[PSN] Day of the Tentacle Remastered

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No mundo da cultura pop, a viagem no tempo foi e ainda é palco para as mais diversas histórias. De cientistas malucos e seus DeLorean até androides halterofilistas enviados do futuro para matar humanos, o tema povoa o cinema, quadrinhos e todos os tipos de mídias. Tais histórias cativam o público com as possibilidades de alterar os erros do passado, presente e o futuro dos personagens. Mas e se por acaso nós é que tivéssemos controle de mudar o tempo. E se, ainda por cima, o mundo dependesse de nós para ser salvo do tirano controle de um tentáculo com braços?

Day of the Tentacle Remastered é a nova versão em HD de um dos grandes clássicos da antiga Lucasarts, e um dos mais importantes point-and-click adventure de sua geração. Produzido em 1993 e dirigido por Dave Grossman e Tim Schaffer, o jogo foi originalmente concebido como uma continuação de Maniac Mansion, outro clássico do gênero. Agora, nas mãos da Double Fine Productions, foi retrabalhado para se encaixar nos padrões modernos do gênero. O game tem o desafio de não só agradar aos veteranos, mas atrair um novo público para um gênero perdido no tempo.

A história começa com Bernard e seus amigos Hoagie e Laverne recebendo uma carta do Dr. Fred Edison que pede que se dirijam urgentemente à sua mansão para ajudá-lo a deter uma de suas criações mais bizarras, o Tentáculo Roxo, que bebeu da água radioativa do lago da mansão conferindo-lhe braços e uma sedenta vontade de conquistar o mundo com seu exército de tentáculos mutantes. O único jeito de Bernard e seus amigos impedirem isso é retornarem no tempo com a máquina do Dr. Edison e impedir que Tentáculo beba da fonte contaminada. Por um (previsível) erro de cálculo, cada membro do grupo vai parar em um período do tempo. Impossibilitados de retornarem, cada um terá que resolver algum jeito de recuperar a energia da máquina e deter o sinistro Tentáculo.

Só pela premissa já dá pra notar o quão nonsense é o jogo. O humor característico do criador Tim Schaffer, famoso por ter criado outros jogos do gênero como Grim Fandango e Full Throttle, é presente em cada centímetro do game. Os personagens são extremamente carismáticos e parecem tirados de um desenho dos anos 90. Criados com estereótipos da época, como o metaleiro cabeludo, a menina maluquinha, e o nerd de óculos e calças com suspensório, tudo ali parece ter saído de uma animação matinal.

A Double Fine trouxe com esse remaster melhorias gráficas e sonoras substanciais para o jogo, refazendo todos os sprites em alta definição. Por ter sido o primeiro adventure da Lucasarts a ter dublagem integral nos diálogos, era essencial que toda a sonoplastia e a música do jogo fossem completamente restauradas com uma qualidade sonora cristalina para a experiência da nova versão. Mas os fãs mais conservadores do jogo podem ficar tranquilos com a opção de escolher entre os gráficos e sons clássicos. Com apenas o toque no touchpad do controle, a imagem automaticamente retorna a versão intacta do jogo de 93.

A personalidade do jogo original é um dos elementos que mais resistiram ao longo do tempo. Das diversas referências da cultura pop até a fonte das letras nos diálogos, passando pela movimentação dos personagens e figuras históricas que rodeiam constantemente o universo do jogo, seja em easter eggs ou em momentos importantes da trama. A mansão, onde se passa a trama, torna-se um personagem com vida própria, levando-nos a conhecer seus cômodos em diferentes épocas e assim resolver os quebra-cabeças do jogo com mecânicas retrabalhadas.

Falando na jogabilidade, o novo mapeamento dos controles funciona muito bem e consegue transpor a sensação de um mouse e teclado para as mãos do jogador com o controle do console. O jogo original foi um dos últimos adventure da empresa a ser desenvolvido na engine SCUMM, presente na maioria dos jogos da empresa até aquele momento. Tal engine foi desenvolvida com o teclado e o mouse em mente, com o jogador escolhendo entre diversas ações no canto inferior esquerdo da tela enquanto podia selecionar itens de seu inventário no canto esquerdo. Isso foi adaptado no remaster para trazer mais praticidade para os consoles. Com o passar do analógico direito, por exemplo, o jogador consegue ir rapidamente para os locais interativos do cenário sem ter que arrastar o pointer de um lado para o outro. Ao clicar no item desejado, as diversas ações como “Falar”, “Usar” e “Pegar” são selecionadas através de um novo modo de seleção circular controlado pelo analógico direito.

A mecânica de puzzles, ao contrário de alguns outros exemplos do gênero, pode ser chamada de “à prova de chutes”. Devido à maior gama de escolhas e interações no cenário, o jogador precisa saber realmente o que vai escolher para que não passe horas tentando combinações em vão. A frustração pode ser tão grande que você irá preferir prestar atenção aos detalhes e às informações do jogo para resolver os puzzles por si só. Porém, como na maioria das criações saídas da mente insana de Tim Schaffer, podem acabar sendo pouco intuitivas em algumas situações e a falta de descarte dos itens já utilizados pode atrapalhar na hora de elaborar que item é para ser usado em certo local. O jogador inexperiente com o gênero terá que pensar “fora da caixa” para resolvê-los, sendo que algumas têm diversas formas de serem resolvidas.

A mecânica e a história se integram para formar puzzles realmente engenhosos que necessitam de múltiplos personagens cooperando nas distintas épocas para resolver as situações. Itens que são adquiridos por Laverne podem ser úteis para Bernard, e vice-versa. O uso inteligente de possibilidades com a viagem no tempo dá o humor que é usado de forma muito inventiva nas resoluções dos problemas, como a infame situação com o rato congelado e o micro-ondas.

A história dura aproximadamente de 6 a 7 horas A nova versão ainda apresenta comentários dos criadores do jogo e uma galeria de arte com concept arts dos cenários e personagens. Há segredos e referencias para todos os lados, indo de Star Wars até obras de arte como "Cachorros Jogando Pôquer" de C.M. Coolidge. Mas o mais interessante que foi mantido da versão original é a inclusão na íntegra do primeiro Maniac Mansion, localizado em um fliperama dentro da mansão. Você poderá descobrir como toda a história de Bernard e seus amigos começaram, e como os gráficos e as mecânicas estão bem ultrapassados em comparação ao Day of the Tentacle.

Porém, o remaster ainda apresenta certas falhas de sua antiga versão originalmente lançada em CD-ROM. A transição de cenários pode travar na primeira vez que você entrar em alguns cenários e há uma incrível lentidão de carregamento dos save files. E um dos maiores pontos negativos para os fãs brasileiros é não ter uma tradução em PT-BR, o que é decepcionante, visto que Grim Fandango, o remaster anterior da empresa, veio com tradução e até dublagem em português.

Veredito

Day of the Tentacle Remastered é um ótimo exemplo do trabalho de restauração e preservação histórica no mundo dos videogames. Independente dos 20 anos nas costas, a nova versão tira as amarras do tempo com uma mecânica retrabalhada para os consoles e que se adapta decentemente aos sistemas mais modernos de gameplay, podendo ser aproveitado em sua plenitude pelas novas gerações. Mesmo com alguns puzzles e pequenos problemas técnicos, é nostálgico sem ser ultrapassado, com personagens e uma história carismática. É definitivamente uma ótima viagem no tempo na história dos games.

Jogo analisado com o código fornecido pela desenvolvedora.


 

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85

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