Star Wars Episode I: Jedi Power Battles – Review

A virada do milênio, para além do pânico causado pelas previsões mais apocalípticas do fim do mundo digital, foi um período muito peculiar para a cultura pop. Dentre as novidades e inovações de um futurismo tecnológico, havia uma antiga franquia que estava de volta depois de décadas, a qual a minha geração jamais tinha imaginado ver em uma sala de cinema. Star Wars, enfim, apresentaria seu episódio primeiro.
Star Wars: Episode I – The Phantom Menace (ou A Ameaça Fantasma por aqui) seria um verdadeiro marco histórico da nerdice em um tempo onde ser geek estava longe de ser a modinha que se tornou depois. É difícil de descrever o que era ver as tais Guerras nas Estrelas na tela grande pela primeira vez depois de devorar dezenas de vezes as velhas fitas de VHS da locadora encardida do bairro.
Como hoje está cada vez mais claro, a realidade jamais conseguiria alcançar qualquer expectativa criada. Não sei se já perdoamos Jar Jar Binks, midi-chlorians, a atenção para a corrida de pods ou a escolha duvidosa de casting para o jovem Anakin, mas olhando em perspectiva, parece que os 25 anos desde o lançamento do filme tratou de, ao menos em parte, absolvê-lo, e hoje ele é tratado com um certo carinho tardio pela comunidade, até porque, se for comparado com o episódio 9, ele é um clássico da sétima arte.
Curiosamente, posso dizer que para o nicho gamer, Star Wars Episode I: Jedi Power Battles tem um paralelo com sua contraparte nas telonas muito similar. Muito subestimado em sua época, o jogo tinha suas claras limitações orçamentárias e parecia tecnicamente datado já em seu lançamento, mas me recordo bem do quão divertido era, sedimentando mecânicas que mais tarde seriam replicadas no que viria depois, nos consagrados Star Wars: The Force Unleashed e, mais recentemente, na linha Star Wars Jedi, da EA.
Revivido pela Aspyr (em colaboração com a Lucasfilm Games), Star Wars Episode I: Jedi Power Battles, cuja versão original data do ano 2000, chega remasterizado para as plataformas atuais transpirando as adaptações de IPs famosas daquela época, onde a proposta era transpor basicamente a mesma história da mídia original com alguns remendos para caber no formato interativo.
Sem mudanças estruturais significativas, tem-se aqui um jogo de ação e aventura de progressão lateral com elementos de exploração tridimensional e plataforma, com um modelo de combate proto hack and slash para jogadores solo ou em coop local. Organizado em 10 níveis relativamente longos e com suas particularidades, as metas são relativamente variadas, indo desde resgatar um certo Gungan de apuros até superar um um sujeito mal encarado com pele vermelha, espinhos na cara e um sabre duplo bastante estiloso.
No controle de alguns personagens icônicos daquele filme e outros desbloqueáveis da época agora totalmente liberados (somando 13 no total, incluindo os pouco conhecidos Plo Koon, Adi Gallia, Capitão Panás e Ki-Adi-Mundi, bem como os lendários Mace Windu, Obi-Wan Kenobi e Qui-Gon Jinn) e ambientado em regiões conhecidas como Naboo e Coruscant, a missão central é focada na trama da Rainha Padmé Amidala e a reconquista do Palácio Real de Theed tomado em um movimento de golpe local de estado, que se revelaria mais tarde parte de algo muito mais sinistro.
Como tem sido padrão na indústria sobretudo nestes últimos anos, é importante destacar que o jogo permanece exatamente o mesmo de outrora, com mudanças muito mais cosméticas do que qualquer outra coisa, a não ser pela possibilidade de se alternar entre os controles modernos e os originais. Há uma atualização gráfica protocolar para personagens e texturas em alta definição, mas com um trabalho de reconstrução bem mais tímido na comparação com outras experiências, como dos recentes Tomb Raider I-III Remastered e Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered, ambos com o envolvimento da mesma Aspyr.
Como resultado, a modelagem de personagens permanece muito fiel à original (e principalmente à versão de Dreamcast do game) e poucas texturas estão especialmente retrabalhadas para os padrões atuais, com muitos vazios e vários cenários pobres. Mesmo as composições mais complexas, como ambientes naturais, permanecem com aquela sensação de bloco sólido com poucas curvas, angulações e nuances da geração 32 bits, o que se reflete também na permanência de um sistema de colisão bem deficitário que já se mostrava problemático mesmo naquela época.
Isso significa que a precisão em saltos mais difíceis e alcance de plataformas mais distantes sofre com uma física inconstante, que demanda uma readaptação do jogador para controles mais brutos do que estamos acostumados. Paredes invisíveis, quinas indetectáveis e outros problemas similares são parte da experiência, tornando o jogo pouco convidativo para novos adeptos que, ao menos a princípio, terão menos paciência que os saudosistas com estas limitações típicas de outros tempos.
Outro ponto questionável que, ao que tudo indica, demostra a pouca preocupação dos responsáveis para com o estética desse produto requentado, é que as cenas em CGI, incluindo a de abertura, tem pouco (ou nenhum) tratamento com melhorias e entrega a idade do projeto com imagens embaçadas e animação pífia. O estranhamento aqui é maior do que nos exemplos citados anteriormente, com texturas e materiais horrorosos, expressividade inexistente e olhares medonhos.
Já o combate permanece bastante satisfatório, com o modelo que combina golpes rápidos, outros fortes, movimentos especiais e defesa, com direito à deflexão de projéteis com os sabres de luz que tanto amamos nos jogos mais modernos da franquia. Enfrentar diferentes tipos de inimigos que vão dos divertidos (e estúpidos) droides separatistas ao perigoso povo da areia também oferece diversidade de abordagem e um certo elemento de cadência. Amassar botões a esmo pode até funcionar no modo mais fácil, mas no padrão, é melhor saber quando atacar e quando se proteger.
Encontros com chefes e outras passagens importantes guardam ainda um fator de desafio divertido, sendo justo na maioria do tempo. A batalha contra o Darth Maul tem suas passagens anti-climax, e certas fases acabam se alongando demais. Contudo, considerando que este jogo é bastante curto, nada disso chega a incomodar de verdade. Como conjunto, tem-se aqui um jogo bem honesto em sua proposta e competente na execução, só que com uma remasterização tímida e inferior a outras mais convidativas.
Também rende pontos extras ter todos os extras liberados logo a princípio, junto com uma seleção interassante de cheat codes que são tão (ou mais) nostálgicos que o game em si. Temos um post específico, aliás, com todas estas trapaças, incluindo o inesquecível modo cabeção que torna tudo mais engraçado e bizarro, além de outros desbloqueios que aumentam a qualidade de vida do jogo simplesmente pela curiosidade.
Por outro lado, o conteúdo extra é extremamente econômico e frustrante, com algumas artes conceituais quase que protocolares que, definitivamente, não valorizam a história do produto, tampouco da marca Star Wars. Se a trilha sonora continua marcante e a base conceitual é riquíssima, nada disso é explorado e este lançamento, como documento e preservação, fica devendo muito.
Não há como evitar citar, além de tudo isso, a já esperada (mais sempre decepcionante) ausência da localização para o nosso bom e velho português brasileiro para um produto com texto simples e poucas falas, o que transparece uma vez mais a falta de cuidado e de visão de Star Wars Episode I: Jedi Power Battles enquanto celebração de um dos mais interessantes jogos baseados nesta galáxia tão tão distante. Sem o carinho ideal, acaba sendo mais um lembrete nostálgico e paupérrimo do que um movimento de conquista de novos adeptos.
Creio que ter jogado Fallen Order e Survivor recentemente não influencia a visão deste jogo pela proposta totalmente diferente de ambos, e talvez a minha vivência com Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 tenha me deixado mal acostumado, mas é fato que a minha memória afetiva para com Star Wars Episode I: Jedi Power Battles me criou expectativas altas em relação ao relançamento, algo que acabou não se concretizando de forma plena. Talvez seja exatamente assim que eu tenha me sentido ao sair do cinema lá em 1999: continua sendo algo legal, mas… eu queria muito (muito mesmo!) ter gostado mais.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Aspyr Media.
Veredito
Star Wars Episode I: Jedi Power Battles continua sendo divertido como foi em seu lançamento 25 anos atrás, mas esta remasterização burocrática e medíocre faz pouco pelas questões estéticas e menos ainda em relação às limitações originais. Ao mesmo tempo que praticamente ignora novatos, talvez tenha o seu apelo por alguns momentos para os fãs de longa data, mas faz pouco para premiá-los pela lealdade.
Star Wars Episode I: Jedi Power Battles is still as fun as it was when it was released 25 years ago, but this mediocre and bureaucratic remaster does little to address the aesthetic issues and even less for the original’s limitations. While it largely ignores newcomers, it may have its appeal for a few moments for longtime fans, but it does little to reward them for their loyalty.
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