Faz um tempão que os videogames deixaram de significar, mesmo para o senso comum, um brinquedo eletrônico para crianças. Mesmo o público que não acompanha a indústria sabe que o mercado, nos dias atuais e de forma geral, é muito mais voltado para um público mais velho. Isso significa dizer também que lançamentos voltados a crianças com idade abaixo dos 12 anos, ou até menos, são menos frequentes do que outrora. Mas isso não significa que eles deixaram de existir, e é importante lançar um olhar diferenciado sobre essas produções.
Patrulha Canina: Super Filhotes Salvam a Baía da Aventura (no original, PAW Patrol Might Pups Save Adventure Bay) pode ser encontrado na PSN brasileira (com uma tradução não muito adequada para o público brasileiro) como “Patrulha PATA: Os Cachorrinhos Poderosos salvam a Baía da Aventura” e é destes games licenciados a partir de franquias já estabelecidas e facilmente reconhecíveis por crianças e, claro, pelos pais que acompanham aquilo que os filhos e filhas assistem. Exatamente por isso, analisá-lo pela perspectiva usual não nos parece tão adequado assim, já que nós, adultos, estamos distantes de ser o público-alvo do jogo.
Por isso, confesso: minha filha de quatro anos e meio acabou se tornando o parâmetro para alguns aspectos importantes desta análise. Jogamos a campanha inteira (o primeiro trecho vocês acompanham no vídeo que acompanha a análise), bem como as atividades extras, em coop local (não há, de forma compreensível, a possibilidade de se jogar on-line), e conseguimos inclusive os 100% do jogo e o troféu de platina. Ainda que possa parecer uma afirmação óbvia, eu não poderia deixar de fazê-la nesta análise: Patrulha Canina: Super Filhotes Salvam a Baía da Aventura é um jogo para crianças pequenas, que já conhecem a série animada (disponível em algumas plataformas de streaming e outros canais tradicionais). Não espere, portanto, aspectos de gameplay ou de narrativa mais sofisticados e, definitivamente, não há qualquer aspecto de desafio aqui. Esse é um jogo absolutamente casual, lúdico e totalmente descompromissado.
Dito isso, vamos ao que interessa: Patrulha Canina: Super Filhotes Salvam a Baía da Aventura traz os famosos personagens da animação, pequenos filhotes de cães bastante espertos, para uma aventura que narra a queda de um misterioso meteoro na Baía Aventura que lhes confere alguns poderes elementais, tornando-os assim cachorrinhos super heroicos. Com essas novas habilidades eles poderão resolver problemas, superar desafios e tornar a vizinhança um lugar mais seguro e divertido. Esse fio condutor narrativo é, claro, bastante direto e garante um ponto de partida em comum para cada uma das 7 missões principais – e outros minigames extras – que não estão totalmente interdependentes, mas que dialogam minimamente bem como um conjunto que se encadeia como pequenos capítulos episódicos, em uma estrutura muito similar ao que o público-alvo está acostumado na TV.
Logo nos primeiros minutos da missão inicial, já é apresentado o formato básico que irá guiar cada uma das fases disponíveis: no controle de 2 dentre os 8 personagens disponíveis, o jogador deverá coletar biscoitos caninos e cumprir tarefas simples, como coletar materiais para arrumar uma máquina quebrada, resgatar um explorador em perigo ou salvar uma galinha de estimação perdida. A forma de interação também é bastante explícita – basicamente há um botão de ação em objetos específicos, e os poderes especiais utilizados são quase que automáticos. Em algumas passagens, puzzles simplificados estão presentes. Em qualquer desses casos, a derrota ou o fracasso são inexistentes. O máximo que acontece quando se exige um pouco de precisão é o jogo permitir a repetição até que se acerte o comando. Portanto, nada muito frustrante, mesmo para crianças menos familiarizadas com controles de videogame.
O maior desafio, portanto, é conseguir coletar todos os itens distribuídos pelo cenário: os já citados biscoitos caninos – cada fase tem um número determinado deles – e os três distintivos, que liberam artes colecionáveis. Como nenhum desses itens são necessários para o avanço dentro do nível ou requisito para que se passe à fase seguinte, sua coleta é absolutamente optativa e atende muito mais o miolo da aventura, com destaque para aqueles colecionistas como um desafio pessoal, seja para liberar as artes no inventário, seja para conquistar troféus. Por mais trivial que possa parecer, é um incentivo suficiente para uma criança, já que não exige comandos complexos. Um ou outro elemento estão um pouco mais escondidos, mas com um cenário linear e sem poucas bifurcações, buscar esses itens não dá trabalho e acaba sendo algo que se faz naturalmente.
O game sabe, o tempo todo, para quem é direcionado, e nunca deixa o jogador sem assistência. Cada nova tarefa é acompanhada por um tutorial bastante didático daquilo que deve ser feito, por quem, quando e como. O mesmo vale para cada tarefa diferente que aparece no caminho. Com uma gama relativamente diversificada de pequenos quebra-cabeças, a criança está sempre aprendendo algo novo, ainda que não haja uma curva de dificuldade apresentada: jogar a primeira ou a última fase não traz qualquer variação nesse aspecto. São atividades diferentes, mas não há uma curva ascendente de desafio. Ainda que em um primeiro momento o game seja de progressão linear – cada fase só se abre quando se supera a anterior – depois de uma primeira visita, o jogador pode transitar por elas livremente, inclusive para completar o que ficou para trás.
Esse elemento de replay é bem-vindo, porém limitado. Ao retornar para uma fase já vencida, somente os itens não coletados ficam marcados com o aspecto original. Aquilo que já se pegou antes está lá, mas com aquela aparência semitransparente, e não conta novamente. Ou seja, voltar e jogar a mesma fase é ótimo para quem deixou algo para trás, já que não é necessário pegar tudinho novamente, mas tem poucos incentivos para aqueles que já fizeram os 100% nela. Isso contando, claro, para pais e mães. Crianças valorizam a repetição, gostam de retornar ao que já conhecem e que já dominam, e mesmo sem qualquer incentivo artificial, jogam tanto quanto conseguem fazendo as mesmas coisas.
Ajuda também a mecânica de dois personagens. Sozinho, você pode alternar quem se controla e quem acompanha a qualquer momento. Em coop, cada pessoa controla um dos heróis, e a troca também está disponível o tempo todo. Então vale a pena voltar e jogar com aquele outro cãozinho, já que cada um pode fazer algumas coisas diferentes um do outro. Nada muito significativo, mas de novo, tem seu apelo para os pequenos jogadores. Na soma de tudo isso, uma campanha que pode ser finalizada, com o troféu de platina inclusive, em 3 ou 4 horas, pode render várias e várias jogatinas para crianças que não tem tantas opções assim.
Além dessas missões regulares, há algumas atividades extras que também vão sendo liberadas ao longo da campanha. Cada uma em si tem muita semelhanças com games mobile conhecidos, como runners, jogos de ritmo, e outros passatempos que sim, agregam diversidade e muito valor ao conjunto. Esses pequenos desafios podem ser para somente um jogador ou ambos, e alguns oferecem até um elemento de competitividade, e superá-los também conta pontuação para conquistas. Mais uma vez, nada difícil ou punitivo, como é a proposta principal do jogo.
Se em termos de mecânicas de interação e narrativa o jogo se mantém em um nível bastante simplificado, o mesmo também pode ser percebido na construção audiovisual. A modelagem e a construção de universo é bastante fiel ao material original, e a qualidade é elevada, fazendo com que o jogo se confunda facilmente com a série. Tudo é bastante colorido, com traços firmes, animação coerente com o que as crianças já conhecem, e os personagens, particularmente, estão realmente muito bem acabados. Os cenários, por sua vez, são mais regulares, sem tantos detalhes cenográficos ou de construção de horizonte, mas atendem bem a proposta e cumprem bem seu papel, oferecendo até uma variedade satisfatória. Há alguns problemas com posição e movimento de câmera em alguns trechos pontuais, que se não chegam a atrapalhar, confundem um pouco.
Em termos sonoros, a dublagem em português é quase que uma necessidade, visto o público ao qual o produto se destina, e nesse aspecto também não decepciona. O jogo traz as mesmas vozes da animação, e a localização é muito competente. Há alguns poucos momentos de falta de sincronia labial ou até de trechos onde o áudio parece cortado, mas são faltas pontuais e quase insignificantes no entendimento da atividade. Efeitos sonoros são econômicos e poderiam ser melhor aproveitados, enquanto a trilha musical também se aproveita bem do que já existe e é tão dinâmica e empolgante como em uma animação matinal de TV. Certamente, enquanto um produto derivado, ele é muito bem resolvido e funcional, fato que garante o engajamento de crianças que já conhecem personagens e a própria dinâmica da narrativa.
Como um todo, Patrulha Canina: Super Filhotes Salvam a Baía da Aventura pode parecer um produto menor, um derivado genérico de uma marca infantil, e analisando com um olhar mais crítico, talvez tenha realmente alguns aspectos simplórios demais para os padrões atuais. Contudo, como dito lá no começo da análise, não seria totalmente justo usar esses parâmetros para análise, sobretudo com um produto destinado a um público desta faixa etária, tão pouco atendida pelo mercado atual. Mesmo os jogos LEGO apresentam aspectos mais sofisticados e ainda que também não tragam dificuldades elevadas, podem ser mais confusos para os pequenos.
E, nesse caso, o game dos simpáticos cachorrinhos heróis atinge suas metas de forma competente. Se não é especialmente marcante ou revolucionário, sabe o que quer e faz isso muito bem. Se o sarrafo que estou adotando para fazer uma análise justa é o quanto o game cumpre sua proposta com o público, e se minha filha já repetiu cada uma das fases principais e extras ao menos umas seis vezes cada, então não sobram dúvidas de que o jogo é sim uma boa recomendação para esse público. Se você já passou dos 10 anos de idade e não tem ninguém menor com quem jogar, certamente não vai nem passar perto do game. Mas se é pai, se é mãe, e quer algo para aproveitar junto com seus filhos sem qualquer receio de conteúdos inadequados, possivelmente irá decorar os nomes Skie, Everest, Rocky e companhia com a mesma facilidade que decorou o de Kratos e o de Aloy.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Outright Games.
Veredito
Em um nicho pouco atendido por produções de maior orçamento, Patrulha Canina: Super Filhotes Salvam a Baía da Aventura se destaca exatamente por oferecer o simples muito bem resolvido. O jogo é tão bonito quanto a animação onde se baseia e consegue ter o carisma para atrair e manter a atenção de crianças, e se cumpre bem esse papel, mesmo oferecendo desafio zero e pouco valor de replay, é uma bela adição à coleção de quaisquer pais.
In a niche little served by larger budget productions, Paw Patrol Mighty Pups Save Adventure Bay stands out exactly for offering the simple very well resolved. The game is as beautiful as the animation on which it is based and manages to have the charisma to attract and keep the attention of children, and if it fulfills this role well, even offering zero challenge and little replay value, it is a beautiful addition to the collection of any parents.
[/lightweight-accordion]