Eu não esperava gostar tanto de Riders Republic quanto acabei gostando. Mesmo quando testamos o jogo durante a beta aberta realizada pela Ubisoft em agosto, o jogo me pegou de surpresa com o quão sólidos vários dos seus elementos prometiam ser naquilo que mais importa: a simulação de esportes radicais prometida.
Claro, o fato de ser um jogo de mundo aberto com pontos específicos para visitar, itens para coletar ao redor do mundo e a escrita forçada dos diálogos iniciais deixavam um certo receio, mas o elemento central do gameplay sempre foi promissor. Parte da surpresa talvez tenha vindo de não ter jogado Steep, mas apesar do anúncio confuso, RR tinha tudo para ser um bom jogo.
E o é. Pena que seja um jogo em constante conflito entre aquilo que ele faz de melhor e aquilo que nós passamos a esperar dos jogos mais recentes da sua desenvolvedora. É um belo, colorido, leve e divertido jogo com mecânicas funcionais e muita diversão, tanto quanto é um jogo marcado por problemas técnicos e uma identidade que tenta falar com públicos distintos, mas não parece alcançar ninguém.
Fica aparente pelo simples conceito do jogo: um título de esportes radicais de mundo aberto. A presença de esportes de prancha e bicicleta nos videogames têm sido esporádica (na melhor das hipóteses) depois que o “boom” do final dos anos 90/começo dos anos 2000 passou, reviver isso enquanto se incorpora exploração e passeios livres por um mundo composto da aglomeração de diferentes reservas naturais estadunidenses.
O jogador é um dos vários atletas radicais que se juntam à “República”: um grupo de praticantes de esportes radicais que buscam dedicar à vida a conviver em harmonia com a natureza e se aventurar pelos parques ambientais que compõem a região. Caberá apenas à você escolher se quer se dedicar a aprender todos os esportes ou simplesmente se tornar um mestre de uma modalidade em específico.
Um dos pontos mais fortes de Riders Republic é que a estrutura adotada por ele funciona. Ao contrário de seguir a fórmula usada (e criticada) em Steep e jogar muita coisa em cima do jogador de uma vez sob o pretexto de “liberdade”, ele direciona um pouco mais as coisas, te fazendo testar um pouco de cada esporte no começo, mas retendo algumas modalidades até você se familiarizar um pouco mais com o título.
A progressão pela campanha funciona através da conquista de estrelas. Complete um evento de uma modalidade e você ganhará uma estrela, com cada evento possuindo três objetivos secundários que te dão outras estrelas bônus. Concluindo um evento, você desbloqueia outros dois daquela mesma modalidade, o que torna bem simples se prender por horas e horas disputando eventos de um esporte só.
Enquanto completa estes eventos, você irá aos poucos alcançar determinados objetivos (que são patamares de números de estrelas) que te darão diferentes recompensas. Elas podem variar de novos equipamentos, novos itens cosméticos ou acesso a novas modalidades.
Assim, se no começo você terá acesso apenas a bike downhill e competições de manobras no gelo (com ski ou snowboard), você aos poucos liberará wingsuits, skydive, competições de manobra de bicicleta e corridas no gelo. Você simplesmente ignorar esses novos esportes caso deseje, mas a vasta quantidade de opções que o jogo vai introduzindo de forma bem espaçada é muito bem-vinda (mas nada que demore demais).
Outro ponto muito bem-vindo é que é bem tranquilo mudar de eventos de um esporte para outra modalidade, bastando ir para o local daquele evento da forma como você preferir. É uma pena, no entanto, que um dos pontos onde Riders Republic falha mais notoriamente é no quão absolutamente horrível a exploração do mapa é.
Independente do esquema de controles escolhido pelo jogador (é possível mapear as manobras para os botões de face ou para o analógico direito), se mover pelo mapa é um trabalho bastante ingrato.
Parte disso é o fato dos atletas serem basicamente rag-dolls que perdem o controle e saem voando/resvalando em tudo ao menor toque (o que é péssimo em eventos multiplayer com 64 jogadores todos esbarrando uns nos outos). Parte disso é a câmera ruim que parece determinada a atrapalhar a sua experiência, não importa o que você tente fazer.
Com isso, acaba se tornando muito mais prático usar o fast travel do jogo para chegar o mais rapidamente aos eventos, já que isso é uma opção, certo? Errado. O sistema de fast travel do jogo, se você não tiver cuidado, te jogará para mais longe do evento caso você não tenha cuidado ao marcá-lo no mapa e em vários momentos eles não são tão próximos assim como aparentam no mapa.
Fora o fato de que explorar o mundo em um jogo de mundo aberto é bem pouco prazeroso, existem outros dois problemas bem notórios em Riders Republic. O primeiro deles é que, por algum motivo, o jogo tenta forçar uma narrativa dentro da experiência, com alguns dos diálogos mais bizarros que eu já vi em um jogo de videogame. A clara sensação que se tem é de estar lendo algo escrito por pessoas de 40, 50 anos achando que estão falando com um adolescente de 15 e o resultado é… Bom, é melhor você ignorar se quiser se divertir.
O outro é que, por mais incríveis e divertidos que os eventos sejam, eles acabam sofrendo com um dos piores problemas mecânicos possíveis para um jogo de esporte: input delay. Inicialmente, minha impressão era aquela que qualquer pessoa racional teria: preciso aprender como o jogo funciona e ficar melhor.
Mas ao testar outras configurações (inclusive o suporte de pouso automático de manobras), fica bem claro que o jogo simplesmente não reconhece os comandos na velocidade necessária para que a experiência seja tão lisa quanto necessário. Essa detecção é especialmente notória nos eventos de skydive ou ao tentar fazer manobras de bicicleta, mas atrapalham a experiência como um todo e, novamente, geram uma frustração que não deveria existir.
Seria fácil simplesmente desistir do jogo e esperar por uma atualização no futuro para então retornar à Riders Republic, mas a verdade é que, quando o jogo funciona, ele funciona. Os eventos de manobras/corridas no gelo e de bicicleta são o melhor exemplo disso.
Em diversas oportunidades eu me vi abrindo o jogo para completar os contratos diários (ao progredir, diferentes marcas te darão objetivos diários que, ao completados, te dão novos itens e dinheiro), mas me vi passando horas e horas perdido nos eventos. O fato de tudo que você faz no jogo ter alguma recompensa também é muito bem-vindo, especialmente porque eles quase sempre são novos equipamentos que te farão ir ainda melhor em próximas tentativas.
Minha única reclamação segue sendo por conta dos eventos de Wingsuit/Skydive que, se já não me atraíam na beta, agora me parecem ainda mais uma perda de tempo, coisas que eu só realmente fazia por obrigação ou como parte dos corridas em massa. Nisso, realmente sou grato pelo fato de poder me focar nos esportes que realmente me atraem e não precisar avançar pelas carreiras desses esportes aéreos.
Cabe apontar ainda que os modos multiplayer do jogo funcionam surpreendentemente bem. Tricks Battle realmente exploram aquilo que o jogo tem de melhor, que é o quão profundo e rico o sistema de manobras do jogo é. Corridas em Massa são caóticas e divertidas curiosidades, muito graças ao quão raras são e Vale Tudo te dá a liberdade necessária para aproveitar o jogo como bem entender.
Riders Republic é um jogo que claramente se beneficia bastante pela existência do crossplay e é nos modos multiplayers em que isso fica mais claro. O matchmaking é incrivelmente rápido, seja nas partidas Versus, sejam nos modos dedicados, e a conexão surpreendentemente estável diante da enorme quantidade de jogadores em quase todos os eventos.
Ainda sobre isso, cabe dizer que, no geral, o jogo roda incrivelmente bem no PS5. Ir de um canto a outro com fast travel e entrar em eventos acontece num piscar de olhos e se conectar ao jogo, salvo por contos momentos de conexão com servidor, também é bem rápido. É claro, como bom jogo da Ubisoft, ainda existem bugs em vários momentos, mas eles são mais esporádicos do que se esperaria.
Dito tudo isso, Riders Republic é um jogo que, apesar dos vários defeitos, funciona. Existem algumas outras pequenas coisas que incomodam um pouco (como a baixa variedade de itens cosméticos na loja), mas o gameplay em si, que é o mais importante, é incrivelmente divertido e mais do que suficiente para te manter entretido por dezenas de horas.
Várias e várias vezes eu me vi simplesmente abrindo o jogo para ficar fazendo manobras de snowboard ou descendo montanhas de bicicleta pelo quão divertido fazer tudo isso é. Ainda assim, não é possível ignorar os problemas, mas é inegável que, naquilo que, na sua essência, RR é um incrível jogo de esportes radicais e que, com alguns ajustes ao longo do prometido suporte de anos, deverá se tornar ainda melhor.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Ubisoft.
Veredito
Riders Republic entrega uma experiência de esportes radicais bastante divertida e recheada de conteúdo capaz de mantê-lo preso por dezenas de horas. Existem alguns problemas que precisam ser ajustados mas, no seu básico, o jogo entrega exatamente aquilo que precisa.
Riders Republic delivers a fun and content-packed extreme sports experience that can keep you entertained for dozens of hours. There are a few issues that need tweaking, but at its core, the game delivers exactly what it needs.
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