Quando falamos em jogos de terror em terceira pessoa com câmera fixa, o que vem à sua mente? Muito provavelmente a resposta será Resident Evil. Ele, assim como Resident Evil 4, marcou gerações e revolucionou a forma de se jogar. Porém, com a chegada da câmera por cima do ombro, os títulos com visão fixa se perderam e começaram a se moldar à atualidade. Mas como nem sempre o novo agrada, a Protocol Games resolveu devolver a experiência aos jogadores com Song of Horror.
Com muita nostalgia, tensão e sustos, Song of Horror se propõe a ser um dos títulos de terror mais assustadores do console. A questão que fica é: será que ele consegue entrar para a lista de jogos essenciais do gênero?
Daniel Noyer é um homem comum, com uma vida que virou de cabeça para baixo após ter tido problemas com o álcool. Além de ter sido abandonado pela mulher, arranjou um emprego do qual não gosta muito e vive se lamentando pelos erros do passado.
Numa sexta-feira a noite, após o expediente, o chefe de Daniel liga para ele e pede para procurar pelo escritor Sebastian P. Husher. Ao chegar no local, o protagonista se depara com uma música estranha, que ecoa em sua cabeça e começa a mostrar alguns dos horrores da casa.
Daniel também desaparece durante sua busca por Sebastian, e agora cabe às pessoas próximas a ele descobrir o que está por trás desses acontecimentos.
É difícil pensar que Daniel é o protagonista, tendo em vista que é o primeiro a sumir e, por conta do sistema de escolha dos personagens, não existe a obrigatoriedade de jogar com ele nos episódios posteriores. Porém, dada a história, compreende-se o motivo dele ter sido colocado como “líder” dessa bagunça toda.
Como já mencionamos anteriormente, Song of Horror traz a clássica visão em terceira pessoa com câmera fixa. Embora existam aqueles que torçam o nariz para o modelo de gameplay, existem também os jogadores que se agradam com o estilo, principalmente por lembrar títulos passados que fizeram muito sucesso, como Resident Evil, Fatal Frame e Silent Hill.
Ao contrário desses tradicionais jogos de terror mencionados, em Song of Horror você conta com diferentes pontos de vista e acontecimentos, já que cada personagem tem sua própria história. “Ah, mas eu já vi isso em Until Dawn e na série The Dark Pictures Anthology“, você deve estar pensando, certo? Mas saiba que é algo completamente diferente.
Em ambos os jogos mencionados no parágrafo acima, você segue uma história só, e controla os personagens na ordem que o jogo exige. Em Song of Horror a coisa não funciona assim. Existe sim “um personagem certo” para cada capítulo, o que torna a história mais coesa, porém, não há obrigação nenhuma de seguir essa regra à risca.
No começo de cada capítulo, o jogador deve escolher um dos personagens disponíveis para se aventurar em terras desconhecidas. O legal aqui é que sempre existirão aqueles que são próximos (como a mulher de Daniel), e os que “nada tem a ver com a história”. É possível usar até mesmo o funcionário da companhia elétrica, fato que torna tudo ainda menos previsível.
Song of Horror não tem os gráficos mais belos do mundo. Quando a câmera se aproxima do personagem, é possível ver texturas feias de coisas como os cabelos e até mesmo os olhos e boca dos personagens. Porém, ele consegue compensar isso muito bem com a atmosfera aterrorizante, belos cenários e diversos puzzles.
Muitos jogadores já reclamaram da falta de puzzles em títulos novos de antigas franquias, mas devo dizer que Song of Horror traz tudo isso de volta de uma forma bem aprofundada. Com muitos momentos de backtracking para solucionar os quebra-cabeças, é impossível não se deixar levar pelo saudosismo, principalmente quando nos deparamos com o tamanho dos ambientes. Mesmo dividido em capítulos, eles são enormes, e fazem você pensar como que pode algo ser tão pequeno por fora, mas tão grande por dentro.
Claro que, como de praxe em todo jogo do gênero, não poderiam faltar os momentos de “jump scares” durante o backtracking na hora de resolver algum puzzle ou procurar por objetos essenciais. Porém, ao contrário do tradicionalismo, Song of Horror entrega uma experiência diferente.
Cada capítulo possui um tipo de “entidade maligna”, e toda vez que você se depara com elas no caminho, um mini game começa, caso erre os comandos, você morre para sempre. Embora soe dramático, isso obriga o jogador a ter cada vez mais cuidado, como num “filme de terror da vida real”, principalmente se for um personagem com o qual já se apegou.
Para se sair bem nos episódios e evitar que seu personagem morra definitivamente, será preciso usar algo que foi explorado de forma excelente aqui: o som. É incrível como uma experiência sonora faz diferença, principalmente num jogo de terror que exige esse cuidado e atenção do jogador.
Para resolver determinados puzzles, é preciso prestar muita atenção aos sons emitidos pelos objetos. Antes de entrar em qualquer porta, também é possível escutar através delas e, caso escute algum barulho do outro lado, você terá a certeza de que não deverá entrar.
Outro ponto positivo dessa experiência sonora está na tensão que ela deixa no jogador. A todo momento você acha que tem um monstro atrás de você ou que ele pode surgir bem, na sua frente. No entanto, para apreciar isso da melhor forma, será preciso usar um headset ou dispositivo de áudio externo.
Embora Song of Horror carregue muitos pontos positivos, ele também traz alguns negativos. Como já mencionado neste texto, os gráficos não são ruins, mas os detalhes dos personagens poderiam ser melhores. As partes de história no formato de quadrinhos entre os capítulos não chega a ser ruim, pelo contrário, ela até casa com a proposta, mas poderia ter tido um pouco mais de cuidado.
Outro ponto que pode desagradar é a dublagem. Na verdade, as vozes são boas e casam bem com os personagens, mas a sincronia labial é péssima. Mesmo com a câmera à distância, é possível ver o personagem mexendo a boca de forma aleatória, o que deixa bastante a desejar.
O gameplay segue o padrão do estilo de jogo, mas existem algumas falhas, como o personagem empacar em pontos do cenário ou não ir na direção desejada. Existe também um problema com o botão de corrida. Toda vez que você se esconde das trevas e volta ao percurso, seu personagem, por algum motivo, fica com a ação de correr ativa. A menos que você aperte o L2 novamente, ele continuará. Muito provavelmente é algum bug que pode sim, ser arrumado com um update futuro.
De todos os jogos de terror que joguei até hoje, Song of Horror é, sem dúvidas, um dos melhores. Mesmo com alguns pequenos problemas técnicos, ele entrega uma experiência ótima e bem executada. Os puzzles, a atmosfera, a tensão, os sustos…tudo é muito bem balanceado, o que o transforma num produto final de excelente qualidade.
Caso queira a platina, será preciso se esforçar, pois o jogo te obriga a terminar diversas vezes com os diferentes personagens. Isso não é ruim, pois cada história e experiência é realmente única. Só resta saber se sobrará coragem para fazer isso.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Raiser Games.
Veredito
De todos os jogos que já joguei do gênero, Song of Horror se destaca não só pelo saudosimo com sua câmera fixa e diversos puzzles intrigantes, mas também pelo fator terror, que aqui é muito bem dosado e deixa o jogador em alerta a todo momento.
Of all the games I’ve played in the genre, Song of Horror stands out not only for its nostalgia with its fixed camera and several intriguing puzzles, but also for the horror factor, which is very well balanced and leaves the player on alert at all times.
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