SEASON: A letter to the future – Review

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Nas montanhas, há um vilarejo isolado chamado Caro. Ninguém desce aos vales e ninguém sobe até lá. Aquele é um lugar de cura que resiste às mudanças, embora seus moradores saibam que ela será inevitável quando aquela época acabar e uma nova surgir.

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Em Season: A Letter to the Future, você acompanha Estelle, uma jovem cujo melhor amigo sonhou com a profecia de que a época está chegando ao fim. Ninguém sabe como acontecerá e quais consequências isso trará, mas ela encontra nisso um propósito. Munida apenas de seu caderno, uma bicicleta, um gravador e a câmera de seu saudoso pai, ela quer deixar Caro pela primeira vez para conhecer e registrar o mundo que está prestes a desaparecer, antes que a vida assuma uma nova e desconhecida forma.

A narrativa de Season é tão importante quanto a gameplay, então voltarei a comentá-la mais adiante.

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Não se deixe enganar pelo começo do jogo. As primeiras duas horas são lineares e servem para estabelecer as interações de Estelle com sua família, o vilarejo e sua visão de mundo, além de introduzir as principais mecânicas que envolvem viajar de bicicleta; fotografar panoramas, objetos e o que e qualquer coisa que chame sua atenção; gravar sons diversos e, por fim, organizar todos esses registros em seu caderno.

Após a introdução, Season mostra sua estrutura de mundo aberto no Vale de Tieng, que será inundado pela destruição planejada de uma represa. Ela tem até a meia-noite para conhecer o que puder antes que tudo seja coberto pela água. Não, o jogo não corre em tempo real, a passagem das horas é ativada por pontos da história, então você poderá apreciar o passeio sem pressa.

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De fato, não é um jogo para quem tem pressa. O Vale pode ser explorado livremente, mas seus lugares e estradas são organizados de forma a induzir o jogador a um contorno completo no sentido horário, se orientando por um mapa.

Cada local e segmento da história tem suas próprias páginas duplas no caderno, ordenado por um sumário. Sempre que Estelle interage com uma das dezenas de pontos de interesse, ela reflete sobre aquilo e pode até fazer um desenho. Quando preenche a página do local com uma quantidade de, ela sente a inspiração e desbloqueia mais algumas opções para decorar, como carimbos, selos, desenhos e pensamentos escritos, além das fotografias, claro. Você pode rotacionar e mudar o tamanho desses elementos para criar sua própria composição visual.

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O preenchimento do caderno não é obrigatório para progredir na campanha, cuja continuidade é ativada por meio de diálogos da história principal. Mesmo assim, o caderno é parte central da experiência de construir sua memória do jogo e isso me levou a realizar no videogame o hobby artesanal de minha esposa, o scrapbook. Montei, editei, ajustei, voltei depois para melhorar páginas passadas, tentei dar forma aos significados que captei de cada lugar.

Todas as decorações são específicas de cada dupla de páginas, exceto duas. Ainda que tenha diversidade para encher os espaços e ainda sobrar, seria interessante ter mais itens gerais além dos dois, ou, no mínimo, que eles tivessem um leque de cores para escolher e variar os designs. Você pode aplicar filtro às fotografias, mas o que eu queria era a capacidade de editar a iluminação, já que muitas fotos ficam escuras demais, principalmente quando o tempo avança para o fim do dia. Poderia não ser realista, mas seria esteticamente proveitoso.

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Como podemos ver, a gameplay envolve de viagem, contemplação, registro, representação e criação. Tudo isto está totalmente integrado à narrativa apresentada ao jogador, em um todo coeso.

Algumas teorias da arte defendem que não devemos definir uma obra a partir de um tema ou da busca de um sentido. No caso de Season, no entanto, temos as duas coisas presentes: uma obra de arte e um tema claro que permeia toda a essência do jogo: o tempo.

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Esse tema está presente em seus principais desdobramentos: o passado e o antigo, o futuro e o novo; ou seja, a mudança. Na essência do jogo, encontramos onipresente a principal manifestação humana do tempo: a memória, um quadro vasto composto por lembranças, mistérios, perdas, dores, afetos e, como não poderia ser diferente, esquecimentos.

A questão do tempo se mostra a partir do próprio título, que significa Estação: uma carta para o futuro. Na tradução brasileira o termo foi substituído por “época” para expressar mais precisamente em nosso idioma o sentido de período definido por começo e fim, embora perca parte da profundidade da palavra “estação” enquanto parte de um ciclo de sucessão entre fases marcadamente diferentes.

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Na cronologia do jogo, após os desconhecidos tempos antigos, vieram quatro épocas – como as quatro estações. Primeiro, a longa Época da Modernidade, sucedida pela Época Dourada. Depois, veio a Guerra, cujo fim deu início à época atual, sem nome. Uma Época só consegue ser definida quando se torna passado, sob o escrutínio daqueles que vivem na época seguinte. É isso que Estelle tenta imprimir em seu caderno: uma carta ao futuro, um testemunho impregnado de rastros que, uma vez lidos e seguidos, possam ajudar a delinear a identidade de mais uma época.

Minha experiência com Season foi a de um viajante curioso conhecendo um mundo belíssimo e muito humano. No entanto, ele ainda carece de polimento em alguns pontos. Primeiro, as animações de pessoas são simples e alguns personagens mereciam pelo menos uma maior variedade de expressões. Como todos são dublados, é um pouco estranho ouvir a voz mudar de tom em um rosto que permanece quase o mesmo.

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Até o ato de subir na bicicleta, algo que fazemos muitas vezes ao longo do jogo, peca nesse quesito: ao apertar o botão para montar, Estelle passa subitamente a segurar a bicicleta, sem uma animação de transição.

Como os cenários são grandes, é até compreensível que haja pop-in, mas, às vezes, ver as sombras brotando nas árvores à medida que nos aproximamos de áreas que antes pareciam iluminadas pode quebrar o encanto visual que o jogo, na maior parte do tempo, consegue inspirar, algo que também pode ser afetado nos momentos de instabilidade na performance de quadros por segundo. Nada que atrapalhe a gameplay ou a direção de arte, claro.

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Algo que também achei esquisito foi o silêncio de Estelle durante as conversas. Ouvimos muito sua bela voz nas numerosas reflexões da moça sobre tudo e todos, mas, em diálogos, é o jogador quem escolhe as respostas em texto, sem dublagem, e só a voz da outra pessoa ressoa durante o papo, como nos jogos de protagonistas silenciosos, o que não encaixou com o contexto de Season.

Sim, o jogador tem que fazer escolhas, mas elas não estão ali para mudar o rumo da história, e sim para moldá-la como uma experiência mais pessoal. Assim como a memória tem limites, também não dá para guardar tudo em um caderno. Sempre é preciso deixar algo para trás.

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Por fim, preciso relatar dois glitches. Primeiro, em duas vezes Estelle acabou flutuando acima do cenário e tive que recarregar o salvamento para ela reaparecer no lugar correto.

Segundo, após um tempo, percebi que algumas páginas que eu havia produzido no dia anterior estavam um pouco bagunçadas, com alguns elementos fora do lugar e da proporção que escolhi. Tive que ajustar alguns deles manualmente em três ocasiões. Se acontecer mais vezes, será um erro inconveniente, considerando que impacta na criação estética do jogador, algo muito importante no jogo. Por isso, creio que o problema não deve ser ignorado pelos desenvolvedores e espero que o consertem.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pelo Scavengers Studio.

Veredito

Contemplativo e profundo, SEASON: A letter to the future é uma obra de arte que o convida a conhecer e registrar uma época que se encerra para sempre, um mundo em transição. Percorrer o mundo aberto com a câmera e o caderno deve agradar aos que desejam uma bela e imersiva experiência de narrativa filosófica e criação estética.

80

SEASON: A letter to the future

Fabricante: Scavengers Studio

Plataforma: PS4 / PS5

Gênero: Aventura / Exploração

Distribuidora: Scavengers Studio

Lançamento: 31/01/2023

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (sem Platina)

Comprar na

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Contemplative and profound, SEASON: A letter to the future is a work of art that invites you to discover and record an era that will soon vanish in transition to an unknown world. Traversing the open world with your camera and notebook should appeal to those who want a beautiful, immersive experience of aesthetic creation and philosophical storytelling.

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Contemplative and profound, SEASON: A letter to the future is a work of art that invites you to discover and record an era that will soon vanish in transition to an unknown world. Traversing the open world with your camera and notebook should appeal to those who want a beautiful, immersive experience of aesthetic creation and philosophical storytelling.

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