Ravenswatch – Review

Com o gênero roguelike cada vez recebendo mais títulos, poucos ainda são focados principalmente na modalidade cooperativa online. Desenvolvido pela Passtech Games e publicado pela Nacon, Ravenswatch chega com o intuito de preencher este espaço por meio de uma experiência bem ambientada e uma jogabilidade que promete entregar horas de diversão.
A história pega como fonte de inspiração fábulas tradicionais de diferentes culturas, e as adapta para criar versões alternativas de seus personagens, trazendo-os para um universo sombrio. Este mundo se chama Reverie, e foi invadido por diversos pesadelos que corromperam seus habitantes, transformando-os em monstros incontroláveis.
Para combater essa ameaça, uma patrulha chamada Ravenswatch é convocada. Dentre seus membros estão figuras ilustres que, de certa forma, também foram amaldiçoadas pela presença dos pesadelos, como Aladim, Beowulf, Gepeto, Sun Wukong, Chapeuzinho Vermelho e alguns outros.
A ideia de pegar esses protagonistas e distorcê-los para uma realidade sombria cria uma identidade única que se revela, ao mesmo tempo, familiar e misteriosa. A direção de arte em estilo cel shading conta com uma paleta de cores na qual predominam tons escuros, representando decentemente a proposta de um mundo que foi corrompido. Além disso, a trilha sonora embala as corridas e a principais batalhas com temas de aventura compostos por instrumentos clássicos medievais que atuam bem para quebrar o ritmo de repetição característico do gênero.
Ao todo são nove personagens jogáveis, cada qual com habilidades e características únicas. Só que por toda a criatividade empregada no desenvolvimento do mundo, o jogo peca ao não explorar melhor esse universo para focar quase exclusivamente na gameplay. Apesar de trechos da história dos heróis serem revelados como páginas de livros ao desbloquear níveis específicos com cada um deles, a impressão final é que parte dessa excelente ambientação acaba sendo desperdiçada.
Partindo então para a gameplay, ela funciona como uma espécie de RPG de ação com vista de cima, mas com elementos de aleatoriedade caracteríticos dos roguelikes. Para efeito de comparação, pode-se dizer que é como uma combinação entre Diablo e Hades. Cada personagem possui um ataque básico, dois especiais, uma esquiva, uma defesa e um traço. Além disso, uma habilidade suprema é liberada sempre que você alcançar o level cinco durante uma run.
As corridas são iniciadas no mesmo mapa. Sempre que uma nova partida começa, um tempo de 18 minutos passa a contar até que a luta contra o chefe final do capítulo aconteça. Este é o limite máximo que seu grupo possui para fortalecer seus personagens subindo de level, concluindo eventos e encontrando segredos no mapa.
Certamente, a aleatoriedade é o que determina suas chances de avançar pelos capítulos. Ao subir de nível durante as corridas, os talentos específicos dos personagens são sorteados para serem escolhidos. Alguns deles contêm missões adicionais que, quando concluídas, desbloqueiam uma vantagem extra. Todos os talentos possuem ótima sinergia com o respectivo personagem, reforçando suas habilidades, mas também incluindo modificadores para elas.
Outros itens também ajudam na construção dos personagens. É o caso dos objetos mágicos, que funcionam como relíquias para conceder benefícios passivos tanto para seu herói quanto para o grupo. Uma variação desses objetos atua como uma maldição, produzindo um benefício mas ao custo de uma punição. Tanto os talentos quanto os artefatos possuem níveis de raridade que vão do comum ao lendário, e que podem ser evoluídos com um mercador na área inicial do mapa ao troco de fragmentos dos sonhos coletados de inimigos e de reservas.
O elenco de personagens possui uma ótima sinergia. Alguns têm habilidades para reforçar o ataque e a defesa do grupo; outros podem gerar cura e até aplicar efeitos negativos nos inimigos. Há também aqueles que atuam mais na linha de frente do combate para causar dano direto nos oponentes. Isso somado aos upgrades conseguidos, pode produzir builds poderosas.
Explorar os pontos de interesse é primordial para buscar essas melhorias. Dentre os eventos estão lutas contra chefes opcionais, baús de tesouro, missões secundárias, masmorras e até um encontro contra uma horda de inimigos para enfraquecer o chefe final. Esses locais oferecem diferentes níveis de desafios, portanto cabe ao seu grupo planejar a ordem apropriada para investigá-los.
Além de ditar o ritmo da exploração, o fator tempo também está presente em algumas dessas atividades. É o caso, por exemplo, de um evento para desbloquear um grimório mágico que deve ser concluído em poucos segundos. Já as missões secundárias também funcionam em um sistema parecido, embora o tempo seja um pouco mais generoso para finalizá-las.
O jogo também conta com um ciclo de dia e noite durante as corridas que afeta as habilidades de alguns personagens e também o comportamento de itens e de monstros. Scarlet é uma das que tira mais vantagem desse sistema. A garota que durante o dia possui características típicas da classe de ladino, assume, ao cair da noite, uma forma de lobo que altera completamente sua jogabilidade.
A corrida contra o relógio ajuda a aliviar o efeito de repetição, ao criar uma sensação de urgência para vasculhar a maior quantidade de pontos de interesse antes da luta contra o boss final. Se por um lado essa mecânica funciona bem no modo cooperativo, ela também evidencia um problema de balanceamento no modo solo.
Das oportunidades que me arrisquei sozinho em Ravenswatch, ficou óbvio como o game foi pensado para o modo cooperativo. A densidade de inimigos em pontos de interesse é grande e a baixa defesa dos heróis nos níveis iniciais cria muitas barreiras para o modo single player. Além disso, situações em que alguns eventos surgem próximos uns dos outros causam um acúmulo ainda maior de inimigos, algo que atrasa bastante seu progresso.
No caso das lutas contra os chefes, o conceito é sobreviver por um certo tempo até realizar uma mecânica específica para deixá-lo vulnerável. Até é possível enfraquecê-lo durante as fases de transição, mas o dano causado é relativamente baixo e não justifica o risco corrido por ter que lidar com o grande número de adversidades na tela ao mesmo tempo. Nas ocasiões em que sua build não for capaz de aniquilar o chefe em poucas rodadas, passar pelo mesmo processo para atordoá-lo novamente pode tornar a batalha frustrante.
Sempre que sofrer um golpe fatal do inimigo, uma pena mágica pode ser consumida de uma reserva limitada para reviver por conta própria. No modo cooperativo, é possível que um herói seja trazido de volta por um companheiro sem que uma pena seja usada. Essa função é importante, pois o estoque do item é compartilhado entre o grupo. Só que o tempo necessário para concluir o processo de restauração da vida do amigo abatido o torna pouco viável, perante a enorme quantidade de inimigos e de efeitos que podem ocupar a tela.
Toda a história acontece em três capítulos. Caso seu grupo seja eliminado de forma definitiva, uma nova corrida deverá ser iniciada a partir do mapa inicial. É aqui que a pouca variedade de cenários e de inimigos aparece como um dos lados negativos do game. Aliado a isso, os eventos e os pontos de interesse gerados seguem um padrão limitado. Até mesmo as missões secundárias, ainda que estejam dentro do conceito do jogo de usar de forma criativa as lendas conhecidas, se tornam cansativas.
A melhor maneira para driblar a falta de atividades é apostar na variedade de personagens para criar builds em grupo. Para os que não possuem uma party fechada, há a opção de pedir ajuda através do sistema de busca pública, que, aliás, conta com crossplay entre todas as plataformas. O lado ruim é que, devido a circunstâncias de aleatoriedade, não é permitido que jogadores se juntem a sua partida quando ela já estiver acontecendo.
Ainda que Ravenswatch esteja mais para o gênero roguelike do que para sua vertente mais leve, há uma singela progressão permanente após cada partida. Além de liberar três novas dificuldades ao longo das campanhas superadas, sempre que uma corrida terminar, o nível geral de seu personagem subirá. Para cada level alcançado, um novo talento será disponibilizado para ser encontrado de forma aleatória nos mapas.
Se o fator replay é o que determina quão bom um roguelike é, Ravenswatch é um daqueles games que funciona melhor quando jogado de forma despretenciosa, apenas focando em se divertir com amigos eliminando o maior número possível de monstros dentro do tempo que estiver disponível.
Entre altos e baixos, o saldo final ainda é de uma boa experiência cooperativa, mas que poderia passar por alguns ajustes para ser mais atrativa para os jogadores solo. Além disso, atualizações para adicionar mais conteúdo ao jogo são bem-vindas, já que sua longevidade, até o momento, é suportada quase exclusivamente pelo elenco de personagens.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Nacon.
Veredito
Ravenswatch é um roguelike que se destaca por apresentar versões distorcidas de personagens conhecidos e colocá-los em um mundo sombrio muito bem idealizado. As diversas possibilidades de builds potencializadas pelo elenco de personagens e pelos modificadores garantem um bom fator replay, principalmente quando jogado em grupo. Mas algumas atualizações com mais conteúdo são necessárias para que o jogo se mantenha interessante a longo prazo.
Ravenswatch is a roguelike that stands out for presenting distorted versions of well-known characters and placing them in a very well-designed dark world. The diverse build possibilities enhanced by the cast of characters and modifiers guarantee a good replay factor, especially when played in a group. However, some updates with more content are necessary for the game to remain interesting in the long run.
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