Ready, Steady, Ship! – Review

É inegável que uma grande mudança forçada que tivemos no mundo por conta da pandemia foi a expansão de serviços logísticos. Muitas coisas que antes em nossa rotina precisávamos ir em algum shopping ou local especializado comprar, que as vezes ficava até relativamente longe de casa, hoje temos a facilidade de ter acesso a praticamente o que quisermos online e recebermos em casa depois. Pensando nisso, Ready, Steady, Ship! é um jogo onde a população se tornou preguiçosa o bastante sair de casa e fazer qualquer coisa, e pessoas para trabalhar em armazéns de distribuição estão sendo extremamente necessários por conta da grande demanda de pedidos e entregas. Hora de embalar e enviar os produtos para os locais corretos!

Entendendo que se é corajoso o bastante para sair de casa, você vai atrás do emprego que está sendo anunciado na TV e começa a trabalhar em um armazém. Ready, Steady, Ship! é um jogo de plataforma, cooperativo e de quebra-cabeça desenvolvido pela Jolly Bits Games e publicado pela Untold Tales, que também distribuiu outro delicioso título de multiplayer caótico local, Tools Up. A ideia é tão simples como sua proposta principal: você precisa levar caixas de um ponto ao outro para que elas sejam colocadas no caminhão para entrega. Para isso você usará desde esteiras até guindastes para completar seu objetivo.

Considerando como objetivo principal colocar as caixas na esteira de entrega, nos primeiros momentos o jogo aparenta ser extremamente simples. No máximo você precisará colocar alguma parte faltante da esteira para finalizar o caminho e é isso. É possível nas primeiras fases facilmente conseguir três estrelas (entregar corretamente todas as caixas) e fazer no melhor tempo (relógio ainda verde). Porém, rapidamente você percebe que fazer entregas pode ser mais complicado. Diferentes tipos de caixas começam a sair do mesmo local, porém devem ser entregues em locais diferentes, tudo por uma esteira só. Depois disso, é necessário usar uma empilhadeira, uma garra para pegar produtos em locais distantes, consertar partes da esteira e até mesmo escapar de locais com ácido. Ou seja, caos. E isso tudo para começar apenas, sem revelar muitos desafios que podem vir para frente.

Já citando o andamento de Ready, Steady, Ship!, é a partir dessa evolução de dificuldade que algumas coisas começam a me incomodar. Primeiramente é como os comandos de novas mecânicas podem ser bem ruins. Os comandos iniciais são fáceis de entender e a movimentação, embora um pouco “solta”, parece ser uma escolha intencional para dar um pouco de dificuldade ao soltar as caixas. Enquanto a variedade de ferramentas como empilhadeiras e guindastes deixam o jogo mais interessante, a jogabilidade nessas ferramentas se torna cada vez mais complicada e menos responsiva. Controlar a empilhadeira, por exemplo, pode ser uma das experiências mais frustrantes do jogo devido à sua dificuldade de manobra que se dá por uma terrível escolha de botões e um delay/resposta ruim. A sensação que se dá é que a dificuldade começa a surgir não por conta de um puzzle mais complexo, mas sim pelo cenário se tornar mais frustrante e propositalmente ruim de se controlar.

Outro ponto que me chamou a atenção foi o tamanho dos cenários (no quesito tempo de jogo). Cada bloco de fases possui três salas, onde existe uma necessidade de caixas para se fazer três estrelas em cada uma delas e um tempo limite total. Ao terminar uma, você segue para uma porta e irá para a próxima, até finalizar a última. Em um dado momento, esses cenários acabam sendo longos e desgastantes, algo que pode ser um problema para este gênero de jogo, que muitos gostam de jogar por ter fases curtas para que se possa se divertir com um grupo de amigos e assim ir revezando o controle. A sensação é de que não se termina nunca o cenário. Sou muito perfeccionista em jogos, mas em alguns momentos me vi apenas completando a primeira estrela (mínimo de entregas) e apertando o botão para seguir para a próxima etapa. Talvez se fossem apenas duas salas em cada cenário a situação ficasse menos desgastante.

Algo interessante que fizeram em Ready, Steady, Ship! foi a criação de duas campanhas distintas no jogo: uma para quem está no modo solo e outra para o multiplayer local (e caótico). A diferença nos cenários não se dá apenas na pontuação e tempo necessário, sendo uma experiência diferente para o título nos dois modos. Infelizmente deixaram a desejar não colocando uma opção de modo online para o multiplayer, restando apenas o bom e velho sofá como opção.

Ready, Steady, Ship! possui textos com localização em português do Brasil, o que serve para permitir a ambientação na história do jogo (que apesar de boba e simples, servindo apenas de background, é divertida) e também nos diversos tutoriais que irão surgir no próprio cenário com a inserção de novas mecânicas ao longo do tempo. Para os que buscam mais desafios, existem personagens extras que podem ser desbloqueados com o tempo e também troféus (incluindo platina) disponíveis.

Apesar do título possuir um visual fofo, colorido e atraente, não se engane! Esse não é um jogo relaxante. Comece-o já sabendo que o caos aparecerá a qualquer momento. E aproveite-o, pois pode valer a pena ao gostar do gênero. E após toda essa experiência que tive a única coisa que espero é que minhas próximas encomendas nunca precisem passar por tudo isso até chegarem em minha casa. Ou talvez seja esse o verdadeiro motivo de algumas demorarem tanto ou apenas nunca terem chegado.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Untold Tales.