Obey Me – Review

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A luta entre as forças do céu e do inferno não é exatamente um tema recente. Provavelmente, é uma das tretas com mais versões ao longo da ainda jovem história da humanidade. Mais especificamente no campo dos jogos eletrônicos, não nos faltam  exemplos dos mais variados a tratar desse embate, e Darksiders provavelmente é só o exemplo mais óbvio a nos vir a cabeça. E agora temos em mãos Obey Me, um brawler 3D de ação isométrico, com pitadas de hack ‘n slash e beat ‘n up, inspirações inúmeras e uma certa identidade estranha e própria.

Logo no começo, somos apresentados a Vanessa, uma caçadora de almas de baixo escalão na hierarquia dos demônios e serva de Amon, uma espécie de lorde da ganância, figura carimbada de obras de ficção e com inspirações nas mais variadas culturas. Ao lado de seu parceiro Monty, um cão infernal com muita história pra contar, Vanessa se vê em meio a esse conflito milenar que envolve anjos, demônios e outras coisinhas mais e, bem, já sabe: ambos terão que resolver essa bagunça por conta própria.

Narrativamente, Obey Me carece de um roteiro inovador, mas tem a seu favor um background muito bem construído. Todo o universo do game (que será expandido de forma transmidiática para quadrinhos também) é cheio de nuances e muito rico, construído para ser desenvolvido para muito além das 6 ou 7 horas da campanha desse jogo. Cada um dos cenários, cada novo artefato traz uma história a ser contada, um passado a ser desvendado.

A construção arquetípica de protagonistas, vilões e todos os NPCs que encontramos pelo caminho pode soar, em um primeiro momento, como uma repetição rasa de clichês do gênero, e talvez isso não deixe de ser verdade – da heroína durona ao sidekick ácido e piadista, do demônio executivo frio e calculista, ao misterioso anjo observador – mas é na relação desenvolvida entre esses tipos é que está o carisma desse game, que teria todos os ingredientes para entrar (e não sair mais) do saco de “mais do mesmo”.

Enquanto uma produção de menor escala, claro que essa dinâmica está muito mais na construção dos diálogos, sejam eles em cenas de transição, sejam ao longo da própria ação, do que na elaboração de cut-scenes mirabolantes. Mas funciona, nos permite querer saber mais da trama, entender as motivações, seguir para o próximo passo, ainda que não nada saia do padrão que vimos em outros produtos similares, incluindo o mais recente game da já citada franquia Darksiders. Vá até tal local, encontre tal sujeito e consiga tal relíquia que te dará condições para enfrentar o próximo nível de desafio. Jornada do herói pura, sem melindres, sem floreios.

Em outras palavras, Obey Me não tem vergonha de ser o que é, e nesse caso, é uma qualidade importante. A estética é muito enraizada nos quadrinhos digitais mais modernos, com traços limpos e um certo estilo flat de colorização, o que só reforça a ideia de que estamos lidando com a já clássica anti-heroína, cheia de defeitos e totalmente distante do escoteiro perfeito de outrora. Não à toa, as HQs (a serem publicadas pela Dynamite Comics, com artes do veterano da sétima arte Bem Herrera) que irão dar contexto ao jogo parecem seguir o mesmo conceito de construção visual e narrativa de personagens. As duas linguagens, aqui, estão muito próximas.

A elaboração estética do jogo, contudo, tem suas limitações. Ainda que traga cenários bastante variados em seus 12 capítulos, que vão desde ruas e parques infestados a estruturas menos mundanas, são ambientes com pouca variação (e ainda menos interação) com a ação do jogo. São meia dúzia de objetos destrutíveis quase descolados do resto, algo que destoa bastante quando se pensa no conjunto e não vai fugir do que já vimos antes, com barris, vasos, caixas de madeira e sacos de lixo.

O ponto de vista já consagrado desde os bons tempos de Diablo tem lá seus probleminhas também, com certas edificações cobrindo a visão e atrapalhando um pouco no combate e na precisão em alguns obstáculos. Há acertos cruciais no design dos inimigos e até nas variações de armas e de Monty, e os efeitos de luz são bem resolvidos, ainda que falte algo em magias de fogo, principalmente. A iluminação é certeira ao oferecer um bom espetáculo visual aos combates, ainda que agregue pouco na construção do clima e da ambientação de uma produção que deveria presar tanto pela dualidade entre luz e trevas.

Por sua vez, temos uma das melhores dublagens em jogos independentes dos últimos tempos. Não por uma carga dramática ou uma interpretação emotiva, mas pela própria canastrice noventista que permeia essa produção holypunk. Uma pena, porém que nem as falas, nem mesmo as legendas estejam localizadas para o português. Compondo a banda sonora do jogo, temos uma bela trilha que vai do som minimalista mais tenso à batidas que dão ritmo aos momentos de combate, com efeitos e ambiência que funcionam sem qualquer destaque positivo ou negativo.

Tudo isso, claro, é essencial para criar um clima que consegue tratar o urbano e o sobrenatural de uma forma integrada e bastante funcional. O grande divisor de águas em Obey Me, porém, está na dinâmica da jogabilidade e principalmente nos sistemas de combate e de movimentação. Não há segredos e nem surpresas aqui, com um controle até mais convencional do que é visto atualmente, com os ataques mapeados, por padrão, nos botões de ação, enquanto os gatilhos cumprem um papel maior na movimentação, na troca dinâmica de armas e nos ataques de suporte, algo que tem ficado pouco usual nos últimos tempos e que, particularmente, me agradou.

Todavia, é um sistema que tem seus problemas de fluência e apresenta alguns enroscos tanto durante combos mais elaborados contra múltiplos inimigos quanto no trânsito por obstáculos, como espinhos, armas laser e plantas venenosas. A mudança de direção, as vezes, responde com menos precisão do que se espera, e o direcionamento durante combos também acaba destoando da velocidade dos combates e da movimentação dos inimigos. A combinação entre um dash e outros comandos também engasga e faz com que percamos muitas oportunidades de engatar sequências mais espetaculosas.

 

Também faz falta o ataque em área mais efetivo com os diferentes armamentos, já que são poucos os momentos onde conseguimos encaixar um combo dos mais elaborados sem sermos interrompidos por ataques inimigos de outras direções. Isso causa um desequilíbrio e há claramente um tipo de arma que dá mais vantagens do que as demais. Ainda assim, a variedade oferecida em combate é grande, com adagas, marreta, espada-e-escudo e manoplas que podem ser melhoradas e aprimoradas em relação à combos, efetividade e característica complementar.

A presença de um parceiro desde os primeiros minutos da jornada também rende ótimos resultados. Monty é mais do que um pet que ajuda, como visto em Torchlight II, por exemplo, já que é possível não só contar com sua ajuda, como combinar ações (principalmente em algumas variações dele) e agir em parceria, seja no single player e contando com a ajuda nem sempre muito esperta da IA, seja no co-op local, este mais divertido e um tanto quanto caótico.

Não espere, porém, um Diablo-like ou algo parecido. Obey Me é essencialmente um game de ação, e a melhoria nas armas e do parceiro (muito semelhante ao visto na trilogia original de Godo f War, por exemplo) é muito mais uma escala de progressão de dificuldade do que uma evolução de personagem em si. Não há nível de XP ou árvore de habilidades mais complexa, nada disso. O esquema é escolher uma das armas que melhor funcionar para o nosso estilo, trocar as almas que acumulamos por melhorias e seguir adiante.

Nesta fase de avaliação anterior ao lançamento oficial, sentimos problemas de desempenho e quedas longas de taxa de quadros, principalmente no trânsito entre ambientes, curiosamente com muito mais intensidade do que em momentos de combate, provavelmente porque Obey Me é bastante cartesiano no que diz respeito a aparição de inimigos: a progressão é linear, pautada pelo encadeamento de bolsões e corredores de transição.

O resultado disso é que é virtualmente impossível encontrar inimigos entre os ambientes, salvo alguns que colaboram com as armadilhas, como plantas carnívoras. De resto, a dinâmica é caminhar por um corredor, lutar contra uma horda em uma área um pouco mais aberta, e seguir para o próximo ponto, repetidamente até chegar ao chefe de fase. Também ajuda nessa sensação cíclica a pouca variedade dos tipos de inimigos, quase sempre os mesmos 3 ou 4 em cada mundo.

Isso significa que os momentos de batalha são sempre, em todos os momentos, em áreas restritas, de onde não se escapa até o último inimigo cair, recurso largamente utilizado em tantos outros games, que vão desde o tradicionais beat’n ups laterais dos anos 1990, até Devil May Cry e similares, mas aqui, sem qualquer variação do princípio ao fim, esse modelo acaba se tornando esquemático demais e, claro, previsível e repetitivo.

Como um todo, jogar Obey Me é bastante intuitivo e traz comandos simples e ações que já estamos bastante habituados. A dificuldade acaba se mostrando elevada em vários momentos, seja pela multiplicidade de inimigos, seja pelos obstáculos que exigem bastante atenção, e está sobretudo nos detalhes, principalmente na dificuldade mais alta. Não é um game punitivo, longe disso, até pela quantidade generosa de checkpoints, mas exige atenção e uma esquiva mal feita pode custar bem caro.

Obey Me é uma grande miscelânea de inspirações em vários aspectos, mas garante uma identidade própria ao equilibrar seus clichês e fazer uma salada bem divertida. Tem uma duração de campanha adequada para não esticar o tempo desnecessariamente, mas oferece poucos elementos de replay, que estão basicamente em buscar um ranking mais elevado e conquistar troféus de dificuldade. Se tem os seus “senões” em termos de jogabilidade e composição audiovisual, suas qualidades lhe qualificam para receber uma chance dos fãs do gênero, principalmente num co-op local, digamos, excêntrico.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Blowfish Studios.

Veredito

Obey Me consegue unir as características mais convencionais de um action brawler isométrico com um narrativa descomplicada e carismática ao mesmo tempo, com boas soluções de gameplay e algumas escorredas aqui e ali que o impedem de alcançar a perfeição. Cartunesco como deveria, é divertido e cumpre bem aquilo que se espera: demônios e anjos lutando (não tão a sério assim) pelo destino da humanidade.

70

Obey Me

Fabricante: Error 404 Game Studios

Plataforma: PS4

Gênero: Ação / Hack 'n Slash

Distribuidora: Blowfish Studios

Lançamento: 21/04/2020

Dublado: Não

Legendado: Não

Troféus: Sim (inclusive Platina)

Comprar na

[lightweight-accordion title="Veredict"]

Obey Me unites the more conventional characteristics of an isometric action brawler with an uncomplicated and charismatic narrative at the same time, with good gameplay solutions and some slides here and there that prevent it from reaching perfection. Cartooning as it should be, it is fun and does what is expected: demons and angels fighting (not so seriously) for the fate of humanity.

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Obey Me unites the more conventional characteristics of an isometric action brawler with an uncomplicated and charismatic narrative at the same time, with good gameplay solutions and some slides here and there that prevent it from reaching perfection. Cartooning as it should be, it is fun and does what is expected: demons and angels fighting (not so seriously) for the fate of humanity.

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