Um dos melhores RPGs de todos os tempos. Quando a histórica aquisição da Enix pela Square ocorreu, uma das coisas mais absurdas que se passou a poder apontar é a quantidade francamente ridícula de títulos no catálogo da agora Square Enix que poderiam ser apontados como um dos melhores dentro de um gênero tão rico em excelentes títulos.
E, embora seja fácil se prender à junção dos dois grandes nomes de cada uma no que diz respeito a títulos por turno, o casamento entre dois dos principais expoentes do nascente gênero de RPGs de Ação também era algo um tanto quanto absurdo. Afinal, pouco tempo antes, Mana, Tales e Star Ocean pareciam em uma corrida perpétua para avançar o gênero rumo a direções jamais exploradas.
Um dos pináculos dessa corrida foi um título que apesar de bem recebido à época, talvez só com o tempo tenha recebido a atenção que merece e o status que hoje possui e que finalmente poderá ser aproveitado mais amplamente pelo público mais novo graças ao bem-vindo hábito adotado pela Square Enix de refazer seus jogos clássicos. E estamos falando, é claro, do remake em 2.5D do 2° jogo da série, chamado de Star Ocean: The Second Story R.
Lançado originalmente em 1998, o jogo trazia uma série de melhorias em relação ao primeiro Star Ocean, expandindo amplamente vários dos seus conceitos e mitos daquele universo, mas, principalmente, tentando tirar proveito do hardware do primeiro PlayStation. É uma clara evolução em relação ao original (uma que seria elevada a um nível francamente ridículo no título seguinte), com talvez sua principal novidade ficando por conta da dupla de protagonistas.
Aqui o jogador escolhe entre dois personagens distintos para começar sua jornada: o jovem piloto humano Claude C. Kenny ou a jovem Rena Langford, nativa do planeta onde a maior parte do jogo se passa, Expel. Embora a história geral acabe sendo bem parecida entre um e outro por eles estarem presentes (e juntos) na esmagadora, ambos os personagens trazem perspectivas bem distintas entre si, graças não só as suas personalidades e origens bem diferentes, mas, principalmente, por existirem cenas específicas de cada uma das duas rotas.
Claude é um recruta recente da Earth Federation, filho do capitão Ronyx J. Kenny (um dos membros da sua equipe em The First Departure), que durante a sua primeira missão acaba entrando em contato com um misterioso dispositivo que cria um campo de energia que acaba o teletransportando para Expel. Acordando no meio do nada, Claude logo entra em contato com Rena e acaba a salvando do ataque de um monstro usando sua Phase Gun, uma pistola de energia padrão da Federation.
Rena, por sua vez, é uma jovem que vive na pequena vila de Arlia e, ao encontrar com Claude, se depara com o que tudo indica ser o lendário “Hero of Light”, o profetizado guerreiro que viria vestido em roupas desconhecidas e portando uma espada de luz (que, na verdade, é a Phase Gun, desconhecida em Expel por ser um planeta que ainda não tem acesso a viagem interestelar) para salvar Expel do misterioso Sorcery Globe, um “meteorito” de energia que caiu perto do antes pacífico reino de XXX e parece ter jogado todo o planeta no caos.
Após algumas pequenas confusões, Claude e Rena partem juntos para investigar o tal Sorcery Globe, acreditando não só que podem salvar Expel mas que talvez seja a única forma de encontrar um caminho de volta para casa para Claude. É, honestamente, um plot bem simples e um tanto quanto clichê quando visto pelo prisma atual, mas tão brilhantemente executado. É uma história que vale a pena ser jogada e rejogada, com uma clara motivação para a jornada dos protagonistas e razões pelas quais os dois resolvem seguir aquele caminho.
Apesar de não se considerar o escolhido ou o herói lendário, Claude vê naquela jornada a única forma de tentar voltar para sua vida e se no caminho ele puder ajudar as pessoas, ótimo. Ele é um protagonista um tanto padrão por sua bondade e bom-humor constantes, mas ele é escrito de uma forma que o torna bem carismático. Rena, por sua vez, é uma jovem que não quer só salvar seu planeta, mas descobrir também os mistérios por trás da sua origem. Ela traz uma inocência e inteligência que contrastam bem com o Claude e isso faz com que a dinâmica dos dois eleve a jornada a um patamar muito especial.
Ajuda também bastante que o jogo possui um vasto elenco de personagens secundários recrutáveis que fazem com que praticamente nenhuma campanha sua seja igual a outra. Suas decisões influenciam em muita coisa aqui, do rumo da história a quais personagens se juntam à você, com alguns se tornando totalmente irrecrutáveis se você optar por outro. Ao todo, são 10 personagens além dos protagonistas, dos quais só seis podem se juntar à sua equipe em cada campanha (até porque alguns são exclusivos se você começar com o Claude ou com a Rena).
Alguns desses personagens são bastante carismáticos e memoráveis, com especial destaque precisando ser dado para Opera, uma aristocrata especialmente apta no uso de armas de projéteis, Ashton, um guerreiro que foi fundido com um dragão de duas cabeças meio que por culpa dos protagonistas, a repórter novata Chisato e… Bem, o elenco como um todo é bem rico e com estilos de combate distintos, fazendo com que recrutar cada um deles e experimentar com cada personagem seja fundamental.
Isso se dá também porque certas dungeons e missões secundárias só ficarão disponíveis se você tiver os membros certos na party. Certos finais são únicos para as combinações de personagens que você tiver e, naturalmente, certas Private Actions também só podem ser vistas se ambos os personagens estiverem na sua equipe. Isso faz com que o jogo, que já tem uma duração padrão um tanto quanto longa (cerca de 45 horas para completar), cresça de tamanho exponencialmente por uma excelente razão. Tudo isso se tornaria cansativo com personagens mais fracos ou ruins, mas Star Ocean: The Second Story R tem um dos melhores vistos não só em RPGs da época, mas até hoje.
Falando em combate, ele é bastante rico e traz uma série de opções ao seu dispor. Em se tratando de um jogo originalmente em 2D (e hoje em 2.5D), ele se passa em um plano de duas dimensões, com os personagens podendo se movimentar para cima, para baixo ou para os lados livremente.
Você terá controle direto sobre um membro da sua equipe (sua party é composta de até 04 personagens ativos em combate), podendo alternar rapidamente entre eles, e podendo dar ordens aos demais sobre como eles devem se comportar através de seis predefinições de IA (modificáveis através do menu ou botão quadrado) e posicioná-los em campo (com as formações agora dando bônus passivos ao grupo).
A sua disposição está uma gama bem interessante de movimentos. Você pode atacar (com círculo), se esquivar (com X) e acessar um menu (com triângulo) o qual te permite usar Itens ou Spells (as famosas Special Arts/Simbology da série) ou ainda reconfigurar suas estratégias. Os gatilhos aqui são usados para utilizar suas habilidades especiais (L1 e R1), mudar seu alvo ou o personagem em combate. A introdução do sistema de Counter é uma das grandes novidades aqui e traz ainda mais dinamismo ao combate.
O combate é bem intuitivo e funcional, sendo bem fácil de aprender e difícil de masterizar. Você precisará acertar a hora de realizar esquivas (com uma conveniente dica visual) para reduzir a defesa dos inimigos e causar o estado de Break que os deixa mais vulneráveis a ataques e magias (outra novidade desse remake). Naturalmente, seus inimigos também podem lhe causar esse estado que, além de tudo, zera a sua barra de bônus. O sistema de magias também foi revisto, com novos efeitos, novo balanceamento e a possibilidade de esquivar delas.
A exploração aqui é bem tranquila e feita através de uma série de pequenos mapas conectados. É possível andar pelo mapa do mundo e entrar e então entrar nas áreas, com o combate acontecendo de uma forma um pouco diferente. Aqui, inimigos aparecem aleatoriamente no mapa e as batalhas são iniciadas após você entrar em contato com eles (representados por umas bolas meio espectrais cuja cor indica a sua dificuldade). A preferência é sempre realizar o contato com as costas do inimigo, permitindo assim que você já comece o combate com eles em estado de Break.
Talvez o maior ponto de mudança do jogo em relação ao original seja o seu ponto visual e a estética 2.5D adotada aqui. Ela lembra um pouco o visual 2D-HD que se tornou famoso através de outros jogos da Square Enix mas sem realmente emulá-lo totalmente. É algo diferente e único mas muito bonito por si só. Basicamente o que temos aqui são personagens 2D pixelados se movendo por ambientes em 3D que são versões refeitas do visual pré-renderizado visto antes. É um contraste estranho mas que funciona muito bem. Pode ser algo que incomode fãs mais tradicionais, mas é um dos estilos mais belos e únicos vistos em toda a indústria esse ano.
Em termos de trilha sonora, bem, há muito pouco o que se dizer aqui visto que temos versões rearranjadas da trilha sonora original, novos temas e algumas novas canções, todas compostas pelo compositor original da franquia, Motoi Sakuraba, que também compôs para séries como Tales e Dark Souls. os jogadores podem escolher jogar com a trilha original ou com essa versão rearranjada, mas que fique o registro que ambas são excelentes.
Outro ponto que merece destaque é a dublagem presente no jogo. Embora não esteja presente em todos os diálogos, existe uma quantidade considerável de linhas dubladas, incluindo novas gravações além daquelas que já haviam sido incluídas no port para PSP do jogo (só para as vozes em japonês), Star Ocean: Second Evolution. Além disso, é possível escolher entre a dublagem em inglês e em japonês para maior comodidade.
Por fim, cabe dizer que o sistema de progressão também foi refeito, agora sendo possível gastar Battle Points para aprender e melhorar suas habilidades de combate (ao invés de usá-las múltiplas vezes através do sistema de Mastery). Isso te dá maior liberdade sobre como customizar e melhorar sua party, visto que elas agora podem ser “invocadas” através do Assault Action System para usar Arts ou Spells.
No geral, Star Ocean: The Second Story R é um excelente remake de um dos melhores e mais memoráveis RPGs de todos os tempos. As novidades apresentadas aqui são muito valiosas e trazem uma melhoria de qualidade de vida ao jogador imensurável e ajudam não só a renovar uma experiência que já era excelente, mas colocá-la em um patamar ainda mais alto.
É mais um exemplo do porquê a atual movimentação da Square Enix por reviver seu passado é tão importante, trazendo de volta jogos incríveis em versões renovadas para um público que talvez não tenha tido contato com eles. Então, se você é fã de um bom JRPG de Ação, Star Ocean: The Second Story R precisa entrar urgentemente no seu radar.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Star Ocean: The Second Story R é um ótimo remake não só de um excelente RPG de Ação, mas de um dos melhores e mais influentes jogos da era de ouro dos JRPGs. Com um visual único e agradável, novidades consideráveis em seu gameplay que manterão até jogadores de longa data envoltos e várias melhorias de qualidade de vida, Star Ocean: The Second Story R é obrigatório para fãs do gênero.
Star Ocean: The Second Story R is an excellent remake of not only an great Action RPG, but one of the best and most influential games from the golden age of JRPGs. With unique and nice visuals, considerable new gameplay features that will keep even long-time players engaged and several quality of life improvements, Star Ocean: The Second Story R is a must-have for fans of the genre.
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