o inimigo se manterá no mesmo lugar. Alguns, inclusive, sabem lidar bem ao reagir e até se defender, sobretudo os benditos que manipulam katanas. Então mais do que se aproveitar desse diferencial, é necessário também fazer um exercício de projeção futura: atirar onde o inimigo estará, se esgueirar para um pilar para quando o tiro alheio for disparado. O grande centro do game está não no momento presente, mas na projeção futura.

Ao contrário do original, contudo, a reiteração é parte da proposta e MCD traz a possibilidade de retornar aos mesmos ambientes, começando por vezes em pontos distintos. Isso significa que a matemática exata do primeiro game dá mais espaço para improvisação, e também pode trazer um pouco de desequilíbrio para missões específicas. Há momentos onde você surge num ponto de acesso muito vulnerável e outros onde está mais protegido do que o necessário para planejar suas ações. Se é um avanço ou não, vai depender do que se espera. Fato que é o design de níveis precisou ser um tanto quanto mais genérico para abrir esse leque de possibilidades, exceto por alguns mapas que são mais fixos, principalmente os pontos-chave na finalização da jornada.

A questão estética do game, por sua vez, não lhe confere somente uma identidade forte e facilmente reconhecível, mas também tem sua função na ação do jogador. Seria bastante complicado – para não dizer impraticável – analisar friamente um cenário com tantos elementos acontecendo com um visual mais realista ou cheia de detalhes. Deste modo, a manutenção do alto contraste entre tons de branco para cenário (e um sombreamento bastante sutil para dar aquela necessária percepção de profundidade e volume), vermelho para inimigos e preto para objetos passíveis de interação, permitindo identificar facilmente alguém atrás de uma estante ou uma vidraça, se a arma que ele segura pode ser tomada, se ele está atrás de uma pilastra e a distância exata até o confronto é das escolhas mais felizes da equipe de desenvolvimento.

Completam essa composição de estilo toda a tipografia clássica e codificações em linguagem de máquina que são facilmente identificadas dentro dessa temática de alta tecnologia computacional retrô. A voz sintetizada e grave da narração favorece uma sensação de impessoalidade nesse universo, reforçando um sentimento de isolamento e solidão. Vem aquele pensamento: estamos realmente presos e sós neste mundo? Somos parte inerente dele? Somos o próprio mundo? Mais uma vez, questionamentos de um existencialismo lúdico que compõem a experiência do game e conseguem trazer densidade para o conjunto da obra.

Enquanto continuação de uma vivência única, SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE consegue manter o altíssimo grau de satisfação e engajamento catártico, mesmo não oferecendo obviamente os níveis de imersão percebidas na versão em VR do original. Talvez não traga tantos elementos originais para quem já esgotou o formato antes, ou mesmo para quem não tinha se interessado pelo primeiro jogo, embora suas camadas pseudo-narrativas tragam motivações excelentes para mais, uma vez mais, cada vez mais, e mesmo sendo um jogo relativamente simples, é um game fácil de recomendar. Com fluidez na movimentação, ótimas possibilidades de abordagem, desafio crescente e uma duração variável para cada expectativa, MCD é um ótimo complemento para SUPER HOT, e também uma bela experiência por si só.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela SUPERHOT Team.

Veredito

SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE traz o que melhor funcionou no game original, adicionando alguns elementos que o tornam uma experiência mais completa e sofisticada. Com uma narrativa subjetiva, o game é visualmente único e conta com uma base de jogabilidade sólida e divertida, que consegue envolver e nos deixar querendo mais.

80

SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE

Fabricante: SUPERHOT Team

Plataforma: PS4

Gênero: Tiro em Primeira Pessoa / Puzzle

Distribuidora: SUPERHOT Team

Lançamento: 16/07/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE brings what worked best in the original game, adding some elements that make it a more complete and sophisticated experience. With a subjective narrative, this game is visually unique and has a solid and fun gameplay base, that is involving and leave us wanting more.

[/lightweight-accordion]

SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE brings what worked best in the original game, adding some elements that make it a more complete and sophisticated experience. With a subjective narrative, this game is visually unique and has a solid and fun gameplay base, that is involving and leave us wanting more.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo