Se você já passou de seu primeiro quarto de século vivido, é bem provável que tenha passado por momentos que envolvam o fim de longos ciclos, desapegos, mudanças por motivos fora de seu controle ou apenas complicações que a vida adulta começa a nos mostrar. É quase que impossível não passar por isso em algum momento da vida e acaba sendo após esses momento que amadurecemos ainda mais. No Longer Home é um jogo que irá abordar um pouco destas situações, experiências e sensações que mudanças podem trazer.
A história principal do título gira em torno de Bo e Ao, dois amigos que moraram juntos por anos e irão se mudar nos próximos dias, por conta das circunstâncias da vida. No Longer Home é um jogo semi autobiográfico, ou seja, a narrativa contém diversos elementos do que de fato os desenvolvedores viveram. Talvez por isso que mesmo com toda sua simplicidade você consiga em algum momento ou outro sentir uma certa identificação com o que algum personagem está vivendo. São situações cotidianas que muitos acabamos passando.
No Longer Home pode ser completado em cerca de duas horas, mesmo se você resolver explorar cada cenário. O título é focado 100% em sua narrativa, onde você controla em alguns momentos Bo ou Ao passeando pelo apartamento e podendo interagir com alguns objetos ou outros colegas, mas no geral será tudo construído em diálogos. Eu diria que é quase que uma visual novel, mas esses pequenos detalhes de liberdade nas interações e respostas fazem toda a diferença na construção do que o título quer passar.
O design e a estética no geral do game são simples. Você não perceberá detalhes fortes numa ambientação e nem mesmo em cada personagem. Eles são basicamente contornos, sem uma expressão facial ou muitas características. Uma forma talvez de que o jogador crie estes elementos mentalmente durante sua experiência no game, além de também aumentar a sensação de melancolia e desapego que No Longer Home quer manter, inclusive algo reforçado pelos poucos sons utilizados. Vale também ressaltar que ambas personagens principais são descritas como pessoas não binárias e ter este tipo de visual (além da não utilização de vozes) ajuda a não se criar nenhum tipo de percepção de gênero para essas pessoas, algo que também faz parte da proposta.
Algo que me incomodou na questão da jogabilidade foi a dificuldade de movimentar o personagem e selecionar o objeto ou pessoa que se quer interagir. Não existem muitos comandos em No Longer Home, então você basicamente anda, gira a câmera e seleciona o alvo para interação. O problema que tive era que em diversos momentos eu estava exatamente em frente a uma porta, por exemplo, e meu personagem queria interagir com um pote que estava do lado ou uma pessoa em algum outro ponto. Com o tempo você acaba se acostumando e pegando um pouco o jeito de acertar a seleção correta do que deseja, porém acredito que poderia ter sido um pouco melhor mapeado para ser mais fluido.
Para você realmente sentir o que No Longer Home tem como proposta é muito importante que acompanhe toda a narrativa. Infelizmente o título não possui localização em português, o que acaba restringindo a experiência. Caso seja um caçador de troféus, por ser um jogo curto e narrativo, a platina acaba sendo bem fácil. É possível perder alguns numa primeira jogada dependendo do que você escolha interagir ou não, mas nada que não seja possível conseguir rapidamente depois. Nenhum deles exige algum tipo de habilidade ou possui qualquer dificuldade.
Por fim, gostar ou não de No Longer Home vai depender muito do momento que você vivendo no momento e o quanto a narrativa conseguirá te envolver até o final. Terminei o jogo fazendo algumas reflexões e lembrando de situações que já passei. Apesar de não ser um estilo de game que eu jogue muito, fiquei feliz de ter tido essa pequena experiência e conhecido a história de Bo e Ao. Por possuir um gameplay bem curto, talvez o melhor a se fazer seja esperar alguma promoção na PS Store para pegar com um bom desconto. Se você curte o estilo de narrativa proposto, é bem provável que vá se sentir tocado de alguma forma com o título.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Fellow Traveller.
Veredito
Apesar de possuir uma história bem curta, No Longer Home consegue nesse pouco tempo de jogo passar toda a experiência e sensação melancólica que mudanças podem causar em nossas vidas. Se você se identifica de alguma forma com a proposta da narrativa, provavelmente se sentirá extremamente tocado ao jogá-lo.
Despite having a very short story, No Longer Home manages in this short game time to convey all the experience and melancholic sensation that changes can cause in our lives. If you identify in any way with the proposal of the narrative, you will probably feel extremely touched when playing it.
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