Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven – Review
Trazer velhos clássicos para novos jogadores é sempre um desafio único. Afinal, é necessário manter todos os elementos e características que tornaram aquele jogo uma lembrança amada, pelo qual há interesse em reviver e que, por isso, faz sentido lançar para consoles modernos. No entanto, também é fundamental que isso seja feito sem perder os elementos e melhorias de qualidade de vida que se espera de um título em 2024.
Remasterizações costumam ser mais simples, colocando uma bela nova camada visual por cima do jogo original, corrigindo certas imperfeições e adicionando algumas úteis ferramentas, como a possibilidade de acelerar o ritmo do jogo, para aqueles menos pacientes. Mas há um nível de desafio muito maior quando se propõe a refazer um jogo, especialmente um que recebeu um ótimo remaster recentemente.
Para sorte da Square Enix, ela tem à disposição um estúdio com essa exata experiência. Trazendo a Zeene, responsável pelo remake de Trials of Mana que finalmente trouxe o querido RPG de Ação para plataformas modernas e acabou tornando-o um clássico cult a ponto de reviver a franquia para um novo grande lançamento dela. E agora essa mesma desenvolvedora busca fazer algo similar com a série SaGa, com o lançamento de Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven, título que tivemos acesso antecipado para trazer essa análise para vocês.
O desafio aqui, no entanto, é bem diferente. Enquanto Trials of Mana é o seu tradicional RPG de Ação, mais linear e aberto, Romancing SaGa 2 era um jogo com uma identidade bem única. Sendo o 5° jogo da franquia e lançado originalmente em 1993 para SNES, ele é um RPG por turnos não-linear, nascido da genial e maluca mente de Akitoshi Kawazu, o homem por trás do experimental Final Fantasy II.
Dito isso, talvez seja realmente o jogo perfeito para receber um remake, apesar de ser o segundo da sua linhagem. Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven tem uma ênfase muito maior em sua narrativa do que seus predecessores (e é o jogo mais vendido da franquia). Aqui, o jogador assume o controle de uma linhagem de guerreiros descendentes do imperador do reino de Varennes e seus companheiros em uma intensa jornada para salvar o mundo de uma ameaça calamitosa.
A primeira geração começa com o atual imperador, Leon, um bondoso mas firme líder que vê o seu mundo cair quando um dos seus dois filhos, Victor, é assassinado por um dos sete lendários guerreiros que salvaram o mundo há mais de um milênio durante a invasão dele a capital de Avalon. Leon, acompanhado por seu outro filho, Gerard, parte então em busca de vingança, munido do conhecimento de que uma antiga magia o permitirá transferir suas habilidades para seu filho, transformando-o de um fraco guerreiro em um líder capaz de dar sequência a sua missão.
É a partir daí, então, que o plot do jogo se desenvolve. Os herdeiros ao trono então são incubidos da missão de derrotar todos os lendários Seven Heroes, descobrir o que está por trás da transformação deles de heróis que sacrificaram tudo para salvar o mundo em vilões obcecados com a ideia de dominá-lo ou destruí-lo e, naturalmente, evitar que eles tenham sucesso em sua missão e as pessoas possam seguir vivendo em um mundo de paz como aquele que esses próprios heróis haviam construído.
Um dos grandes méritos de Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é o seu sucesso em equilibrar liberdade com sua narrativa. Embora o jogador possa decidir como bem quiser em qual ordem irá enfrentar os sete heróis e como irá lidar com as diferentes situações que vão se apresentando ao longo do jogo, com suas decisões impactando o desenrolar da narrativa, tudo consegue se encaixar bem em um pacote bem amarrado. Essa liberdade e a natureza generacional da narrativa faz com que você não se apegue tanto aos protagonistas e aos membros das suas respectivas equipes, mas isso funciona em prol do jogo, já que ao invés de focar no conflito específico de um pequeno grupo de heróis, aqui é necessário para o quadro geral do mundo e não só para o seu punhado de aliados.
Muito pois, embora o Imperador de Varennes seja, nominalmente, o protagonista por ser o personagem que você controla e ele seja um elemento fundamental para o plot, ele não é o grande ponto central dos acontecimentos. Ele é a forma-motriz por trás deles, mas a grande estrela aqui é a história central que está sendo contada, o conto trágico dos sete heróis, sua corrupção, o motivo para terem sido banidos para outra dimensão e a razão das coisas terem acontecido como aconteceram e como podem ser resolvidas. É uma boa história que demonstra que, apesar das suas peculiaridades, Akitoshi Kawazu é um bom roteirista quando suas ideias malucas de gameplay o deixam se focar nisso.
Em termos de gameplay, bom, o jogo se mantém extremamente fiel ao original, o que por si só já merece elogios, afinal o sistema já era bem afiado. Temos aqui batalhas por turnos, no qual cada personagem age na sua vez, sendo definida a ordem pelo atributo de agilidade de cada aliado e inimigo envolvido nela. Cada membro da sua party tem diferentes classes (mais de 30 estão disponíveis), com suas próprias habilidades e afinidades, e pode equipar até duas armas diferentes ao mesmo, o que te permite ter grupos mais balanceados à medida que o jogo vai avançando, já que inimigos possuem fraquezas distintas contra armas e magias.
Sobre a progressão, também espere aqui o tradicional sistema da franquia. O jogo não conta com pontos de experiência, apenas TP (Technique Points) que são ganhos ao final da batalha e melhoram seu HP, BP e afinidade com a arma/tipo de magia, então todo o restante é desenvolvido na base da prática. Ataque mais e mais com uma certa arma e você terá mais chances de não só melhorar sua aptidão com ela, mas aprender novas técnicas através do tradicional sistema de Glimmer da franquia, através do qual o personagem terá um “estalo” e aprenderá uma nova habilidade ao invés de atacar normalmente.
O jogo também traz o sistema de formações pela qual a franquia é famosa. isso significa que você pode organizar os membros da sua equipe de forma mais estratégica, priorizando, por exemplo, colocar seu tanque em uma posição na qual ele será o alvo principal, escondendo seus magos em posições mais protegidas dada a fragilidade deles. O jogo também traz de volta o sistema de United Attacks, ataques poderosos que podem ser usados ao preencher uma barra e permitem que mais de um aliado ataque em um turno só.
A grande novidade em relação ao combate ficam por uma série de melhorias de qualidade de vida que o jogo traz. Ao iniciar o seu turno, é possível ver quais técnicas você pode usar naquele momento que te darão chance de um Glimmer. Você também verá, abaixo do inimigo, um indicador das fraquezas dele, bem similar ao visto em Octopath Traveler, além da própria técnica no seu menu indicar se o inimigo que é o seu alvo atual é fraco contra ela. São pequenas melhorias que ajudam a tornar a experiência mais suave e mais acessível para novos jogadores (além da inclusão de níveis de dificuldade Easy e Normal, com a dificuldade do jogo original agora sendo uma espécie de Hard). O sistema de combate, como um todo, é excepcional e funciona muito bem, sendo um dos elementos mais legais do jogo.
O último ponto relativo ao gameplay que precisa ser apontado é que o jogo também tem um sistema de gerenciamento do seu reino. Através dele é possível investir no desenvolvimento de novos equipamentos e magias, aprender novas formações, treinar seus guerreiros, expandir a sua cidade para ganhar acesso a várias melhorias e resolver missões secundárias que vão te ajudar a avançar no jogo. É um sistema bem fácil e intuitivo e, apesar de secundário, adiciona mais um elemento de customização à experiência que é muito bem-vindo.
Por fim, é importante falar sobre a parte técnica do jogo. Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven não é o jogo mais vistoso, mas agrada. Os modelos dos personagens e inimigos são basicamente no nível de qualidade visto em Trials of Mana, nada muito lindo, mas o suficiente para entregar uma experiência funcional, com talvez os efeitos visuais mais vistosos ficam por conta das animações em combate.
Os mapas não são muito grandes, em sua grande maioria corredores conectados, mas são basicamente versões em 3D do que já se via no jogo original em 2D. Os cenários são também no mesmo nível gráfico dos personagens, com alguns detalhes legais, mas nada muito especial ou marcante. Em relação à performance, ele roda bem, apesar de alguns breves momentos em que os modelos dos inimigos surgem e parecem se movimentar num framerate diferente do restante do jogo.
Em relação à qualidade sonora, a inclusão de dublagem em grande porto do jogo é bem-vinda e ela é bem competente, mas não espere uma interpretação mega excepcional de ninguém aqui. O destaque mesmo fica para a trilha sonora que é um show a parte e merece todo carinho e respeito do mundo, sendo uma releitura muito da original que, por si só, já era excelente. Afinal, uma trilha composta por Kenji Ito, responsável pelas trilhas de SaGa e Mana, tem que ser ouvida com carinho.
No resumo da ópera, Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven tem tudo para se tornar um clássico cult. Seu apelo para um público mais geral pode ser um pouco restrito pelo quão únicos os seus sistemas são, mas a experiência como um todo merece todo destaque do mundo e deve ser olhada com carinho pelos fãs do gênero. Em um 2024 recheado de grandes e excelentes blockbusters, Romancing SaGa 2 é o sabor diferente que enriquece o cardápio do bom conhecedor de JRPGs.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix.
Veredito
Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven é um ótimo remake de um clássico que merece muito mais atenção do que recebeu ao longo dos anos. É a mescla perfeita entre os sistemas tradicionais da série e possui uma ênfase maior em narrativa que raramente é vista na franquia. Sua modernização resolve vários dos problemas do original e, mesmo com suas limitações, é uma ótima experiência para fãs do gênero que desejam algo diferente.
Romancing SaGa 2: Revenge of the Seven is a great remake of a classic that deserves a lot more attention than it has received over the years. It is the perfect blend of the series’ traditional systems and it has a greater emphasis on narrative that is rarely seen in the franchise. Its modernization solves many of the original’s problems and, even with its limitations, it is a great experience for fans of the genre who want something different.
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