Entre os mais diversos gêneros criados para os jogos eletrônicos, que vão além dos conhecidos ação e aventura e definiram os títulos por muitos anos, um estilo que ficou famoso ente jogadores mais dedicados foi o survival horror estabelecendo novas práticas de gameplay. Por survival horror pode-se compreender um gênero que preza pela tensão e o terror psicológico em que a situação vivida busca aguçar o senso de urgência e sobrevivência que, somados a uma atmosfera sombria e condições de luta que beiram o limite, formam um ambiente adequado para que o jogador enfrente os piores pesadelos.
Desenvolver jogos de horror de sobrevivência é uma tentativa que acontece desde os antigos títulos de PC que simulavam ambientes mais realistas que os consoles, mas foi só com Residente Evil de Shinji Mikami em 1996 que o estilo foi estabelecido em definitivo tornado esse gênero mais popular e muito copiado em sua proposta.
Outbreak: The New Nightmare é um game que busca explorar os elementos mais tradicionais desse tipo de jogo apostando na velha fórmula de mortos vivos que perturbam uma cidade que foi vítima de algum experimento científico mal-intencionado. Fortemente inspirado no próprio Resident Evil, o jogo da Dead Drop Studios é uma experiência com poucos pontos positivos que, apesar de bem-intencionados, falham em entregar o que o survival horror tem de melhor. As questões técnicas são pouco trabalhadas e afetam o gameplay de forma geral juntamente com a experiência dos comandos e da trilha sonora que não se destacam e não se alinham a proposta de um título que envolve terror e tensão.
A premissa da narrativa é bastante conhecida: em 2016, uma série de ataques brutais começam a surgir devido a um surto epidemiológico que se inicia no Artz Memorial Hospital. Em meio a um caos que começa a se formar, grupos de pessoas se organizam para planejar a própria sobrevivência. A polícia local é acionada e consegue, por um tempo, conter os ataques, porém a força de contágio da epidemia se alastra rapidamente fazendo com que os cidadãos lutem pela vida. No meio de toda uma situação de caos e perigo, equipes táticas são enviadas à cidade com propósitos não esclarecidos e designados apenas como uma equipe para proteger a cidade.
A estrutura de jogo de Outbreak é composta de elementos que seguem os padrões de games de zumbi como Dead Island e Left for Dead que contam com personagens diversos e suas respectivas campanhas. O enredo acontece progressivamente mostrando o desenrolar dos eventos que passam longe de serem inocentes e revelam propósitos mais complexos do que se pode imaginar.
Tendo por base esses elementos para definir um jogo de survival horror, o título busca oferecer uma experiência legítima através de um jogo sombrio. No entanto, os fatores técnicos que são uma parte fundamental para a imersão de um gênero específico comprometem a proposta.
Apesar de nos últimos anos os estúdios produtores de jogos indies terem produzidos bons títulos com orçamentos modestos, Outbreak não segue essa tendência à risca e entrega uma produção longe de ser um título de respeito ou mesmo uma homenagem a sua fonte inspiradora. Alguns pontos chaves como o design dos mapas e o formato das missões promovem alguma força no gameplay, porém não são suficientes para tornar as partidas interessantes e proveitosas.
De início, o game oferece diferentes personagens que não se limitam somente ao sexo, mas também às habilidades que cada um pode exercer que podem ser melhor aproveitadas de acordo com o cenário onde o jogador está. Algumas localidades exigem mais ataque enquanto em outras a sobrevivência, conquistada através de um bom inventário com curas e munição, garantem o término da missão. Um dos aspectos que mais se destaca em termos de gameplay é o fato de que em qualquer fase escolhida, o jogador terá apenas uma vida para completar os objetivos, o que aumenta consideravelmente a dificuldade. Além disso, para os mais fanáticos por survival horror, são disponibilizados quatro níveis de desafios que vão testar a paciência daqueles que querem se aventurar em uma cidade pandêmica quase sem recursos.
Após a seleção do personagem, o jogo permite fazer um breve tutorial para conhecimento dos comandos e da forma de se jogar e os aspectos técnicos já são revelados de imediato. Em um jogo que tem por objetivo assustar através da tensão psicológica, se sentir parte dos ambientes onde os personagens circulam é importante para experiência e em Outbreak os gráficos se assemelham a jogos de duas gerações atrás. Os protagonistas da história possuem um modelo 3D simples, sem definição, com expressões faciais congeladas e movimentação limitada. Não há nem o movimento do coice das armas e o ataque com armas brancas não acontece em um ritmo acertado transmitindo a sensação de atacar o vazio.
Os inimigos possuem qualidade de modelagem igualmente baixa, pouca variação e uma movimentação que não é convincente a ponto de causar medo ao encontrar um morto vivo ou outra criatura. Personagens principais e infectados causam estranheza ao estarem juntos no mesmo ponto do cenário uma vez que os modelos humanos se movimentam sem realidade juntamente com inimigos que parecem brinquedos em forma de zumbi. Sensações como ser perseguido ou encontrar uma criatura bizarra de surpresa são quebrados por conta da pouca qualidade visual que deveria ser um aspecto mais relevante para a produção.
Em contrapartida, o design dos mapas é eficiente e retrata bem os ambientes de uma cidade com lugares fechados como escritórios e lugares abertos como becos e ambientes naturais. Entretanto, a oscilação gráfica é perceptível visto que em alguns cenários é possível ver texturas mais definidas e bem iluminadas enquanto que em outros os borrões e baixa resolução predominam. Essa mudança repentina de visual faz com que o game perca o caráter de realidade e de perigo que uma situação como a de um surto poderia ocasionar.
Os cenários desenvolvidos são amplos e permitem as idas e vindas típicas desse tipo de jogo quando o jogador está em busca de uma chave ou quando precisa retorna quase todo o mapa para buscar um item faltante por conta de falta de espaço no inventário. Nesse sentido, Outbreak cumpre bem o papel de survival horror e faz com que seja necessário conhecer as localidades para ser possível planejar a melhor estratégia. Cabe a quem joga aprender a se movimentar pelas localidades para ganhar tempo e preservar a única vida disponível para vencer cada uma das fases sendo necessário repetir uma mesma localidade diversas vezes. A programação dos cenários é inspirada no famoso jogo da Capcom e apresenta modelos 3D de câmera estática onde o personagem se desloca para o fundo do ambiente para, em sequência, visualizar o próximo ponto do mapa. Essa forma de construir a ambientalização colabora para formar um pouco do clima de tensão uma vez que permite que corredores e salas pequenas escodam inimigos que estão à espera para fazer um ataque.
No jogo do estúdio norte americano, a proposta de cenários estáticos está bem representada e se alinha de forma efetiva aos mapas das fases gerando mais verossimilhança revelando espaços diversos e satisfatoriamente arquitetados.
Indispensável para um estilo de jogo que preza pelo terror, a trilha sonora se une à experiência gráfica para gerar um clima pesado que vai envolver toda a partida através de uma sonoridade que permite ao jogador se sentir em uma situação de desespero. Trilhas como a de Resident Evil marcaram gerações de fãs do gênero por sempre trazer um trabalho apurado que vai desde o grunhido dos zumbis até violinos agressivos que denunciam o momento de combate contra inimigos. Faixas musicais como as das salas de “Save Room transmitem uma sensação de alívio e proteção antes de um retorno aos combates.
Em Outbreak, o destaque é a sonoplastia que apesar de não ter a melhor qualidade, mostra-se como um esforço da desenvolvedora em fazer com que haja imersão em nos ambientes destruídos pelo surto epidêmico. Os sons ambientes, os disparos feitos pelas armas são satisfatórios assim como os ambientes abertos com ventos e chuva, porém não parecem estar adequados a todo momento durante o jogo. Existe uma pequena discrepância para a execução da sonoplastia que, algumas vezes, parecem estar fora de contexto. Entretanto, são pequenas falhas que não chegam a atrapalhar gravemente a experiência de jogo.
A trilha musical que é executada durantes a fases são menos interessantes e repetitivas e não causam impacto para a imersão sendo faixas que não representam a emoção de um momento. Ao encontrar um morto vivo, ou uma horda deles, a música não recebe a intensidade típica e não tem sintonia com o momento, o que resulta em combates intensos com uma trilha sonora sem empolgação que não reflete o perigo vivido. Cada um dos estágios tem uma trilha sonora em específico, mas este quesito quase não tem destaque que possa contribuir para um survival horror.
Representada e programada como uma herança direta de Resident Evil, a jogabilidade de Outbreak é um dos aspectos técnicos que possuem mais identidade buscando trazer uma retomada de um estilo clássico de controle que, durante um tempo, foi sinônimo de comandos para games de terror.
O game permite a escolha de dois estilos de controles sendo um clássico, em que o jogador aponta a direção para onde quer andar sendo necessário fazer essa movimentação para cada nova área, e um controle moderno que segue a tendência da geração atual e permite um livre caminhar pelos espaços. Apesar de prezar pela nostalgia, a jogabilidade não responde bem durante os estágios e, mesmo no modelo de controle moderno, é possível ficar preso em parte dos cenários por conta da falta de precisão e do modelo estático das fases. Além disso, ao correr pelos becos e corredores, uma mudança mínima de direção faz com que o personagem desvie do caminho percorrido ou faça um giro que pode abrir vantagem para o inimigo atacar. Se for um espaço com mais de dois deles, esse pequeno desvio pode gerar graves perdas de energia ou mesmo da única vida que o jogo disponibiliza.
A possibilidade de encontrar armas e munição é um dos eventos mais sólidos da experiência de um survival horror e exigem que se faça uma boa administração dos itens coletados para que a vida e a munição estejam em quantidades suficientes para chegar ao fim da jornada. Escolher entre pistolas automáticas, espingardas, Magnum , lança chamas e lanças granadas (entre outras opções) compõem a diversão de matar zumbis e outras criaturas que estão pelo caminho garantindo a diversão deste estilo de jogo.
No entanto, em Outbreak, essa possibilidade não é tão bem aproveitada e não traz uma sensação de aniquilação promovida pelo tiro como é de se esperar. Empunhar uma arma de baixo ou alto calibre tem a mesma sensação de atirar balas de borracha ao vento não permitindo o prazer de mirar em partes específicas de um morto vivo com eficiência para se manter vivo. Soma-se a esse fator o aspecto gráfico que não simula a movimentação dos braços do personagem ao atirar e nem mesmo uma mudança na feição exprimindo tensão ou medo do perigo.
Com uma proposta inspirada no horror de sobrevivência dos anos 90 e tendo em Resident Evil a inspiração máxima, Outbreak: the New Nightmare busca ser um título que resgataria um gênero um tanto quanto controverso na atual geração de vide games. Devido a falhas conceituais do próprio estilo de jogo, a desenvolvedora entrega uma produção limitada e que não se configura como um game em potencial para estar na lista de jogos de terror que fará a alegria dos jogadores que tem na matança de zumbis e na sensação de medo e tensão um de seus passatempos preferidos.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Dead Drop Studios.
Veredito
Com uma proposta de reviver o gênero survival horror aos moldes de jogos como Resident Evil, Outbreak: The New Nightmare aposta em elementos tradicionais de jogabilidade, enredo e atmosfera de tensão. Entretanto, ao trazer os elementos técnicos que são parte fundamental e constitutiva dessa modalidade de jogo, falha em promover uma experiência autêntica que cause as famosas sensações que consagraram os títulos de apocalipse zumbi.
With a proposal to revive the survival horror genre along the lines of games like Resident Evil, Outbreak: The New Nightmare bets on traditional elements of gameplay, plot and atmosphere of tension. However, by bringing the technical elements that are a fundamental and constitutive part of this type of game, it fails to promote an authentic experience that causes the famous sensations that enshrined the zombie apocalypse titles.
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