O maior de todos os tempos. Enquanto em outros esportes existe uma certa discussão sobre quem foi o maior atleta da história da categoria, é inegável que a NBA tem, há quase 30 anos, bem consolidado quem foi o melhor jogador a agraciar as quadras da maior liga de basquete do mundo. Michael Jordan.
É natural então que, em uma série de jogos que se orgulha tanto não só de simular fielmente a experiência dentro das quadras quanto por reconhecer e honrar a história da liga, dedicasse completamente o seu mais novo título a celebrar o legado que Jordan deixou. Sem, é claro, deixar de lado a própria busca por se consolidar como o melhor jogo de esporte de todos os tempos.
E com a recente derrocada de vários dos outros simuladores de esporte, já há algum tempo a sensação que se tem é de que a grande competição do NBA 2K23 é consigo mesmo, sobre o que pode ser adicionado e se, em algum momento, as poucas reclamações dos fãs serão atendidas. Infelizmente, apesar da gigantesca quantidade de conteúdo presente aqui, NBA 2K23 parece mais um jogo à beira do colapso do que a estrela reluzente de anos atrás.
A grande novidade deste ano fica por conta da adição do Jordan Challenge. Se você está familiarizado com os jogos da WWE desenvolvidos pela 2K, é algo bem similar ao Showcase Mode disponível neles. Essencialmente, ele te leva por toda uma jornada pela ilustríssima carreira de Michael Jordan, a começar pela final do campeonato nacional universitário em 1982 entre North Carolina Tar Heels, liderados pelo calouro Jordan, e Georgetown Hoyas de Patrick Ewing, até o jogo 6 da final da NBA em 1998.
Cabe dizer, no entanto, que essa não é a primeira vez que o Jordan Challenge se faz presente na série. Se você é fã de longa data, mesmo sem jogar pode perceber que ambas essas partidas faziam parte do mesmo modo que havia sido introduzido lá no NBA 2K11, quando o principal tema do jogo era… Celebrar a histórica carreira de Michael Jordan.
Tanto é que esse “novo” modo foi apresentado como uma releitura com tecnologias atuais daquele modo, trazendo também a inclusão de cinco novas partidas, elevando o total de 10 no 2K11 para os atuais 15. A adição de um filtro, fazendo parecer que as partidas foram gravadas em VHS, os depoimentos dos envolvidos nos jogos e o fato das regras em vigor quando as partidas aconteceram estarem ativas (como a falta de uma linha de 3 pontos em certas partidas), ajudam a dar um realismo maior ao modo e torná-lo mais proveitoso.
Nostalgia e celebração do passado também são temas recorrentes de outros modos, notoriamente no MyNBA Eras. Esse novo modo te permite assumir o controle de franquias em diferentes Eras da NBA, pontos importantes da sua história, e determinar como as coisas teriam ocorrido diferente sob o seu comando.
04 períodos diferentes da história da NBA estão presentes nessa primeira versão do modo, notoriamente Magic vs Bird (os anos 80), The Jordan Era (anos 90), The Kobe Era (anos 2000) e Modern Era (atualidade, representando a versão original do MyNBA de anos passados). A forma como o jogo faz questão de te apresentar quais mudanças aconteceram nesse período e te permite influenciar como elas impactarão nas quadras é um prato cheio para os fãs do esporte e de sua história.
O MyNBA passa então a figurar, de longe, como o modo mais divertido da franquia no momento, com classes de Draft reais do período, quadras, uniformes e elencos precisos (com algumas poucas exceções) e todas as ferramentas que o MyGM já lhe dava, agora aplicados à possibilidade de alterar a história. Quer assumir o controle dos Lakers e evitar a separação de Shaq e Kobe? Acha injusto que Karl Malone, Allen Iverson ou Charles Barkley nunca venceram um título? Está nas suas mãos mudar isso.
Se você não é fã desses aspectos de gerenciamento, sua principal opção continuará sendo o MyCAREER e é aqui que as coisas estão começando a ir pelo ralo. A adição de um modo história anos atrás foi uma novidade bem-vinda, mesmo que, em termos de qualidade da execução, não fosse nem de longe qualquer tipo de roteiro especial, só uma pequena curiosidade.
Com o passar dos anos, as histórias foram se tornando cada vez piores e em NBA 2K23 se tornou, oficialmente, um impeditivo para se aproveitar o modo. Não é só a pior história que eu já vi em um modo carreira, mas ativamente te atrapalha, evitando que você possa simplesmente aproveitar o jogo como gostaria. A liberdade de escolher o seu time é bem-vinda, mas é o máximo que se pode elogiar sobre a tragédia que é esse modo.
Para completar, toda a adição envolvendo a possibilidade de seguir carreira em outras áreas, como forma de representar os vários interesses e investimentos que as principais estrelas da NBA tem por aí, trazem uma distração desnecessária para um modo que deveria só te permitir entrar na quadras e jogar, seja offline para avançar sua carreira, seja se divertindo com seus amigos online.
Mas talvez fazer esse tipo de coisa seja necessário para esconder a forma agressiva e predatória que o jogo segue aplicando sua monetização através de microtransações. A progressão do seu personagem, sem apelar para os inúmeros pacotes de moeda disponíveis na PS Store, é incrivelmente lenta e te exigirá bastante dedicação para ter atributos suficientes que te permitam fazer qualquer coisa em quadra, seja offline ou online.
Cabe apontar aqui que mesmo que você gaste todos os 100 mil VC que vem com a Michael Jordan Edition, isso será suficiente para te colocar com OVR de 80, algo bem baixo e que te fará sofrer bastante para grindar VC suficiente para subir de nível. Isso significa que, caso você queira começar o jogo já competitivo, seria necessário gastar basicamente o preço do jogo a mais só em microtransações para ter um OVR que não te faça passar vergonha no modo PvP.
Algo que reforça bastante a natureza dessas microtransações é a evolução do The City. Tudo aqui segue exigindo que você gaste VC, a moeda do jogo, além de funcionar constantemente como uma propaganda para diversas marcas. A movimentação aqui ainda é horrível, mesmo com a adição de novos sistemas de viagem rápida. The City tem se transformado, essencialmente, em um metaverso tematizado com basquete, mas executado da pior forma possível e só reforçando o pé atrás que tantas pessoas tem com essa proposta de futuro.
Isso tudo faz com que as várias melhorias que o jogo traz, inclusive no seu gameplay, com novas Badges, Takeovers, melhorias no Pro Stick, dando maior controle sobre enterradas, nos dribles, que agora tem animações melhores, melhor resposta nos arremessos e são mais fáceis se realizar combos, o novo sistema de Leadership Skills… Todo um mar de melhorias pra IA, defesa e tudo, que são longas demais para citar aqui e tornam a experiência incrivelmente mais suave, acabam ficando em segundo lugar.
O fato do MyCAREER passar o ar de ser mais predatório e monetizado até mesmo do que o MyTEAM, tradicional modo de cartas da franquia, é absurdo. MyTEAM, aliás, que a cada ano se torna melhor e mais variado, com uma ótima adição na forma do Clutch Time Single Player, um modo acelerado 5v5 em que você compete com a IA com regras modificadas, incluindo uma linha de 4 pontos.
Novas cartas, a adição de um Trophy Case, que te dá cartas de evento de cada uma das franquias da NBA, o muito bem-vindo Triple Threat Online que agora conta com Co-Op e um Party Mode e novos níveis de prestígio para o Unlimited fazem com que o modo, ano após ano, se torne muito mais interessante e viável, tomando o espaço antes dominado pelo MyCAREER.
Outro modo que merece ser exaltado é o The W. Apesar de ainda não estar no mesmo nível que os modos dedicados a NBA, a WNBA cada vez mais tem ganhado espaço na franquia e vai entregando uma experiência muito melhor do que os forçados modos monetizados. A adição de objetivos de comunidade para o The W Online e recompensas a serem usadas no MyTEAM, os Desafios de Contato, que melhorarão suas estatísticas, bem como a adição do All-Star Game e da Comissioner’s Cup tornam a experiência cada vez mais rica e única.
Infelizmente, se você é o tipo de jogador que adora a experiência single-player de um modo carreira, NBA 2K23 é cada vez menos um jogo para você. A agressividade em que os elementos online e a monetização do jogo foram adicionadas é absurda e vão se mostrando cada vez mais insustentáveis, salvo para um nicho de jogadores que possuem renda disponível para gastar com microtransações ou tempo para investir.
Por sorte, o jogo ainda é um simulador incrivelmente competente e maravilhoso dentro das quadras e possui modos de jogo ainda não afetados pelas microtransações para manter jogadores que querem passar longe disso se divertindo. No entanto, caso algo não mude, é bem possível que estejamos olhando para uma série que passou do seu ápice e vai caminhando para a segunda etapa da carreira tentando reviver as glórias no Washington Wizards e que todo mundo tenta esquecer depois.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela 2K.
Veredito
Enquanto a ação nas quadras segue fantástica e os novos modos de jogo são muito bem divertidos e mexem com a nostalgia dos fãs de basquete, NBA 2K23 é um jogo afetado muito negativamente pelo excesso de microtransações, que são a própria definição de elementos “pague-para-vencer”.
While the action on the court is still fantastic and the new game modes are very entertaining and play with basketball fans’ nostalgia, NBA 2K23 is brought down by its excessive microtransactions, which are the very definition of “pay-to-win”.
[/lightweight-accordion]