Era uma viagem de cinco longas horas até a cidade de Greenlake e Jonatham Morris estava perdido em pensamentos após ouvir o áudio que recebera do pai um dia antes. Depois de vinte e sete anos sem fazer contato com ele ou com a mãe, Hank Morris construiu uma carreira brilhante na academia, então o que ele poderia querer? Afinal, o que era tão urgente que o fez entrar em contato com o filho que não via há décadas? Jonathan esperava que o pai não estivesse doente e precisando de assistência já que a voz na gravação soava rouca e com um certo tom de desespero. Presumira então que algo muito importante deveria ter acontecido e não deveria deixar de visitá-lo.
Greenlake era uma cidade interiorana e com poucos habitantes. A estrada que dava acesso ao lugar era infinitamente reta e com sobras da mata original nos dois lados da rodovia que denunciavam o lento avanço urbanístico e científico. Ao retomar lembranças de quando morava no local, Jonathan é interrompido pelas luzes dos faróis de uma van que refletiam em seus olhos pelo retrovisor do carro e percebe que o veículo está acima da velocidade. A primeira batida em seu carro faz ele questionar as habilidades do motorista, mas as batidas seguintes o fazem perceber que as investidas pretendem tirá-lo da pista. Ao rolar junto com o carro ladeira abaixo após um forte ataque da van, Jonathan se encontra no meio das chamas e ouve agentes militares relatando sua baixa através de seu sobrenome Morris. Lutando para sair do automóvel inflamado, ele se pergunta quem seria aqueles agentes dado seus uniformes incomuns e táticas de abordagens precisas. Em busca de respostas e de finalmente poder encontrar o pai, Jonathan Morris segue a pé para a casa de Hank, mas ao invés de um encontro que sanaria suas dúvidas, o que ele encontra é a propriedade do pai vazia e abandonada que cria mais perguntas do que respostas sobre os reais motivos que o fizeram estar em Greenlake.
A premissa da narrativa de Sanity of Morris é a porta de entrada para um jogo de tensão e terror psicológico que, através de uma trama envolvendo alienígenas e uma mecânica baseada na exploração, entrega um jogo eficiente e interessante, porém com alguns deslizes técnicos ao longo da campanha. O título estimula o jogador a terminar três grandes fases com o objetivo de compreender como a relação entre pai e filho será contada fazendo com que o protagonista siga as pistas deixadas para descobrir que uma raça alienígena estava em acordo com o governo americano para instalar uma base na Terra.
O título da produtora Alterego Games conta com fatores técnicos que privilegiam a diversão e a sensação de tensão e já no primeiro cenário de investigação mostra um trabalho competente tanto na diversão quanto nas referências a outros jogos que o inspiraram. É através do visual gráfico que a equipe de produção revela as referências quase como um comum acordo na arte se citar outras produções em jogos indies. Jogos como Outlast, Resident Evil 7, Emily Wants to Play entre outros fazem referências pontuais na casa do senhor Hank e passa a sensação de que algo muito fora do comum aconteceu com o pai de Jonathan. Esse primeiro contato com o game é um dos momentos mais relevantes da campanha pela forma como assusta o jogador pela sensação de solidão, da escuridão e das pistas que são deixadas pela casa. O visual 3D completa a experiência e promove um cenário realístico o suficiente para um game desenvolvido na plataforma Unity. Andar pela casa para descobrir o que está acontecendo é uma tarefa interessante e divertida que promete se estender pelo resto das fases, entretanto, é na trama alienígena que Sanity of Morris perde um pouco da graça e da originalidade.
Após descobrir um tipo incomum de uma planta no sótão da casa do pai, o protagonista foge mais uma vez dos agentes e segue até a marcação deixada por Hank encontrando um túnel que leva para uma espécie de santuário onde a espécie vegetal bem como os extraterrestres sobrevivem. A partir deste capítulo da história, o jogo começa a exigir comandos mais precisos do jogador bem como a compreensão do que deve ser feito para progredir e, neste sentido, Sanity of Morris mostra algumas falhas tanto na jogabilidade como no próprio enredo que parece ultrapassado para o momento atual.
Ao encontrar as pistas como gravações de voz, documentos e fotos, é possível acompanhar como o pai de Jonathan descobriu a invasão e de que maneira o governo norte americano se envolveu na situação. Ainda considerando as diversas referências do jogo, é quase impossível não relacioná-lo com Perfect Dark da Rare lançado há 21 anos atrás uma vez que os cenários, os corredores onde os alienígenas circulam e os tons de cores escuros lembram fortemente o jogo do Nintendo 64 especialmente o estágio Deep Sea: Nullify Threat. A Rare escreveu a história da raça Skedar e seu envolvimento com alguns terráqueos sendo muito bem-sucedida em sua empreitada que, na época, foi considerado uma game à frente de sua geração. Em Sanity of Morris, a produtora lança a mesma ideia, mas procura estabelecer sua própria versão do tema para construir uma atmosfera de tensão, porém sem tanto impacto.
Os controles do jogo são um aspecto que poderiam ser mais polidos ou mesmo atualizados com mais botões de ação que se alinhassem à proposta que tem por base os puzzles e a perseguição de inimigos. Durante as investigações, será necessário testar caminhos e possibilidades que permitam alcançar áreas específicas sem ser notado pelos extraterrestres. No entanto, Jonathan move-se lentamente sem um comando de corrida ou de pulo, o que faz com certos obstáculos simples dos cenários causem mortes desnecessárias e repetitivas que quebram a expectativa de terror e se tornem um aspecto tedioso até o jogador encontrar a melhor solução para vencer os quebra cabeças. A falta de comandos mais específicos faz com que o personagem perca uma vida ao cair de poucos centímetros de altura ou ser encontrado pelos opoentes enquanto resolve pequenos desafios ou lê os arquivos encontrados. Soma-se a isso o desafio pensado que se resume a fugir do campo de visão dos inimigos e chegar a pontos do mapa que vão permitir novos objetivos, mas repetem a mesma técnica até o término do jogo sem grande evolução.
Em contrapartida, o jogo conta com uma série de fatores positivos que gatarem sua qualidade como os saves generosos, excelente sonoplastia que inclui passos misteriosos e sussurros sufocados além da ótima história entre Jonathan e Hank contada à parte dos eventos principais. Esses aspectos reunidos e um tempo adequado da campanha faz com que a busca por todos os documentos seja uma tarefa agradável para se descobrir os acontecimentos que regeram a relação entre pai e filho incluindo um desfecho emocionante.
Sanity of Morris é uma boa opção para fãs de jogos de exploração que causam tensão e é construído em aspectos técnicos competentes que garantem a diversão mesmo com um enredo principal desatualizado. O jogo se garante por outras características e levarão os jogadores em uma jornada que envolve família, conspiração, e uma dose de emoção que se destaca durante as partidas.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Alterego Games.
Veredito
Reunindo elementos de tensão psicológica, exploração e uma trama alienígena, Sanity of Morris procura entregar uma experiência autêntica dentro de sua própria concepção investindo em duas histórias paralelas que vão conquistar a atenção dos jogadores. Apesar de apresentar alguns deslizes em sua parte técnica que podem atrapalhar parte do avanço da campanha, o jogo entrega consistência e diversão na arte de narrar eventos bizarros e causar desconforto.
Gathering elements of psychological tension, exploration and an alien plot, Sanity of Morris seeks to deliver an authentic experience within its own conception by investing in two parallel stories that will win the attention of the players. Despite presenting some slips in its technical part that can hinder part of the campaign’s progress, the game delivers consistency and fun in the art of narrating bizarre events and causing discomfort.
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