Spin-offs da série Neptunia tendem a experimentar com os mais variados conceitos e jogabilidades e Neptunia Virtual Stars também não é nada diferente nesse aspecto. Ao contrário dos demais títulos, Virtual Stars tem o foco num tema, mais especificamente, V-Tubers que são, essencialmente, personagens digitais que agem como YouTubers.
Pessoalmente, eu não tinha nenhum conhecimento sobre V-Tubers antes de jogar o título, mas me foi informado que muitos dos V-Tubers presentes no jogo são personalidades “reais” e relativamente populares no Japão. Apesar desse foco em V-Tubers presente em todo o jogo, a história em si expande para redes sociais, diferentes meios de entretenimento e muito mais, muitas vezes trazendo referências a acontecimentos reais e recentes dentro da sociedade japonesa. Obviamente, não espere um comentário muito sério ou uma filosofia profunda desses assuntos em Neptunia, mas mesmo os pequenos diálogos sobre isso são válidos para deixar a história mais próxima de nossa realidade.
A história se passa em um mundo digital cujo conteúdo está sendo gradativamente defasado pela vilã do título e, eventualmente, isso levará a destruição dos mundos que compõem esse universo. A deusa desse mundo, Faira, então decide invocar pessoas de outros mundos para salvar os diferentes mundos e assim as protagonistas da série Neptunia e outras 4 V-Tubers se tornam as pessoas encarregadas de salvar o universo. A história em si não é um grande destaque, mas possui o humor característico da série.
Cada mundo é tematizado de acordo com o conteúdo que produz e consome. Por exemplo, um dos mundos se foca na produção e distribuição de vídeos com uma semelhança nada sutil ao YouTube. Outro mundo revolve na rede social que usa pequenas mensagens para divulgação de conteúdo. E ainda existem outros exemplos para novels (livros de ficção japonesas), jogos, etc. Como o jogo não se aprofunda em cada tema, pode-se considerar como uma pequena demonstração de cada nicho e de algumas de suas tendências e acontecimentos atuais. É algo que jogadores mais antenados com a cultura japonesa provavelmente vão perceber os detalhes, mas imagino que a grande maioria vai simplesmente tratar como curiosidade inútil e seguir em frente.
Entre V-Tubers, entretenimento e redes sociais como tema, Neptunia Virtual Stars aparenta querer abraçar o mundo, mas consegue realizá-lo apenas de maneira extremamente superficial. Esse é o principal problema do título não só em sua história e composição, mas em virtualmente todos os seus diferentes aspectos e, principalmente, em sua jogabilidade que até o momento não falei nada e por bom motivo. Eu honestamente não sei por onde começar a criticar a jogabilidade dado o número de problemas.
O jogo pode ser categorizado como um Action RPG que você se movimenta e ataca em tempo real os inimigos que aparecem nos diferentes estágios que compõem cada mundo. Você tem seus ataques normais, habilidades que usam um recurso semelhante a pontos de magia, esquiva e outras mecânicas comuns ao gênero. O problema começa que essa jogabilidade só se aplica às V-Tubers, sendo que as deusas da série Neptunia tem uma jogabilidade mais próxima a um jogo de tiro e que, ainda assim, utiliza parte das mecânicas descritas anteriormente de um Action RPG. A esquiva se torna uma espécie de corrida, similar a Vanquish, por exemplo, e as habilidades se tornam granadas, tiros que perseguem o oponente e, basicamente, a única forma de se acertar os seus inimigos com alguma consistência.
De qualquer forma, ambas as jogabilidades são terríveis por uma variedade de razões. Cada uma das deusas utiliza uma arma diferente, no entanto, todas são inconsistentes com seus tiros. A trajetória é provavelmente afetada por algum status da parte RPG e, talvez, seja um problema que possa ser amenizado, mas isso não ignora o fato que o jogador irá passar horas e horas atirando com armas que nem a queima-roupa conseguem atingir seus alvos com muita consistência. O problema também é devido ao formato dos tiros que fazem com que seja muito fácil que acertem o cenário ao invés dos inimigos e também com a falta de um direcionamento automatizado decente na hora do ataque. Diga-se de passagem que a falta desse direcionamento, mesmo com o sistema de lock-on presente no jogo, faz com que muitas habilidades e a jogabilidade geral com as V-Tubers tornem-se bastante frustrantes.
Não sendo suficiente, os inimigos também apresentam uma outra gama de dores de cabeça e não no bom sentido. Cada inimigo tem padrões básicos de ataque e uma certa área de combate e, caso o jogador saia dessa última, o inimigo simplesmente desaparece. Alguns dos padrões de ataque não foram bem pensados ou calibrados para esse título ou qualquer outro de ação já que fazem com que o inimigo se movimente longas distâncias em uma velocidade absurda. Um dos inimigos, por exemplo, avança no jogador com uma trajetória em Z e, na grande maioria das vezes, esse inimigo irá ficar preso no cenário, sumir da vista do jogador ou teleportar por sair da própria área de combate. Isso faz com que seja virtualmente impossível acompanhar o movimento do inimigo de maneira apropriada, muito menos desviar do ataque ou realizar um contra-ataque de maneira apropriada. E devo enfatizar que praticamente todos os inimigos tem algum problema semelhante seja com padrões de ataque estúpidos que mal detectam aonde o jogador está, problemas com hit boxes e muito mais. Não entrarei em detalhes com os chefes, pois essas lutas têm mecânicas próprias (nenhuma delas interessante) e virtualmente todos os problemas acima somados a experiência.
Não bastasse isso (sim, ainda tem mais) a interface do usuário é extremamente poluída. São logs de combate, vídeo comentário de V-Tubers, números enormes pipocando com a porcentagem de dano causado, status, habilidades e muito mais. Efetivamente falando, você está tentando jogar um jogo de tiro, mas sua visão é constantemente atrapalhada pela UI. Esse é um dos defeitos que afetam todas as jogabilidades e torna toda a experiência de jogo ainda mais frustrante simplesmente porque o jogador é constantemente impedido de enxergar direito. Também é extremamente cansativo escutar o mesmo comentário de V-Tuber pela centésima vez num espaço de poucos minutos então, de certa forma, até o áudio parece ser calibrado para atingir os nervos daqueles que jogam.
Ainda existem muitas mecânicas pertinentes ao combate e que envolvem invocações, equipamentos e muito mais, mas elas não consertam ou sequer melhoram os problemas estruturais básicos da jogabilidade do título. Não bastasse isso, o jogo ainda tem pequenos mini-games de ritmo, edição de vídeo, gacha, coleção de cartas e uma infinidade de subsistemas, nenhum deles em particular bom ou interessante.
Jogo analisado com código fornecido pela Idea Factory.
Veredito
Neptunia Virtual Stars é, em suma, um título que tenta realizar coisas demais e o resultado disso é deficiente em todos seus aspectos. Fãs da série Neptunia ou de V-Tubers talvez encontrem alguns breves momentos divertidos, mas a jogabilidade central do título tem problemas estruturais tão sérios que é difícil recomendá-lo para qualquer um.
Neptunia Virtual Stars is, in short, a title that tries to accomplish too many things and the result is disastrous in every aspect. Fans of the Neptunia series or V-Tubers may find some brief fun moments, but the gameplay has structural issues so serious that it is hard to recommend this title to anyone.
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